argumento de mortimer adler para a existência de deus

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Quanto ao argumento, vou resumir: a pergunta é Por que existe algo em vez do nada? A ciência não pode responder essa pergunta. O mundo existe sem uma razão suficiente para existir. Sua única razão suficiente deve estar em outro, não em si. Além disso, como São Tomás argumenta contra Aristóteles, não se pode provar que o mundo é eterno e nem se teve algum começo. Diante dessas alternativas, se você optar por dizer que o mundo teve início, você já supôs a existência de Deus. Para evitar esse círculo (pressupor aquilo que vc está tentando provar), devemos então escolher a suposição contra o Deus criador, inicialmente. Devemos ir adiante com a suposição de um cosmos eterno, que sempre existiu. O mundo existe. Continua a existir. Porém, não é o único cosmos possível. Não há razão convincente para pensar que as leis naturais que governam este cosmos são as únicas leis naturais possíveis. Ele poderia ter sido de outra forma, e esta forma poderia também ser a não existência (o nada). Isso leva à afirmação de Deus, não como criador, mas como um preservador do cosmos. Deus é a causa que preserva a continuidade da existência real do que é um cosmos meramente possível. E se o cosmos atual, sendo capaz de ser de outra maneira que não a sua, é também capaz de não ter existência alguma, então neste momento mesmo, a menos que algo tenha causado a sua existência no sentido de impedir que ele seja reduzido a nada, o nada tomaria o seu lugar. E portanto, neste exato momento, e em cada instante do tempo em que o cosmos existe, sem começo ou fim, uma causa exnihilante está em funcionamento. O ato de Deus é exigido, não no sentido de ter iniciado a existência do mundo, mas por preservá-la.

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Mortimer Adler

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Page 1: Argumento de Mortimer Adler Para a Existência de Deus

Quanto ao argumento, vou resumir: a pergunta é Por que existe algo em vez do nada? A ciência não pode responder essa pergunta. O mundo existe sem uma razão suficiente para existir. Sua única razão suficiente deve estar em outro, não em si. Além disso, como São Tomás argumenta contra Aristóteles, não se pode provar que o mundo é eterno e nem se teve algum começo. Diante dessas alternativas, se você optar por dizer que o mundo teve início, você já supôs a existência de Deus. Para evitar esse círculo (pressupor aquilo que vc está tentando provar), devemos então escolher a suposição contra o Deus criador, inicialmente. Devemos ir adiante com a suposição de um cosmos eterno, que sempre existiu. O mundo existe. Continua a existir. Porém, não é o único cosmos possível. Não há razão convincente para pensar que as leis naturais que governam este cosmos são as únicas leis naturais possíveis. Ele poderia ter sido de outra forma, e esta forma poderia também ser a não existência (o nada). Isso leva à afirmação de Deus, não como criador, mas como um preservador do cosmos. Deus é a causa que preserva a continuidade da existência real do que é um cosmos meramente possível. E se o cosmos atual, sendo capaz de ser de outra maneira que não a sua, é também capaz de não ter existência alguma, então neste momento mesmo, a menos que algo tenha causado a sua existência no sentido de impedir que ele seja reduzido a nada, o nada tomaria o seu lugar. E portanto, neste exato momento, e em cada instante do tempo em que o cosmos existe, sem começo ou fim, uma causa exnihilante está em funcionamento. O ato de Deus é exigido, não no sentido de ter iniciado a existência do mundo, mas por preservá-la.