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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716 Witikoski, Doubek. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 5(gt13):1-21 As Transformações Históricas e Culturais na Coleção de Cartões Postais Centenários de Rodolpho Doubek GT 13 - Tecnologia e mediações Alan Ricardo Witikoski Maria Luíza Dürkop Doubek

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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Witikoski, Doubek. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 5(gt13):1-21

As Transformações Históricas e Culturais naColeção de Cartões Postais Centenários deRodolpho Doubek

GT 13 - Tecnologia e mediaçõesAlan Ricardo Witikoski

Maria Luíza Dürkop Doubek

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Entender como as pessoas pensavam e se expressavam exige um exercício de

deslocamento temporal que nos afasta e simultaneamente nos aproxima de momentos passados.

As artes gráficas podem nos ajudar a compor um panorama referente à cultura e a sociedade em

diferentes épocas. Através de representações do cotidiano, de objetos e retratos, podemos ter uma

visão de como funcionavam as interações das artes gráficas com a sociedade. O processo de

leitura de imagens e suas potenciais interpretações são fenômenos (re)aprendidos continuamente e

atuam como meios que possibilitam que histórias possam ser retificadas ou refutadas dependendo

de como os registros de imagens são produzidos. Esse processo pode ser visto, por exemplo, em

coleções. Onde podemos questionar com quais intenções eles são mantidos, por quais locais

circulam e a trajetória dos objetos.

Por esse viés, pode-se compreender esses materiais gráficos como um meio didático de

(re)apresentar ideias. Cartazes, livros e revistas, muitas vezes contam com imagens visuais para

acompanhar suas mensagens textuais, no intuito de reforçar certas ideias de tradição 1 e identidade.

A indústria gráfica também produziu outros materiais com potencial similar. As produções

publicitárias e de divulgação como os rótulos de bebidas, rótulos de mate e outros artefatos como

os cartões postais, podem revelar muito sobre as transformações históricas e culturais de

determinada época. Esse artigo faz parte de uma pesquisa ampla, ainda em desenvolvimento,

referente ao acervo particular de um artista e colecionador curitibano. É a partir desses artefatos

colecionados que esse estudo se propõe a observar as intervenções e mediações ocorridas na

sociedade.

O Artista e a Coleção

O artista gráfico paranaense Rodolpho Doubek, nasceu em abril de 1906 e se destacou como

litógrafo, desenhista e colecionador. Fez parte de clubes desportistas e de teatro e era conhecido

pela dedicação e perfeccionismo ao realizar seu trabalho. Seu pai, Antonio José Doubek, era

austríaco e foi um dos fundadores do grupo de teatro da colônia germânica. Membro ativo da

Handwerker- Unterstuetzungs-Verein (Grupo de Teatro da Sociedade Beneficente dos Operários)

mais tarde Sociedade Beneficente Rio Branco. Grupo que seu filho, mais tarde, também participou

e documentou.

1 A ideia de tradição é uma referência às questões levantadas por Eric Hobsbawn e Terence Ranger em “A Invenção das

Tradições”.

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Em paralelo a vida profissional, Rodolpho transformou um de seus hobbies em um

acervo que o identifica como um legítimo colecionador. Dedicou vários anos a fim de reunir

e organizar cartões postais, que datam de 1892 a 1940, e calculasse que sua coleção

contemple mais de dez mil postais.

Diferentes pontos de vista e aspectos podem ser analisados dentro da coleção como,

qual a importância e propósito desses artefatos e como os artistas interpretavam essa prática

e reproduziam sua perspectiva diante da realidade. Esses cartões podem permitir outras

percepções sobre o século XIX e XX por meio de registros da arquitetura, infraestrutura,

natureza, representações de gênero, cultura, moda, costumes de uma época, etc.

Situações que normalmente não relacionaríamos com a simples troca de cartões

postais envolvem outras questões, como por exemplo, ações de apoio e auxilio a

comunidade que necessitava de ajuda, mesmo que estivessem a milhares de quilômetros de

distância, contavam com a colaboração, por meio dos cartões postais, que assim tinham

outros usos, outras intenções. Essas intenções, por sua vez, só podem ser acessadas por

meio das memórias relatadas por Doubek, materializadas por seus postais, que possibilitam

compreender essas e outras dinâmicas sociais que talvez não pudessem ser acessadas ou

compreendidas de outro modo que não seja pelos cartões.

O objetivo segue em entender como os cartões postais, que foram selecionados e

organizados por Doubek, portanto, imersos em suas experiências e memórias, compondo

uma narrativa pessoal de vida, podem (re)apresentar acontecimentos sociais das quais ele

participou, seja diretamente, como indiretamente.

Além de contribuir na produção de alguns desses postais através da tipografia, ele

classificou uma parte da coleção em chapas, divididas em temas, acontecimentos e datas.

Após agrupar e classificar esse material, foi convidado a montar uma exposição. A

coleção foi exposta em 1976, na Casa Romário Martins e contou com vários

colaboradores, conforme Figura 01. E com base nas experiências do colecionador, no

seu método de organização e nas relações mantidas com esses artefatos é possível

garantir que esta coleção é singular.

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Figura 01: Material gráfico escrito por Rodolpho para a exposição.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

É necessário compreender também que as interpretações apresentadas são dinâmicas.

Os cartões postais podem ganhar outros significados e podem configurar uma nova memória,

a partir de quem os observa hoje, portanto, sua significação não é fixa, nem tão pouco exata e

precisa. Por isso as coleções vão além do entretenimento, dependendo do tamanho da coleção,

a catalogação e as diferentes formas de organização são sinônimos de anos de estudo e

pesquisa. Culturas podem ser representadas e propostas artísticas são identificadas

dependendo da curadoria do objeto colecionado. Por isso, buscou-se mapear quais as

estruturas sociais e os processos culturais que formavam um conjunto de significados a partir

dos elementos gráficos presentes nos cartões.

Cartões Postais

Na grande massa de informações visuais que nos assediam de toda a parte, de

modo desordenado e contínuo, a comunicação visual procura definir, com base em

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dados objetivos, qual a relação mais exata possível entre informação e suporte .

(MUNARI, 1997).

Por ser uma forma de expressão e comunicação os cartões postais possibilitam o

registro e a transmissão de uma narrativa, unindo diferentes tipos de mensagens. Entre

o período da coleção (1892-1940), era raro encontrar indústrias gráficas que

produzissem cartões postais em larga escala para grande circulação em correios, por

isso era considerado um modismo da época, trocar postais e colecioná-los. Há

vestígios de que os primeiros postais com mensagens escritas foram desenvolvidos em

meados do século XIX e muitos foram perdidos, por isso o estudo e registro desse

material são relevantes.

A verdadeira arte, quer no teatro, onde todos se conjugam, quer nos demais ramos,

isolados ou não, consiste, não na imitação, mas na transfiguração da realidade

objetiva, em face da subjetiva. (SANTOS FILHO, 1979).

Como uma forma de arte e de representação cultural, os cartões comunicam

mensagens visuais que retratam períodos históricos a partir de outra perspectiva. Funcionam

também como uma manifestação da vida social e opinião pública da época.

Seleção

A diversidade de temas, usos, representações, técnicas presentes na coleção

permitem inúmeras discussões e devido à quantidade de material, foi necessário

estabelecer um recorte temporal, entre os anos de 1900 a 1920. A escolha desse período

ocorreu devido as possibilidades de explorar as relações entre os artefatos e sujeitos, como

a moda, os espaços, como as cidades e as inovações tecnológicas, como a chegada do

cinema, ressaltando também os desdobramentos ocorridos a partir da Primeira Guerra

Mundial.

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Figura 02: Registro da banda filarmônica italiana.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

Por meio dos postais, selecionados por Doubek, diversos acontecimentos foram

registrados, tanto alguns que podem ser considerados triviais como a passagem da banda

filarmônica italiana (Figura 02), de peças de teatro, comemorações, até momentos cívicos

marcantes como a galeria dos presidentes e bonificações de guerra.

em entrevista a um jornal, “seo” Rudi relembrou que “nos primórdios da I Guerra

Mundial, 1915, a colônia austro-húngaro-alemã de Curitiba realizou diversas

festividades beneficentes, para angariar fundos em socorro aos soldados cegos em

batalha, bem como às viúvas e órgãos de guerra na Alemanha e da Áustria. Para

essas festividades eram confeccionados cartões postais. Entre estes cartões, alguns

são interessantíssimos, feitos na base de montagem, mostrando, por exemplo, uma

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barricada “construída” num bairro de Curitiba, especialmente para fazer cenário

ao cartão alusivo à guerra... Neste sentido, milhares de cartões e fotografias com

cenas de guerra feitas em Curitiba e Ponta Grossa foram vendidos, com este fim

(MENDONÇA, 1989).

Figura 03: Um dos postais produzidos no Clube Graciosa, em Curitiba, no dia 18 de agosto

de 1915 para arrecadar fundos para a Primeira Guerra Mundial.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek

As construções de cenários de guerra, em plena Primeira Guerra Mundial em Curitiba,

para postais em prol de arrecadar fundos para os soldados feridos em batalhas, é um exemplo

de que se analisarmos apenas os elementos gráficos contidos na imagem, não será possível

compreender as ricas relações sociais e culturais que os constituíram, por isso, o auxilio e uso

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paralelo da seleção, organização e memórias, constituídas por narrativas pessoais de Doubek,

tornam essa coleção tão rica e reveladora.

Grupos Sociais

Respeitando a classificação feita por Doubek, optou-se em apresentar a sessão “grupos

sociais”, que conta com uma seleção voltada aos grupos de teatro de Curitiba, mais

especificamente o Handwerker-Unterstuetzungs-Verein. Como ator, cenógrafo e membro da

colônia austro-húngaro-alemã apresentou através dos cartões de sua coleção um panorama

que permite sobrepor sua narrativa pessoal, com os próprios acontecimentos do período.

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Figura 04: Componentes do Grupo Teatral da Sociedade Beneficente Handwerker, em

1920.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

De acordo com Mendonça (1989) o Handwerker-Unterstuetzungs-Verein foi

fundado em Curitiba em 1884 e foi nacionalizado em 1938, provavelmente devido a

Segunda Guerra Mundial, se tornando a Sociedade Beneficente Rio Branco. Já o grupo

teatral se desligou da Sociedade em 1927, formando o Grupo Teatral Alemão de Curitiba.

Ao analisar a chapa “Grupos sociais”, relacionada ao teatro foi possível abordar

algumas discussões referentes à cultura, e tecnologias, um panorama da época é formado.

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Figura 05: Chapa de postais referentes ao Teatro, da esquerda para direita, acima a

esquerda o ator Sr. Jorge Wucherpgennig, grupo na peça “Leopoldo, meu filho” em

1913, a stra. Ana Kirchgässner, na opereta O príncipe estudante de 1917, cenas da

comédia três mulheres porém nenhuma em 1920, e ao centro os componentes do grupo

em 1920.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

Na Figura 05 é possível mapear acontecimentos como a participação de atores

profissionais no grupo, o retrato de como nos figurinos e cenários, propagavam

estereótipos de gênero e modos de ser e agir, além das relações entre o teatro e as novas

tecnologias, como a chegada do cinema em Curitiba.

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Conforme a chapa, um dos atores profissionais mencionados é Jorge

Wucherpfenning. Ele foi um dos baluartes do teatro amador da colônia germânica e tomou

parte na ópera paranaense “Sidéria”, no papel de Alceu. As apresentações ocorreram em

maio de 1912, no Theatro Guaíra.

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Figura 06: Postal de Jorge Wucherpfenning, aqui com um comentário do próprio Rodolpho.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek

A obra “Sidéria” foi composta por Augusto Stresser, libreto de Jayme Ballão e teve

grande repercussão na época, virando motivo de postais ilustrados. A Figura 07 mostra um

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trecho da história que revela um triângulo amoroso entre uma moça (Sidéria) e os dois

rapazes, Alceu e Juvenal.

Figura 07: Ilustração para postal sobre a obra Sidéria. Na composição é possível observar

os dois rapazes, Alceu e Juvenal, tocando instrumentos de corda, em uma composição

triangular em que ambos olham a janela, possivelmente esperando Sidéria. O trabalho

tipográfico no canto superior direito da imagem,é de Rodolpho, que era um especialista no

desenho de tipos góticos.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

O jornal Diário da Tarde chegou a publicar anúncios divulgando a ópera e críticas na

época, destacando a riqueza de detalhes nos cenários produzidos por Guilherme Lobe.

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Figura 08: Recorte do jornal Diária da Tarde, pesquisa e imagens resgatadas do acervo da

Biblioteca Pública do Paraná.

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Fonte: FALCO, 2011.

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Companhias menores também faziam sucesso na época e compõe o quadro de postais

referentes ao grupo de teatro. Uma companhia composta por anões chamada A. Scheuer

Liliputienses (Figura 09) era conhecida por um estilo característico e extravagante.

Figura 09: Postal da companhia Scheuer Liliputienses.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

O processo da produção das peças de teatro e a relação entre o elenco e o público são

reformulados com a chegada de novas tecnologias. A cenografia e caracterização ficavam a

cargo dos próprios membros dos grupos de teatro e seus recursos. Toda essa construção e

interação aumentam a percepção de valor em relação aos espaços e objetos envolvidos. Essas

formas de entretenimento atraíam e atraem os indivíduos que buscam experiências que

possam contribuir com a formação de seu repertório.

Teatro e Cinema

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Transmitir narrativas é uma necessidade do ser humano. Aos poucos os avanços

tecnológicos mudaram esse processo e proporcionavam a propagação cultural e a

comunicação de massas. O palco do Teatro Hauer foi sede das primeiras projeções de

produções audiovisuais em Curitiba em 1897. Na época em que não era comum reproduzir

narrativas através da linguagem sonora e fotográfica, as peças teatrais eram o canal que

mesclava o divertimento e a opinião.

Outro vulto de destaque é Josef Hauer que imigrou para o Brasil, em 1863. Tendo se

realizado, com sucesso no comércio local, providenciou a construção de uma casa de

espetáculos – O Teatro Hauer – atualmente, Cine Bristol, funcionando no mesmo lugar,

à Rua Mateus Leme, naturalmente, com outros proprietários. (SANTOS FILHO, 1979).

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Figura 10: Postal do salão do Teatro Hauer em 1913.

Fonte: Coleção Rodolpho Doubek.

O Teatro Hauer foi marcante como um modo de propagação de cultura que incorporou

tradições entre famílias e gerações. Conforme destaca Santos Filho (1979):

A família Hauer, paralelamente, às suas atividades comerciais dedicou-se ao cultivo

da música, promovendo reuniões familiares onde se congregavam vários expoentes da

música do Paraná. O Teatro Hauer funcionava desde 1891 e tornou-se único em

Curitiba, quando o teatro oficial São Theodoro deixou de proporcionar espetáculos

artísticos ao público em 1894, por motivos políticos. Por várias décadas, o Teatro

Hauer levou em seu palco, inúmeras promoções, mesmo depois de ter aderido às

sessões do cinematógrafo, em 1900 e, daí por diante.

Portanto, é interessante observar que a passagem e a apresentação do cinema ao

público curitibano passaram em determinado momento em um convívio de dois modos de

representação e entretenimento. Ao mesmo tempo em que eram apresentadas peças de teatro,

filmes também eram exibidos. Essa assimilação de uma nova tecnologia, o cinema, para um

grande público, passa por um processo intermediário, nesse caso, oriundo do convívio do

espaço físico, tornando essa transição compreensível e aceita por uma parcela da sociedade

que tinha acesso ao teatro, e também buscando absorver esse público para um novo tipo de

entretenimento, as salas de cinema.

Considerações Finais

As transformações sociais, não ocorrem aleatoriamente, e são muitas vezes

simultâneas ou desencadeadas por questões ligadas a discursos científicos e tecnológicos.

Esses discursos específicos demonstram os interesses e intenções que refletem o ambiente, o

pensamento e todo plano social que forma o processo histórico.

Durante essa época de transição do século XIX ao XX, uma boa parcela da sociedade

era representada pelos grupos sociais que atuavam em organizações beneficentes. A instrução

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política e cultural ainda era limitada, regida por uma minoria dominante que controlava a

consciência e produção dos artistas.

Assim, as artes gráficas e o teatro tinham seu potencial transformador limitado,

contava com uma autonomia relativa e deveria concordar na maioria das vezes com

convenções impostas por um determinado contexto social.

Ao se aproximar da relação entre o teatro e o cinema é interessante observar como

na coleção eles são retratados como uma transição naturalizada por meio do espaço, e suas

estratégias de evitar um estranhamento do público, pois na projeção não há uma relação

pessoal e direta das atrizes e dos atores com o público, não existe um espaço de

improvisação que pode fazer que cada peça de teatro torne-se única.

É importante que coleções como essa apresentada sejam valorizadas, investigadas e

divulgadas, pois são registros históricos, culturais e sociais de uma época cada vez mais

distante. Por meio dessas análises ainda iniciais, e em fase de desenvolvimento, é possível

perceber como as relações culturais, os desenvolvimentos tecnológicos, vão sendo

constituídas entre uma visão coletiva, na divulgação e circulação dos materiais gráficos,

como também pessoal, a partir do momento que se desenvolve uma coleção, que reflete

memórias e experiências de seu idealizador, que transferem as coleções características

únicas, e que enriquecem as possibilidades de se estudar e compreender as dinâmicas

sociais.

Referências

FALCO, N. Elaine. Guilherme Lobe. Ópera Sidéria. Disponível em:

<http://operasideria.blogspot.com.br/>. Acesso em: 09 set. 2017.

HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence (orgs.). A Invenção das Tradições. – Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1984. p. 9-23.

KONDER, Leandro. Walter Benjamin: o Marxismo da Melancolia. Rio de janeiro:

Civilização Brasileira, 1999.

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MENDONÇA, Maí, N. Memória de Vida. Casa da Memória – FCC. 1989.

MUNARI, Bruno. Design e Comunicação: Contribuição para uma Metodologia Didática.

São Paulo: Martins Fontes, 1997.

SANTOS FILHO, Benedito Nicolau dos. Aspectos da História do Teatro na Cultura

Paranaense. Curitiba: Imprensa Universitária, 1979.

TRINDADE, Etelvina Maria de Castro; Andreazza, Maria Luiza. Cultura e Educação no

Paraná. Curitiba: SEED, 2001.

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