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Artigo 1. Introdução; 2. Do capitalismo concorrencial ao capitalismo atrasado; 3. O capitalismo atrasado - o caso especial do Japão; 4. O alcance da eficiência na indústria japonesa no século XX; 5. Conclusão. Em busca, das fórmulas milagreiras orientais - considerações sobre a viabilidade de "importação" das técnicas gerenciais japonesas por outros países capitalistas Déa Lucia Pimentel Teixeira Professora no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (SP). 1. INTRODUÇÃO No final do século XIX, após o período chamado de Re- volução Industrial- quando seintroduz na Inglaterra e, posteriormente, em outros países, a maquinaria e o "sistema de fábrica" - a grande indústria inicia um len- to econstante processo de desenvolvimento calcado na concentração e centralização de capitais. Suas formas de produção baseava-se até então - embora já altera- das pela introdução das máquinas - em adaptações de estruturas eprocessos de produção utilizados na manu- fatura. O desperdício de matérias-primas e materiais, a falta de controle da mão-de-obra e a desorganização do processo de produção acarretavam custos operacio- nais elevados, fato que, conseqüentemente, dificulta- va o atingimento das metas de lucros máximos. Tais motivações viabilizaram a pesquisa, a elabora- ção e a aplicação da chamada' 'administração científi- ca" do processo de trabalho, com sua função ao mes- mo tempo gerencial e coercitiva, que objetivava o au- mento da produtividade do trabalho por meio de téc- nicas legitimadas "cientificamente" pelo pretenso as- pecto de racionalidade que se propunha a alcançar. Assim, ao longo desse século, escolas e teorias de ad- ministração sucederam-se com o sentido de instrumen- talizar o capital, fornecendo-lhe métodos etécnicas ad- ministrativas que contribuíssem para a viabilização das incessantes transformações dos processos de produção que ocorreram sob o ímpeto da principal força nortea- dora desse modo de produção: a acumulação de capi- tal. A cada obstáculo encontrado ao alcance dos obje- tivos de ampliação constante da produtividade, implan- tados por determinado estilo de administração, uma no- va estratégia sepropõe a partir de alterações no caráter do gerenciamento dos conflitos através de transforma- ções: no conteúdo do trabalho, nas formas de autori- dade, nos processos de integração da força de trabalho, na forma de legitimação dos métodos novos, etc. o novo discurso do capital, constituído por no- vo estilo de administração capitalista, que seatualiza em função das necessidades impostas em cada etapa de acu- mulação do capital e em cada estágio das forças produ- tivas. As alterações então ocorrem à medida que a organi- zação repressiva do trabalho passa a se constituir em obstáculo à ampliação crescente da produtividade, em função das condições econômico-sociais específicas dos países ocidentais, em seus respectivos estágios de indus- trialização. Dependem, ainda, da configuração assumida pela correlação de forças existentes entre as classes sociais, das tecnologias utilizadas pelo capital e da forma de le- gitimação por ele proposta; mas nunca questionam real- mente as bases que alicerçam o modo de produção ca- pitalista. Enfim, significam adaptações dos processos de trabalho na produção em massa às novas condições de controle da força de trabalho e às novas necessida- o des impostas pela configuração da estrutura de produ- ção internacional e, portanto, às novas condições de re- produção da dominação do capital, objetivando a con- tinuidade do processo de acumulação na fase da pro- dução em série e da produção por processamento con- tínuo."! Rev. Adm. Empr. Rio de Janeiro, 27(3) 5-16 jul./set. 1987 -~~- --~ --------

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Artigo

1. Introdução;2. Do capitalismo concorrencial ao capitalismo

atrasado;3. O capitalismo atrasado - o caso especial do

Japão;4. O alcance da eficiência na indústria japonesa no

século XX;5. Conclusão.

Em busca, das fórmulasmilagreiras orientais -considerações sobre a

viabilidade de"importação" dastécnicas gerenciais

japonesas por outrospaíses capitalistas

Déa Lucia Pimentel TeixeiraProfessora no Instituto de Economia da Universidade de

Campinas (SP).

1. INTRODUÇÃO

No final do século XIX, após o período chamado de Re-volução Industrial- quando se introduz na Inglaterrae, posteriormente, em outros países, a maquinaria e o"sistema de fábrica" - a grande indústria inicia um len-to e constante processo de desenvolvimento calcado naconcentração e centralização de capitais. Suas formasde produção baseava-se até então - embora já altera-das pela introdução das máquinas - em adaptações deestruturas eprocessos de produção utilizados na manu-fatura. O desperdício de matérias-primas e materiais,a falta de controle da mão-de-obra e a desorganizaçãodo processo de produção acarretavam custos operacio-nais elevados, fato que, conseqüentemente, dificulta-va o atingimento das metas de lucros máximos.

Tais motivações viabilizaram a pesquisa, a elabora-ção e a aplicação da chamada' 'administração científi-ca" do processo de trabalho, com sua função ao mes-mo tempo gerencial e coercitiva, que objetivava o au-mento da produtividade do trabalho por meio de téc-nicas legitimadas "cientificamente" pelo pretenso as-pecto de racionalidade que se propunha a alcançar.

Assim, ao longo desse século, escolas e teorias de ad-ministração sucederam-se com o sentido de instrumen-talizar o capital, fornecendo-lhe métodos e técnicas ad-ministrativas que contribuíssem para a viabilização dasincessantes transformações dos processos de produçãoque ocorreram sob o ímpeto da principal força nortea-dora desse modo de produção: a acumulação de capi-tal. A cada obstáculo encontrado ao alcance dos obje-tivos de ampliação constante da produtividade, implan-tados por determinado estilo de administração, uma no-va estratégia sepropõe a partir de alterações no caráterdo gerenciamento dos conflitos através de transforma-ções: no conteúdo do trabalho, nas formas de autori-dade, nos processos de integração da força de trabalho,na forma de legitimação dos métodos novos, etc.

"É o novo discurso do capital, constituído por no-vo estilo de administração capitalista, que seatualiza emfunção das necessidades impostas em cada etapa de acu-mulação do capital e em cada estágio das forças produ-tivas.

As alterações então ocorrem à medida que a organi-zação repressiva do trabalho passa a se constituir emobstáculo à ampliação crescente da produtividade, emfunção das condições econômico-sociais específicas dospaíses ocidentais, em seus respectivos estágios de indus-trialização.

Dependem, ainda, da configuração assumida pelacorrelação de forças existentes entre as classes sociais,das tecnologias utilizadas pelo capital e da forma de le-gitimação por eleproposta; mas nunca questionam real-mente as bases que alicerçam o modo de produção ca-pitalista. Enfim, significam adaptações dos processosde trabalho na produção em massa às novas condiçõesde controle da força de trabalho e às novas necessida-

o des impostas pela configuração da estrutura de produ-ção internacional e, portanto, às novas condições de re-produção da dominação do capital, objetivando a con-tinuidade do processo de acumulação na fase da pro-dução em série e da produção por processamento con-tínuo."!

Rev. Adm. Empr. Rio de Janeiro, 27(3) 5-16 jul./set. 1987

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Assim, nas palavras de Braverman, "a necessidadede ajustar o trabalhador ao trabalho em sua forma ca-pitalista, de superar a resistência natural intensificadapela tecnologia mutável e alternante, relações sociais an-tagônicas e a sucessão de gerações, não termina com a'organização científica do trabalho', mas torna-se umaspecto permanente da sociedade capitalistav.?

Éneste sentido que, nas duas últimas décadas, obser-va-se um grande interesse, principalmente de adminis-tradores e pesquisadores norte-americanos e europeus,em estudar as técnicas de gerenciamento japonês, umavez que, após a reconstrução do país no períodopós-guerra, as grandes empresas japonesas atingiramaltíssimos níveisde produtividade que superaram os dosgrandes complexos dos demais países desenvolvidos.

Procura-se, assim, identificadas as características do"estilo gerencial japonês" , transplantá-lo para os paí-ses ocidentais, como se se tratasse de "técnicas cientí-ficas" que solucionariam estrangulamentos causadospelo desconhecimento de formas mais aperfeiçoadas degestão, que a natureza da cultura oriental propiciou. Otransplante ou a adaptação dessas novas formas de or-ganização do processo de trabalho seriam então viáveis,segundo a opinião de especialistas, na medida em quevalores culturais orientais pudessem ser difundidos nomundo empresarial ocidental eutilizados para o alcan-ce dos mesmos resultados.

Tudo se passa como se fosse uma nova maneira deencarar a participação dos agentes no processo produ-tivo. Como se os orientais, tanto empresas como em-pregados, melhor integrados ecom os objetivos idênti-cos, melhor alcançassem a sua meta. Sendo assim, se-riam as diferenças culturais que explicariam as manei-ras distintas de gerenciamento no Ocidente e no Orien-te.

Esquecem-se os pesquisadores - e é o que pretendodemonstrar - de que tais formas de administração seoriginam dos seguintes fatos e os refletem:

a) as necessidadesdo modo de produção capitalista, on-de possuem (essasformas) um papel bastante importan-te, a cada etapa de desenvolvimento econômico e social;

b) a organização e o confronto das classes sociais;

c) a ideologia que legitima o modo de produção.

Assim, tais formas de administração só podem serentendidas, e analisada sua viabilidade de extensão pa-ra outros países, quando explicadas num contexto daforma de constituição e de expansão do modo de pro-dução capitalista, tanto em termos de seus determinan-tes mais gerais, como dos aspectos específicos econô-micos e sociais que propiciaram o rompimento do mo-do anterior e viabilizaram os novos elementos consti-tutivos. Deve-se examinar, portanto:

a) como se realiza a transição de um modo de produ-ção para outro;

b) a utilização ou viabilização de condições que propi-ciaram a cristalização do "novo" modo de produçáo;

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c) o tipo de ideologia que legitima eviabiliza as "novas"relações de produção;

d) qual o estágio atual das forças produtivas que utili-zam o referido "estilo gerencial".

Proponho, pois, numa primeira aproximação, de-monstrar que:

a) as técnicas de organização do processo de trabalhono Japão cumprem exatamente as mesmas funções quedesempenham no capitalismo ocidental;

b) suas peculiaridades advêm da natureza eestrutura dasociedade e da conjuntura econômica, social e política,isto é, de circunstâncias históricas que esboçam padrõesde industrialização, e não simplesmente de valores cul-turais particulares considerados determinantes do pro-cesso de desenvolvimento; ,

c) sua transposição, portanto, é viável na medida emque funciona como ideologia de legitimação da domi-nação e controle do trabalho pelo capital, embora en-contre sérios obstáculos quanto à adaptação de valoresnos quais se baseia: participação, integração e coope-ração, utilizados como mecanismos de defesa da iden-tidade e segurança nacionais e de valorização da con-corrência a nível internacional para a obtenção da ex-pansão econômica.

Como o desenvolvimento da industrialização no Oci-dente foi alcançado a partir da difusão de valores mo-tivacionais altamente competitivos e individualistas, es-vaziou-se o caráter orgânico que ora sepretende impor-tar e/ou ressuscitar e desenvolver.

Por outro lado, o caráter autoritário ou militarista,imprimido ao processo de industrialização japonês pe-lo seu direcionamento governamental e em favoreci-mento das classes produtoras, levou à utilização de téc-nicas tayloristas de controle da força de trabalho. Taismedidas baseiam-se na remuneração fixa mensal acres-cida de bonificações proporcionais à produtividade al-cançada (em determinados setores industriais e deter-minadas funções do processo de trabalho), que, por si-nal, têm obtido excelentes resultados.

A civilização ocidental, no entanto, abandonou es-sa recomendação de Taylor e passou a praticar técnicaselaboradas pela teoria de relações humanas, que utili-za o apelo motivacional do prestígio, reconhecimentoe status (demenor custo) para a obtenção demaior pro-dutividade.

Penso que, para elucidar minhas afirmações, se tor-na necessário, num primeiro momento, proceder ao exa-mede:

a) como a sociedade japonesa se articula ao capitalis-mo originário na sua fase concorrencial, rompendo asestruturas feudais e constituindo o capitalismo mono-polista;

b) como o desenvolvimento da industrialização duranteo século XX exige, pelas suas características, estilos ge-renciais próprios às condições econômicas e sociais es-

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pecíficas do país em seu estágio de integração à econo-mia internacional;

c) qual o significado real e a possibilidade de implan-tação e renovação de métodos de ampliação crescenteda produtividade ou da obtenção da mais-valia.

2. DO CAPITALISMO CONCORRENCIAL AOCAPITALISMO ATRASADO

Ao findar a Revolução Industrial na Inglaterra (fim dociclo têxtil e início do ciclo ferroviário) - anos 40 doséculo XIX - o modo de produção capitalista encon-trava-se plenamente constituído. O capital industrial co-mandava a expansão econômica e assumia progressiva-mente uma posição hegemônica frente às outras formasde capital.

Carlos Alonso Barbosa de Oliveira analisa profun-damente, em sua tese de doutoramento.ê as etapas deconstituição e evolução do capitalismo. É a sua inter-pretação que utilizo e nela me apoio irrestritamente paraestabelecer as bases históricas e econômicas da implan-tação das práticas administrativas que procuro com-preender. .

Os capitais individuais existiam em grande número;a tecnologia era ainda muito simples; as unidades em-presariais, muitas (empresas individuais, familiares); osoperários ainda dominavam a técnica; a distribuição doscapitais e do trabalho realizava-se pelo funcionamentoda concorrência e permitia a geração de novos capitaisindividuais; ainda não existiam monopólios.

A livre concorrência era, então, o elemento funda-mental do capitalismo. Seus mecanismos regulavam asrelações entre os diversos capitais e entre capital e tra-balho; recolocavam permanentemente as condições doprocesso de acumulação; e determinavam a forma dehierarquia mantida entre os diferentes capitais.

A ideologia do momento consistia no liberalismo pa-ra permitir essa forma concorrencial e a expansão, umavez que o Estado não necessitava exercer funções regu-ladoras. A reprodução da estrutura econômica era re-gulada por mecanismos puramente econômicos que ga-rantiam o processo de acumulação.

A relação de dominação econômica e política a ní-vel mundial, exercida pela Inglaterra no século XVIII,fundada na violência extra-econômica, tinha-se trans-formado, na metade do século, em uma posição hege-mônica (de articulação dos interesses dos diferenes Es-tados nacionais), pois "essa fase de evolução compreen-de necessariamente uma ampliação do campo de açãoda concorrência a nível internacional".

A grande indústria implantava-se em vários paísessem descontinuidade com o processo de industrializa-ção da Inglaterra. Muito pelo contrário, observava-senesta etapa a política de diversos países tendendo ao li-vre-cambismo e à eliminação de entraves à circulaçãode mercadorias, aos fluxos de capitais e aos movimen-tos migratórios a nível internacional.

Assim se industrializaram, no período de 1840-70, aFrança, a Bélgica, a Alemanha e os EUA.

Éo que se convencionou chamar de industrializaçãoatrasada: "aos processos de constituição do capitalis-

Fórmulas milagreiras

mo que se completam na vigência do capitalismo con-correncial" .

O livre-cambismo favorecia a indústria de modoge-ral, pois a articulação de vários países com a Inglaterraocorria por meio da importação de máquinas e produ-tos industriais e pela exportação de matérias-primas. AInglaterra também exportava capitais financiando em-presas (nessa fase, principalmente, estradas de ferro).Esses lucros compensavam o déficit da balança comer-cial pelo aumento crescente das importações em relaçãoàs exportações. Esse fato, no entanto, levou ao desen-volvimento de seus parceiros. Possibilitou-se, assim, nospaíses que se industrializavam, a reprodução das estru-turas constituídas pelo capitalismo inglês.

Nesse período, somente a Inglaterra possuía capaci-dade de permanente acumulação. Gestava-se, assim,

. uma estrutura monopólica que passou a ser dominantenas últimas décadas do século.

Após 1870, "a Inglaterra começou a perder o mono-pólio da produção industrial no mundo capitalista e atendência ao livre-cambismo no mercado mundial pas-sou a ser substituída pelo protecionismo". "A livre con-corrência nos países capitalistas foi dando lugar a umrápido processo de centralização de capitais e ao surgi-mento do monopólio, ao mesmo tempo em que um no-vo padrão tecnológico vai sendo gestado" (do aço, ele-tricidade, motor a combustão interna, química pesada,etc.). As inovações agora resultavam do planejamentoe da pesquisa. Enfim, do desenvolvimento científico.Acirrava-se a concorrência capitalista e estreitavam-seas relações entre bancos e indústria, viabilizando o usodo crédito de capital como arma na luta pela elimina-ção de concorrentes e para a centralização de capitais.Generalizou-se a formação da sociedade por ações pois"o processo de centralização permitia e exigia o surgi-mento de plantas gigantescas" , com altas escalas de pro-dução.

Nesse contexto da chamada segunda Revolução In-dustrial, processou-se a "segunda onda das industria-lizações atrasadas" (1873-96), que inclui Itália, Rússiae Japão. Pressionados pela ameaça à sobrevivência eco-nômica e política autônoma, caso a opção pela moder-nização não fosse tomada, enfrentaram esses países umasérie de obstáculos para o alcance de suas metas desen-volvimentistas. As exigências de caráter técnico do pro-cesso e, conseqüentemente, de capitais centralizados en-contravam-se em acentuado descompasso com suas es-truturas econômicas e financeiras. No âmbito do mer-cado mundial ocorria substancial aumento de oferta deprodutos agrícolas com persistentes quedas de preçosdos produtos primários. Por outro lado, o dinamismodo mercado mundial capitalista reduzia-se em funçãodo mais lento crescimento das economias já industria-lizadas e do crescente protecionismo vigente. Entretan-to, atuava no sentido favorável a esses países a crescen-te oferta de empréstimos a nível mundial. Porém, emfunção de seu desenvolvimento manufatureiro e comer-cial relativamente modesto, foi exigido dessas socieda-des um enorme salto para a implantação da grande in-dústria.

O processo de centralização de capitais e monopoli-zação ocorreu de forma diversa em cada país, em fun-ção não só de sua articulação com a Inglaterra e outros

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países já industrializados mas, também, das caracterís-ticas de sua própria estrutura econômica e social, queexplica, em última instância, o porquê, o quando e o co-mo de cada padrão de industrialização estabelecido.

3. O CAPITALISMO ATRASADO- O CASOESPECIAL DO JAPÃO

Embora, como diz Carlos Alonso," a evolução d.. so-ciedade japonesa, ao longo da era Tokugawa, iniciadano século XVII e encerrada em 1867, seja' 'uma evolu-ção estruturalmente semelhante à da sociedade européiadurante a fase de acumulação primitiva", importantese torna, para os objetivos deste trabalho, aprofundaressa análise no sentido de se trazerem à luz as caracte-rísticas conjunturais diferenciais que imprimiram aosprocessos de decomposição do regime feudal e de de-senvolvimento do capitalismo no Japão - a nível da or-ganização social dessa sociedade - estilos, métodos etécnicas gerenciais de natureza diferenciada dos utiliza-dos no Ocidente.

Já foram examinadas, no item anterior, a etapa docapitalismo em que ocorreu a industrialização japone-sa - a etapa concorrencial - e sua influência na cons-tituição desse modo de produção no Japão. Resta ago-ra analisar o outro aspecto - o passado do país - in-dispensável à formação de uma visão completa do pro-cesso.'

No século XVII subiu ao poder, no Japão, um novogoverno, que encerrava um prolongado período de de-sordens e lutas internas. A chamada era Tokugawa(1600-1868) postulava uma meta política que diferiafrontalmente da era anterior, caracrterizada pelo desen-volvimento de inúmeras batalhas entre os senhores feu-dais (daimios), que procuravam ampliar seus domíniose, desse modo, contribuíam para promover a unifica-ção e a consolidação de todo o território nacional du-

o rante o século XVI.

O clã Tokugawa assumiu o governo com o objetivode estabelecer e manter a paz e a ordem nacional, recon-quistando a possibilidade de controlar o próprio desti-no do país. Neste sentido tornou-se um regime restriti-vo e conservador, que impunha uma organização socialde aprofundamento da diferenciação existente entre osestamentos sociais, no que tange a seus limites, valori-zação, comportamento adequado, leis básicas sociais,etc. Adotou uma política de isolamento nacional em re-lação a outros países, expulsando, inclusive, comercian-tes e missionários estrangeiros que circulavam pelo J a-pão, proibindo, mesmo, os próprios japoneses de saí-rem e retornarem ao país. Esse isolamento assegurou a"paz interna", criando condições para o desenvolvi-mento de suas instituições políticas e de seus recursoseconômicos e culturais, enfim para o país desenvolver-secomo nação. Embora se deva alertar para outros fato-res que promoveram essa política isolacionista do J a-pão na época - tais como, a queda de interesses dos es-trangeiros no comércio proposto pelos japoneses; ascondições geográficas inadequadas a um contato maisfreqüente com o exterior, etc. - preocupava-se o go-verno, ao impor o isolamento, com a necessidde de as-segurar ao país: uma estabilidade política (imposição da

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autoridade central sobre a local, de alguns senhores feu-dais que se interessavam pelo comércio exterior); social(continuidade do desenvolvimento das relações patri-moniais); religiosa (temor ao cristianismo); e econômica(garantir o monopólio do comércio exterior)."

O governo permanecia em mãos da aristocracia mi-litar (os samurais) que, nos tempos de paz, exercia a ad-ministração civil como uma elite burocrática. Pauta-va-se, no entanto, acentuadamente, pelos moldes dasorganizações militares, num esforço para colocar a so-ciedade em ordem, através da elaboração de novos prin-cípios, leis e regulamentos que definiam uma adminis-tração racionalizada e muito bem controlada.

Assim, instituiu-se, como característica peculiar ttosistema político Tokugawa, um governo com dois ní-veis de autoridade: um nível de poder efetivo - o xo-gunato - sobre todas as áreas do governo e da vida na-cional (senhores feudais, ordens religiosas e, inclusive,o imperador e sua corte, ainda que bastante prestigia-dos por ele), institucionalizado por meio de um meca-nismo racional de controle dos demais estamentos, queos mantinha em constante fragmentação e oposição; poroutro lado, o xogunato aceitava um nível de autorida-de regional de alguns senhores feudais, por ele nomea-dos governadores, embora controlados e submetidos aoseu poder, do qual advinham as doações e expropria-ções das terras de que dispunham e seu impedimento departicipar de assuntos de Estado. Seu nível de autori-dade restringia-se às aldeias e às cidades sob sua circuns-crição, em geral onde se localizavam suas propriedadesrurais e urbanas. Eram comunidades, portanto, relati-vamente autônomas do poder central.

A atividade econômica predominante no períodofeudal era a agricultura, enquanto o comércio apresen-tava um mínimo desenvolvimento. Ambos estamentosdedicavam-se exclusivamente às atividades que lhes ca-biam socialmente: produzir e distribuir os produtos, res-pectivamente, para camponeses e comerciantes, alémda tarefa de pagar os impostos relativos.

No início da era Tokugawa ocorreu um acentuadocrescimento populacional, decorrente do período de paze da melhoria do nível alimentar propiciado pelo desen-volvimento das atividades agrícolas. Este, por sua vez,originou-se substancialmente da intensificação do tra-balho da mão-de-obra agrícola, embora, em mínima es-cala, outros fatores tenham colaborado, tais como: me-lhoria de instrumentos, de sementes, de novas técnicasde obtenção de mudas, do uso de animais, de fertilizan-tes, enfim pela utilização da tecnologia.

O governo, no entanto, intervinha totalmente sobrea distribuição de mercadorias, não permitindo o livreacesso ao comércio exterior e utilizando-se da técnicade monopolização para controle das atividades comer-ciais. Ficavam totalmente a seu cargo o controle das mi-nas e a produção de moedas.

De modo geral, no período Tokugawa, os estamen-tos sociais aumentaram seu nível de qualidade de vida,cresceram os centros urbanos e, embora o conceito desociedade ideal para a maioria das classes dirigentes fos-se a agrária, estimulou-se intensamente o desenvolvi-mento das atividades comerciais, da manufatura e doartesanato. Semelhante política, embora contraditória,em princípio, às metas governamentais de contenção e

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limitação da atividade comercial, foi promovida e ado-tada em inúmeras ocasiões mediante pressões de cir-cunstâncias diversas: para possibilitar a organização ad-ministrativa e a dedicação à técnica burocrática; parapropiciar a intensificação da atividade agrícola; paraatender ao aumento das necessidades de bens ocorridocom a melhoria do nível de vida, em geral e, principal-mente, da nobreza e da corte, nas suas luxuosas insta-lações no campo e na cidade, dos camponeses mais abas-tados e dos samurais impedidos de comerciar; para aten-der à necessidade da transformação, cada vez em maiorescala, de produtos em dinheiro, para pagamentos deimpostos, etc., quando o sistema monetário foi implan-tado; para propiciar a melhoria das finanças de gruposde senhores feudais, na segunda metade do século XIX,quando passaram a apoiar numerosos monopólios.

Assim, no século XVIII, o país entrou numa nova fa-se de economia comercial centrada nas cidades, que sedesenvolveram em função de medidas administrativasde infra-estrutura de transportes e comunicações e douso de moedas. Começavam a aparecer comerciantesenriquecidos que detinham posses num montante igualao de certos senhores feudais.

As tendências ocorridas durante a era Tokugawa-de concentração da terra sempre em disputa entre os se-nhores feudais; de desigual difusão da riqueza e dos pri-vilégios; de crescente carga de impostos sobre os cam-poneses, destinados nessa sociedade a exercer as funçõesde servi-la, abastecendo-a com sua produção; de sepa-ração, e mesmo de oposição, manifestada entre os cam-poneses que enriqueceram e os que permaneceram po-bres (os primeiros passaram a comerciar e a arrendarsuas terras ou a assalariar outros camponeses); enfim,de um conjunto de fatores - denotavam a evolução dasociedade e a diversificação de suas atividades, embo-ra a um alto custo para a classe dos camponeses. Estesúltimos, ao enfrentarem tais momentos de crise na agri-cultura e os períodos de carestia, passaram a protestar,cada vez mais freqüentemente, dada a situação de mi-séria em que se encontravam. Também a classe dos sa-murais vinha-se deteriorando pela perda das funçõestradicionais da grande maioria dos guerreiros. Muitosempobreceram. Suas virtudes marciais começaram a so-frer a concorrência do prestígio adquirido pelos comer-ciantes enriquecidos e, por esses vários motivos, passa-ram a contribuir para a turbulência social que ocorreuno final do período analisado.

A evolução do uso do sistema monetário, o comér-cio tomando impulso, a urbanização crescente, o cres-cimento das necessidades de consumo -luxuoso, in-clusive - das cortes, dos senhores feudais e dos própriossamurais provocaram um endividamento dessas classes,a inflação, a desvalorização da moeda, o debilitamen-to das finanças públicas.

As bases do sistema feudal cada vez mais se abala-ram com o desmoronamento das barreiras que manti-nham os estamentos perfeitamente definidos, limitadose controlados, alterando-se, assim, seu poder, prestígio,posição e alianças. Começava-se a cogitar da necessi-dade de reformas para neutralizar a insatisfação e a agi-tação latentes e até mesmo explosivas. Porém, as pro-postas que surgiram continham um profundo teor tra-

Fôrmulas milagreiras

dicional, pois advinham de grupos das classes dominan-tes que consideravam as alterações ocorridas na socie-dade determinantes de desajustes econômicos e sociais.É o retorno ao espírito guerreiro do passado; a restri-ção do comércio com o exterior que, em pequena esca-la, vinha-se realizando; a supressão de estudos sobre oOcidente, que a propagação da instrução ao povo de-senvolveu; a eliminação do luxo governamental e do es-tilo de vida dos governantes (samurais); o impedimen-to de contatos com o estrangeiro, que começavam a sedesenvolver; enfim, a volta aos valores religiosos e es-tamentais que a urbanização vinha solapando, ao pro-pagar uma forma laica e racionalista de enfocar a vida.

Ao mesmo tempo em que se agudizava a crise inter-na, ocorriam e intensificavam-se novas ameaças estran-geiras de várias origens, objetivando, e mesmo impon-do, o restabelecimento ou estabelecimento das relações,principalmente comerciais, mediante violências e repre-sálias.

Embora o desenvolvimento institucional tenha im-plicado estruturação de uma organização administra-tiva burocrática voltada para o alcance da eficiência fun-cional do governo, levando ao debilitamento das rela-ções feudais - inclusive pela conversão dos samuraisde vassalos com feudos em funcionários assalariados -quando, no início do século XIX, ocorreram problemaseconômicos e sociais internos e ameaças externas, o sis-tema se revelou ineficaz para resolvê-los.

A atuação dos governantes efetuou-se no sentido defortalecer as defesas do país contra a ameaça estrangei-ra, mas fracassou quanto ao enfrentamento da crise me-diante a estrutura política existente, abrindo assim es-paço para as lutas pelo poder.

Desta forma, em 1868, a coalizão de agentes e fun-cionários de alguns senhores feudais com alguns dai-mios, príncipes e nobres, apoiando o imperador, abo-liu o xogunato e devolveu a administração ao impera-dor, pondo fim à era Tokugawa, caracterizada, por al-guns autores," pelo isolamento do país, pelas relaçõessimbióticas entre guerreiros e mercadores e pelo longodomínio político do guerreiro. Era a chamada Restau-ração Meiji que se iniciava, a partir de uma guerra ci-vil, logo dominada, e que procederia à consolidação dopaís, para enfrentar sua crise de identidade e de segu-rança nacional, inicialmente pelo fortalecimento dasforças armadas e do Estado.

A opção governamental contra a coalizão formadapoderia ter sido o armamento dos camponeses para de-fender o país contra os estrangeiros. Mas a possibilida-de de utilização desse contingente pelos daimios contrao governo impediu que se viabilizasse tal alternativa."

Assim, os grupos que se aliaram para a tomada dopoder e restauração do país compunham-se de nobresda corte que apoiavam o imperador, chefes feudais des-contentes, samurais afastados dos senhores, comercian-tes antigos e conservadores que não queriam a abertu-ra do país para evitar a concorrência do exterior. Prati-camente, foram os camponeses como um todo que fi-caram fora dessa coligação e na guerra civil lutaram in-diferentemente de um lado ou de outro (a favor do xo-gum ou do imperador).

O enfrentamento do desafio ocidental, isto é, da so-brevivência como Estado independente frente à supe-rioridade das armas e da tecnologia ocidental, implica-

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va não só a criação de um Estado nacional forte e uni-ficado, mas, também, a construção de um modelo desociedade moderna com uma economia industrial.

A militarização foi a saída encontrada para se alcan-çarem os objetivos definidos para a restauração: mo-dernizar, sem alterar as estruturas socias.? A constitui-ção de um exército, de uma esquadra naval, de depar-tamentos especializados na administração pública fo-ram instrumentos importantes para a criação de uma na-ção unificada, controlada, com maior segurança paraa abertura comercial imposta por outras nações, ao mes-mo tempo em que criaram uma colossal demanda inter-na de produtos industriais.

A lei máxima do país, na época Meiji, consistiu nu-ma combinação de técnica política ocidental e idéias po-líticas japonesas tradicionais. Salvaguardava os privi-lérios da classe dirigente e reforçava os valores políti-cos e sociais conservadores, legitimando, inclusive, oimperador como monarca absoluto e sagrado, superiorao governo, pois era a personificação do Estado, e to-dos os japoneses eram seus súditos, devendo servir-lhelealmente. Por outro lado, ao constituir a base de ummoderno Estado de direito, a nova constituição era ino-vadora, pois estabelecia instituições através das quaisse procederia ao ulterior desenvolvimento político dopovo japonês, as câmaras e assembléias com represen-tação popular.

Os novos governantes procuravam desenvolver o no-vo sistema político equilibrando-o habilmente entre mo-delos tradicionais e inovadores; entre o estabelecimen-to de uma autoridade centralizada e forte, e a represen-tação nacional, para assim alcançar a mais ampla ade-são do país. Chegou-se, desse modo, a uma forma mis-ta: burocracia tradicional e administração inovadoraoriginária do Ocidente, caracterizada pela representa-ção e divisão de poderes. 10

O temor, o sentimento de debilidade e também a ad-miração e inclinação pela cultura ocidental fizeram comque houvesse uma rápida aceitação dos novos costumes.Processava-se a ocidentalização. Por outro lado, rea-ções etnocêntricas ocorriam, ansiando pela conserva-ção do sentimento de identidade cultural: utilizar a téc-nica, mas manter e preservar os valores espirituais e éti-cos orientais, superiores aos do Ocidente. A liberdadepoderia conduzir à depravação e o individualismo, àanarquia. 11

Ao longo do período da restauração Meiji são cons-tituídas todas as bases para o desenvolvimento do ca-pitalismo por meio da industrialização do país, apro-veitando-se a reconstrução a partir de todo o esfacela-mento - iniciado na era Tokugawa - do modo de pro-dução anterior.

As primeiras medidas tomadas com relação a posseda terra constituíram-se na desapropriação progressi-va dos feudos (ou han) , transferindo-os para o impera-dor (em alguns casos, voluntariamente), e na determi-nação de uma renda, paga pelo Estado, aos proprietá-rios que, daí em diante, passariam a viver na corte e nascidades. Tais medidas conduziram a uma melhor redis-tribuição das terras entre os que nela produziam, pormeio de arrendamentos, cessões e mesmo pela aquisi-ção de propriedades. As terras tornavam-se mercado-

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rias. Em lugar dos feudos surgiram as prefeituras e mu-nicipalidades administradas por antigos daimios, os go-vernadores, nomeados pelo imperador.

Paralelamente, promovia-se -..ma reforma tributáriapara centralizar, racionalizar e ampliar a arrecadaçãodo governo. Favoreciam-se aqueles que obtivessemmaior produtividade. Semelhante método incentivou oaumento da produção, a absorção de mão-de-obra e oenvolvimento das comunidades rurais na busca dessesobjetivos. Foi também através das antigas formas de or-ganização das aldeias, do assalariamento da mão-de-obra na atividade agrícola, da intensificação do uso demão-de-obra, que se conseguiu o desenvolvimento daagricultura para exercer suas funções primordiais na eta-pa da industrialização, dispensando a utilização de tec-nologia agrícola moderna, quase inviável nas condiçõesde solo do Japão.

O papel do governo, neste caso, foi contribuir tecni-camente (financiamento de laboratórios de análise e de-senvolvimento de melhores sementes, mudas, fertilizan-tes, etc.) e através de obras públicas locais de infra-es-trutura com o objetivo da elevação da produtividadeagrícola e da sua adaptação às mudanças exigidas parao arranco da industrialização.

Nas palavras de Barrington Moore Jr., "a políticaMeiji utilizou, pois, o camponês como fonte de acumu-lação capitalista". 12

Outra reforma social que promoveu o rompimentodas amarras do feudalismo, liberando e motivando asforças sociais para um modo de vida mais moderno, foia declaração da igualdade das classes sociais, que elimi-nou as restrições sobre a mobilidade social e profissão,valorizando igualmente os diferentes tipos de ativida-des. Tal medida, juntamente com outras de caráter eco-nômico e social, facilitou os meios para o desenvolvi-mento das atividades comerciais e industriais com vis-tas à competição a ser encetada na esfera internacional.Observe-se, no entanto, que a concepção hierárquicatradicional, na sociedade japonesa em modernização,continuava sendo respeitada, pois ex-samurais e ex-dai-mios passaram a constituir uma nova aristocracia.

Formar cidadãos para deslanchar a nova era de mo-dernização foi outra tarefa de ordem política a ser en-frentada pelo governo. Para tanto, elaborou-se um sis-tema nacional de educação que atendia a esse objetivo,preparando a população em vários níveis, com especialatenção à transmissão de conhecimentos científicos, li-terários e técnicos. Caracterizava-se, no entanto, por as-segurar e fortalecer o ideal e a ética nacionalista e auto-ritária simbolizada pelo trono, desenvolvendo arraiga-slamente uma filosofia de subserviência ao Estado. 13

Mas o processo de industrialização dependia não sóda preparação de recursos humanos, como também detecnologia já desenvolvida no Ocidente. Necessário setornou eliminar, totalmente, qualquer barreira impos-ta ao desenvolvimento do comércio, tanto interno quan-to externo; ação esta que o governo passou a promoverpor meio da adoção de uma política de intercâmbio mul-tilateral. Eram exigidas, ainda, para sustentar o desen-volvimento industrial, a organização da base monetá-ria, assim como a criação de uma rede de serviços de in-fra-estrutura de transportes e comunicações. O próprio

Revista de Administração de Empresas

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Estado deflagrou esse processo, financiando empreen-dimentos em larga escala, construindo estradas de fer-ro e linhas telegráficas, explorando diretamente indús-trias extrativas e importando equipamentos. Portanto,assumiu a responsabilidade dos riscos iniciais, promo-veu o avanço técnico e financiou empresas que, poste-riormente, foi transferindo para a iniciativa privada, abaixo custo.

o processo de formação de capital para enfrentar astransformações também foi, inicialmente, assumido pe-lo Estado, a partir de grandes emissões, da reforma doimposto territorial monetário (que substituiu os direi-tos feudais) auferido da classe agrária, de empréstimosestrangeiros (embora em pequena escala), da difusão desociedades por ações no ramo financeiro e, principal-mente, de reforma bancária. Foram, assim, criados osbancos oficiais para funcionarem em conjunto com osbancos privados e, então concentrados, atuarem dre-nando recursos e estimulando as atividades considera-das prioritárias. Na década de 1870, a formação de ca-pital no Japão foi auxiliada pela inflação dos preços,que transferiu recursos do consumo para os lucros.

Assim, os bancos constituíram, conforme afirmaCarlos Alonso, "o elo dominante da propriedade capi-talista no Japão e, dada a ausência de limitações legais,puderam dar origem a grupos que desdobravam suas ati-vidades no campo da indústria, dos transportes, dos se-guros, do comércio exterior, da mineração, etc. Destaforma, em fins do século, a economia japonesa já eradominada pelos zaibatsu, forma de organização mono-polista superior, na qual, sob uma mesma relação depropriedade, o capital se desdobrava em capital indus-trial, bancário e comercial, indicando assim que a pró-pria industrialização nipônica resultou no predomíniodo capital monopolista" . 14

Verifica-se, portanto, ter sido fundamental a parti-cipação do Estado no financiamento da industrializa-ção, inclusive na determinação dos setores líderes doprocesso. Esse fato ocorreu mediante a impossibilida-de de capitais individuais assumirem tal tarefa, em fun-ção do grau de centralização de capitais que os paísesmais avançados atingiram nesta etapa, do baixo dina-mismo do mercado mundial e do efeito das quedas depreços dos produtos primários.

Ao findar o século XIX, o Japão, assim como outrospaíses industrializados nesta fase, contava com uma es-trutura econômica e social capitalista conformada à se-melhança das estruturas da Inglaterra (façanha do ca-pitalismo concorrencial, não alcançada na sua etapamonopolista).

O período de transição analisado, desde o início dodesmantelamento do feudalismo, na era Tokugawa, atéa constituição plena do capitalismo, no final da era Mei-ji, demonstra, no entanto, que no Japão as condiçõesde desenvolvimento desse processo não levaram ao ani-quilamento total das relações feudais nem à sua substi-tuição por outras completamente distintas. Em algunsaspectos econômicos e sociais, certos valores feudais fo-ram aproveitados para a constituição de uma socieda-de moderna.

No Japão, as correntes seculares e racionalistas -que na Europa corroeram as crenças tradicionais no iní-cio da industrialização - por serem importadas, demo-

Fôrmulas milagreiras

raram muito a se difundir de modo extensivo e, assim,não criaram raízes. Ao enfrentarem inicialmente os pro-blemas do desenvolvimento industrial, os japoneses ba-searam-se necessariamente na sua estrutura social e pro-dutiva tradicional, sob um regime de repressão interna,totalitário e muito compatível com as características desubserviência e obediência do período feudal. Pela co-

. ligação das elites comerciais e industriais e as classes go-vernamentais tradicionais da zona rural versus campo-neses e trabalhadores industriais, foram transpostas pa-ra a sociedade moderna as características "aproveitá-veis" das estruturas japonesas tradicionais, com peque-nas adaptações à transição para a produção modernadestinada ao mercado.

Essa adaptabilidade das instituições políticas e sociaisjaponesas aos princípios capitalistas permitiu ao Japãoevitar os custos de um processo de transição revolucio-nário.

Tais peculiaridades, que na etapa atual do capitalis-mo no Japão continuam a imprimir seus reflexos na or-ganização e controle do processo de trabalho, serão exa-minadas com mais detalhes no próximo item.

4. OALCANCE DA EFICIÊNCIA NAINDÚSTRIA JAPONESA NO SÉCULO XX

O capitalismo japonês formou-se, então, de maneira di-ferente dos demais países? É um modelo de transiçãodiverso dos demais? Não. O que necessita fiear bem cla-ro é que as transformações estruturais econômicas e so-ciais - isto é, as relações estabelecidas a nível da pro-dução, para que o modo de produção se constitua -ocorrem da mesma maneira em todos os países que setransformam em capitalistas. No entanto, determina-das características de organização, de comportamentoto e, conseqüentemente, de formação de valores, ideaise expectativas foram utilizadas no Japão (diferentemen-te dos países europeus, onde foram destruídas, pois nãose adaptavam ao desenvolvimento do capitalismo), emfunção de circunstâncias éonjunturais e históricas, queas tornaram eficazes na implantação do novo modo deprodução.

Tanto foi propícia essa conjugação de fatores que,atualmente, outros países capitalistas estão buscandono Japão fórmulas milagreiras que, na realidade, nãoo são, nem se constituem em inovações. A transição efe-tuada nesse país trouxe, tanto quanto aos países euro-peus, o racionalismo necessário para legitimar as novasformas de organização, especialmente a nível do pro-cesso de trabalho. Na Europa, filosofia, religião e atéa própria biologia (Darwin) aliaram-se no sentido de le-gitimar as transformações econômicas e sociais. No Ja-pão, o racionalismo não foi tão profundo, não difun-diu totalmente suas raízes, por ser importado e repre-sentar valores alienígenas que a classe dominante, ex-tremamente conservadora, autoritária e centralizado-ra, não estava inclinada a absorver indiscriminadamen-te, por motivos de identidade e segurança nacional. Atecnologia moderna, evidentemente, era necessária, as-sim como a formação de pessoal capacitado para desen-volvê-la. Porém, por questões de manutenção de poder,de composição das classes que levavam e patrocinavamo processo, e da posição economicamente desigual ou

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desvantajosa ocupada pelo Japão em relação a outrospaíses mais desenvolvidos, enfim, por pressões princi-palmente internas, mas, também, externas, a identida-de nacional necessitava ser fortemente mantida. Nadamelhor para isto do que aproveitar a forma de organi-zação e os valores já existentes que atendessem aos no-vos objetivos colocados (produtividade, eficiência, cres-cimento, desenvolvimento), mas conservassem suas tra-dições motivadoras, ao mesmo tempo em que se intro-duziam formas modernas de organização e novos va-lores (ainda que importados) em determinadas esferasonde a tradição somente contribuía para emperrar ofuncionamento nos moldes capitalistas. Mas isto mereceser exemplificado.

O governo Meiji, ao guiar o país para sua industria-lização até 1912 - quando finda o seu período e o sis-tema capitalista começa a dar indícios de manifestar-sepor si próprio, por exemplo, dobrando a produção -o faz, como já foi visto, impelido por pressões internase externas. Assim, os moldes de industrialização ado-tados pautaram-se muito pelo exemplo norte-america-no, tanto no que concerne à tecnologia quanto às téc-nicas ger,enciais indispensáveis à organização, adapta-ção, controle e legitimação da nova forma de produçãoadotada. Ambas são inicialmente copiadas na medidadas possibilidades comerciais e políticas.

Entre as duas grandes guerras, o Japão caracteriza-va-se, ainda, por uma estrutura econômica de peque-nas empresas dominadas por alguns grupos econômi-cos (zaibatsu) importantes. Nesses conglomerados quecomeçavam a se desenvolver, as técnicas de racionali-zação tayloristas utilizadas nos países já industrializa-dos, principalmente nos EUA, começaram a ser implan-tadas: a divisão de trabalho e a especialização a níveisextensos; o controle intensivo da produção e da mão-de-obra; a formalização e a impessoalização dos pro-cessos de produção e de trabalho, etc. Nas pequenas em-presas, a produção baseava-se ainda na tradição da ma-nufatura: as relações informais, o controle pessoal, opaternalismo atuando como mecanismo de obtenção daprodução pela troca de favorecimentos (segurança), emcontrapartida ao atendimento de exigências (lealdade),etc.

Como o mergulho na modernização estrangeira po-deria abalar a estrutura de poder existente, a coligaçãodominante optou por um desenvolvimento rápido e in-tenso, assegurado por uma ação repressiva de carátermilitar. Isto é, apoiando-se numa rígida disciplina hie-rárquica - que permitiu a ampliação da centralizaçãoeconômica e política, e do sentido geral de identidadenacional- utilizou a tradição como força motivadorae mobilizadora nos setores econômicos e sociais que nãonecessitassem de uma transformação revolucionária.Foi o caso da agricultura, cujas características foram re-novadas para atender ao desenvolvimento industrial eurbano, sem perder sua organização e seu controle tra-dicionais. Para ampliar sua produtividade, alguns as-pectos técnicos foram atendidos (melhoria de sementes,de irrigação, do uso de fertilizantes, etc.), mas sem separtir para a total mecanização da produção (desde lo-go impossível, dadas as características do solo e do re-levo do país). Deste modo, com a ampliação da mão-de-obra e a intensificação do uso da forma de organi-

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zação das comunidades rurais (as chamadas paoy? etambém com a acriação de incentivos para o aumentoda produtividade, conseguiu-se, sem a expropriação ge-ral dos camponeses e mantendo sua forma de organi-zação, alterar o papel da agricultura, em função das ne-cessidades impostas pela industrialização. A necessida-de de mão-de-obra para a indústria foi atendida não sópelo êxodo rural devido à concentração das proprieda-des (ainda que não sendo intenso nem geral), mas tam-bém pelo crescimento demográfico e liberação da mo-bilidade social.

Essa forma de organização mantida e incentivada nazona rural, ao ser transplantada para a organização in-dustrial obteve ótimos resultados em termos de produ-tividade e em termos de implantação de uma nova me-todologia gerencial, que surgiu para suprir os aspectosdescuidados pelo taylorismo. Explicitando, nos EUA,em substituição aos modelos abertamente opressoresdas técnicas tayloristas, que motivaram reações gene-ralizadas, começaram a ser elaboradas técnicas geren-ciais baseadas no conhecimento das motivações do com-portamento humano. Sua utilidade prática consistia em,ao mesmo tempo, mascarar o caráter explorador das re-lações de produção e incentivar a mão-de-obra à pro-dutividade crescente. Éa conhecida ideologia patronalde fazer crer ao operário que a empresa é uma família,cujos objetivos atendem aos interesses de todos os seusmembros e podem ser melhor alcançados por meio deharmonia, lealdade e esforço comum, mas inteiramen-te compensador. Consiste também no incentivo ao "pe-queno grupo de trabalho", isto é, à institucionalizaçãodos grupos informais de amizade, objetivando seumaior controle pela administração, ao mesmo tempo emque se estimula o indivíduo à maior produção atravésdo apoio moral grupal, e o grupo, à competição inter-grupal, pelo prestígio da melhor performance. Essa for-ma organizacional, proposta pela teoria de origem nor-te-americana já mencionada, coincide plenamente coma forma de organização que no Japão consegue sobre-viver às dificuldades das lutas com a natureza (a agri-cultura). É a cooperação grupal que enfrenta a luta pe-la sobrevivência e valoriza a ação individualista do self-made man, que é utilizado como motivação e valoriza-ção da ação de lutar pela vida e ascender socialmente.

Assim como a ética protestante contribuiu para o de-senvolvimento de valores propícios à constituição dosistema capitalista na Europa e nos EUA, a influênciado confucionismo - filosofia e teologia voltadas paraos problemas da vida - incentivou no Japão a interna-lização de valores tais como: a obediência aos mais ve-lhos, o espírito de sacrifício, a humildade, o respeito ànatureza, etc.

Utilizadas, portanto, conjuntamente, as tradições ja-ponesas e as teorias modernas de gerenciamento docomportamento (teorias clássicas e de relações huma-nas) oferecem um excelente instrumento para o alcan-ce dos objetivos capitalistas de acumulação e expansão.

Inserem-se nessa categoria as práticas gerenciais deenvolvimento emocional da mão-de-obra, que inspiraminveja aos ocidentais, cada vez mais preocupados no en-calço de métodos e técnicas que propiciem a obtençãodos objetivos empresariais de crescente eficiência, pois

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constituem seus resultados: a dedicação e o apego ao tra-balho na empresa (que ocupa quase 800/0do tempo diá-rio de um trabalhador quando se incluem horas extras,horas de trabalho voluntário, reuniões de orientação,práticas desportivas, cerimoniais, lazer com os colegas,refeições com os familiares na empresa, etc.); a aceita-ção, pelo operariado, do aumento dajornada de traba-lho (por meio de horas extras, trabalho voluntário oureuniões de orientação); o respeito à autoridade e à hie-rarquia (chamado de subserviência); a disciplina man-tida em respeito e atendimento às normas e aos regula-mentos; a participação intensa nos objetivos, ideais eplanejamento das atividades da empresa; a valorizaçãodo imperativo da concorrência e da competitividade.Muitas destas respostas são voltadas não só para o tra-balho, mas para uma postura nacional- de cidadão emrelação ao seu país.

É verdade que técnicas gerenciais são utilizadas nosentido da obtenção dessas posturas. No entanto, de-ve-se ter o cuidado de separar de seus efeitos os mitosque, geralmente, envolvem a forma de ver a civilizaçãooriental, levando a interpretações místicas e misterio-sas. Tal análise distorce e encobre suas característicasde evolução, bastante semelhantes, estruturalmente, àsde qualquer país capitalista.

Assim, os mitos da exagerada disciplina e subser-viência dos empregados, da sua extrema participaçãovoluntária e integral ao trabalho, dos sacrifícios pelaempresa onde trabalham e de outras atitudes semelhan-tes devem ser devidamente esclarecidos em função, jus-tamente, da maneira pela qual as relações de produçãosão desenvolvidas e a contrapartida a esses procedimen-tos é estabelecida.

As condições vividas pelo país no período da "deco-lagem" para a industrialização, sob pressão política eeconômica dos EUA, levaram os setores governamen-tais, apoiados pelas classes conservadoras, a bancar umesforço desenvolvimentista dirigido para os setores deponta. Constituiu-se, assim, uma estrutura econômicadualista: um setor industrial altamente concentrado eprodutivo, e uma série infindável de pequenas e médiasempresas onde as relações de trabalho se processam deforma bastante diferenciada do setor mais moderno.

A instituição da estabilidade de emprego, principal-mente nas grandes empresas e para as funções mais es-pecializadas ou técnicas, correspondeu, portanto, muitomais a uma política da classe patronal para resolver pro-blemas conjunturais do que a uma "herança" do feu-dalismo ou a um estilo gerencial oriental. 16 Abrangen-do, atualmente, cerca de 30 a 400/0 dos trabalhadores,sempre visou a estabilizar a mão-de-obra num país on-de a maioria dos trabalhadores se originava de ativida-des agrícolas e se destinava a um setor de indústrias pe-sadas que demandam uma formação longa e especiali-zada de grande parte da sua força de trabalho.

A política educacional e cultural- traçada ainda naera Meiji e cujos valores até a atualidde foram aprofun-dados e observados rigorosamente - foi elaborada es-tritamente atrelada às necessidades do crescimento eco-nômico, de seus valores competitivos e de manutençãoda identidade nacional. É um sistema seletivo e concor-rencial que ignora o indivíduo particular, em função de

Fórmulas milagreiras

uma' 'ética grupal" , utilizando cerimônias de iniciaçãopara legitimar a valorização da escalada da hierarquiaatravés da colaboração, do respeito à autoridade e doextremo aperfeiçoamento e desempenho profissional.Esta formação, que marca profundamente a consciên-cia coletiva do povo japonês (a maioria de instrução mé-dia para cima), iniciada como instrumento necessárioà constituição e desenvolvimento do capitalismo -frente às condições internas e externas do país, já evi-denciadas - e fortalecida após a 11Guerra Mundial, éaceita e posta em prática uma vez que legitimada pelosresultados que vem obtendo a economia nacional a ní-vel, inclusive, internacional. Os meios de comunicaçãodesempenham um papel importante na veiculação dosreferidos valores uma vez que, de caráter conformista,governista e nacionalista, tanto a imprensa escrita co-mo a falada (televisão) atingem, praticamente, toda apopulação: um jornal para dois habitantes e a existên-cia de pelo menos um aparelho de televisão para cercade 95% das famílias.

Complementa a prática do emprego vitalício a pro-moção por antiguidade, que justifica a contratação comsalários baixos, ao valorizar seu crescimento mais sig-nificativo pelo tempo de serviço dado a uma mesma em-presa, principalmente após 10 anos de serviço. A mu-dança de emprego determina um rebaixamento para oinício da escala de salários, cujo leque é bastante redu-zido.

Objetivando manter um percentual privilegiado detrabalhadores em relação aos demais - no sentido deatender à demanda de mão-de-obra qualificada, de di-ficultar a união da classe, além de manter baixos os cus-tos dos salários e de amortecer as flutuações sazonais- utiliza-se para os demais trabalhadores (quase 60%do total da mão-de-obra que são absorvidos pelas pe-quenas empresas e pelas grandes empresas nas funçõesdesqualificadas) urua política de intensa discriminaçãono recrutamento industrial, que reserva os empregostemporários, diários, a domicílio e o subemprego aosestrangeiros (coreanos, etc.), às mulheres solteiras ouviúvas (as casadas em geral não trabalham) e aos que nãotêm qualquer qualificação. Grande parte dessa mão-de-obra é contratada por empresas que, subcontratadas poroutras empresas, fazem a alocação conforme as varia-ções e flutuações do mercado de trabalho, e outra par-te é agenciada por intermediários à semelhança dos cha-mados "gatos" que agenciam os "bóias-frias" no Bra-sil.

Essa dualidade do mercado estabelece uma concor-rência entre a mão-de-obra, reforçada pela estreita rela-ção existente entre maiores empresas e melhores escolas,qUI;determina o destino dos técnicos e universitários, se-lecionadamente (isto é, discriminadamente). Nesse sen-tido também atuam os sindicatos que, por se organiza-rem a nível de empresas - os organizados por setor fo-ram totalmente eliminados após a 11Guerra Mundial-,só nas grandes se instalam, e, ainda assim, representan-do, de modo geral, as reivindicações da mão-de-obramais estável e qualificada, e com altas possibilidades decooptação pela gerência empresarial.

O fator preponderante na aceitação dessas dispari-dades pela classe operária foi o estabelecimento, desdeo início da mobilização pela industrialização, de práti-

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cas salariais tayloristas, isto é, a modulação dos salá-rios pelos resultados da empresa. Assim, a necessidadede obtenção de resultados elevados em prazo mínimolevou o patronato e o governo à instituição de gratifi-cações por produtividade, o que determinou aos ope-rários das grandes e dinâmicas empresas o recebimen-to de cinco a seis salários mensais, como gratificaçõesobtidas ao longo do ano, além dos 12 normais.

Realmente, nas últimas duas décadas, os saláriosreais cresceram e o nível médio de qualidade de vida dapopulação aumentou bastante desde o início da indus-trialização. Aceitou-se, desse modo, uma melhoria donível de consumo, porém, a um alto custo social, comopor exemplo, a inexistência de um sistema de previdên-cia social governamental. Ao ser aposentado, o traba-lhador recebe da empresa como indenização, apenas ovalor de sete salários mensais. Sua sobrevivência, daí emdiante, assim como as necessidades de atendimento àsua saúde e de sua família durante toda sua vida são su-pridas através de seguros que o trabalhador possa (ounão) prover.

Os empresários japoneses apresentam, como fatoresque contribuíram para o sucesso do desempenho da suaindústria, a política econômica do país, a manutençãode valores morais tradicionais e as inovações tecnoló-gicas. No entanto, atribuem a maior ênfase ao dinamis-mo e à visão do empresariado ao adotar para o proces-so de industrialização uma política de propiciar e incen-tivar a participação dos recursos humanos das empre-sas nos objetivos, atividades e decisões empresariais, istoé, uma política de "produção do consenso" ou de "pos-tura democrática" dentro da empresa. 17

Essa participação é alcançada não só pelas condiçõesespecíficas em que foi deslanchado o processo de indus-trialização e "vendido" à população como a melhor for-ma possível. Dele também são co-promotoras as carac-terísticas particulares do sistema de emprego e remune-ração no país, e as técnicas gerenciais, fundamentalmen-te baseadas nas teorias das relações humanas e na com-portamental, copiadas dos norte-americanos desde oseu surgimento, por volta dos anos 30 deste século, e in-tensificadas nos períodos pós-guerra (1945) e após cri-ses econômicas (décadas de 60 e 70).

Faz parte ainda da fórmula para obtenção da parti-cipação das classes trabalhadoras nos processos de in-dustrialização e de crescimento constante da produti-vidade, não só a utilização e manutenção da tradiçãopara fins de modernização - por exemplo: a estruturafamiliar, constituída para apoiar o chefe da família nassuas necessidades e decisões; os "pequenos grupos debase", organizados na agricultura, e cuja solidarieda-de e compromisso de lealdade promoveram originaria-mente a sobrevivência na agricultura; o sistema ringuide tomada de decisão, 18 ancestral mente adotado pelosgrupos de trabalho que, ao compartilharem com todosos membros cada projeto de ação, obtêm, simultanea-mente, o consentimento e o comprometimento de todosno apoio à sua viabilização, etc. - como também a ado-ção de métodos para forçar a coesão, a integração, a co-laboração e o controle social.

Baseiam-se tais métodos na motivação de um com-portamento de apego e dedicação ao trabalho, a partir

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do atendimento das necessidades básicas humanas(apoio grupal, reconhecimento, prestígio, auto-afirma-ção, etc., além do atendimento das necessidades de so-brevivência); e numa política paternalista de valoriza-ção e atendimento das necessidades dos que colaboramcom a empresa, e de apelo constante à lealdade destestrabalhadores.

As práticas gerenciais responsáveis pelo alcance dacooperação da força de trabalho estendem-se a todosos níveis da empresa: na organização geral (sistema decomunicação que flui em todas as direções, leque sala-rial reduzido, uniformes comuns para todos os empre-gados, restaurante único, etc.); na seleção (alto nível mé-dio de formação escolar, conformismo, calma e docili-dade, etc.); na integração (ginástica em conjunto, ceri-mônias de hasteamento de bandeiras e canto de hinosem grupo, participação em vários tipos de comitês e gru-pos de trabalho, reuniões de orientação, elaboração deslogans para campanhas empresariais e sugestões em to-dos os níveis, etc.); nos controles sutis epsicológicos (fis-cal mascarado em participante, corgpetíção entre gru-pos, estabelecimento de padrões de comportamento delealdade, de colaboração, de obrigações morais, etc.);e, principalmente, na forma de assalariamento e orga-nização de carreira da mão-de-obra que, no conjunto,atendem aos interesses dos trabalhadores ao possibili-tar-lhes a elevação de seu padrão de vida e a inclusão nafaixa privilegiada do mercado de trabalho.

Por outro lado, as práticas tayloristas são sempre re-novadas no sentido de, cada vez mais, sincronizar-se oprocesso de produção, de modo a tentar-se eliminar ostempos mortos das máquinas, os tempos de pausa, tor-nando crescentemente mais intenso o trabalho e redu-zindo-se o tempo-padrão de cada atividade.

Assim esclarecem-se os mitos do respeito à autorida-de, da obediência, da subserviência, do apego e dedi-cação ao trabalho, da realização de horas de trabalhovoluntário, entre outros: os interesses e direitos dos queconseguem os melhores empregos são atendidos, embo-ra dividindo-se a classe trabalhadora. Por outro lado,é importante destacar que faltas ao trabalho, licençasou férias extensas implicam redução de rendimentos (ga-nhos de produtividade nessas condições não são com-putados). Isto, portanto, não significa subserviência ecom esta não deve ser confundido, pois, concretamen-te, representa uma defesa dos interesses econômicos decada trabalhador.

Legitimando e reforçando as práticas gerenciais, asempresas utilizam uma intensa campanha ideológica nosentido da obtenção da colaboração dos empregados eda sua identificação com os objetivos empresariais, is-to é, motivando-os a' 'vestir a camisa da empresa" atra-vés da atitude paternalista de criar um clima empresa-rial de pseudo-harmonia social, de vivência familiar, devalorização da capacidade criativa individual e de reco-nhecimento do "direito" de sugerir novas idéias. É, se-gundo o empresário japonês Soichiro Honda.I? uma"postura democrática da empresa" , cujo objetivo é va-lorizar a criação humana, como fórmula de chegar a no-vos processos e produtos.

É, evidentemente, uma estratégia administrativa"eficaz" para o alcance da "eficiência". Dela fazem

Revista de Administração de Empresas

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parte, como foi visto, a estratificação do mercado de tra-balho (por tamanho de empresa, por segmentos de tra-balhadores, por tipo de contratação, por especialização,etc.), o sistema de remuneração da mão-de-obra (salá-rios, gratificações, prêmios de produção, bonificações,etc.), a vitaliciedade de determinados empregos, o re-gime de promoção por antiguidade, a veiculação daideologia desenvolvimentista, principalmente a nível in-ternacional (coesão grupal), a disseminação da ideolo-gia da democracia empresarial (valorização da partici-pação).

5. CONCLUSÃO

Um fato importante a considerar no sentido de respon-der ao questionamento proposto no trabalho é que, acada fase do processo de industrialização, a cada neces-sidade de resolver as crises ou proceder a mudanças nasestruturas econômicas, sociais e políticas, o governo ja-ponês e as classes produtoras, além das medidas econô-micas e sociais de caráter mais geral, têm-se preocupa-do sempre com a renovação das técnicas organizacio-nais, adaptando-as ou inovando-as. Elas, assim, cum-prem seu papel no desenvolvimento do modo de pro-dução capitalista: conformar a força de trabalho às exi-gências de desenvolvimento da tecnologia, colaboran-do profundamente para a viabilização da crescente ex-tração da mais-valia; mascarar ou atenuar os antago-nismos inerentes às relações sociais de produção queocorrem internamente ao processo produtivo; e ainda,legitimar as relações de trabalho pelo caráter de racio-nalidade e participação que evidenciam.é''

Isto ocorre muito mais intensamente a partir de 1945,no esforço de reconstrução do Japão, quando, segun-do Ginsbourger, 21 os norte-americanos organizaramno país uma' 'cabeça-de-ponte" no combate ao comu-nismo asiático: proibição geral das greves; eliminaçãodos sindicatos de oposição e fortalecimento dos sindi-catos por empresa; refortalecimento das forças conser-vadoras que promovem o engajamento da tradição à ló-gica da acumulação do capital; concentração por inte-gração vertical de setores industriais oligopolizados, es-colhidos para liderar o desenvolvimento industrial e comdemanda em crescimento, interna e mundialmente, ecom forte protecionismo ao mercado interno.

São instaurados, eu diria revigorados, nessa época,os "pequenos grupos de base" , de utilização bastanteconveniente às empresas, uma vez que incentivam os tra-balhadores ao aumento da produtividade ao afastá-losda rotina excessiva, integrando-os numa base de apoiogrupal indispensável à manutenção de um forte coleti-vismo, além de torná-los poli valentes , mais adaptáveisàs flutuações da economia e da tecnologia e, interna-mente, mais sensíveis às técnicas gerenciais de coopta-ção.

O paternalismo, sempre presente, cumpre o papel deneutralizar o racionalismo cada vez mais exigido pelatecnologia e atender à formação tradicional de respei-to à autoridade e aos mais velhos, integrando o operá-rio na "família empresarial", motivando-o ao aumen-to da produtividade.

Fórmulas milagreiras

O sistema ringui de tomada de decisão amplamenteestabelecido é incentivado como medida de utilizaçãoda tradição de decisão por consenso, numa ênfase nofluxo de informações de baixo para cima nos escalõesda empresa. O estilo gerencial mais indicado para via-bilizar semelhante sistema e que, portanto, se tenta pro-mover é o do executivo conciliador, mais coordenadordo que executivo, que ouve as opiniões, sistematiza-asjuntamente com a sua própria e passa as decisões parao nível superior. Compromete-se, pois, com as decisõestomadas, estando ou não a favor das mesmas. Atual-mente, questiona-se muito esse sistema em virtude dasua lentidão e inflexibilidade num momento de pressõespara rápidas resoluções, além de não se coadunar como estabelecimento de um planejamento global.

O emprego vitalício e o salário por antiguidade, ins-tituído no início do século para determinados empregos,são mantidos e até hoje são utilizados, embora se tenhaobservado uma redução na quantidade. Trazem essaspráticas uma série de vantagens às empresas: custos detreinamento baixos e mais facilmente absorvíveis; fa-cilidade de transmissão dos conhecimentos de um ope-rário para outro; incentivo à produtividade por trans-mitir segurança individual ao empregado e expectativade melhoria salarial; estabilização da mão-de-obra, etc.

A utilização de recompensas econômicas faz-se cres-centemente, cada vez mais moduladas em função daprodutividade.

A partir de 1960, com um novo surto de inovaçõestecnológicas no parque industrial, amplia-se a extraçãode mais-valia. Passa o Japão, nessa época, por uma fa-se de recessão econômica. Greves eclodem como respos-ta à repressão direta e a problemas nacionais de reno-vação do tratado de segurança com os EUA. Em con-seqüência, a nível das unidades empresariais, novas téc-nicas organizacionais são buscadas.

Datam dessa época os famosos CCQ (Círculos deControle de Qualidade), pequenos grupos operários,instituídos pela gerência e apoiados pelos sindicatos,com a finalidade de discutir e apresentar soluções a pro-blemas vividos por seção, setor ou local do processo pro-dutivo. Tais grupos permitem a redução dos custos e aelevação significativa da produtividade sem a intensi-ficação do capital. E, mais, acrescentam uma nova ta-refa aos operários (a responsabilidade de análise e ela-boração de sugestões), construindo um sistema de in-

. formações que intensifica a expropriação do conheci-mento do trabalhador, reforçando a autoridade do ca-pital sobre o trabalho. Levam ainda à ampliação da jor-nada de trabalho, que se estende em reuniões de orien-tação e discussão sem a devida remuneração (o traba-lho nesses grupos é considerado voluntário), embora semascarem em atividades de participação, de criativida-de, de integração, cujos resultados, se viávies e rentá-veis, determinam bonificações, prêmios e participaçãonos lucros específicos por tempo determinado.

A superação da nova crise ocorrida em 1974-78 é al-cançada pela possibilidade da mobilidade no nível deemprego, principalmente realizada pelos zaibatsu e in-terempresas, via processo de subcontratação, novamen-

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te patrocinado pelo Estado, que garante o subempregoou o semi-emprego, subvencionando as empresas.

Parte-se para a racionalização total, para a roboti-zação, para a automação. Não ocorrem demissões, po-rém forçam-se os acordos negociados, as aposentado-rias antecipadas, as dispensas programadas, as falên-cias planejadas, etc. Os trabalhadores reagem criandosindicatos "paralelos" aos oficiais, radicalmente anti-capitalístas.P

E, assim, prosseguirá a luta capital versus trabalho,como em qualquer país capitalista. Torna-se necessá-rio, pois, considerar que o transplante que se quer via-bilizar das técnicas gerenciais deve ser analisado não so-mente sob o ponto de vista da lógica capitalista (quan-do, então, poderia ser totalmente viável), mas, sobre-tudo, a partir das condições de constituição e evoluçãodas estruturas econômicas, sociais epolíticas do país-com sua superestrutura reflexa de valores, ideais é ex-pectativas - e do conhecimento do conteúdo ideológi-co utilizado para solidificar os padrões comportamen-tais exigidos durante o processo de instalação, cristali-zação e expansão do modo de produção capitalista.

Aparecem como fundamentais, neste caso, a inter-ferência do Estado para a criação e sustentação de con-dições de produção com crescente produtividade, assimcomo a política de emprego, de salários, de promoçõese de organização dos trabalhadores dentro das empre-sas, através de mecanismos de controle rígidos, e umaideologia da inevitabilidade da rápida industrializaçãoe do arranque para a concorrência internacional, comomedida demanutenção da identidade e da segurança na-cionais.

Esse "capitalismo organizado" , conforme batizouFrancis Ginsbourger no prefácio do livro de Kamata Sa-toshi.P conseguiu uma "química" que não poderá serreproduzida. Quiçá, razoavelmente adaptada.

"Teixelra, D.L.P. & Souza, M.C.A.F. de. Organização doprocesso de trabalho na evolução do capitalismo. Revista deAdministração de Empresas, 25(4):70, out.ldez. 1985.

2Braverman, H. Trabalho e capital monopolista. Rio de Ja-neiro, Zahar, 1980. p. 124.

30liveira, C.A.B. de. Oprocesso de industrialização - do ca-pitalismo originárioaoatrasado. Tesede doutoramento. Cam-pinas, Unicamp, 1985. mimeogr.

40liveira, C.A.B. de. op. cit. p. 239.

5Sobre o processo de transição, no Japão, do modo de pro-dução feudal para o capitalismo, ver: AlIen, G.C. A short eco-nomichistoryofmodernJapan. London, 1951; Hall, J.W.EI imperio japonés. Madrid, Siglo XXI, 1973; Lockwood,

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W.W. OEstado eo empreendimento econômico no Japão mo-derno - 1868-1938. In: Kuznets, S. et alii, org. Crescimentoeconômico; Brasil, Índia e Japão. Rio de Janeiro, Môna-co/Usaid, 1969;Moore Jr., B.As origens sociais da ditadurae da democracia; senhores e camponeses na construção domundo moderno. Santos, Martins Fontes, 1967;Takahashi,H.K. La place de la révolucion Meiji dans I'histoire agrairedu Japon. Révue Historique, oct/déc. 1953;Weber, M. His-tória geral da economia. São Paulo, Mestre Jou, 1968.

6HalI, J.W. op. cit.

7Moore Jr., B. op. cit.

8Id. ibid.

9Id. ibid.

IOHalI,J.W. op. cit.

IIHalI, J.W. op. cit., 1973.

12Moore Jr., B. op. cit.

I3Id. ibid.

140liveira, C.A.B. de. op. cit. p. 250

15Pao: aldeias agrícolas japonesas existentes no período feu-dal, que mantinham uma organização relativamente autôno-ma dos governos regionais, baseada no trabalho conjunto, so-lidário e harmônico, que possibilitava a sobrevivência de nu-merosos membros em escassa superfície e recursos, assim co-mo a obtenção do crescimento da produtividade das ativida-des.

16Ginsbourger, F. Japon: voyage au pays du consensus so-cial. Les Temps Modernes, Paris, 37(415), fév. 1981.

17Estaafirmação é sistematicamente renovada nos discursospatronais veiculados em notícias de periódicos (entre inúme-ras outras: Revista Negócios em Exame. O que está mudan-do na vida das fábricas. 25 ago. 1982, p. 30; Através da Teo-riaZ, o exemplo japonês. 200ut. 1982, p. 25; A revolução nagestão. 2maio 1984,p. 46), estudos de pesquisadores (a exem-plo: Ouchi, W. Teoria Z; como as empresas podem enfrentaro desafio japonês. São Paulo, Fundo Educativo Brasileiro,1982),além das biografias publicadas de grandes empresários,como, por exemplo, de Soichiro Honda e Akio Morita, res-pectivamenteem: Kato, M. &Sedding, C., coord. HondaporHonda. Sigla, 1982;Morita, A. Made in Japan. Cultura, 1986.

18Vera esse respeito o artigo de: Tsukamoto, Y. O processodecisório empresarial no Japão. Revista de Administração deEmpresas, 20(4):73-7, out./dez. 1980.

19Kato,M. & Sedding, c., coord. op. cit.

2oposição teórica adotada por vários autores que assim enca-ram as técnicas organizacionais adotadas nos países capita-listas, por exemplo, as japonesas: Saccardo, C. & Lino,H.F.C. Novas técnicas de organização e a tecnologia no ca-pitalismo. In: Bruno, L. &Saccardo, C., coord. Organização,trabalho e tecnologia. São Paulo, Atlas, 1986; artigos de M.Tragtenberg na Folha de São Paulo: Mudanças na adminis-tração do trabalho. I? ago. 1981; Controle de qualidade oudo trabalhador? 31 maio 1982, 8 jul. 1982,20 jul. 1982; Ja-pão: a outra face do milagre. I? jun. 1984, 11jun. 1984,2jul.1984; Os fundamentos despóticos do neoliberalismo. fev.1986.

21Ginsbourger, F. Prefácio. In: Satoshi, K. Japão, a outra fa-ce do milagre. São Paulo, Brasiliense, 1985.

22Satoshi, K. op, cit.

23Id. ibid.

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