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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA UNIDADE JOINVILLE APOSTILA DE MÁQUINAS ELÉTRICAS I PROF. ANA BARBARA KNOLSEISEN SAMBAQUI, D.ENG. VERSÃO 1.0 JOINVILLE JANEIRO, 2008

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA UNIDADE JOINVILLE

AAPPOOSSTTIILLAA DDEE MMÁÁQQUUIINNAASS EELLÉÉTTRRIICCAASS II

PPRROOFF.. AANNAA BBAARRBBAARRAA KKNNOOLLSSEEIISSEENN SSAAMMBBAAQQUUII,, DD..EENNGG..

VVEERRSSÃÃOO 11..00

JJOOIINNVVIILLLLEE –– JJAANNEEIIRROO,, 22000088

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Prof. Ana Barbara K. Sambaqui Máquinas Elétricas I 1

Esta apostila é um material de apoio didático utilizado nas aulas da unidade curricular Máquinas Elétricas I, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (CEFET/SC), Unidade Joinville. Portanto, este material não tem a pretensão de esgotar o assunto abordado, servindo apenas como primeira orientação aos alunos. O aluno deve desenvolver o hábito de consultar e estudar a Bibliografia Referenciada original para melhores resultados no processo de aprendizagem. Neste material estão sendo usados o sentido convencional da corrente elétrica e o Sistema Internacional de Unidades (MKSA).

Prof. Ana Barbara Knolseisen Sambaqui [email protected]

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ÍÍNNDDIICCEE ÍÍNNDDIICCEE .................................................................................................................................................................................................... 2 11 EELLEETTRROOMMAAGGNNEETTIISSMMOO .................................................................................................................................................................... 1

1.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................................... 1 1.2 CONCEITOS ....................................................................................................................................................................... 1

1.2.1 Campo Magnético e Linhas de Campo Magnético ....................................................................................... 1 1.2.2 Fluxo Magnético ................................................................................................................................................. 3 1.2.3 Densidade de Campo Magnético..................................................................................................................... 3 1.2.4 Permeabilidade Magnética ............................................................................................................................... 3 1.2.5 Relutância Magnética ........................................................................................................................................ 5

1.3 FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS ..................................................................................................................................... 6 1.3.1 Descoberta de Oersted ..................................................................................................................................... 6 1.3.2 Lei da Atração e Reação de Newton............................................................................................................... 6 1.3.3 Campo Magnético criado por Corrente Elétrica ........................................................................................... 6 1.3.4 Fontes de Campo Magnético............................................................................................................................ 7 1.3.5 Força Magnetizante (Campo Magnético Indutor) ...................................................................................... 11 1.3.6 Força Magneto-Motriz ..................................................................................................................................... 12 1.3.7 Lei de Ampère................................................................................................................................................... 13 1.3.8 Força Eletromagnética .................................................................................................................................... 13 1.3.9 Indução Eletromagnética................................................................................................................................ 17

22 TTRRAANNSSFFOORRMMAADDOORREESS ................................................................................................................................................................... 22 2.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................... 22 2.2 DEFINIÇÃO ...................................................................................................................................................................... 23

2.2.1 Princípio de funcionamento............................................................................................................................ 23 2.3 TRANSFORMADOR IDEAL.................................................................................................................................................. 23

2.3.1 Equação Fundamental de um Transformador Ideal.................................................................................. 24 2.4 TRANSFORMADOR COM PERDAS ....................................................................................................................................... 25

2.4.1 Transformador operando em vazio .............................................................................................................. 25 2.4.2 Transformador operando com carga............................................................................................................ 26

2.5 MODELO EQUIVALENTE DO TRANSFORMADOR.................................................................................................................. 27 2.5.1 Simplificação do Circuito Equivalente .......................................................................................................... 29

2.6 O DESEMPENHO DO TRANSFORMADOR ............................................................................................................................ 29 2.6.1 Características de Placa .................................................................................................................................. 29 2.6.2 Rendimento ....................................................................................................................................................... 30 2.6.3 Regulação de Tensão ...................................................................................................................................... 30

2.7 MARCAS DE POLARIDADE................................................................................................................................................. 31 2.7.1 Polaridade Aditiva ou Subtrativa .................................................................................................................. 32 2.7.2 Teste de Polaridade ......................................................................................................................................... 32

2.8 TRANSFORMADOR MONOFÁSICO E TRIFÁSICO ................................................................................................................. 33 2.8.1 Transformador Monofásico............................................................................................................................. 33 2.8.2 Transformador Trifásico.................................................................................................................................. 34

2.9 ASSOCIAÇÃO DE TRANSFORMADORES.............................................................................................................................. 36 2.9.1 Transformadores em Paralelo ....................................................................................................................... 36 2.9.2 Banco Trifásico de Transformadores............................................................................................................ 37

2.10 ENSAIO DE CURTO-CIRCUITO E CIRCUITO ABERTO.................................................................................................... 39 2.10.1 Ensaio de Curto-Circuito ........................................................................................................................... 39 2.10.2 Ensaio de Circuito Aberto.......................................................................................................................... 40

2.11 AUTOTRANSFORMADOR .............................................................................................................................................. 40 2.12 TRANSFORMADOR PARA INSTRUMENTO ...................................................................................................................... 40

33 MMOOTTOORR DDEE IINNDDUUÇÇÃÃOO .................................................................................................................................................................. 41 44 EEXXEERRCCÍÍCCIIOOSS ............................................................................................................................................................................... 42

ELETROMAGNETISMO ....................................................................................................................................................................... 42 TRANSFORMADORES ........................................................................................................................................................................ 44 MOTOR DE INDUÇÃO........................................................................................................................................................................ 46

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11 EELLEETTRROOMMAAGGNNEETTIISSMMOO

1.1 INTRODUÇÃO O magnetismo, como qualquer forma de energia, é originado na estrutura física da matéria, ou seja, no átomo. O elétron gira sobre seu eixo (spin eletrônico) e ao redor do núcleo de um átomo (rotação orbital) como mostra a Figura 1.

Figura 1: Movimento dos elétrons nos átomos.

Na maioria dos materiais, a combinação entre direção e sentido dos efeitos magnéticos gerados pelos seus elétrons é nula, originando uma compensação e produzindo um átomo magneticamente neutro. Porém, pode acontecer uma resultante magnética quando um número de elétrons gira em um sentido e um número menor de elétrons gira em outro sentido. Assim, muitos dos elétrons dos átomos dos ímãs girando ao redor de seus núcleos em direções determinadas e em torno de seus próprios eixos, produzem um efeito magnético em uma mesma direção que resulta na expressão magnética externa. Esta expressão é conhecida como campo magnético permanente e é representado pelas linhas de campo.

1.2 CONCEITOS

1.2.1 Campo Magnético e Linhas de Campo Magnético

Campo magnético é a região ao redor de um imã, na qual ocorre uma força magnética de atração ou de repulsão. O campo magnético pode ser definido pela medida da força que o campo exerce sobre o movimento das partículas de carga, tal como um elétron. A representação visual do campo é feita através de linhas de campo magnético, também conhecidas por linhas de indução magnética ou linhas de fluxo magnético, que são linhas envoltórias imaginárias fechadas, que saem do pólo norte e entram no pólo sul. A Figura 2 mostra as linhas de campo representando visualmente o campo magnético.

Figura 2: Linhas de campo magnético.

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Assim, as características das linhas de campo magnético: • são sempre linhas fechadas: saem e voltam a um mesmo ponto; • as linhas nunca se cruzam; • fora do ímã, as linhas saem do pólo norte e se dirigem para o pólo sul; • dentro do ímã, as linhas são orientadas do pólo sul para o pólo norte; • saem e entram na direção perpendicular às superfícies dos pólos; • nos pólos a concentração das linhas é maior: quanto maior concentração de linhas, mais intenso será o campo magnético numa dada região.

Uma verificação das propriedades das linhas de campo magnético é a chamada inclinação magnética da bússola. Nas proximidades do equador as linhas de campo são praticamente paralelas à superfície e a medida que se aproxima dos pólos, as linhas vão se inclinando até se tornarem praticamente verticais na região polar. Assim, a agulha de uma bússola acompanha a inclinação dessas linhas de campo magnético e se pode verificar que na região polar a agulha da bússola tenderá a ficar praticamente na posição vertical. Se dois pólos diferentes de ímãs são aproximados haverá uma força de atração entre eles, as linhas de campo se concentrarão nesta região e seus trajetos serão completados através dos dois ímãs. Se dois pólos iguais são aproximados haverá uma força de repulsão e as linhas de campo divergirão, ou seja, serão distorcidas e haverá uma região entre os ímãs onde o campo magnético será nulo. Estas situações estão representadas na Figura 3.

Figura 3: Distribuição das linhas de campo magnético.

No caso de um imã em forma de ferradura, as linhas de campo entre as superfícies paralelas dispõem-se praticamente paralelas, originando um campo magnético uniforme. No campo magnético uniforme, todas as linhas de campo têm a mesma direção e sentido em qualquer ponto. A Figura 4 mostra essa situação. Na prática, dificilmente encontra-se um campo magnético perfeitamente uniforme. Entre dois pólos planos e paralelos o campo é praticamente uniforme se a área dos pólos for maior que a distância entre eles, mas nas bordas de um elemento magnético há sempre algumas linhas de campo que não são paralelas às outras. Estas distorções são chamadas de espraiamento.

Figura 4: Campo magnético uniforme e espraiamento.

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1.2.2 Fluxo Magnético

O fluxo magnético, simbolizado por φ, é definido como a quantidade de linhas de campo que atingem perpendicularmente uma dada área, como mostra a Figura 5. A unidade de fluxo magnético é o Weber (Wb), sendo que um Weber corresponde a 1x108 linhas do campo magnético.

Figura 5: Fluxo magnético : quantidade de linhas de campo numa área.

1.2.3 Densidade de Campo Magnético

A densidade de campo magnético, densidade de fluxo magnético ou simplesmente campo magnético, cuja unidade Tesla (T), é uma grandeza vetorial representada pela letra B e é determinada pela relação entre o fluxo magnético e a área de uma dada superfície perpendicular à direção do fluxo magnético. Assim:

AB φ= (1)

onde: B: densidade fluxo magnético, Tesla [T] Φ: fluxo magnético, Weber [Wb] A: área da seção perpendicular perpendicular ao fluxo magnético, metro quadrado [m2] 1T = 1Wb/m2

A direção do vetor B é sempre tangente às linhas de campo magnético em qualquer ponto, como mostra a Figura 6. O sentido do vetor densidade de campo magnético é sempre o mesmo das linhas de campo.

Figura 6: Vetor densidade de campo magnético: tangente às linhas de campo.

O número de linhas de campo magnético que atravessam uma dada superfície perpendicular por unidade de área é proporcional ao módulo do vetor B na região considerada. Assim sendo, onde as linhas de indução estão muito próximas umas das outras, B terá alto valor. Onde as linhas estiverem muito separadas, B será pequeno.

1.2.4 Permeabilidade Magnética

Se um material não magnético, como vidro ou cobre, for colocado na região das linhas de campo de um ímã, haverá uma imperceptível alteração na distribuição das linhas de campo. Entretanto, se um material magnético, como o ferro, for colocado na região das linhas de

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campo de um ímã, estas passarão através do ferro em vez de se distribuírem no ar ao seu redor porque elas se concentram com maior facilidade nos materiais magnéticos, como mostra a Figura 7. Este princípio é usado na blindagem magnética de elementos (as linhas de campo ficam concentradas na carcaça metálica não atingindo o instrumento no seu interior) e instrumentos elétricos sensíveis e que podem ser afetados pelo campo magnético.

Figura 7: Distribuição nas linhas de campo: material magnético e não magnético.

A blindagem magnética (Figura 8) é um exemplo prático da aplicação do efeito da permeabilidade magnética.

Figura 8: Efeito da blindagem magnética na distribuição das linhas de campo.

Portanto, um material na proximidade de um ímã pode alterar a distribuição das linhas de campo magnético. Se diferentes materiais com as mesmas dimensões físicas são usados, a intensidade com que as linhas são concentradas varia. Esta variação se deve a uma grandeza associada aos materiais chamada permeabilidade magnética, µ. A permeabilidade magnética de um material é uma medida da facilidade com que as linhas de campo podem atravessar um dado material. A permeabilidade magnética do vácuo, µ0 vale:

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡

⋅⋅⋅= −

mAWb7

0 104 πµ (2)

A unidade de permeabilidade também pode ser expressa por [Tm/A], ou ainda [H/m]. Assim: H=Wb/A. A permeabilidade magnética de todos os materiais não magnéticos, como o cobre, alumínio, madeira, vidro e ar é aproximadamente igual à permeabilidade magnética do vácuo. Os materiais que têm a permeabilidade um pouco inferior à do vácuo são chamados materiais diamagnéticos. Aqueles que têm a permeabilidade um pouco maior que a do vácuo são chamados materiais paramagnéticos. Materiais magnéticos como o ferro, níquel, aço, cobalto e ligas desses materiais têm permeabilidade de centenas e até milhares de vezes maiores que o vácuo. Esses materiais são conhecidos como materiais ferromagnéticos. A relação entre a permeabilidade de um dado material e a permeabilidade do vácuo é chamada de permeabilidade relativa, assim:

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0µµ

µ mr = (3)

onde: µr: permeabilidade relativa de um material (adimensional) µm: permeabilidade de um dado material µ0: permeabilidade do vácuo

Geralmente, µr ≥ 100 para os materiais ferromagnéticos, valendo entre 2.000 e 6.000 nos materiais de máquinas elétricas e podendo chegar até a 100.000 em materiais especiais. Para

os não magnéticos µr ≅ 1.

1.2.5 Relutância Magnética A relutância magnética é a medida da oposição que um meio oferece ao estabelecimento e concentração das linhas de campo magnético. A relutância magnética é determinada pela equação:

Al

⋅=ℜµ1

(4)

onde:

ℜ: relutância magnética, [Ae/Wb]; l: comprimento médio do caminho magnético das linhas de campo no meio, [m]; µ: permeabilidade magnética do meio, [Wb/A.m]; A: área da seção transversal, [m2].

A relutância magnética é uma grandeza análoga à resistência elétrica (R) que pode ser determinada pela equação que relaciona a resistividade e as dimensões de um material:

AlR ⋅= ρ (5)

Podemos notar que a resistência elétrica e a relutância magnética são inversamente proporcionais à área, ou seja, maior área menor resistência ao fluxo de cargas elétricas e ao fluxo de linhas de campo. Estas grandezas são diretamente proporcionais ao comprimento do material. Entretanto a relutância é inversamente proporcional à permeabilidade magnética, enquanto a resistência é diretamente proporcional à resistividade elétrica. Materiais com alta permeabilidade, como os ferromagnéticos, têm relutâncias muito baixas e, portanto, proporcionam grande concentração das linhas de campo magnético. Quando dois materiais de permeabilidades diferentes apresentam-se como caminho magnético para as linhas do campo, estas se dirigem para o de maior permeabilidade. Isto é chamado de princípio da relutância mínima. Na Figura 9, podemos perceber que o ferro, de alta permeabilidade, representa um caminho magnético de menor relutância para as linhas de campo, concentrando-as. Já o vidro, de baixa permeabilidade, não proporciona grande concentração das linhas de campo. Isso representa um caminho magnético de alta relutância.

Figura 9: Campos magnéticos de alta e baixa relutância.

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1.3 FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS

1.3.1 Descoberta de Oersted Em 1820, um professor e físico dinamarquês chamado Hans Christian Oersted observou que uma corrente elétrica era capaz de alterar a direção de uma agulha magnética de uma bússola. Para o experimento mostrado na Figura 10, quando havia corrente elétrica no fio, Oersted verificou que a agulha magnética se movia, orientando-se numa direção perpendicular ao fio, evidenciando a presença de um campo magnético produzido pela corrente. Este campo originava uma força magnética capaz de mudar a orientação da bússola. Este campo magnético de origem elétrica é chamado de campo eletromagnético. Interrompendo-se a corrente, a agulha retornava a sua posição inicial, ao longo da direção norte-sul.

Figura 10: Experiência Oersted.

Conclusão de Oested: Todo condutor percorrido por corrente elétrica, cria em torno de si um campo eletromagnético. Em decorrência dessas descobertas, foi possível estabelecer o princípio básico de todos os fenômenos magnéticos:

Quando duas cargas elétricas estão em movimento manifesta se entre elas uma força magnética além da força elétrica (ou força eletrostática).

1.3.2 Lei da Atração e Reação de Newton Da Lei da Ação e Reação de Newton, pode-se concluir que se um condutor percorrido por corrente provoca uma força de origem magnética capaz de mover a agulha da bússola, que é um ímã, então um imã deve provocar uma força num condutor percorrido por corrente. Além disso, os cientistas concluíram que, se uma corrente elétrica é capaz de gerar um campo magnético, então o contrário é verdadeiro, ou seja, um campo magnético é capaz de gerar corrente elétrica. São três os principais fenômenos eletromagnéticos e que regem todas as aplicações tecnológicas do eletromagnetismo:

I. condutor percorrido por corrente elétrica produz campo magnético; II. campo magnético provoca ação de uma força magnética sobre um condutor percorrido

por corrente elétrica. III. fluxo Magnético variante sobre um condutor gera (induz) corrente elétrica.

1.3.3 Campo Magnético criado por Corrente Elétrica

No mesmo ano que Oersted comprovou a existência de um campo magnético produzido pela corrente elétrica, o cientista francês André Marie Ampère, preocupou-se em descobrir as características desse campo. Nos anos seguintes, outros pesquisadores como Michael Faraday, Karl Friedrich Gauss e James Clerk Maxwell continuaram investigando e desenvolveram muitos dos conceitos básicos do eletromagnetismo.

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As linhas de campo magnético são linhas envoltórias concêntricas e orientadas, como mostra a Figura 11. O sentido das linhas de campo magnético produzido pela corrente no condutor é dada pela Regra de Ampère. A Regra de Ampère, também chamada de Regra da Mão Direita é usada para determinar o sentido das linhas do campo magnético, considerando-se o sentido convencional da corrente elétrica.

Figura 11: Linhas de campo magnético criado por uma corrente elétrica: concêntricas.

Regra de Ampère – Regra da mão direita: Com a mão direita envolvendo o condutor e o polegar apontando para o sentido convencional da corrente elétrica, os demais dedos indicam o sentido das linhas de campo que envolvem o condutor Para a representação do sentido das linhas de campo ou de um vetor qualquer perpendicular a um plano (como o plano do papel) utiliza-se a seguinte simbologia:

: representa um fio, uma linha de campo ou um vetor com direção perpendicular ao plano, com sentido de saída deste plano.

: representa um fio, uma linha de campo ou um vetor com direção perpendicular ao plano, com sentido de entrada neste plano. O campo magnético gerado por um condutor percorrido por corrente pode ser representado por suas linhas desenhadas em perspectiva, ou então com a simbologia estudada, como mostra a Figura 12.

Figura 12: Simbologia para representação do sentido das linhas de campo no plano.

1.3.4 Fontes de Campo Magnético Além dos ímãs naturais (magnetita) e os ímãs permanentes feitos de materiais magnetizados, É possível gerar campos magnéticos através da corrente elétrica em condutores. Se estes condutores tiverem a forma de espiras ou bobinas, pode-se gerar campos magnéticos muito intensos.

Campo Magnético gerado em torno de um Condutor Retilíneo

A intensidade do campo magnético gerado em torno de um condutor retilíneo percorrido por corrente elétrica depende da intensidade dessa corrente. Uma corrente intensa produzirá um

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campo intenso, com inúmeras linhas de campo que se distribuem até regiões bem distantes do condutor. Uma corrente menos intensa produzirá poucas linhas numa região próxima ao condutor, conforme mostrado na Figura 13.

Figura 13: Representação do campo magnético em função da corrente elétrica.

O vetor B que representa a densidade de campo magnético ou densidade de Fluxo em qualquer ponto, apresenta direção sempre tangente às linhas de campo no ponto considerado. Isso pode ser comprovado pela observação da orientação da agulha de uma bússola em torno de um condutor percorrido por corrente elétrica, como mostra a Figura 14.

Figura 14: Vetor campo magnético tangente às linhas de campo.

A densidade de campo magnético B num ponto p considerado, é diretamente proporcional à corrente no condutor, inversamente proporcional à distância entre o centro do condutor e o ponto e depende do meio, conforme mostrado na equação matemática:

rIB⋅⋅

=πµ2

(6)

onde: B: densidade de campo magnético num ponto p, [T]; r: distância entre o centro do condutor e o ponto p considerado, [m]; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; µ: permeabilidade magnética do meio, [T.m/A].

Permeabilidade magnética no vácuo:

]/[104 70 AmT ⋅⋅= −πµ (7)

Esta equação é válida para condutores longos, ou seja, quando a distância r for bem menor que o comprimento do condutor (r<<ℓ).

Campo Magnético gerado no centro de uma Espira Circular Um condutor em forma de espira circular quando percorrido por corrente elétrica é capaz de concentrar as linhas de campo magnético no interior da espira. Isso significa que a densidade de campo magnético resultante no interior da espira é maior que a produzida pela mesma corrente no condutor retilíneo.

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Para a determinação do campo magnético no centro de uma espira circular, a regra da mão direita também é válida. O polegar indica o sentido da corrente elétrica na espira e os demais dedos da mão direita, o sentido das linhas de campo magnético que envolvem o condutor da espira circular (Figura 15).

Figura 15: Representação do campo magnético gerado por uma espira circular.

Assim, para os campos magnéticos:

RIB

2⋅

(8)

onde: B: densidade de campo magnético no centro da espira circular, [T]; R: raio da espira, [m]; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; µ: permeabilidade magnética do meio, [T.m/A].

Campo Magnético gerado no centro de uma Bobina Longa ou Solenóide

Um solenóide é uma bobina longa obtida por um fio condutor isolado e enrolado em espiras iguais, lado a lado, e igualmente espaçadas entre si, como mostra a Figura 16. Quando a bobina é percorrida por corrente, os campos magnéticos criados em cada uma das espiras que formam o solenóide se somam, e o resultado final é idêntico a um campo magnético de um imã permanente em forma de barra. Podemos observar que as linhas de campo são concentradas no interior do solenóide.

Figura 16: Representação do campo magnético gerado por um solenóide percorrido por corrente.

Entre duas espiras os campos se anulam pois têm sentidos opostos. No centro do solenóide os campos se somam e no interior do solenóide o campo é praticamente uniforme. Quanto mais próximas estiverem as espiras umas das outras, mais intenso e mais uniforme será o campo magnético.

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A densidade do campo magnético (densidade de fluxo magnético) no centro de um solenóide é expresso por:

lINB ⋅⋅

(9)

onde: B: densidade de campo magnético no centro da espira circular, [T]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; l: comprimento longitudinal do solenóide, [m]; µ: permeabilidade magnética do meio, [T.m/A].

O sentido das linhas de campo pode ser determinado por uma adaptação da regra da mão direita, como ilustra a Figura 17.

Figura 17:Regra da mão direita aplicada a uma bobina.

Um Eletroímã consiste de uma bobina enrolada em torno de um núcleo de material ferromagnético de alta permeabilidade (ferro doce, por exemplo) para concentrar o campo magnético. Cessada a corrente ele perde a magnetização, pois o magnetismo residual é muito baixo.

Campo Magnético gerado por um Toróide

Uma bobina toroidal (toróide) é um solenóide em forma de anel, como mostra a Figura 18. Geralmente as bobinas toroidais são feitas com núcleos de ferrite, e seu núcleo pode ser de ar ou de material ferromagnético.

Figura 18: Representação de um toróide.

Os toróides são capazes de proporcionar a maior concentração das linhas de campo magnético. Pode ser provado matematicamente que a densidade de campo magnético no interior das espiras (no núcleo) do toróide é dada por:

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rINB

⋅⋅⋅

µ2

(10)

onde: B: densidade de campo magnético no centro da espira circular, [T]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; l: comprimento longitudinal do solenóide, [m]; µ: permeabilidade magnética do meio, [T.m/A]; r: raio médio do toróide, [m].

A densidade de campo magnético fora do núcleo do toróide, tanto na região externa como interna é NULO, pois como o núcleo tem forma circular ele é capaz de produzir um caminho magnético enlaçando todas as linhas de campo.

1.3.5 Força Magnetizante (Campo Magnético Indutor)

Se em uma dada bobina for mantida a corrente constante e mudado o material do núcleo (permeabilidade µ do meio), a densidade de fluxo magnético no interior da bobina será alterada em função da permeabilidade magnética do meio. Pode ser chamado de Vetor Campo Magnético Indutor ou Vetor Força Magnetizante (H) ao campo magnético induzido (gerado) pela corrente elétrica na bobina, independentemente da permeabilidade magnética do material do núcleo (meio). O vetor densidade de campo magnético na bobina pode ser dado por:

lINB ⋅⋅

resolvendo,

lINB ⋅

definindo:

µBH =

O módulo do vetor campo magnético indutor ou vetor força magnetizante H numa bobina pode ser dado por:

lINH ⋅

= (11)

onde: H: campo magnético indutor, [Ae/m]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; l: comprimento do núcleo magnético, [m].

O vetor H tem as mesmas características de orientação do vetor densidade de campo magnético (B), porém independe do tipo de material do núcleo da bobina. Portanto, pode-se concluir que os vetores densidade de campo magnético e campo magnético indutor se relacionam pela equação:

HB ⋅= µ (12) Isso significa que uma dada bobina percorrida por uma dada corrente produz uma dada força magnetizante ou campo magnético indutor. Ao variar o valor da permeabilidade magnética do meio (alterando o material do núcleo da bobina, por exemplo) a densidade de campo magnético varia para esta mesma bobina. Quanto maior a permeabilidade magnética µ do

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meio, o efeito da força magnetizante no núcleo será tanto maior, ou seja, maior a densidade de campo magnético induzida no núcleo. Portanto:

A Densidade de Fluxo Magnético B é o efeito da Força Magnetizante H num dado meio µ.

Analogamente, podemos determinar a Força Magnetizante H produzida por um condutor retilíneo, para uma espira circular e para uma bobina toroidal: • Para um condutor retilíneo:

rIH⋅

=π2

(13)

• Para uma espira circular:

RIH⋅

=2

(14)

• Para uma bobina toroidal:

rINH⋅⋅

=π2

(15)

Deve-se ter em mente que a permeabilidade magnética de um material ferromagnético não é constante, é uma relação entre a Força Magnetizante e a Densidade de Fluxo Magnético resultante, sendo esse comportamento dado pela Curva de Magnetização do material.

1.3.6 Força Magneto-Motriz A Força Magneto-Motriz (fmm) é definida como a causa da produção do fluxo no núcleo de um circuito magnético. Assim, a força magneto-motriz produzida por uma bobina é dada pelo produto,

INfmm ⋅= (16) onde:

fmm: força magneto-motriz, [Ae]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A].

Se uma bobina, com um certo número de Ampère-espira (fmm), for esticada até atingir o dobro do seu comprimento original (dobro do valor de l), a força magnetizante (H) e a densidade de fluxo (B), terá a metade do seu valor original, pois:

lINB ⋅⋅

e,

lINH ⋅

=

como INfmm ⋅= , então:

lfmmH =

finalmente,

lHfmm ⋅= (17) onde:

H: força magnetizante ou campo magnético indutor, [Ae/m]; l: comprimento médio do caminho magnético, [m].

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A Relutância Magnética é dada por:

Al⋅

=ℜµ

e,

HB

Substituindo uma na outra,

ABlH

⋅⋅

=ℜ

e sendo o fluxo magnético, AB ⋅=φ

tem-se:

ℜ=

fmmφ (18)

onde: fmm: força magneto-motriz, [Ae]; φ: fluxo magnético, [Wb]; ℜ: relutância magnética, [Ae/Wb].

1.3.7 Lei de Ampère A Lei de Ampère expressa a relação geral entre uma corrente elétrica em um condutor de qualquer forma e o campo magnético por ele produzido. Esta lei foi é válida para qualquer situação onde os condutores e os campos magnéticos são constantes e invariantes no tempo e sem a presença de materiais magnéticos. Para um condutor retilíneo, equação é a mesma que determina a densidade de campo magnético em um dado ponto p em torno de um condutor retilíneo:

rIB⋅⋅

=πµ2

(19)

1.3.8 Força Eletromagnética

Cargas elétricas em movimento (corrente elétrica) criam um campo eletromagnético, o que é visualizado pois este campo exerce uma força magnética na agulha de uma bússola. No sentido reverso, Oersted confirmou, com base na terceira lei de Newton, que um campo magnético de um ímã exerça uma força em um condutor conduzindo corrente. Quando cargas elétricas em movimento são inseridas em um campo magnético, há uma interação entre o campo e o campo originado pelas cargas em movimento. Essa interação é manifestada por forças que agem na carga elétrica, denominadas forças eletromagnéticas.

Um condutor percorrido por corrente elétrica, dentro de um campo magnético sofre a ação de uma força eletromagnética.

Força Eletromagnética sobre um Condutor Retilíneo

Para um condutor retilíneo colocado entre os pólos de um ímã em forma de ferradura (Figura 19), quando este condutor for percorrido por corrente uma força é exercida sobre ele. Esta

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força não age na direção dos pólos do ímã, mas na direção perpendicular às linhas do campo magnético. Se o sentido da corrente for invertido, a direção da força continua a mesma, mas há uma inversão no sentido da força exercida sobre o condutor.

Figura 19: Sentido da força eletromagnética sobre o condutor.

Assim, um condutor percorrido por corrente elétrica submetido a um campo magnético sofre a ação de uma força eletromagnética. Se aumentarmos a intensidade da corrente I, aumentaremos a intensidade da força F exercida sobre o condutor. Da mesma forma, um campo magnético mais intenso (maior densidade B) provoca uma intensidade de força maior. Também pode ser comprovado que se o comprimento (l) ativo do condutor (atingido pelas linhas de campo) for maior, a intensidade da força sobre ele será maior. A intensidade da força eletromagnética exercida sobre o condutor também depende do ângulo entre a direção da corrente e a direção do vetor densidade de campo magnético, como mostra a Figura 20.

Figura 20: Força eletromagnética sobre um condutor retilíneo.

Portanto, considerando um condutor retilíneo de comprimento l sob a ação de um campo magnético uniforme B, percorrido por uma corrente elétrica de intensidade Ι e sendo θ o ângulo entre B e a direção do condutor, o módulo do vetor força magnética que age sobre o condutor pode ser dado por:

θsenBlIF ⋅⋅⋅= (20) onde:

F: força eletromagnética, [N]; I: corrente elétrica, [A]; l: comprimento ativo do condutor sob efeito do campo magnético, [m]; B: densidade de campo magnético ou densidade de fluxo magnético [T]; θ: ângulo entre as linhas de campo e a superfície longitudinal do condutor [o ou rad].

Pela equação (20), quando o campo for perpendicular à corrente (θ=90º) a força exercida sobre o condutor será máxima, e quando o campo e a corrente tiverem a mesma direção (θ=0º) a força sobre o condutor será nula. Assim, a direção da força é sempre perpendicular à direção da corrente e também perpendicular à direção do campo magnético. A direção e o sentido da força que o condutor sofre, são determinados pela Regra de Fleming para a mão esquerda (ação motriz), pois o resultado é uma força que tende a provocar movimento. Regra da mão esquerda (ação motriz): Quando um condutor percorrido por corrente é submetido a um campo magnético surge uma ação motriz devido à força magnética resultante. A Regra de Fleming é usada para

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determinar a relação entre os sentidos da força magnética (F), do campo magnético (B) e da corrente elétrica (I), cujas direções são ortogonais (perpendiculares entre si), como mostra a Figura 21.

Figura 21: Regra de Fleming.

Para usarmos a Regra de Fleming devemos posicionar os dedos polegar, indicador e médio de tal forma que fiquem ortogonais entre si:

Ação Motriz – Regra da Mão Esquerda: quando resulta uma força: • o dedo polegar indica o sentido da força magnética, F. • o dedo indicador representa o sentido do vetor campo magnético, B. • o dedo médio indica o sentido do corrente, I.

Ação Geradora – Regra da Mão Direita: quando resulta uma corrente gerada:

• o dedo polegar indica o sentido da força magnética, F. • o dedo indicador representa o sentido do vetor campo magnético, B. • o dedo médio indica o sentido do corrente, I.

Força Eletromagnética sobre uma Partícula Carregada

Se um condutor percorrido por corrente elétrica e inserido num campo magnético sofre a ação de uma força eletromagnética, e sendo a corrente provocada pelo movimento de cargas elétricas, verifica-se que um movimento livre de partículas carregadas eletrostaticamente também sofrem a ação de forças eletromagnéticas quando atravessam um campo magnético.

Uma partícula carregada eletrostaticamente e em movimento dentro de um campo magnético sofre a ação de uma força eletromagnética.

A corrente elétrica pode ser dada pela relação entre carga e tempo:

tqI∆∆

=

e a distância é dada pela relação, tvl ∆⋅∆=

Sendo a força eletromagnética,

θsenBlIF ⋅⋅⋅= a intensidade da força magnética sobre uma partícula carregada em movimento dentro de um campo magnético pode ser dada pela expressão:

θsenBvqF ⋅⋅⋅= (21) onde:

F: força eletromagnética, [N]; q: quantidade de carga elétrica da partícula, [C]; v: velocidade de deslocamento, [m/s]; B – densidade de campo magnético ou densidade de fluxo magnético [T]; θ: ângulo entre as linhas de campo e a superfície longitudinal do condutor [o ou rad].

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Desta equação podemos depreender que a força eletromagnética será máxima quando as partículas incidirem perpendicularmente às linhas de campo, e quando as partículas se deslocam na mesma direção das linhas de campo a força eletromagnética será nula. Considerando uma partícula carregada positivamente, são três as possíveis situações: a) Partícula com carga positiva em deslocamento constante na direção do campo

Como a partícula se desloca na mesma direção do campo magnético, não há interação entre os campos e conseqüentemente a trajetória da partícula não sofre alterações, mesmo que a partícula esteja se deslocando em sentido contrário ao do campo. O movimento será retilíneo uniforme (MRU).

Figura 22: Partícula positiva em movimento retilíneo uniforme.

b) Partícula com carga positiva em deslocamento transversal à direção do campo

Ao entrar perpendicularmente à direção do campo B, o campo criado pela própria partícula em movimento faz com que do lado de cima da mesma o campo resultante fique enfraquecido; ao mesmo tempo no lado de baixo o campo é reforçado devido à coincidência do sentido das linhas de força. Isso resulta em uma força magnética no sentido do campo mais fraco (para cima, no caso). Como a partícula continua se deslocando, o fenômeno continua ocorrendo e a força atuante sobre ele provoca uma alteração constante de trajetória, caracterizando um movimento circular uniforme (MCU).

Figura 23: Partícula em deslocamento transversal - movimento circular uniforme.

c) Partícula com carga positiva em deslocamento oblíquo à direção do campo

Ao entrar perpendicularmente à direção do campo B, o campo criado pela própria nesse caso a partícula executará um MRU devido à componente da velocidade na mesma direção do campo e um MCU devido à componente da velocidade transversal ao campo. O resultado será um movimento helicoidal.

Figura 24: Partícula em deslocamento helicoidal.

Força Eletromagnética sobre Condutores Paralelos

Quando dois condutores próximos e paralelos são percorridos por corrente elétrica, surge uma força devido à interação entre os campos eletromagnéticos por eles gerados. Essa força poderá ser de atração ou de repulsão conforme os sentidos das correntes nos condutores.

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Aplicando a Regra da Mão Esquerda, é possível verificar que a força é de atração quando os condutores são percorridos por correntes de mesmo sentido e de repulsão quando percorridos por correntes de sentidos contrários. A Figura 25 ilustra essas situações.

Figura 25: Força eletromagnética entre condutores paralelos: (a) atração e (b) repulsão.

Sabemos que um condutor percorrido por corrente elétrica cria um campo magnético de intensidade dada por:

rIB⋅⋅

=πµ2

No condutor 1 a corrente I1 cria um campo magnético B1 que atua no condutor 2 que está a uma distância d12 do primeiro e pode dado por,

12

11 2 d

IB⋅⋅

=πµ

As linhas de campo geradas por um condutor atingem o outro condutor e como o vetor densidade de campo é sempre tangente às linhas de campo, este vetor é perpendicular à superfície longitudinal do condutor. Desta forma, a força elétrica que atua no condutor 2 devido ao campo gerado pelo condutor 1, é dada por:

)90(12212osenBlIF ⋅⋅⋅=

Substituindo uma expressão na outra:

12

22112 2 d

lIIF

⋅⋅⋅⋅

µ (22)

onde: F: força eletromagnética, [N]; µ: permeabilidade magnética do meio, [C]; I1,I2: corrente elétrica nos condutores, [A]; l: comprimento dos condutores, [m]; d: distância entre os centros dos condutores, [m].

A força que age no condutor 1 devido ao campo gerado pelo condutor 2 é análoga, devido à lei da ação e da reação de Newton. Assim:

FFF == 2112 (23)

1.3.9 Indução Eletromagnética Como visto, em 1820 Oersted descobriu que uma corrente elétrica produz campo magnético. A partir dessa descoberta, o inglês Michael Faraday e o americano Joseph Henry se dedicaram a obter o efeito inverso, ou seja, obter corrente elétrica a partir do campo magnético. A Figura 26 mostra um dos dispositivos usados por Faraday, onde o enrolamento 1, chamado de primário, é uma bobina com N1 espiras de condutor isolado e está conectado, através de uma chave interruptora, à bateria (fonte de tensão contínua) que faz circular uma corrente

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contínua e esta gera um campo magnético. Este campo magnético é intensificado pois as linhas de campo são concentradas pelo efeito caminho magnético do núcleo de material ferromagnético de alta permeabilidade.

Figura 26: Força eletromagnética entre condutores paralelos: (a) atração e (b) repulsão.

As linhas de campo geradas pelo enrolamento 1 passam por dentro do enrolamento 2, chamado de secundário, que é uma bobina com N2 espiras de condutor isolado. O secundário está monitorado por um galvanômetro que detecta qualquer corrente que circular no enrolamento. É importante salientar que não haja contato elétrico entre os enrolamentos primário e secundário e nem destes com o material do núcleo, pois são bobinas de condutores isolados. Em 1831, ao acionar sucessivas vezes a chave interruptora no circuito do enrolamento primário, Faraday fez as seguintes observações:

• no momento em que a chave é fechada, o galvanômetro acusa uma pequena corrente de curta duração; • após a corrente cessar e durante o tempo em que a chave permanecer fechada, o galvanômetro não mais acusa corrente; • ao abrir a chave, o galvanômetro volta a indicar uma corrente de curta duração, em sentido oposto.

Esses três momentos podem ser explicados da seguinte maneira:

• enquanto o campo magnético criado pela corrente no enrolamento primário cresce é gerada uma corrente no enrolamento secundário, que ocorre logo após a chave ser fechada pois a corrente é crescente, sendo que quando o campo no enrolamento primário se estabiliza (se torna constante) a corrente cessa no enrolamento secundário; • enquanto o campo magnético permanece constante no enrolamento primário, não há corrente no enrolamento secundário; • enquanto o campo magnético diminui no enrolamento primário, é gerada uma corrente no enrolamento secundário, com sentido oposto à anterior, pois logo após a chave ser aberta o campo magnético se anula no enrolamento primário.

Conclusão de Faraday:

A simples presença do campo magnético não gera corrente elétrica.

Para gerar corrente é necessário variar fluxo magnético.

O experimento de Faraday mostra que se numa região próxima a um condutor, bobina ou circuito elétrico houver uma variação de fluxo magnético, aparecerá nos seus terminais uma diferença de potencial (ddp), chamada de força eletromotriz induzida (fem) ou tensão induzida. Caso o circuito elétrico esteja fechado, esta força eletromotriz induzida fará circular uma corrente elétrica induzida. Michael Faraday enunciou a lei que rege este fenômeno, chamado de Indução Eletromagnética e que relaciona a tensão elétrica induzida (fem) devida à variação do fluxo magnético num circuito elétrico. A Lei de Faraday diz o seguinte:

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Em todo condutor enquanto sujeito a uma variação de fluxo magnético é estabelecida uma força eletromotriz (tensão) induzida.

Assim, a Lei de Faraday diz que a tensão induzida em um circuito é igual ao resultado da taxa de variação do fluxo magnético no tempo e é dada pela divisão da variação do fluxo magnético pelo intervalo de tempo em que ocorre, com sinal trocado. Ou seja, quanto mais o fluxo variar num intervalo de tempo, tanto maior será a tensão induzida, que numa bobina é diretamente proporcional ao número de espiras,

tN

∆∆⋅−=φε (24)

onde: ε: força eletromotriz induzida (tensão induzida), [V]; ∆φ/∆t: taxa de variação do fluxo magnético no tempo, [Wb/s] N:número de espiras na bobina.

Contudo, pela análise do experimento de Faraday é possível observar que quando o fluxo magnético variante era crescente a corrente induzida tinha um sentido. Quando o fluxo magnético variante era decrescente a corrente induzida assumiu um sentido contrário. Esse fenômeno observado é explicado pela Lei de Lenz. Assim, a Lei de Lenz é expressa pelo sinal negativo na equação da Lei de Faraday. Lei de Lenz:

O sentido da corrente induzida é tal que origina um fluxo magnético induzido, que se opõe à variação do fluxo magnético indutor.

Devemos lembrar que a corrente induzida circula num determinado sentido devido à polaridade da força eletromotriz induzida (tensão induzida). Em um condutor imerso em um fluxo magnético variável, chamado de fluxo magnético indutor, é induzida uma força eletromotriz. A polaridade dessa força eletromotriz induzida será tal que, se o circuito elétrico for fechado, circulará uma corrente que, ela própria criará um fluxo magnético, chamado de fluxo magnético induzido, que se oporá à variação do fluxo magnético indutor causador da tensão (fem) induzida. Na Figura 27 a aproximação do imã provoca um aumento do fluxo magnético perto da bobina. Conseqüentemente começa a circular, na bobina, uma corrente que cria um campo magnético com polaridade inversa ao do imã. O campo criado tenta impedir a aproximação do imã, tenta parar o imã para manter o fluxo magnético constante (variação de fluxo nula). Quando o ímã se afasta, o efeito é contrário.

Figura 27: Indução eletromagnética.

Tensão Induzida em Condutores que cortam um Campo Magnético

Quando um imã se movimenta nas proximidades de um condutor ou bobina induz força eletromotriz (tensão). Conseqüentemente, um condutor se movimentando dentro de um

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campo provoca variação de fluxo magnético sobre sua superfície longitudinal (corta linhas de campo) e sofre, portanto, indução de força eletromotriz (tensão), como mostra a Figura 28. Se o circuito estiver fechado, circula uma corrente induzida provocada pela força eletromotriz induzida.

Figura 28: Condutor em movimento dentro de uma campo magnético.

Sendo o fluxo magnético,

θφ senAB ⋅⋅= O fluxo magnético depende da densidade do campo magnético, da área do condutor atingida pelas linhas do campo magnético e do ângulo em que estas linhas atingem o condutor. Há, portanto, uma relação ortogonal entre as direções do fluxo magnético, do movimento relativo do condutor (ou bobina) e da corrente induzida. O sentido da corrente induzida num condutor em movimento dentro de um campo magnético pode ser dado pela Regra da Mão Direita. A Figura 29 indica o sentido da corrente induzida num condutor, em função da polaridade magnética e do sentido do movimento do condutor. Em (a) não há indução porque o condutor não corta linhas de campo e, portanto, não há variação de fluxo magnético sobre a sua superfície longitudinal (θ=0o). Em (b) a indução é máxima, pois θ=90o. Em (c) ocorre uma situação intermediária, pois 0o<θ<90o. Se o condutor estiver parado, não atravessa linhas de campo, não sofre variação de fluxo magnético e, portanto, não há corrente induzida.

Figura 29: Movimento de um condutor dentro de um campo magnético.

Com base na Lei de Faraday, é possível encontrar uma equação particular para determinar a tensão induzida em condutores que se movimentam no interior de um campo magnético. Supondo que o condutor tenha comprimento l e percorre uma distância ∆x, com velocidade constante v, no interior de um campo com densidade de fluxo B, pela Lei de Faraday:

t∆∆

−=φε

Sendo θ=90o,

°⋅∆⋅=∆ 90senABφ então,

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tAB

∆∆⋅

−=ε

mas a área ∆A é função de ∆x e do comprimento do condutor l, assim: ( )

tlxB

∆⋅∆⋅

−=ε

e sendo a velocidade média no intervalo é dada por,

txv∆∆

=

então,

vlB ⋅⋅−=ε (25) onde: ε: força eletromotriz induzida num condutor que corta um campo magnético, [V]; B: densidade de fluxo magnético, [T]; l:comprimento ativo do condutor no campo magnético, [m]; v: velocidade do condutor (perpendicular ao campo), [m/s].

Dessa forma podemos concluir que a corrente pode ser induzida em um condutor através de três maneiras:

a) o condutor é movido através de um campo magnético estacionário. Este princípio se aplica nos geradores de corrente contínua, por exemplo. b) o condutor está estacionário e o campo magnético se movimenta. Este princípio se aplica nos geradores de corrente alternada, por exemplo. c) o condutor e o eletroímã que gera o campo magnético estão estacionários e a corrente alternando do estado ligado para desligado causa a pulsação do campo magnético. Este princípio se aplica nas bobinas das velas de ignição nos motores dos automóveis e também nos transformadores.

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22 TTRRAANNSSFFOORRMMAADDOORREESS

2.1 INTRODUÇÃO Como se sabe, a eletricidade é um excelente meio de transporte de energia de um ponto a outro, devido:

• grande capacidade de transmissão (economia de escala); • grande flexibilidade de distribuição na medida do consumo; • rapidez; • não-poluente; • eficiente (poucas perdas); • confiabilidade.

A energia elétrica, produzida em grande quantidade nas usinas, precisa ser transmitida até os centros consumidores e, por sua vez, distribuída a cada consumidor. Portanto, em um sistema de geração, transmissão e distribuição (Figura 30) costumam coexistir grandes e pequenos fluxos de energia.

Figura 30: Representação de um sistema elétrico.

No transporte de energia elétrica existe uma relação direta entre o nível de tensão e a quantidade de potência ativa transmitida, ou seja, quanto maior a tensão, maior a potência transmitida. Por exemplo, uma linha de transmissão trifásica de 230 kV é capaz de transmitir cerca de 200 MW, uma linha de 500kV tem capacidade para transmitir 1200 MW e uma linha de 750 kV cerca de 2200 MW. Isso então permite controlar a quantidade de potência transmitida simplesmente variando o nível de tensão ao longo do sistema, o que é facilmente realizado, em circuitos de corrente alternada, através de transformadores. A título de informação geral, os níveis de tensão mais usados em todo o mundo, e em particular no Brasil, que se referem aos valores de tensão de linha no caso trifásico:

• Transmissão: 230kV, 440kV, 500kV, 600 kV(CC), 750kV; • Subtransmissão: 69kV, 138kV; • Distribuição primária: 11,9kV, 13,8kV, 23kV, 34,5kV; • Distribuição secundária: 115V, 127V, 220V; • Sistemas industriais: 220V, 380V, 440V, 2,3kV, 4,16kV e 6,6kV.

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2.2 DEFINIÇÃO A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) define o transformador como:

Um dispositivo que por meio da indução eletromagnética, transfere energia elétrica de um ou mais circuitos (primário) para outro ou outros circuitos (secundário), usando a mesma

freqüência, mas, geralmente, com tensões e intensidades de correntes diferentes.

Então, o transformador é um conversor de energia eletromagnética, cuja operação pode ser explicada em termos do comportamento de um circuito magnético excitado por uma corrente alternada.

2.2.1 Princípio de funcionamento Todo transformador é uma máquina elétrica cujo princípio de funcionamento está baseado nas Lei de Faraday e Lei de Lenz. É constituído de duas ou mais bobinas de múltiplas espiras enroladas no mesmo núcleo magnético, isoladas deste, não existindo conexão elétrica entre a entrada e a saída do transformador. Uma tensão variável aplicada à bobina de entrada (primário) provoca o fluxo de uma corrente variável, criando assim um fluxo magnético variável no núcleo. Devido a este é induzida uma tensão na bobina de saída (ou secundário), que varia de acordo com a razão entre os números de espiras dos dois enrolamentos (Figura 31).

Figura 31: Princípio de funcionamento de um transformador.

2.3 TRANSFORMADOR IDEAL O os transformadores podem ser representados por um modelo idealizado, levando ao que se convencionou chamar transformador ideal. Para considerar um transformador ideal, as seguintes hipóteses devem ser assumidas: • todo o fluxo deve estar confinado ao núcleo e enlaçar os dois enrolamentos; • as resistências dos enrolamentos devem ser desprezíveis; • as perdas no núcleo devem ser desprezíveis; • a permeabilidade do núcleo deve ser tão alta que uma quantidade desprezível de fmm é

necessária para estabelecer o fluxo. A Figura 32 mostra o desenho esquemático de um transformador ideal:

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Figura 32: Representação do transformador ideal.

2.3.1 Equação Fundamental de um Transformador Ideal

Como o fluxo que enlaça os enrolamentos primário e secundário é o mesmo e induz uma força eletromotriz (fem) nestes. Aplicando a lei de Faraday nos dois enrolamentos,

tNV

∆∆⋅=

φ11 (26)

e,

tNV

∆∆⋅=φ

22 (27)

onde: V1, V2: tensão nos enrolamentos primário e secundário, [V]; ∆φ/∆t: taxa de variação do fluxo magnético no tempo, [Wb/s]; N1:número de espiras no enrolamento primário; N2:número de espiras no enrolamento secundário.

Dividindo as duas relações e considerando as tensões no primário e secundário, é obtida a chamada equação fundamental dos transformadores:

2

1

2

1NN

VV

a == (28)

onde: a: relação de transformação.

Ou seja, as tensões estão entre si na relação direta do número das espiras dos respectivos enrolamentos, sendo a denominada de relação de espiras de um transformador. Conectando ao transformador ideal uma carga Z2 ao seu secundário, conforme mostra a Figura 33.

Figura 33: Transformador ideal com carga.

O fato de se colocar a carga Z2 no secundário fará aparecer uma corrente I2 tal que:

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2

22 Z

VI = (29)

Esta corrente irá produzir uma força magnetomotriz (fmm2) no sentido mostrado. Uma força magnetomotriz (fmm1) de mesmo valor mas contrária a 2 deve aparecer no enrolamento 1 para que o fluxo não varie. Desta maneira tem-se:

111222 fmmININfmm === (30) então,

aNN

II 1

1

2

2

1 == (31)

o que indica que as correntes no primário e secundário de um transformador ideal estão entre si, na relação inversa do número de espiras.

2.4 TRANSFORMADOR COM PERDAS Ao contrário do transformador ideal, os transformadores reais apresentam perdas que devem ser consideradas, pois nem todo o fluxo está confinado ao núcleo, havendo fluxo de dispersão nos enrolamentos. Da mesma forma, há perdas ôhmicas nos enrolamentos e há perdas magnéticas (histerese magnética) no núcleo:

1. Perdas no cobre: resultam da resistência dos fios de cobre nas espiras primárias e secundárias. As perdas pela resistência do cobre são perdas sob a forma de calor (Perdas Joule) e não podem ser evitadas.

2. Perdas no ferro: a. por histerese: energia transformada em calor na reversão da polaridade

magnética do núcleo transformador. b. por correntes parasitas: quando uma massa de metal condutor se desloca num

campo magnético, ou é sujeita a um fluxo magnético móvel, circulam nela correntes induzidas. Essas correntes produzem calor devido às perdas na resistência do ferro (perdas por correntes de Foucault).

A Figura 34 representa as perdas no transformador real, que graças às técnicas com que são fabricados, os transformadores apresentam grande eficiência, permitindo transferir ao secundário cerca de 98% da energia aplicada no primário:

PFePCu

PhPe

P1 P2

PFePCu

PhPe

PFePCu

PhPe

P1 P2

Figura 34: Perdas no transformador real.

2.4.1 Transformador operando em vazio Seja um transformador operando em vazio, ou seja, sem carga conectada no enrolamento secundário e alimentado, no primário, por uma fonte de tensão alternada senoidal, conforme ilustra a Figura 35.

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Figura 35: Transformador operando em vazio.

A tensão alternada da fonte, ao ser aplicada na bobina do primário, faz circular nessa bobina uma corrente alternada (embora não seja senoidal, devido à histerese do núcleo). Essa corrente, chamada corrente de excitação ou magnetização, cria um fluxo magnético no núcleo de material ferromagnético, cujo sentido é dado pela regra da mão direita. Esse fluxo (fluxo de magnetização), é alternado e aproximadamente senoidal, pois a resistência da bobina e a corrente de excitação no primário são muito pequenas. Uma pequena parte do fluxo se dispersa no ar (fluxo de dispersão), mas uma grande parte percorre o núcleo indo atravessar as espiras do enrolamento secundário. Como o fluxo é alternado, ou seja, variável no tempo, uma tensão (senoidal) é induzida no secundário, pela lei de Faraday. A corrente de excitação é composta pela corrente de magnetização (I0), que é responsável pelo estabelecimento do fluxo através do núcleo, e pela corrente de perda no núcleo, que representa a potência dissipada nas perdas por histerese e por corrente parasita. E, dependendo do sentido relativo dos enrolamentos (horário ou anti-horário), as tensões V1 e V2 podem estar em fase (defasagem é nula) ou em oposição (defasagem é 180º), como uma conseqüência direta da lei de Lenz. A tensão V1 no enrolamento primário e a tensão V2 no enrolamento secundário são normalmente diferentes em valor eficaz, guardando uma relação entre si que depende da relação entre o número de espiras no primário (N1) e do secundário (N2). Contudo, com o secundário aberto a força eletromotriz (fem) E2=ε2 é exatamente igual a V2, e a tensão V1 é aproximadamente igual a E1=ε1. Isso ocorre pois com o secundário em aberto e V1 na referência, a corrente de excitação é exatamente à corrente de entrada, sendo desta maneira a tensão V1 aproximadamente igual a E1 pois a potência de entrada sem carga é aproximadamente igual à potência dissipada no núcleo.

2.4.2 Transformador operando com carga

Seja um transformador alimentado no primário por uma fonte de tensão alternada senoidal e operando em carga, ou seja, uma carga está conectada no enrolamento secundário, conforme ilustra a Figura 36.

Figura 36: Transformador operando com carga.

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A corrente I2 no secundário não é mais nula, assim existe também fluxo de dispersão no enrolamento secundário e a corrente I1 no primário não se restringe mais à corrente de excitação, tendo um valor bem maior que esta última. A Figura 36 mostra a situação em regime permanente, que é o estágio final alcançado após o seguinte transitório: imagine que o transformador está inicialmente em vazio, a corrente no secundário é nula e a corrente no primário é a corrente de excitação. Quando se conecta uma carga Zc=Z2 no secundário, a corrente I2 se estabelece imediatamente, pois a tensão V2 está presente. O sentido dessa corrente é dada pela lei de Lenz, pois o fluxo magnético gerado pela corrente do secundário deve se opor ao fluxo de magnetização produzido pelo primário. Portanto, o fluxo de magnetização tende a diminuir no enrolamento primário, provocando uma reação também baseada na lei de Lenz, ou seja, a corrente I1 no primário aumenta para evitar que o fluxo de magnetização decresça, atingindo o regime permanente após algum tempo. Em outras palavras, o nível da corrente no primário de um transformador sob carga tem uma relação direta com o nível da corrente no secundário. Essa corrente no primário é aproximadamente senoidal, pois é muitas vezes maior que a corrente de excitação que é não-senoidal.

2.5 MODELO EQUIVALENTE DO TRANSFORMADOR O circuito equivalente do transformador é constituído de elementos de circuito: resistências e indutâncias. A representação das perdas Joule nos enrolamentos é realizada através da inserção das resistências R1 e R2, como mostra a Figura 37, as quais são as resistências próprias dos enrolamentos do primário e do secundário.

Figura 37: Representação das perdas Joule do transformador.

Os efeitos do fluxo de dispersão no primário e no secundário do transformador são simulados por reatâncias indutivas, denominadas reatâncias de dispersão, tais que as quedas de tensão nessas reatâncias são numericamente iguais às parcelas das fem’s induzidas pelos respectivos fluxos de dispersão. A Figura 38 mostra a representação da dispersão nos enrolamentos primário e secundário.

Figura 38: Representação da dispersão no transformador.

As perdas no ferro podem ser representadas por uma resistência, denominada de resistência de perdas no ferro, em paralelo com a fem induzida pelo fluxo mútuo (Figura 39).

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Figura 39: Representação das perdas no ferro do transformador.

O efeito da permeabilidade finita do fluxo ferromagnético é representado inserindo uma reatância indutiva em paralelo com a fem induzida, pela qual flui a corrente I0. Essa reatância, mostrada na Figura 40, é denominada reatância de magnetização do transformador.

Figura 40: Representação da permeabilidade do fluxo magnético do transformador.

Assim, o circuito equivalente do transformador real é mostrado na Figura 41:

R1 X1

RC Xm

R2 X2

Transformadorideal

R1 X1

RC Xm

R2 X2

Transformadorideal

Figura 41: Circuito equivalente do transformador.

onde: R1, R2: resistência das bobinas, [Ω]; X1, X2: indutância de dispersão, [Ω]; Rf: perdas no ferro, [Ω]; Xm: reatância de magnetização, [Ω].

A corrente de excitação ou de magnetização (I0) possui uma forma não senoidal devido às não idealidades do núcleo, mostrada na Figura 42:

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Figura 42: Corrente de magnetização.

2.5.1 Simplificação do Circuito Equivalente

Em estudos em que a precisão não é tão rigorosa, algumas simplificações podem ser feitas face às seguintes evidências: • as resistências próprias dos enrolamentos são reduzidas, na medida em que o cobre é

bom condutor; • a impedância resultante do paralelo entre a resistência de perdas no ferro e a reatância

de magnetização é muito maior que as demais impedâncias do circuito equivalente do transformador.

O circuito equivalente elétrico simplificado é apresentado na Figura 43:

Figura 43: Circuito equivalente simplificado.

Na qual,

22

122

1 rarRaRRCC +=+= (32)

22

122

1 xaxXaXX CC +=+= (33)

2.6 O DESEMPENHO DO TRANSFORMADOR O desempenho de um transformador deve ser levado em consideração em aplicações práticas. Neste caso, são importantes as relações de tensões, a potência de saída, o rendimento e a variação da tensão com a carga. Estes dados podem ser obtidos seja das especificações do fabricante (características de placa), seja de medidas experimentais ou ainda de cálculos baseados em um modelo de circuito.

2.6.1 Características de Placa O fabricante de uma máquina elétrica indica normalmente nas características de placa as condições de operação normal do transformador. Uma característica típica de placa pode ser:

Transformador 4400/220V, 10kVA, 60Hz. Estas características indicam que com uma freqüência de 60Hz as tensões nominais representam a operação próxima do joelho da curva de magnetização (região que separa a

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região considerada linear da região onde ocorre a saturação) e a corrente de excitação e as perdas no núcleo não são excessivas. Neste caso, as tensões 4400 e 220V são ditas tensões eficazes nominais, em volts, das duas bobinas, sendo que qualquer uma pode ser o primário ou secundário. Usando qualquer lado como secundário a saída nominal será 10kVA, o que é importante para avaliar a corrente máxima permitida.

2.6.2 Rendimento

É a relação entre a potência consumida na saída do transformador e a potência fornecida à entrada do transformador. Assim temos:

perdasPP

PP

entradanapotênciasaídanapotência

+===

2

2

1

2η (34)

2.6.3 Regulação de Tensão

Para manter na saída de um transformador, sob carga variável, um nível de tensão constante, é empregado um regulador que pode estar presente no próprio transformador, através de derivações na bobina do primário. Como exemplo, seja o transformador com 1100 espiras no primário e 500 espiras no secundário apresentado na Figura 44.

Figura 44: Transformador com tap variável.

Na posição OB tem-se uma relação de espiras a=1000/500=2, e desta maneira para uma tensão de entrada de 220V teremos 110V na saída. Se devido a uma variação da carga, a tensão na saída cair, deve-se operar as derivações para corrigir este problema, ou seja, deve-se aumentar a tensão no secundário. Como V2=V1/a, o valor de a deve diminuir. Assim, se N1 passar para a posição A teremos 900/500=1,8, que com V1=220V resultará numa tensão maior (V2=122,22V), compensando a queda de tensão. A regulação ℜ pode ser avaliada pela seguinte expressão:

%100×−

=ℜmáximacargacomvalor

máximacargacomvalorcargasemvalor (35)

A regulação pode ser positiva ou negativa e está ligada a uma diminuição ou aumento do número de espiras (para o regulador atuando no primário). Uma fórmula aproximada é dada por:

%1002

21 ×−

=ℜV

VV (36)

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Importante:

Para se determinar a regulação, deve-se considerar a tensão V2 como sendo a nominal, ou seja, V2=(N2/N1)V1 e então calcular V1 para o V2 estabelecido, utilizando-se o circuito

equivalente do transformador.

2.7 MARCAS DE POLARIDADE As marcas de polaridade são os símbolos utilizados para identificar as polaridades dos terminais de um transformador. Num transformador, a intensidade da corrente secundária e a sua relação de fase com a tensão secundária dependem da natureza da carga, entretanto, a cada instante o sentido dessa corrente deve ser tal que se oponha a qualquer variação no valor do fluxo magnético Ø. Esta condição está de acordo com a lei de Lenz: o sentido da corrente induzida sempre contrária a causa que lhe deu a origem. A Figura 45 mostra um transformador monofásico com enrolamento do primário no sentido anti-horário e o do secundário no sentido horário. Considerando a corrente instantânea I1 crescente entrando no terminal superior do enrolamento primário, criará um fluxo magnético Ø crescente, que circulará no núcleo no sentido horário (regra da mão direita). Para que a lei de Lenz seja satisfeita, a corrente secundária I2 deverá sair do terminal superior do enrolamento secundário.

Figura 45: Transformador – enrolamento secundário no sentido horário.

A Figura 46, mostra também um transformador monofásico, com uma única diferença em relação à figura anterior: o enrolamento do secundário está no sentido anti-horário. Para este caso, a corrente secundária I2 deverá sair do terminal inferior do enrolamento secundário.

Figura 46: Transformador – enrolamento secundário no sentido anti-horário.

É óbvio que, o sentido da corrente instantânea no secundário depende exclusivamente do sentido relativo dos enrolamentos. Para indicar os sentidos dos enrolamentos é que se utiliza o conceito de polaridade.

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Regra de Polaridade:

No enrolamento primário a corrente entra pela marca de polaridade, enquanto que no enrolamento secundário a corrente sai pela marca de polaridade.

2.7.1 Polaridade Aditiva ou Subtrativa

Polaridade Subtrativa: é quando os fluxos dos enrolamentos primário e secundário se subtraem. Ao ligar um terminal primário a um terminal secundário correspondente e aplicar a tensão a um dos enrolamentos, a tensão entre os terminais não ligados é igual à diferença das tensões nos enrolamentos. Neste caso, as marcas de polaridade são apresentadas na Figura 47.

Figura 47: Transformador com polaridade subtrativa.

Polaridade Aditiva: é quando os fluxos dos enrolamentos primário e secundário se somam. Ao ligar um terminal primário a um terminal secundário não correspondente e aplicar a tensão a um dos enrolamentos, a tensão entre os terminais não ligados é igual à soma das tensões nos enrolamentos. As marcas de polaridade são apresentadas na Figura 48.

Figura 48: Transformador com polaridade aditiva.

2.7.2 Teste de Polaridade

Para determinar a polaridade de um transformador pode ser utilizada uma tensão de corrente contínua (bateria de 6 a 10 V), uma chave e um galvanômetro com zero central, ligados conforme o esquema da Figura 49.

Figura 49: Esquema para teste de polaridade de um transformador.

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O procedimento deste método é o seguinte: ao fechar a chave faca, deve-se observar o sentido da deflexão do ponteiro do galvanômetro. Se a deflexão for no sentido positivo, a polaridade será subtrativa; se a deflexão por no sentido negativo, a polaridade será aditiva.

2.8 TRANSFORMADOR MONOFÁSICO E TRIFÁSICO Os transformadores podem ser monofásicos ou trifásicos, dependendo do tipo de circuito onde estão conectados.

2.8.1 Transformador Monofásico

Um transformador monofásico é constituído por dois enrolamentos (bobinas) instalados em um mesmo núcleo de material ferromagnético, conforme pode ser verificado na Figura 50. Conforme já visto, um dos enrolamentos é chamado primário e o outro chamado secundário, sendo que cada um deles pode ter um número de espiras diferentes.

Figura 50: Representação de um transformador monofásico.

Relação de Transformação

A relação de transformação em um transformador monofásico, como já foi vista, é definida como a relação entre as tensões primária e secundária:

2

1

2

1

sec NN

VV

VV

aundário

primário === (37)

onde: V1: valor da tensão eficaz no enrolamento primário, [V]; V2: valor da tensão eficaz no enrolamento secundário, [V].

Especificação de um transformador monofásico

Os transformadores monofásicos são normalmente especificados usando dois parâmetros: • sua relação de transformação (a); • sua potência aparente (VA); • sua freqüência de operação (Hz).

Por exemplo, um transformador abaixador para uso doméstico tem a seguinte especificação:

220/127 V, 300VA, 60Hz Em geral, os transformadores monofásicos possuem pequena capacidade de potência aparente, chamada capacidade de transformação (1000VA). Quando há a necessidade de maiores potências são utilizados transformadores trifásicos.

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2.8.2 Transformador Trifásico

Um transformador trifásico é constituído de pelo menos três enrolamentos no primário e três enrolamentos no secundário, os quais podem estar conectados tanto em Y (estrela) quanto em ∆ (triângulo ou delta). A ligação em Y ou ∆ dos enrolamentos é estabelecida através da conexão dos seus terminais, conforme mostra a Figura 51.

Figura 51: Conexão Y ou ∆.

Essas várias formas de conexão dão origem aos quatro tipos de ligação dos transformadores trifásicos: Y-Y, Y-∆, ∆-Y e ∆-∆. Cada um desses tipos possui propriedades diferentes que determinam o uso mais adequado conforme a aplicação. Os transformadores trifásicos são normalmente construídos de duas maneiras: em banco ou mononuclear. A escolha da associação adequada depende de diversos fatores como: acesso a neutro, bitola dos condutores por fase, sistema de aterramento, nível de isolamento, defasagem angular requerida, etc. Um banco trifásico é constituído por três transformadores monofásicos idênticos, sendo que os respectivos enrolamentos primários, bem como os respectivos enrolamentos secundários, podem estar conectados em Y ou em ∆. A Figura 52 mostra um banco trifásico com ligação Y-∆, a título de ilustração.

Figura 52: Representação de um transformador trifásico (Y-∆).

A vantagem da conexão em banco trifásico é a facilidade de manutenção e substituição dos transformadores monofásicos, bem como permite modularidade na instalação. Outra maneira de construir transformadores trifásicos é utilizar uma estrutura mononuclear. Um transformador trifásico mononuclear é constituído de apenas um núcleo de material ferromagnético sobre o qual são colocados os enrolamentos primários e secundários idênticos, conforme ilustrado na Figura 53, na qual se representa uma conexão Y-∆. O transformador com núcleo trifásico leva vantagem sobre a associação ou banco de transformadores monofásicos, devido à economia de ferro no núcleo: como os fluxos das três fases somam zero a todo instante, pode-se eliminar o caminho de retorno do fluxo, o que leva a uma estrutura magnética plana com uma perna do núcleo para cada fase.

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Figura 53: Transformador trifásico mononuclear com ligação Y-∆.

Relação de Transformação

Em transformadores trifásicos, a relação de transformação é dada pelo quociente entre a tensão de linha do primário e a tensão de linha do secundário. De acordo com o tipo de conexão, a relação de transformação pode não ser igual à relação de espiras. Isso acontece nas formas de conexão Y-∆ e ∆-Y. Seja um banco trifásico de três transformadores monofásicos ideais, conectados na forma Y-∆, conforme mostrado na Figura 54.

Figura 54: Transformador trifásico com ligação Y-∆.

Nesta figura, os enrolamentos aa' (em vermelho) correspondem ao primeiro transformador monofásico, os enrolamentos bb' (em verde) correspondem ao segundo transformador monofásico e os enrolamentos cc' (em azul) correspondem ao terceiro transformador monofásico do banco. A relação de espiras a=N1/N2 se refere aos enrolamentos aa', bb', cc'. Se o primário está conectado em Y e a tensão de linha é V1, então a tensão de fase é Vf1=V1/√3. Essa tensão de fase está aplicada no enrolamento primário a e utilizando a equação fundamental das tensões, é obtida a tensão de fase no enrolamento secundário a' como: Vf2=V1/a√3 Lembrando que na conexão ∆ a tensão de fase é igual a tensão de linha, então a relação de transformação fica:

331

1

seca

aVV

VV

undário

primário == (38)

Evidentemente a relação de transformação é diferente da relação de espiras. O mesmo raciocínio é utilizado para obter a relação entre as correntes de linha no primário e no secundário.

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Uma situação semelhante será observada no caso de uma conexão ∆-Y, conforme ilustra a Figura 55, abaixo. Essa forma de ligação é normalmente utilizada nos transformadores abaixadores de tensão nas redes urbanas de distribuição, em que os alimentadores primários ficam conectados no lado primário do transformador (∆) e do lado secundário (Y) saem os alimentadores secundários de distribuição com neutro (220V e 127V).

Figura 55: Transformador trifásico com ligação ∆-Y.

Nesse caso, a relação de transformação é dada por:

3/3 1

1

seca

aVV

VV

undário

primário == (39)

É importante destacar que a relação de transformação e a relação de espiras coincidem no caso das conexões Y-Y e ∆-∆. Importante:

Uma característica da associação Y-∆ é o deslocamento angular de ± 30° que resulta entre as tensões terminais correspondentes do primário e do secundário. O sentido da defasagem depende da seqüência das fases. Esse deslocamento pode ser percebido através de um

diagrama fasorial.

A tensão de linha VAB do secundário está atrasada de 30° em relação à tensão correspondente Vab do primário. Se trocarmos a seqüência das fases, a defasagem muda de

sinal. Portanto, é necessário tomar cuidado com as defasagens quando, por exemplo, deseja-se conectar dois transformadores trifásicos em paralelo.

2.9 ASSOCIAÇÃO DE TRANSFORMADORES

2.9.1 Transformadores em Paralelo Muitas vezes, devido a um acréscimo da energia consumida pela planta industrial, há a necessidade da instalação de transformadores adicionais para suprir este acréscimo de consumo, de modo que as novas unidades são instaladas em paralelo com a unidade já existente, constituindo o que chamamos de um banco de transformadores em paralelo. Convém, para garantir uma distribuição uniforme da carga entre os transformadores, que as novas unidades sejam mais semelhantes possíveis às antigas. Isto é parcialmente garantido se as impedâncias de curto-circuito (Xcc, Rcc), em p.u., forem iguais.

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Cuidados adicionais devem ser tomados nas conexões, para evitar circulação de correntes entre os enrolamentos. Assim, ao se associar em paralelo dois enrolamentos, devem-se conectar os pontos de polaridades semelhantes, como indicado na Figura 56.

Figura 56: Associação de transformadores em paralelo.

2.9.2 Banco Trifásico de Transformadores Como vimos, é possível utilizar transformadores monofásicos para transformação de tensões em sistemas trifásicos, associando-se convenientemente seus enrolamentos. Este procedimento, a despeito do caráter econômico envolvido, na medida em que três transformadores monofásicos é mais caro que um único transformador trifásico, apresenta flexibilidade de operação vantajosa em alguns casos. Se ocorrer uma contingência que implica inutilização de um transformador, sua substituição é rápida e menos onerosa que a substituição de um transformador trifásico e, dependendo ainda do tipo de conexão utilizado, o suprimento de energia pode ser parcialmente garantido com apenas dois transformadores, o que não ocorre quando um defeito acomete um transformador trifásico. Conexão Estrela-Estrela A Figura 57 mostra um banco trifásico constituído por três transformadores monofásicos, cujos enrolamentos primário e secundário são conectados em estrela (Y).

Figura 57: Banco trifásico Y-Y.

O único cuidado nesta conexão é observar que os terminais da estrela são os terminais de mesma polaridade das unidades monofásicas.

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Sejam os valores do transformador monofásico: Snom: potência nominal V1nom: tensão nominal do primário V2nom: tensão nominal do secundário

Os valores nominais do banco trifásico de transformadores resultam:

Potência nominal do banco: Sbanco=3xSnom Tensão nominal de linha do primário: VB1=√3x V1nom Tensão nominal de linha do secundário: VB2=√3x V2nom

Conexão Triângulo-Triângulo A Figura 58 mostra um banco trifásico constituído por três transformadores monofásicos, cujos enrolamentos primário e secundário são conectados em triângulo ou delta (∆).

Figura 58: Banco trifásico ∆-∆.

Os valores nominais do banco trifásico de transformadores resultam:

Potência nominal do banco: Sbanco=3xSnom Tensão nominal de linha do primário: VB1=V1nom Tensão nominal de linha do secundário: VB2=V2nom

Conexão Estrela-Triângulo A Figura 59 mostra um banco trifásico constituído por três transformadores monofásicos, cujos enrolamentos do primário estão conectados em estrela (Y) e os enrolamentos do secundário conectados em triângulo (∆). Os valores nominais do banco trifásico de transformadores resultam:

Potência nominal do banco: Sbanco=3xSnom Tensão nominal de linha do primário: VB1=√3x V1nom Tensão nominal de linha do secundário: VB2=V2nom

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Figura 58: Banco trifásico Y-∆.

2.10 ENSAIO DE CURTO-CIRCUITO E CIRCUITO ABERTO Os ensaios que envolvem os transformadores consistem em medir a tensão, a corrente e a potência no primário, em duas situações: com o secundário curto-circuitado ou com o secundário em aberto.

2.10.1 Ensaio de Curto-Circuito Com o secundário curto-circuitado, aplicar corrente nominal ao primário através de uma fonte de tensão reduzida (1 a 6 % da tensão nominal). Com este procedimento são medidas a corrente de curto circuito (Icc), a tensão de curto-circuito (Vcc) e a potência de curto circuito (Pcc). Com estes dados é possível determinar os parâmetros de curto-circuito, ou seja, as perdas nos enrolamentos e as perdas por dispersão, desprezando-se as perdas no núcleo:

cc

cccc I

VZ =

cc

cccc I

PR =

22cccccc RZX −=

222

1ccR

RaR =⋅= (40)

222

1ccX

XaX =⋅= (41)

onde: R1, R2: resistência das bobinas, [Ω]; X1, X2: indutância de dispersão, [Ω].

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2.10.2 Ensaio de Circuito Aberto

Com o secundário em aberto, aplicar tensão nominal ao primário e medir a potência de circuito aberto (P0), a corrente de circuito aberto (I0) e a tensão de circuito aberto (V0). A corrente será então reduzida, de 2 a 6 % do valor nominal, o que permite desprezar as perdas nos enrolamentos. Com este procedimento é possível determinar os parâmetros a vazio, que dizem respeito ao núcleo:

0

00 I

VY =

20

0

VP

G f =

220 fm GYB −=

ff G

R 1= (42)

mm B

X 1= (43)

onde: Gf: condutância (considera a perda de potência no núcleo por histerese e correntes parasitas), [Ω-1]; Bm: suscetância (considera o armazenamento de energia), [Ω-1]; P0: perdas no núcleo do transformador, [W]; Rf: perdas no ferro, [Ω]; Xm: reatância de magnetização, [Ω].

2.11 AUTOTRANSFORMADOR

2.12 TRANSFORMADOR PARA INSTRUMENTO

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33 MMOOTTOORR DDEE IINNDDUUÇÇÃÃOO

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44 EEXXEERRCCÍÍCCIIOOSS

ELETROMAGNETISMO E1. O que é campo magnético? Como pode ser representado? Quais as características dessa representação? E2. Por que a forma como o condutor está disposto influi na intensidade do campo eletromagnético? Em que caso é mais intenso? E3. Qual a diferença entre H e B? E4. Calcular a intensidade de campo magnético indutor a 50 cm do centro de um condutor percorrido por uma corrente elétrica de 3 A. R: 0,96Ae/m E5. Qual é a intensidade de campo magnético indutor H no ponto A da figura a seguir? R: 11,1Ae/m

E6. Qual é a intensidade e o sentido da corrente Ι2, de modo que o campo magnético no ponto P seja nulo? R: 3,6A

E7. Calcular o campo magnético no centro de um solenóide de 10 cm de comprimento, com 600 espiras e percorrido por uma corrente de 2A? R: 12000Ae/m E8. Para o eletroímã da figura abaixo:

a) determine a densidade de fluxo magnético no núcleo; b) desenhe as linhas de campo magnético e sua orientação; c) indique os pólos norte e sul.

R: 0,04T

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E9. Calcular o valor do campo magnético produzido por um condutor de 2 m de comprimento, percorrido por uma corrente de 3 A quando este condutor for uma espira circular. R: 4,71Ae/m E10. Determine a relutância de um circuito magnético se um fluxo de 4,2x10-4Wb for estabelecido por uma fmm=400Ae. Determine o campo magnético indutor H para uma bobina de 6 polegadas de comprimento. R: 952,4kAe/Wb; 2624,67Ae/m E11. Em um campo magnético indutor H=100Ae/m é colocado um pedaço de material ferromagnético cuja permeabilidade relativa é µr=1600 para este valor de H. Calcular o valor da densidade de campo magnético no interior do material. R: 0,2T E12. Para o mesmo material do item anterior, quando H=300Ae/m temos B=0,3T. Qual o valor da permeabilidade relativa para H=300Ae/m? R: 796 E13. No esquema da figura abaixo, podemos afirmar que existe ddp entre: ( ) A e B ( ) C e D ( ) A e C ( ) A e D ( ) B e D

E14. Dois condutores estão separados pela distância de 5cm. Qual a intensidade da força por metro que atua entre eles quando a corrente no primeiro for 5A e no segundo 8A? R: 160µN/m. E15. Uma bobina quadrada de 4cm de lado contém 200 espiras e está posicionada perpendicular a um campo magnético uniforme de 0,8T, como mostra a figura 7.8. Esta bobina é rápida e uniformemente extraída em movimento perpendicular a B para uma região onde B cai abruptamente a zero. No instante t=0 o lado direito da bobina está na borda do campo e a bobina leva 0,2s para sair totalmente da região do campo. A resistência elétrica da bobina é 150Ω. Determine:

a) a taxa de variação do fluxo magnético na bobina; b) a força eletromotriz induzida e a corrente induzida que circula na bobina; c) o sentido da corrente induzida; d) a energia dissipada na bobina; e) a força média requerida para mover a bobina.

R: -6,4.10-3Wb/s; 1,28V, 8,53mA; 2,18J; 5,46.10-2N.

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TRANSFORMADORES E16. Pesquise: Quais os efeitos práticos do uso de entreferros em dispositivos eletromagnéticos? E17. Comprove a relação de impedâncias do transformador. E18. O núcleo de aço silício laminado de um transformador tem um comprimento médio de 0,6m e uma seção reta de 0,005m2. A bobina do primário tem 150espiras e a do secundário 450 espiras. A entrada é de 200 V (eficaz) em 60Hz. Estimar a corrente com o secundário aberto e com uma carga de 600∠30°W. R: -j0,57A; 3,32∠-38,55ºA. E19. O primário de um transformador tem capacidade nominal de 10A e 1000V. Em circuito aberto os instrumentos conectados no primário indicaram 0,42A e 100W. Já o voltímetro colocado no secundário indicou 500V. Em curto circuito obteve-se 400W e 125V no primário. Determine:

a) Os parâmetros do transformador. b) Utilizando o modelo ideal, para uma tensão de entrada igual a 1000V, determine a tensão de saída e a corrente solicitada da rede sabendo-se que é conectada uma carga de 20+j15W ao secundário.

R: -j0,57A; 3,32∠-38,55ºA. E20. Um transformador ideal com N1=500 espiras e N2=250 espiras alimenta uma carga resistiva de 10Ω. O primário é alimentado por uma fonte de tensão senoidal dada por

)377cos(2202)(1 ttv = . Determine: a) A tensão no secundário; b) A corrente na carga; c) A corrente no primário; d) A potência aparente fornecida ao primário; e) A potência aparente consumida pela carga.

R: 100∠0ºV; 10∠0ºA; 5∠0ºA; 1000∠0ºVA; 1000∠0ºVA. E21. Um transformador monofásico ideal de 13800/440V alimenta uma carga indutiva de impedância ZL=3+j4Ω, conectada no lado BT (baixa tensão). Determine:

a) A corrente na carga quando o primário é alimentado por tensão nominal; b) A corrente no primário; c) A impedância “vista”pela rede; d) A potência ativa consumida pela carga.

R: 88∠-53,13ºA; 2,8∠-53,13A; 4,93∠53,13ºA; 23,2kW. E22. Um transformador de 250kVA, 13800/440V, 60Hz apresenta os seguintes parâmetros: R1=3Ω, X1=30Ω, R2=3mΩ, X2=0,031Ω, Rf=90kΩ e Xm=20kΩ.

a) Desenhe o circuito equivalente do transformador refletido ao primário; b) Calcular o rendimento do transformador.

R: 0,979. E23. Um transformador monofásico ideal apresenta as grandezas instantâneas indicadas. Complete a tabela.

E24. Determine as correntes nominais de um transformador de potência monofásico de 11MVA, 13,8/0,66kV, 60Hz. R: 797A; 16,7A.

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E25. Dois transformadores de 13,8/0,44kV-60Hz, de potências nominais 100kVA e 150kVA são conectados em paralelo, constituindo o que se denomina um banco de transformadores em paralelo. Determine:

a) A potência nominal do banco de transformadores; b) As correntes nominais do banco de transformadores.

R: 250kVA; 18,1A e 568,2A. E26. Três transformadores idênticos de 150kVA – 6.600/380(V)–60Hz apresenta reatância de curto circuito de 24Ω. Para este problema, as resistências e a impedância de magnetização podem ser desprezadas. Estes transformadores são utilizados para a montagem de um banco trifásico na ligação estrela – triângulo. Determine:

a) A potência nominal do banco; a tensão de linha nominal do primário e a tensão de linha nominal do secundário; b) A tensão de linha que deve ser aplicada ao primário do banco de modo a se obter tensão nominal no secundário alimentando carga nominal do banco com fator de potência 0,8 indutivo.

R: 550kVA, 11.430V, 380V; 12.020V. E27. O primário de um transformador tem capacidade nominal de 10A e 1000V. Em circuito aberto os instrumentos conectados no primário indicaram 0,42A e 100W. Já o voltímetro colocado no secundário indicou 500V. Em curto circuito obteve-se 400W e 125V no primário. Determine:

a) Os parâmetros do transformador; b) Considerando o transformador como ideal, para uma tensão de entrada igual a 1000V, determine a corrente solicitada da rede sabendo-se que é conectada uma carga de 20 + j 15 W ao secundário.

R: 1+j3Ω; 10∠-36,87ºA.

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Prof. Ana Barbara K. Sambaqui Máquinas Elétricas I 46

MOTOR DE INDUÇÃO