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ARROZ AGROECOLÓGICO CADERNO DE ESTUDOS PRODUÇÃO DE ALIMENTO DE BASE ECOLÓGICA SOBRE O CONTROLE DOS CAMPONESES!!! Assentamento Filhos de Sepé Viamão/RS, Novembro de 2015. Vinicios Roratto, 2013

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ARROZ AGROECOLÓGICO

CADERNO DE ESTUDOS

PRODUÇÃO DE ALIMENTO DE BASE ECOLÓGICA SOBRE O

CONTROLE DOS CAMPONESES!!!

Assentamento Filhos de Sepé

Viamão/RS, Novembro de 2015.

Vinicios Roratto, 2013

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO .......................................................................... 3

CONTEXTUALIZAÇÃO para inicio da proza... ............................... 4

UM POUCO DE NÚMEROS E HISTÓRIA ........................................ 5

REVOLUÇÃO VERDE..................................................................... 6

AGROECOLOGIA .......................................................................... 8

MITOS DA AGROECOLOGIA ....................................................... 11

AGRICULTURA ORGÂNICA ......................................................... 13

TRANSIÇÃO, CONVERSÃO OU RUPTURA? ................................. 15

HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE ARROZ NOS ASSENTAMENTOS . 16

GRUPO GESTOR DO ARROZ ....................................................... 18

Princípios e Objetivos do GRUPO GESTOR ................................. 18

CARACTERIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NA REGIÃO DOS ASSENTAMENTOS ................................................ 19

Sistema Pré-germinado ............................................................. 19

Formação do Lodo, Nivelamento e Alisamento - Cuidados para não

Perder o Solo .................................................................................. 19

Pré-germinação da Semente ........................................................... 21

Época de Semeadura e as Variedades ............................................. 23

População de Plantas e Método de Semeadura ............................... 26

Manejo da Água após a Semeadura ................................................ 27

Manejo e Controle das Plantas Espontâneas ................................... 28

Manejo e Controle dos Principais Insetos e Doenças ....................... 29

Ponto de Colheita e Cuidados ......................................................... 32

Transporte ...................................................................................... 33

Recepção e Secagem ...................................................................... 33

Armazenagem ............................................................................... 34

ROTEIRO TECNOLÓGICO ............................................................ 35

EXPERIÊNCIA DO ASSENTAMENTO FILHOS DE SEPÉ .................. 37

Produção de Arroz Ecológico ..................................................... 37

Gestão Comunitária das Águas do Assentamento ..................... 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 40

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APRESENTAÇÃO

O presente material tem por finalidade abordar elementos referentes à produção de arroz Agroecológico. Não é um manual! Trata-se de um caderno de estudo. Não existem fórmulas e receitas na Agroecologia, sua prática envolve descobertas cotidianas de acordo com as diferentes realidades e vivências dos agricultores.

Pretende apresentar e descrever de forma sucinta as operações realizadas no cultivo do arroz agroecológico desenvolvido pelo conjunto dos assentamentos da Reforma Agrária da região de Porto Alegre vinculados ao Grupo Gestor do Arroz. Expor suas experiências e desafios.

Desta maneira pretende oportunizar informações e conceitos

para aqueles produtores que desenvolvem o cultivo e, ademais, animar os agricultores que ainda não produzem de forma ecológica

à mudança de modelo produtivo. A produção de arroz realizada com base ecológica não faz uso

de insumos industriais de base química/sintética: adubos solúveis e agrotóxicos. Convive e “conversa” com os elementos naturais.

Através da observação; do manejo e das boas práticas com o solo, a água, os animais (grandes e/ou pequenos) e o ecossistema como um todo; do trabalho coletivo e do uso de tecnologias adequadas o cultivo do arroz agroecológico se faz possível.

Desta forma contrapõe o sistema convencional de produção, os pilares da Revolução Verde e o agronegócio que contamina o ambiente, degrada e empobrece os solos, expulsa o camponês da roça, adoece o agricultor e o consumidor e, além de tudo isso, causa extrema desigualdade social.

Através da Cooperação e da Organização dos produtores, associações e cooperativas no Grupo Gestor o cultivo do arroz toma dimensões para além da produção, alcançando o domínio da cadeia produtiva, oportunizando ao agricultor condições para desenvolver sua lavoura, certificação como produto orgânico até a secagem, armazenagem, beneficiamento e mercado para a produção.

Este livreto é fruto do acumulo prático e teórico dos assentados, não tendo a pretensão de ser um produto acabado, muito pelo contrario, é um material aberto e em construção por aqueles que se desafiaram a produzir alimento sadio de forma limpa e sustentável.

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CONTEXTUALIZAÇÃO para inicio da proza...

Você já parou para pensar de onde vem o que está em sua mesa? Quem produz o alimento que sua família consome? Em que condições estes alimentos foram produzidos? Como esta produção impacta o nosso planeta?

O trabalho e a relação entre as necessidades humanas e os recursos naturais disponíveis para a satisfação destas necessidades gerou as condições de sobrevivência da humanidade e moldou os modelos produtivos e culturais.

Através do trabalho o ser humano produz os bens e serviços necessários para a satisfação de suas necessidades. Do ambiente e seus serviços a humanidade retira os recursos necessários para produzir os alimentos, energia, roupa, calçado, moradia, etc.

A mão do Homem formou o próprio Homem e sua evolução. O trabalho, compreendido como a interação Homem-Natureza é responsável por toda a riqueza construída.

Ao longo de sua história a humanidade se perpetuou no planeta como espécie “dominante” através de processos de adaptação e evolução.

Em sua evolução a humanidade submeteu o conjunto de elementos vivos e minerais ao seu beneficio. Os usos indiscriminados do patrimônio natural, com ênfase no último século, e as relações sociais de produção produziram uma profunda crise civilizatória.

A busca pela satisfação das necessidades humanas impulsiona os processos produtivos. Afinal, se não precisássemos de um determinado produto ou serviço este não seria produzido. É na satisfação de suas necessidades que a humanidade se move e move a economia.

Para a economia capitalista, de consumo, as necessidades são infinitas. Não há limite para a produção. Não há limite para a extração de bens e serviços naturais.

Se as necessidades da humanidade são infinitas e os recursos naturais finitos, pode haver sustentabilidade nos processos produtivos? Quais são realmente as necessidades humanas? Poderá a humanidade manter seus padrões de consumo e, por consequência, impactar os ecossistemas indeterminadamente?

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UM POUCO DE NÚMEROS E HISTÓRIA

A história da agricultura tem aproximadamente 10.000 anos. O atual modelo produtivo, conhecido como Revolução Verde, pouco mais de 50. Nestes últimos anos a capacidade de resiliência (capacidade de recompor-se) do planeta diminuiu ao limite devido ao uso indiscriminado dos recursos naturais e contaminação dos ecossistemas.

O número de habitantes do planeta também sofreu alterações drásticas. A população mundial em 1950 era de 2,5 bilhões de pessoas. Em 2000 já havia mais de 6 bilhões. A população mundial atual de 7,2 bilhões de pessoas chegará a 9,6 bilhões em 2050, apontou o relatório da ONU em 19 de junho de 2013.

Como produzir comida para tanta gente sem agredir o ambiente ao ponto que este não consiga regenerar-se?

Da mesma forma, a realidade no campo e sua ocupação sofreram profundas alterações. Hoje a realidade é inversa a que existia há um século. Em 1900, nove em cada dez homens, mulheres e crianças, que somavam uma população de 1,65 bilhões, ainda viviam no campo. No inicio do século XXI praticamente a metade da população já habitava nas cidades, dessa população urbana, estima-se que uma proporção de três para vinte pessoas se encontrem nas principais 50 metrópoles e megalópoles.

Qual o modelo produtivo se quer para a agricultura? Como uma minoria da população pode alimentar a maioria que vive na cidade?

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REVOLUÇÃO VERDE

O agronegócio ou agrobusines produz commodities (produtos com preço regulado internacionalmente, destinados à exportação): soja para as vacas e porcos chineses, milho para produção de biodiesel, cana para etanol, eucalipto para papel, etc. O agronegócio não alimenta a população: mais de dois terços da comida que o brasileiro come vem da agricultura familiar.

Os princípios básicos da agricultura convencional são o monocultivo, a mecanização, diminuição da mão de obra, utilização de insumos industrializados e de agrotóxicos.

O Brasil é o campeão em aplicações de veneno. Cada brasileiro consume em média 5 litros de agrotóxico por ano. São mais de dois bilhões de litros de fungicidas, herbicidas, inseticidas, nematicidas, raticidas e outros tantos “cidas” jogados nas nossas águas e solos. O Rio Grande do Sul é o maior consumidor do Brasil.

A partir da década de 60 o trabalho na agricultura passou por um processo de tecnificação acentuada. O uso de instrumentos manuais e animais passaram a um conceito de atraso. O camponês arraigado à sua cultura tradicional, com o uso da sua enxada, arado de bois passou a ser conhecido como “Jeca-Tatu”.

A agricultura recebeu o aparato bélico da segunda guerra mundial. A enxada deu lugar ao herbicida e o arado de boi ao trator. A industrialização da agricultura levou a diminuição da população camponesa e ao envenenamento do campo e do camponês.

Os eufemismos “defensivos agrícolas”, “agricultura moderna”, entre outros, foram amplamente utilizados, descaracterizando a agricultura tradicional e promovendo o novo modelo.

A Revolução Verde modificou profundamente o campo. As principais mudanças se referem ao padrão tecnológico, o trabalho e a relação estabelecida com a natureza.

Muitas famílias camponesas resistiram a este fenômeno, mas, sofreram drasticamente as consequências do modelo produtivo.

A assistência técnica e extensão rural cumpriram papel determinante na recomendação do pacote tecnológico.

Para a agricultura convencional (Revolução Verde) a natureza é um obstáculo, uma barreira a ser enfrentada. Os insetos, aranhas, os fungos, bactérias, vírus, nematoides, ervas espontâneas, são inimigos e como tais devem ser combatidos e controlados. Assim o

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equilíbrio natural foi prejudicado. Quanto mais veneno se usa, mais veneno é necessário.

Esse desequilíbrio ambiental fez das multinacionais que produzem estes produtos, bilionárias. É o caso da Bayer, Singenta, Monsanto, dentre outras.

Sempre se usou veneno na agricultura? Não será possível a agricultura sem veneno?

Anotações:

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AGROECOLOGIA

A Agroecologia é concebida em uma perspectiva multidimensional e multifatorial, abarca não somente a dimensão ecológica e técnico-produtiva. Compreende também os âmbitos sócio-político, científico-epistemológico, cultural e consciencial.

Um processo complexo, integral, que reúne estes elementos em um território em disputa, em um tempo histórico de luta pela supressão dos privilégios, onde a humanidade precisa decidir-se entre mudar seus padrões de produção, distribuição, consumo e manejo dos resíduos ou caminhar para a barbárie e a destruição do planeta:

(…) a Agroecologia contempla o manejo dos recursos naturais desde uma perspectiva sistêmica; ou seja, tendo em conta a totalidade dos recursos humanos e naturais que definem a estrutura e a função dos agroecossistemas; e suas inter-relações, para compreender o papel dos múltiplos elementos intervenientes nos processos artificializadores da natureza por parte da sociedade para obter alimentos (Guzmán, E. S. y Ottmann. G., 2006. P. 13).

Para Altieri, M. A.; Hecht, S.; Liebman, M.; Magdoff, F.; Norgaard, R e Sikor, T. O. (1999) a Agroecologia tem suas raízes nas ciências agrícolas, no movimento do meio ambiente, na ecologia (em particular na explosão de investigações sobre os ecossistemas tropicais), na análise de agroecossistemas indígenas e nos estudos sobre o desenvolvimento rural. (…) como um enfoque que integra ideias e métodos de vários subcampos, mais que como uma disciplina específica. A agroecologia pode ser um desafio normativo às maneiras em que varias disciplinas enfocam os problemas agrícolas (p. 16).

Complementariamente, a Agroecologia critica ao pensamento científico: por um lado, desvelando o etnocentrismo sociocultural das Ciências Sociais como construção histórica europeia que centra sua pesquisa em una única proposta civilizatória que exclui de seu acervo conceitual as demais. E, por outro lado, pretendendo modificar-lhe, provando ademais a necessidade de complementar as descobertas científicas agropecuárias e florestais com aquelas “práticas camponesas e indígenas” que tem mostrado sua sustentabilidade histórica. Esta perspectiva pluriepistemológica da Agroecologia possui, pois, uma natureza dual, que em nosso discurso, pensando em Latino América, pretendemos completar

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mediante os conteúdos históricos gerados nas lutas sociais autóctones contra a homogeneização sociocultural da Modernidade (Guzmán, E. S., 2007, p. 1).

Finalmente: a agroecologia pode ser definida como o manejo ecológico dos recursos naturais através de formas de ação social coletiva que apresentam alternativas à atual crise civilizatória (Guzmán, E. S., 2007, p. 1).

Portanto, falar sobre Agroecologia é falar de economia, sociedade, modelos, técnicas, padrões, políticas, ciência, paradigmas. Não se trata apenas de um conjunto de procedimentos, se trata de uma bandeira de luta por uma relação humanidade-natureza mais harmoniosa, por uma produção de alimentos saudável, pela preservação do planeta e perpetuação da própria humanidade.

Muitas iniciativas importantes foram tomadas ao longo da história da Agroecologia para conceitua-la. Ditas iniciativas são importantes, mas entendemos que definir a Agroecologia é um processo de risco posto que, delimita a mesma, pode “engessá-la” em um conceito. Agroecologia é um processo e como tal não se amarra nos termos.

A base fundamental da Agroecologia é o Agroecossistema, um ambiente natural e aberto onde se desenvolve a agricultura, uma unidade de produção onde há uma intensa relação e fluxo de energias e interação Homem-Mulher-Natureza.

Agroecologia é resposta a um modelo produtivo insustentável. Surge como alternativa a Revolução Verde. Portanto, pode-se datar em meados dos anos 60 e 70 do século XX, seu inicio.

A agricultura desenvolvida antes da Revolução Verde se conhece como agricultura tradicional. O exercício do modelo produtivo da Revolução Verde, agricultura convencional.

A agricultura tradicional é fundamental na Agroecologia. As principais expressões de Agroecologia nascem da vida do camponês dedicado ao seu agroecossistema, na aplicação de saberes empíricos e ancestrais.

Unido ao conhecimento tradicional, a Agroecologia se fundamenta na ciência, no conhecimento científico, nos avanços tecnológicos, nas novas formas de trabalho.

Portanto, a Agroecologia se nutre da ciência, em todas as ramas e dos saberes empíricos ancestrais dos camponeses e das

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camponesas. É a união entre a ciência e o empírico, do novo e do velho.

A agricultura sustentável, sob o ponto de vista agroecológico, é

aquela que seja capaz de atender, de maneira integrada, aos seguintes critérios:

•Baixa dependência de insumos de fora; •Uso de recursos renováveis localmente acessíveis; •Melhor aproveitamento dos pontos positivos e negativos do

ambiente local (encarar o problema como uma solução); •Aceitação e/ou tolerância das condições locais, antes da

dependência, da intensa alteração ou tentativa de controle sobre o meio ambiente;

•Manutenção a longo prazo da capacidade produtiva; •Preservação da diversidade biológica e cultural; •Utilização do conhecimento e da cultura da população local; •Produção de mercadorias para o consumo interno do lote e

para o mercado. Anotações:

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MITOS DA AGROECOLOGIA

Nos discursos contrários à Agroecologia se ouve argumentos como: “a agroecologia é a agricultura de fundo de quintal!” “Não é possível através do modelo agroecológico gerar alimentos para toda a população!”

Como referido anteriormente, a Agroecologia é concebida em una perspectiva de múltiplos fatores e dimensões não somente a dimensão ecológica e técnico-produtiva.

Portanto, é necessário falar em políticas públicas, investimentos, subsídio, etc. O camponês isolado, desestruturado, desamparado, seguramente não terá condições de gerar grandes volumes de alimentos. Por outro lado, os agricultores organizados, cooperados, com incentivo público, estatal e da própria população consumidora podem produzir grandes quantidades e viabilizar, além da agricultura, outras formas de mercado.

A agroecologia pode ser desenvolvida em grande escala de produção?

A Agroecologia não tem limite de escala, sempre e quando se respeitem seus princípios e dimensões que fazem parte de sua essência.

Por tanto, em se tratando de escala e princípios, uma grande empresa multinacional que aplica os princípios técnicos agroecológicos em uma área, seja ela grande ou pequena está fazendo Agroecologia? Em absoluto, não! Não se trata de princípios isolados. Agroecologia é um conjunto de princípios técnicos, mas, também sociais, políticos, administrativos, etc. Sem participação social, uma produção que não busca a melhoria de vida das pessoas, que favorece apenas um setor da sociedade não pode ser considerada agroecológica.

A Agroecologia é menos produtiva do que a agricultura convencional?

A Agroecologia é tão quão produtiva à agricultura convencional e, ademais, é mais produtiva, pois, é mais diversa!

Um dos principais pilares da Agroecologia é o policultivo, a produção diversificada, associada, complementar, equilibrada.

Em um hectare de milho convencional pode-se colher números exorbitantes de quilos, chegando a cifras como de 14 toneladas. O mesmo com outros cereais, oleaginosas, etc.

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Em contrapartida em uma área de cultivo agroecológico em policultivo pode-se colher um terço desta cifra, ou mais, ou menos, no entanto, associado ao milho o produtor terá colhido feijão, abóboras, etc.

O monocultivo produz menos que o policultivo. Ademais de produzir menos, pois produz apenas um produto, esta produção é dependente de mecanização, insumos e agrotóxicos.

O custo energético do modelo convencional é sempre mais elevado em relação à produção obtida.

Adotar a agroecologia significa voltar no tempo? Definitivamente a Agroecologia é a mais avançada forma de

agricultura. Integra os mais distintos conhecimentos: agronomia, botânica, biologia, ecologia, fisiologia vegetal, entomologia, etc., juntamente com a experiência do agricultor, da sabedoria construída ao longo de gerações e do intercâmbio entre agricultores.

A Agroecologia faz uso de tecnologias e maquinaria. A diferença da Agroecologia e a agricultura convencional em relação à tecnologia é seu uso racional, planejado ao longo do tempo.

É mais caro produzir alimentos Agroecológicos? Atualmente todo o sistema de mercado está consolidado e

voltado a oferecer condições plenas para o desenvolvimento do pacote tecnológico da Revolução Verde - Agronegócio.

Da mesma forma, as condições de mercado para os produtos da agricultura apresenta uma logística perversa. O agricultor produz matéria prima e esta passa por um atravessador antes de chegar ao consumidor final.

Por tanto, para que o alimento produzido pelo agricultor chegue à mesa do consumidor com preço justo é preciso o domínio da cadeia produtiva. De nada serve produzir arroz agroecológico, por exemplo, e entregar para secadores e unidades de beneficiamento onde este produto cai na vala do mercado comum, ou, para empresas especializadas que cobram o que lhes convir.

O agricultor deve se organizar, e esta organização depende em grande medida do apoio da sociedade. Construir agroindústrias, unidades de beneficiamento, sistemas de conservação, formas de mercado direto, etc. Dessa forma o produtor ganha, o consumidor ganha, o ambiente ganha.

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AGRICULTURA ORGÂNICA

A agricultura orgânica é uma agricultura voltada à preservação ecossistêmica sem diminuir a produtividade agrícola. Em síntese, trata da conversão de um modelo de agricultura agressor a um modelo menos impactante.

Toda ação humana nos ecossistemas causam impactos. A agricultura orgânica busca minimizar estes danos substituindo os insumos químicos e sintéticos por elementos naturais.

Utiliza-se de uma série de ferramentas técnicas para o manejo dos cultivos. Abandona-se a aplicação de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos.

Entre as bondades da agricultura orgânica destaca-se a qualidade dos alimentos. A concentração de açúcares, minerais, vitaminas dos alimentos orgânicos é incomparável com a dos alimentos convencionais o que, por suposto, melhora seu sabor.

No entanto, a agricultura orgânica apresenta algumas limitações, que ao nosso entender, são fundamentais. Muitas dessas limitações se devem ao curso que se tomou. Muitos preceitos e a filosofia dos pioneiros da agricultura orgânica foram deixados de lado.

Para os fundadores desta agricultura, o princípio que os guiava, era a utilização dos recursos disponíveis dentro ou próximos aos locais de produção. No entanto, o que se observa atualmente é uma intensa dependência de insumos externos. O adubo orgânico, os preparados, sejam eles as caldas, bio-fertilizantes, compostos de pós de rochas, entre outros, podem provir do exterior. Esta dependência atrela os produtores aos fornecedores, muitos deles de natureza corporativa.

Originalmente a agricultura orgânica estava voltada para os pequenos produtores. Atualmente é desenvolvida também por grandes empresas.

A agricultura orgânica adota o monocultivo. Devido a pouca biodiversidade e sua funcionalidade, o sistema não possui sistema de regulagem natural, gera-se uma grande dependência de insumos externos para controle de insetos e doenças assim como para proporcionar a fertilidade dos solos.

Em relação ao preço dos produtos, são, geralmente mais caros em 10 a 30% em relação aos convencionais. Esse fator é um

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empecilho para que boa parte da população tenha acesso a esses produtos.

Concomitantemente à problemática do preço, um dois principais limitantes desta agricultura é a conversão da produção em mercadoria (commodities), onde as mesmas empresas e corporações que controlam a produção convencional realizam a sua distribuição.

Além dos fatores destacados acima a participação política, a cooperação entre os produtores, a emancipação do camponês, não estão na pauta deste modelo.

Anotações:

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TRANSIÇÃO, CONVERSÃO OU RUPTURA?

Transição ou conversão agroecológica se refere a um processo. Um conjunto de ações, de níveis diferenciados, desde a racionalização do uso de máquinas e de insumos, passando pela substituição de insumos ao redesenho dos agroecosistemas.

Quando se fala em transição agroecológica entende-se que os agricultores e as agricultoras estão conscientes de que o sistema atual não está completo, não é o mais adequado, está desequilibrado. É uma decisão tomada por pessoas, por uma comunidade, num dado momento histórico.

Para Costabeber, J. A. (2006) a transição agroecológica, enquanto processo social orientado para o alcance de índices mais equilibrados de resiliência, produtividade, estabilidade e equidade nas atividades agrárias, sempre estará condicionada e dependente dos graus de diversidade e de complexidade social e ecológica, o que também significa dizer que vai além dos aspectos meramente tecnológicos da produção rural.

Pois bem. É preciso atender a este assunto com cuidado. Não existe manejo ideal! O redesenho dos agroecosistemas é

um nível de conversão ao qual, em decorrência dos sinergismos, das interações, do equilíbrio entre os elementos naturais e minerais, da vida no solo, da biodiversidade, etc., podem sofrer alterações, adaptações. Está em permanente movimento.

A palavra “transição” pode converter-se em armadilha: transição, até quando?

Agroecologia é, em primeira instância, uma ruptura. O agricultor rompe, nega o sistema convencional. Decide caminhar à Agroecologia e não volta atrás, dá passos firmes.

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HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE ARROZ NOS

ASSENTAMENTOS

A Região Metropolitana de Porto Alegre e seu entorno, possui 25 assentamentos rurais realizados pelo programa de reforma agrária, onde vivem mais de mil famílias de camponeses assentados. Esta região se caracteriza por ter extensas lavouras de arroz irrigado (Oryza Sativa L.), pois a topografia do terreno é composta por

várzeas, que tem como característica campos planos a margens de rios, lagoas e banhados. A produção de Arroz Ecológico nos Assentamentos de Reforma Agrária da Região do entorno de Porto Alegre-RS, iniciou com experiência em pequenas áreas (3 a 4 ha ), no ano de 1999, basicamente no Assentamento da Capela (Capela RS), com a Cooperativa COOPAN e no Assentamento Lagoa do Junco (Tapes RS) com a Cooperativa COPAT.

As experiências práticas desenvolvidas pelas duas unidades, pioneiras, na produção de arroz ecológico, levaram ao interesse de mais famílias do próprio assentamento e de outros, a produzirem arroz ecologicamente. A partir daí, iniciou as trocas de experiências entre as famílias que vinham produzindo arroz ecológico e as que estavam iniciando ou que tinham interesse na atividade.

No ano de 2002 foi organizado um dia de campo entre as famílias que vinham produzindo arroz de base ecológica no Assentamento Lagoa do Junco em Tapes-RS, para troca de experiência e estudos em Arroz Pré-germinado Ecológico e Rizipiscicultura. A partir deste ano, consolidou-se o Grupo Gestor do Arroz Ecológico, como é mais conhecido, que é composto de famílias assentadas que trabalham em Cooperativas (CPAs), Associações de agricultores, grupo de agricultores ou de forma familiar no lote. Neste encontro ficou definida pelas famílias a organização de dois dias de campo e um seminário por ano para trocas de experiências e estudos sobre aspectos tecnológicos e logísticos da produção de arroz, como secagem/armazenagem, beneficiamento/processamento e formas de comercialização.

Na safra 2002/2003, iniciou-se o processo de certificação das unidades de produção, a partir da possibilidade de transações de arroz ecológico. A COCEARGS, Setor de Produção, Assistência Técnica, juntamente com o Grupo do Arroz Ecológico, tem a responsabilidade de sistematizar e/ou documentar todas as

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experiências agroecológicas. Intercâmbios de troca de experiências, seminários e dias de campo, entre as famílias assentadas da região e de outras regiões, ajudam a fortalecer a produção de alimentos agroecológicos, possibilitando uma maior independência dos agricultores, visto que ocorre uma apropriação das técnicas e dos manejos da atividade.

Crescimento em Nº de Famílias e Área Cultivada (ha)

Crescimento em Produção (sacas)

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GRUPO GESTOR DO ARROZ

Constituição: INÍCIO 1998/99

Coordenação: início 2004/05

Finalidade: atender as demandas derivadas das necessidades

impostas pelo programa do arroz.

Princípios e Objetivos do GRUPO GESTOR 1. Motivar mais famílias à produção agroecológica como

opção de vida;

2. Produção de arroz ecológico sob o controle dos

assentados;

3. Produzir a própria semente;

4. Preservação do meio ambiente;

5. Disputa por políticas públicas de incentivo a agroecologia;

6. Estratégia de certificação participativa;

7. Produção para o mercado interno;

8. Fazer a relação com a sociedade;

9. Contraposição ao agronegócio com a afirmação do projeto

camponês;

10. Fortalecer a organização (MST).

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CARACTERIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

NA REGIÃO DOS ASSENTAMENTOS

Sistema Pré-germinado

O sistema pré-germinado consiste no cultivo de arroz irrigado em áreas sistematizadas onde as sementes, previamente germinadas, são lançadas em quadros nivelados e inundados. Tem como objetivo principal o controle de plantas indesejadas.

A sistematização da área é um importante requisito para o sistema, consiste no nivelamento do solo com adequação dos sistemas de irrigação, drenagem e vias de acesso. Geralmente adotam-se quadros fixos, regulares e em geral de pequenas dimensões, separados por taipas permanentes. Em algumas situações de topografia com declividades maiores é viável utilizar as áreas entre taipas em curvas de nível.

O sistema vem crescendo nos assentamentos como uma alternativa de manejo das plantas espontâneas, principalmente o capim-arroz, arroz vermelho e preto.

Formação do Lodo, Nivelamento e Alisamento - Cuidados

para não Perder o Solo

É importante que as etapas da formação do “lodo” sejam realizadas no mínimo 20 dias antes da semeadura, com o objetivo de reduzir as perdas de solo e fertilidade por lixiviação, além de evitar o início da germinação das sementes de plantas indesejáveis. Nas operações de nivelamento da área, principalmente dentro da água, ocorre a desestruturação dos agregados do solo, ou seja, o solo fica "pulverizado" (tipo farinha). Neste momento é importante ter cuidado com a drenagem da área, para evitar a perda de material orgânico em suspensão. Segundo dados do IRGA a retirada de água antes de 48 horas da lavoura pode estar carregando 16Ton/ha de solo e 86 kg de Nitrogênio, fósforo e potássio.

As principais dificuldades enfrentadas pelos agricultores no acabamento/nivelamento da superfície da área, é a altura da lâmina de água e implementos pouco adequados ou adaptados para realizar as atividades.

Para suprir as dificuldades na hora de sistematizar o quadro, os agricultores utilizam a água como recurso, esta facilita a remoção do solo da parte mais alta para a parte mais baixa e serve como nível,

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facilitando a visualização dos micro-relevos. A deficiência no nivelamento do solo traz dificuldades como: o controle e manejo da água, estabelecimento das plântulas, ocorrência de insetos e doenças pelas dificuldades do desenvolvimento das plantas (na primeira semana da semeadura), bem como, o controle das plantas indesejáveis. Quando os quadros estão bem nivelados, facilita o controle do capim arroz e o controle da bicheira da raiz, possibilitando o aumento da produção.

Figura 1- Preparo Mecanizado do Solo

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Figura 2- Sistematização da Área

Pré-germinação da Semente

O processo é natural de aceleramento da germinação da semente, em condições de umidade, temperatura e oxigênio adequados, que ocorra um bom desenvolvimento e uniformidade do coleóptilo e da radícula. A semente ao pré-germinar, sem contato com a terra até a semeadura, requer “cuidados” que dependem exclusivamente do manuseio humano. Isso garante a qualidade e o potencial genético, o vigor inicial (VI).

O vigor é a capacidade das sementes germinarem e se estabelecerem no campo com maior rapidez. Sementes mais pesadas normalmente possuem maior vigor.

As duas etapas básicas da pré-germinação das sementes são: ● Hidratação Nesta etapa a semente é imersa em água limpa e condicionada

em sacas permeáveis por um período de 24 a 36 horas. Em dias mais frios 36hs. Ao hidratar em água a semente aumenta de volume por isso as sacas de 50kg devem ser divididas em duas.

● Incubação No período denominado incubação, ocorre a germinação da

semente, tendo necessidade de condições que permitam uma boa aeração, umidade e temperatura. Do início da incubação até a semeadura, o coleóptilo e radícula não devem ultrapassar de 2 mm

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de comprimento, para evitar danos na semeadura, como rompimento ou enovelamento da semente.

Temperatura da massa de sementes: De 30 a 35 graus Celsius: ideal para germinação; Acima de 35 graus Celsius: diminui o Vigor das sementes; Abaixo de 18 graus Celsius: diminui a velocidade de

germinação; Abaixo de 13 graus Celsius: cessa o processo de germinação.

Figura 3- Incubação da Semente

Figura 4- Detalhe Radícula

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Época de Semeadura e as Variedades

A época de semeadura tem relação direta com a produtividade, sendo um dos principais fatores de produção no Rio Grande do Sul, tendo como data limite até 10 de novembro para realizar a semeadura. O rendimento dos grãos de arroz irrigado é determinado pela biomassa, sendo esta determinada pelo índice de Radiação Solar, o fotoperíodo. A fase mais crítica é a reprodutiva, principalmente nos estágios da diferenciação dos primórdios da panícula (DPP) até a floração, que requer muita radiação solar, no mínimo 20 dias antes e 20 dias depois da floração. Para isso é fundamental que a semeadura seja realizada na época recomendada para aproveitamento da energia gratuita e renovável.

A semeadura dentro das recomendações técnicas colabora

com o desenvolvimento da cultura do arroz, evitando os limites climáticos e possíveis ocorrências de insetos, pássaros e doenças. Semear com temperatura muito fria, dificulta o desenvolvimento da cultura do arroz, dando espaço para as plantas espontâneas se desenvolverem.

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Época de semeadura:

A temperatura do solo deve estar entre 18-20°C que é

adequado para a germinação. Dados do IRGA/2007 em Uruguaiana

com a semeadura na época correta à produção aumentou de 20 a 30

sacas por hectare.

As temperaturas do AR e do solo nos meses de setembro e outubro não devem ser tomadas como fator limitante para a semeadura.

Obs.:

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População de Plantas e Método de Semeadura

A quantidade de semente a utilizar depende da cultivar, época de plantio, ocorrência de pássaros e caramujos, prováveis perdas pelo método de semeadura e do poder germinativo das sementes. Pelos dados da EMBRAPA, do IRGA e observação dos agricultores, constatam que uma boa população de planta (400pl/m²) de arroz controla as plantas indesejáveis.

No sistema pré-geminado a semeadura é realizada sobre lâmina de água com a semente germinada, podendo ser realizada manualmente, mecanizada e também através de transplante de mudas.

Dentre os cuidados a serem tomados, destacam-se o tipo de semeadura a ser realizada (manual ou mecanizado), os cuidados para não haver choque térmico da semente com água fria, a fim de não comprometer o vigor da plântula e a profundidade de semente no solo, cujo melhor resultados têm sido com profundidade até 1 cm.

A densidade atualmente utilizada pelos agricultores é entre 125 a 175 kg/ha.

Manual

A semeadura realizada manualmente permite que as sementes sejam lançadas com as estruturas (radícula e coleóptilo) maiores, pois não há risco de ruptura destas com equipamentos. Não devem estar muito grande sobre risco de serem carregados pela água.

Mecanizado

Com a semeadura mecânica as estruturas da semente (radícula e coleóptilo) devem estar com 2 mm de comprimento para não haver ruptura bem como o amontoamento ao serem lançadas ao solo. Este método requer cuidados e adaptações para não agredir as estruturas da semente (radícula e coleóptilo). As sementes para germinarem dependem de suas próprias reservas e gastam muita energia, por isso deve ser evitados danos às estruturas da semente, sobre perda de vigor inicial (VI).

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Figura 5- Plantio Mecanizado

Manejo da Água após a Semeadura

As estruturas de irrigação e drenagem devem dar condições de disponibilizar água e drenar os quadros em qualquer época, período ou fases de desenvolvimento do arroz. A água é uma das principais ferramentas utilizadas no controle de plantas indesejáveis e também o controle de insetos, como o gorgulho aquático (Oryzophagus oryzae), nos sistemas de produção agroecológico.

Irrigação → a necessidade de água inicia-se no preparo do solo e vai até o estágio de grãos pastosos do arroz. Na fase inicial de estabelecimento da cultura, é fundamental a disponibilidade da água, nesta fase a variações da lâmina de água, a fim de dar condições das plântulas se estabelecerem, bem como, realizar o controle da germinação e desenvolvimento de plantas espontâneas.

Drenagem → não segue regra pré - estabelecida, mas após a semeadura é importante observar o fator temperatura, presença de pássaros, moluscos e luminosidade – transparência da água para a penetração da luz solar.

A drenagem deve ser lentamente para evitar a lixiviação dos nutrientes e perdas de solo.

O tempo para retorno da água depende de vários fatores, como: umidade, desenvolvimento das plântulas, germinação das plantas espontâneas, temperatura, ocorrência de insetos, etc.

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Figura 6- Área Drenada

Manejo e Controle das Plantas Espontâneas

O controle das plantas indesejáveis ocorre nas etapas de preparo do solo, podendo inundar os quadros de arroz de 20 a 30 dias antes da semeadura, para induzir a dormência das sementes. Após o estabelecimento da cultura o controle das plantas indesejáveis, principalmente do capim-arroz, deve acontecer até este atingir a 4° folha, com água funda “afogamento do arroz”. A planta de arroz é resistente, sendo a sílica (mineral) um dos elementos responsável por esta condição, presente em maior quantidade nas plantas de arroz. As plantas suportam um determinado período de inundação e até mesmo uma condição de lâmina de água permanente, possuindo grande capacidade de recuperação. As demais plantas não apresentam tais condições, como capim arroz, que não suporta períodos longos de afogamento; quando submetido, enfraquece, amarela e morre. Um bom controle requer conhecimento, habilidade e observação do agricultor. Segundo o IRGA perde-se 26% da produtividade para cada 13 plantas/m² de capim-arroz.

O controle de germinação e desenvolvimento das plantas espontâneas após os preparos do solo, deve ocorrer com água, esta diminui o oxigênio no solo e dificulta a entrada de luz; com o preparo do solo no cedo a tendência é baixar temperatura do mesmo, dificultando a germinação e o crescimento das plantas, como a grama-boiadeira. A inundação prévia da área, em torno de 20 dias

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antes da semeadura do arroz pré-geminado, deve garantir a dormência das sementes contidas no solo, seja de arroz, de capim-arroz, de grama-boiadeira e outras plantas indesejáveis. A dormência das sementes é uma defesa natural, que mesmo estando em perfeitas condições não germinarão, se as condições do meio não lhe forem favorável no momento.

O controle do capim-arroz pela lâmina de água é oportuno que se realize até este atingir a 4° folha, onde se eleva o nível da água, estabelecendo-se um estado de "afogamento", onde as plantas de capim-arroz permanecem sob a água e as plantas de arroz com as pontas sobre a água. É um método que exige muita observação por parte do agricultor, o momento certo de entrar com a água, o tempo de permanência com o estado de "afogamento" e os manejos pós a drenagem. Neste processo o arroz teve um crescimento forçado e pode vir a cair e grudar no solo, tendo a necessidade de entrar de forma rápida com a água nos quadros, para descolar as plantas do solo.

A planta de arroz é mais resistente por apresentar mais silício na sua composição, elemento que da resistência e vigor as plantas e exporta as adversidades de stress. O manejo é complemento de uma boa semente com alto vigor, boa germinação e semeadura dentro da época recomendada, a lavoura de arroz se faz no arranque inicial.

Manejo e Controle dos Principais Insetos e Doenças

Bicheira da Raiz do arroz - Oryzophagus orizae

No sistema pré-geminado o gorgulho-aquático danifica o sistema radicular das plantas; dez dias após aparecimento dos gorgulhos, emergem as larvas, estas causam os maiores danos ao arroz. No Rio Grande do Sul, na safra de 2008, representou uma queda em 15% da produtividade. Os gorgulhos alimentam-se das folhas, produzindo faixas longitudinais descoloridas e as larvas se alimentam do sistema radicular, deixando a planta debilitada, impedindo que a planta absorva os minerais do solo. As plantas atacadas apresentam crescimento reduzido, coloração amarelada e secamento do ápice das folhas. A maior infestação ocorre em pontos da lavoura onde a lâmina de água é mais espessa. É importante um bom preparo do solo, com o acabamento ou nivelamento da área.

Inicialmente a maior concentração das larvas, é nas margens e/ou nas primeiras partes inundada da lavoura. Em amostras

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retiradas, com auxilio de um cano de PVC de 10 cm de diâmetro em uma profundidade de 8 cm no solo, se encontrada um número acima de 5 larvas (na média por amostra) há uma redução de 1.1 a 1.5% na produção de grãos. O controle de larvas, após o início da diferenciação da panícula (IDP), não evita perdas da produtividade.

Figura 7- “Bicheira da Raiz” do Arroz

-Adulto - habito (resteva, plantas daninhas, taquareira, etc...),

raspa as folhas do arroz.

-Irrigação: dirigem-se para lavoura, fazem o acasalamento,

postura e larvas.

-Larvas: amarelecimento e redução do porte do arroz.

-controle: secar a lavoura e armadilha luminosa.

O controle com a água é necessário que seja realizado após a emissão e estabelecimento do perfilho do arroz, que começa a emitir quando a planta está na 4ª folha, isto é, aos 20 dias do plantio. O tempo de permanência sem água depende também, de vários fatores, como umidade do solo, temperatura, velocidade de

Ovo – 7dias Ovo – 7dias Ovo – 7dias

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desenvolvimento das plantas espontâneas, estágio de desenvolvimento do arroz, se a intensidade do ataque.

Com o preparo do solo antecipado, as plantas se estabelecem vigorosas, uniformidade da água, facilidade de drenagem e irrigação, sementes de boa qualidade, semeadura na época recomendada evitam problemas.

Lagarta-da-folha - Spodoptera frugiperda

A lagarta-da-folha, em determinados anos, atinge níveis populacionais elevados. Além de alimentarem-se de folhas, cortam os colmos novos rente ao solo. Em lavouras planas, o período crítico de ataque vai desde a emergência das plantas até a inundação da lavoura. Em áreas inclinadas (lavouras de coxilha), o ataque pode se estender até a fase de emissão da panícula.

Moluscos

O caramujo (Pomacea canaliculata) tem causado danos

severos ao cultivo do arroz no sistema pré-germinado. Recomenda-se observar sua presença a partir da semeadura. Não existem produtos registrados no Ministério da Agricultura e Abastecimento para o seu controle na cultura do arroz irrigado. Indicam-se, como alternativas de controle os seguintes métodos: limpeza e drenagem dos canais de irrigação; coleta e destruição de posturas e caramujos nos locais de entrada de água; colocação de telas nos canais de irrigação; drenagem dos quadros para facilitar o ataque de predadores e implantação de poleiros nas áreas de arroz para facilitar a sua captura pelo gavião caramujeiro.

Pássaro-preto Agelaius ruficapillus

As estratégias para o manejo do pássaro-preto deve enfocar as

causas do aumento populacional e ações para reduzir níveis de dano

durante os períodos de semeadura e maturação do arroz no sistema

pré-germinado devem se resumir à: aumentar a densidade de

semeadura em áreas próximas até 200m de banhados e matos; não

remover totalmente a água de irrigação após a semeadura; cobrir as

sementes imediatamente após a semeadura; semear as primeiras

lavouras longe de banhados e matos; manter as lavouras e bordas

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livres de plantas invasoras e reduzir o período de exposição do arroz

maduro ao ataque do pássaro-preto (SOSBAI, 2003).

Ponto de Colheita e Cuidados

Com umidade entre 18 a 24% (abaixo de 18% reduz o rendimento de engenho e acima de 24% os grãos não tão bem formados e na secagem serão danificados).

A colheita realizada no cedo reduz as perdas e custos em épocas de chuvaradas, segundo o IRGA os custos com diesel chegam a reduzir em 40-50%.

Drenagem da área com antecedência, no estágio de grãos pastosos.

Cuidar o ponto de colheita para evitar as perdas. Regular a plataforma da máquina, esta é responsável por 85%

das perdas na hora da colheita do arroz. Limpar as máquinas, implementos, equipamentos de secagem,

silos e caminhões.

Figura 8- Colheita do Arroz

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Produção de Semente de Arroz Irrigado

Em sistemas de manejo agroecológico busca-se a autonomia na produção de semente. A semente é um dos fatores CHAVE para uma boa produção e independência no processo de produção. A semente deve apresentar mínimo de 80% de germinação, pureza 99%, alto vigor inicial, boa sanidade e de procedência conhecida e isenta de arroz vermelho e preto.

A produção de semente deve ser planejada desde a escolha da variedade, histórico da área, limpeza de plantadeira, população de plantas desejadas, escolher uma área de fácil irrigação e drenagem, que favoreçam o manejo das plantas espontâneas, deve-se inspecioná-la a campo e na colheita (umidade em torno de 22%), ter cuidado na secagem (temperatura a 39ºC) e armazenar em local adequado com identificação.

Nas etapas de germinação e estabelecimento da planta a campo, devem-se garantir alguns fatores, como: temperatura da água, temperatura do solo, semeadura (150 kg/ha, quando a lanço no sistema pré-geminado mais 20% de semente) e cuidados na pré-germinação (densidade 600 a 800 panículas /m², correspondendo uma população de plantas de 400 pl/m²). A escolha da variedade está em função do mercado, capacidade produtiva do solo, características agronômicas (resistência a doenças, alto vigor inicial...).

Transporte

Os grãos colhidos com a umidade de 18 a 24% não deve ficar mais de 24 horas sem aeração. Arroz que ficou mais que este período sem secar, as consequências são grãos amarelos, mofos, ardidos e outros defeitos. Além de comprometer a qualidade do grão, compromete também a qualidade de engenho.

Recepção e Secagem

O processo de secagem do produto, através da redução da umidade, deve garantir a qualidade do mesmo adquirido na lavoura e nas etapas de colheita e transporte. O arroz descarregado na moega imediatamente coleta-se a amostra para determinar a impureza e umidade e em seguida fazer a pré-limpeza. A secagem do arroz,

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para garantir a armazenagem sem deterioração do produto e sem ataque de insetos, deve ser reduzindo a umidade a 13%.

Armazenagem

Pode representar até 10% dos custos de produção da lavoura. É fundamental que esta etapa esteja sobre o controle do agricultor, a fim de ter o controle sobre a produção, com possibilidade de venda quando os preços tiverem melhores, redução de custos de transporte e de armazenagem.

Anotações:

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ROTEIRO TECNOLÓGICO

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EXPERIÊNCIA DO ASSENTAMENTO FILHOS DE SEPÉ

Produção de Arroz Ecológico O Assentamento Filhos de Sepé é o maior território produtor de

arroz orgânico do estado do Rio Grande do Sul e do Brasil. Nos últimos dois anos, 2014 e 2015, se realizou a colheita do arroz em uma área que girou em torno de 1250 ha. Cerca de 110.000 sacas do cereal – 5500 toneladas – colhidas a cada ano coloca o Assentamento na condição de maior produtor de arroz orgânico do Brasil.

O arroz orgânico produzido é alimento saudável, destinado à alimentação escolar e ao Programa de Aquisição de Alimentos PAA. Não é uma mercadoria, mas sim, comida de boa qualidade oferecida à população.

O sistema de cultivo do arroz é pré-germinado onde, através do manejo dos recursos naturais, a água, o solo e as demais riquezas disponíveis na região se faz a produção sem a utilização de produtos sintéticos e venenos.

A biodiversidade, os inimigos naturais dos insetos, moluscos e outros maléficos ao cultivo e o manejo da água para o controle das ervas acompanhantes garantem a plena produção do cereal em ótimas produtividades e com baixo custo econômico e ambiental.

O Assentamento está localizado próximo à ERS – 040, em Viamão no distrito de Águas Claras.

Com área de 6.935 ha, o Assentamento é organizado em quatro setores, cada um com uma agrovila. Esta área pertencia à família Caldas Júnior, antiga proprietária do jornal Correio do Povo, e foi entregue em 1998 a 376 famílias de colonos Sem-terra oriundas da região das Missões, Alto Uruguai e outras – daí o nome que homenageia o herói da resistência indígena Sepé Tiarajú.

O Assentamento é responsável pela maior fatia da produção de arroz orgânico no estado. Possui ainda expressiva produção de hortaliças, raízes, tubérculos, baraços e de frutas como cáqui, uva, pêssego, araçá e abacate, além do cultivo de abelhas para extração de mel e de centenas de cabeças de gado para corte e leite.

Os Filhos de Sepé preservam, ainda, um ecossistema de proteção integral. Uma área de 2.543,46 ha, inicialmente destinada para o Assentamento, foi cedida pelo INCRA à SEMA. Trata-se do Banhado dos Pachecos, uma área extremamente rica em

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biodiversidade e paisagem. O local possui espécies de pássaros ameaçadas de extinção como a Veste Amarela, símbolo da APA do Banhado Grande, 36 espécies de peixes – algumas das quais descobertas e catalogadas em suas águas –, capivaras, jacarés, felinos, roedores. É o único lugar do Rio Grande do Sul onde se encontram cervos do pantanal.

A integração sociedade e natureza se faz no dia-a-dia do Assentamento, onde a comunidade é responsável por proteger a biodiversidade e paisagem presente na região.

Há duas agroindústrias de processamento de alimentos, sendo que, uma é para o beneficiamento de vegetais e outra de panifícios. A produção é destinada à merenda escolar, ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a própria comercialização direta.

Gestão Comunitária das Águas do Assentamento A produção de arroz irrigado orgânico é atualmente a principal

atividade agrícola promotora de renda no Assentamento. Para viabilizar esta produção se faz necessário a disponibilidade e gestão dos recursos hídricos.

Todas as atividades agrícolas desenvolvidas no Assentamento são de base agroecológica, o que qualifica as condições ambientais. Todo o cultivo de arroz e parte da produção de frutas e hortaliças são certificados como produção orgânica.

O Assentamento está totalmente inserido na Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande. Localiza-se em uma Bacia Hidrográfica com alta demanda hídrica, com usos intensos e baixa vazão de água, e é intimamente ligado a Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos. Esta localização oportuniza um potencial de recursos naturais, principalmente hídricos, fartos, e ao mesmo tempo confere exigências ambientais intensas.

O uso da água é gestado por um sistema compartilhado de gestão comunitária (Associação/Distrito de Irrigação) e pública. O Distrito de Irrigação Águas Claras é órgão auxiliar da diretoria da Associação de Moradores do Assentamento Filhos de Sepé – AAFISE, concessionária do INCRA para realizar a gestão dos recursos hídricos do perímetro de Irrigação.

A irrigação se faz por gravidade somente com águas da Barragem e da Nascente das Águas Claras. O perímetro irrigado é

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de 3400 ha. A área máxima permitida para ser cultivada anualmente é de 1600 ha.

A atividade de Gestão dos Recursos Hídricos é desenvolvida de acordo com as determinações das legislações vigentes bem como demais exigências dos órgãos ambientais envolvidos.

Para administração do Perímetro de Irrigação do Assentamento o Distrito de Irrigação possui instrumentos e metodologias participativas e democráticas que permitem a Gestão Comunitária dos Recursos Hídricos:

a)Os estudos técnicos; b)Tecnologias; c)Reuniões do Conselho: espaços de debate, avaliação, planejamento, encaminhamentos, decisões, deliberações; d)Estatuto e Regimento; e)Edital de Safra: documento elaborado pelo Distrito de Irrigação em conjunto com o INCRA o qual determina os critérios políticos, técnicos, e financeiros referentes a cada safra; f)Projetos de lavoura: são constituídos através da elaboração de propostas técnicas de cultivo, da análise de campo das condições de irrigação e drenagem, dos Contratos de Irrigação e Drenagem, do croqui do arranjo das lavouras, e da avaliação das propostas de cultivo elaboradas; g)Plano anual de gestão: planejamento de cultivo e documento que orienta o processo de gestão de cada safra; h)Contrato de Irrigação e Drenagem; i)Taxa de uso da água: cobrança da taxa aos usuários da água para financiar os custos da gestão; j)Outorga e Licença: procedimentos que legalizam o uso da água; l)Relatório de gestão: descrição do procedimento de gestão realizado em cada safra.

Muitos desafios estão apontados para o assentamento. Desafios como a diversificação dos cultivos, o domínio da cadeia produtiva, etc., mas, é hoje um exemplo de produção com base ecológica em grande escala, um exemplo de convivência com a natureza e instituições ambientais, de cooperação e articulação entre produtores, de gestão comunitária dos Recursos Hídricos, em síntese, uma experiência a ser divulgada e multiplicada.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Agroecologia por si só não mudará o mundo, mas, sem ela a humanidade segue um caminho perigoso. Um caminho de destruição dos solos, contaminação das terras e das águas, diminuição da biodiversidade.

A perpetuação da humanidade no planeta depende de mudanças em seu comportamento. O consumo indiscriminado alimenta a produção indiscriminada que por sua vez impacta indiscriminadamente o ambiente.

Portanto, mudança se faz no dia a dia, no que-fazer, na reflexão, na observação, na crítica, no estudo e ação.