apostila atenÇÃo integral À saÚde da...

32
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER ESPÍRITO SANTO

Upload: phungkhuong

Post on 02-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA

ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER

ESPÍRITO SANTO

Page 2: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

2

INTRODUÇÃO

A saúde-doença é um processo determinado pelas condições sociais,

econômicas, culturais e políticas de cada sociedade, variando no tempo e no espaço.

As condições que determinam esse processo configuram diferentes padrões de

adoecimento e morte das populações ou sub- grupos populacionais, conforme suas

características de sexo, faixa etária, etnia, classe social, etc.

Partindo deste conceito, pode-se dizer que a saúde da mulher é também um

processo social e histórico. E os fatores que contribuem para a determinação da saúde

ou dos agravos associados à sexualidade e à reprodução humanas vão além da

condição biológica de homens e mulheres. Em todo esse processo destacam-se as

relações de gênero, ou seja, o sistema de poder, de valores, de crenças que definem

padrões de masculinidade e feminilidade, que estruturam e organizam as relações

entre homens e mulheres, definindo comportamentos, atitudes e posições no mundo.

Pode-se dizer que as desigualdades nas relações de gênero contribuem para

a configuração de padrões de adoecimento e morte específicos para homens e

mulheres em cada região, país ou cultura. Entre as consequências dessas

desigualdades, recaem sobre a população feminina a sobrecarga de trabalho

doméstico e os maiores prejuízos para a saúde, em particular para a saúde sexual e

reprodutiva, assim como para o desempenho de atividades privadas ou públicas.

A melhoria das condições de saúde das mulheres está associada diretamente

às suas possibilidades de exercer os direitos sexuais e reprodutivos, que incluem:

O direito à vida, à liberdade e integridade pessoal;

O direito à informação e educação sexual;

O direito à atenção proteção da saúde;

O direito ao planejamento da família;

O direito a sexualidade prazerosa e saudável;

O direito à vida privada e à vida em família;

Page 3: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

3

O direito a não discriminação por motivo de sexo ou idade;

O direito de homens e mulheres a participar da criação dos filhos

com igual responsabilidade

Pela importância na promoção da igualdade social e do exercício da cidadania,

a perspectiva de mudança nas relações de gênero e exercício de direitos deve ser

levada em conta na elaboração, implantação e avaliação de políticas de promoção e

atenção integral à saúde da mulher. Nesse sentido, as políticas devem visar a

promoção de direitos, a ampliação do acesso a serviços de saúde de qualidade por

um número cada vez maior de usuárias, e a inclusão dos homens em atividades

historicamente consideradas femininas ou voltadas para esta população.

Nesse processo deverão estar incluídos os principais interessados: mulheres,

homens e adolescentes, para que as instituições que os acolhem valorizem o seu

papel; possibilitem a tomada de decisões compartilhadas entre usuários e prestadores

de serviços; levem em conta as demandas específicas de cada sujeito e a maneira

como deseja ser cuidado. Isso significa transformar os serviços públicos ou privados

de assistência à saúde em instituições amigáveis, eliminar possíveis barreiras que

dificultam a implantação das ações de saúde reprodutiva, contribuindo para maior

impacto das media propostas.

Várias experiências estão sendo desenvolvidas pelos países cooperantes, o

que dá relevância à troca de conhecimentos, tecnologias, informações, processos

gerenciais e experiências de controle social no campo da saúde reprodutiva.

Page 4: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

4

PRINCIPAIS PROBLEMAS RELACIONADOS À

SAÚDE DA MULHER

Dentre os diferentes problemas de saúde, a população feminina é

particularmente afetada pelos problemas que identificamos a seguir:

a) Elevadas taxas de mortalidade materna. Indicador síntese, que nos ajuda

a medir o grau de desenvolvimento de uma sociedade, revelando as condições

econômicas e sociais, grau de instrução, dinâmicas familiares e culturais e, sobretudo,

a acesso a serviços de saúde e a qualidade desta oferta.

b) Alta incidência e prevalência da violência doméstica e sexual - a violência

sexual é um dos principais indicadores da discriminação de gênero contra a mulher.

Praticada principalmente pelos parentes e protegida pelo silencio da família e

circunstantes, a violência tem um efeito devastador na saúde física e mental das

vítimas. Além das doenças sexualmente transmissíveis, das mutilações e

incapacidades de graus variados, é frequente a síndrome da desordem do stress pós-

traumático que provoca uma grande desorganização da vida pessoal e profissional da

mulher. Quando iniciada na infância, as meninas ficarão muito mais expostas a

comportamentos e situações de risco como abandono de casa, prostituição, drogas,

criminalidade e outras violências.

c) Doenças sexualmente transmissíveis e HIV/Aids - as consequências das

DST são mais graves sobre as mulheres do que sobre os homens. Elas podem causar

complicações da gravidez, danos e morte fetal, abortamentos e partos prematuros,

infecções congênitas, infertilidade, câncer cervical, septicemia. Além disso, elas

contribuem para o aumento do risco da infecção pelo HIV.

d) Abortamento em condições de risco – o aborto é uma das principais

causas de mortalidade materna e este problema está associado principalmente a

ausência de orientações e métodos seguros para evitar a gravidez indesejada ou

Page 5: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

5

não planejada. A gravidez segue sendo percebida como de responsabilidade

exclusiva das mulheres. A oferta de serviços de planejamento familiar que facilitem a

participação e inclusão dos homens e adolescentes, com estímulo à paternidade

responsável ainda representam experiências isoladas sem nenhum impacto sobre o

problema como um todo. Além disso, problemas culturais e informações distorcidas

ou desatualizadas sobre os métodos de alta eficácia e contracepção de emergência

constituem barreiras para a aceitação e prática da anticoncepção.

e) Elevada mortalidade por doenças crônico-degenerativas, em particular, pelo

câncer de colo de útero e de mama. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA)

estima a ocorrência de 216.035 novos casos de câncer e 58.610 óbitos por esta causa

na população feminina. O câncer de mama e o câncer de colo de útero representam

as principais causas de mortalidade por câncer entre mulheres, seguidos do câncer

de cólon, reto e estômago.

No mundo, o câncer de mama figura entre as primeiras causas de morte por

câncer em mulheres. Até o momento não existem medidas de prevenção primária

para a doença. Porém estudos observacionais indicam que é possível reduzir o risco

de câncer de mama com mudanças de hábitos: redução do tabagismo, uso de álcool,

obesidade e sedentarismo.

O câncer de mama é diagnosticado tardiamente em cerca de 60% dos casos e

mudar essa situação é um desafio necessário, pois a detecção precoce aumenta

significativamente a sobrevida das mulheres que são acometidas pela doença.

O câncer de colo, diferentemente do câncer de mama, pode ser prevenido com

medidas de fácil execução e de baixo custo. Mas não basta introduzir a oferta dos

exames preventivos na rede assistencial, é preciso mobilizar as mulheres mais

vulneráveis a comparecem aos postos de saúde. No Brasil, a busca do Papanicolau

parece estar associada a outras demandas de saúde reprodutiva, pois o maior número

de mulheres que realizam o exame estão abaixo de 35 anos de idade, enquanto o

risco para a doença aumenta a partir dessa idade.

Page 6: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

6

A prevenção do câncer ginecológico e fatores de risco, assim como o

diagnóstico precoce e o tratamento requerem a implantação articulada de medidas

como sensibilização e mobilização da população feminina; investimento tecnológico e

em recursos humanos, organização da rede, disponibilização dos tratamentos e

melhoria dos sistemas de informação.

f) Gravidez na adolescência – este problema está associado a questões

culturais, como a dificuldade das famílias em lidar com a orientação sexual dos

adolescentes e aceitação da atividade sexual nesta faixa etária, barreiras para a

anticoncepção; práticas culturais, e também a violência sexual. Na literatura sobre o

tema há estudos que demonstram uma associação importante entre o abuso sexual,

as relações incestuosas e a gravidez na adolescência.

g) Dificuldade de acesso aos métodos anticoncepcionais – os governos

não têm conseguido implantar estratégias adequadas de fornecimento dos métodos

anticoncepcionais para a população. Identifica-se problemas na produção, controle de

qualidade, aquisição, logística de distribuição, manutenção da oferta e capacitação de

gerentes e profissionais de saúde. Isso tem resultado numa oferta assistemática,

insuficiente para atender a demanda e excludente, com maior prejuízo das mulheres

oriundas camadas mais pobres e das áreas rurais. Por outro lado a exclusão dos

homens do processo de anticoncepção reitera os papéis tradicionais de maternidade

a cargo da mulher e impede os homens de assumirem sua responsabilidade paternas.

Uma vez que o único método reversível disponível para a população masculina é o

preservativo, que oferece dupla proteção, sua ausência nos serviços de saúde

aumenta o risco de infecção pelas doenças sexualmente transmissíveis e HIV/Aids.

h) Precariedade da assistência materna – apesar da tecnologia disponível

um grande número de mulheres não tem acesso ao parto hospitalar, as parteiras

tradicionais não recebem treinamento adequado nem materiais para melhoria de sua

prática em domicílio. Os modelos de assistência são marcadamente intervencionistas

e pouco humanizados, com privilegio da cesárea em detrimento do parto normal. Os

serviços carecem de treinamentos e pessoal capacitado para o trabalho em equipe, o

que resulta na fragmentação do atendimento, aumento dos riscos maternos e

Page 7: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

7

perinatais. A atenção ao puerpério é uma preocupação do setor saúde e as mulheres

não parecem ter a dimensão de sua importância, procurando os serviços mais para

avaliação das crianças do que para revisão de parto ou orientação ao planejamento

familiar e nutricional. As mulheres em com abortamento incompleto frequentemente

são expostas a julgamentos morais e chegam a receber tratamentos pouco

humanitários ou mesmo considerados como atos de violência institucional, como

curetagens sem anestesia ou longas esperas, sangrando e aumentando os riscos de

morte materna por infecção ou hemorragias.

i) Carência de serviços de atenção integral a vítimas de violência

doméstica e sexual – a atenção à vítima de violência não faz parte da formação dos

profissionais de saúde nem dos cursos de especialização voltados para a atenção a

mulher. A dificuldade de lidar com o assunto tem relação com o medo dos profissionais

pelo desconhecimento em relação às leis e sistema de segurança e justiça; às

dificuldades de romperam com a idealização do núcleo familiar, considerada a base

da sociedade e por isso intocável; assim como pelas dificuldades pessoais em lidar

com o assunto, seja por incapacidade técnica, por falta de recursos e equipamentos

sociais como abrigos e moradias protegidas, ou ainda por identificação com a vítima,

pois a prevalência da violência doméstica e sexual é tão elevada que frequentemente

encontramos profissionais de saúde envolvidos nestas situações.

QUALIDADE DA ATENÇÃO À SAÚDE DA

MULHER

A estruturação e organização da rede de saúde nos três níveis de saúde, assim

como as ações comunitárias e de prevenção primária são tão importantes quanto o

grau de qualidade que ela pode oferecer. Desta qualidade depende o impacto

desejado para controle dos problemas identificados, assim como a satisfação e o

empoderamento da clientela.

Page 8: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

8

Para conceituação da qualidade do atendimento integral à saúde da mulher

pode-se levar em conta, pelo menos, os seguintes elementos:

Acesso da população aos serviços de saúde nos três níveis de

assistência;

Acolhimento humanitário em todos os níveis da assistência,

buscando-se a orientação da clientela sobre os problemas apresentados e

possíveis soluções, assegurando-lhe a participação nos processos de decisão

em todos os momentos do atendimento e tratamentos necessários;

Definição da estrutura e organização da rede assistencial,

incluindo a formalização dos sistemas de referência e contra referência que

possibilitem a continuidade das ações, a melhoria do grau de resolubilidade

dos problemas e o acompanhamento a clientela pelos profissionais de saúde

da rede integrada;

Disponibilidade de recursos tecnológicos e uso apropriado de

acordo com os critérios de evidência científica e segurança da clientela;

Capacitação técnica dos profissionais e funcionários envolvidos

nas ações componentes dos programas de saúde reprodutiva para uso da

tecnologia disponível, acolhimento humanizado e práticas educativas voltadas

a comunidade;

Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais

educativos;

Disponibilidade de informações e orientação da clientela,

familiares e da comunidade sobre a promoção da saúde reprodutiva, assim

como os meios de prevenção e tratamentos dos agravos a ela associados;

Estabelecimento de mecanismos de avaliação continuada dos

serviços com participação da clientela.

A implantação de redes integradas com qualidade assistencial implica na

avaliação continuada das políticas de saúde. Para isso é fundamental o recolhimento

de dados para construção e análise de indicadores que permitam aos gestores

monitorar o andamento das ações, o impacto sobre os problemas tratados e a

redefinição de estratégias ou ações que se fizerem necessárias.

Page 9: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

9

ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do

modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes

multiprofissionais em unidades básicas de saúde.

As equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido

de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada.

Atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação,

reabilitação de doenças e agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta

comunidade.

A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes

saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para

a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS.

A estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS,

condicionada pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. A

velocidade de expansão da Saúde da Família comprova a adesão de gestores

estaduais e municipais aos seus princípios. Iniciado em 1994, apresentou um

crescimento expressivo nos últimos anos.

A consolidação dessa estratégia precisa, entretanto, ser sustentada por um

processo que permita a real substituição da rede básica de serviços tradicionais no

âmbito dos municípios e pela capacidade de produção de resultados positivos nos

indicadores de saúde e de qualidade de vida da população assistida.

A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde

tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de

atenção no SUS. Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis

assistenciais e tem produzido resultados positivos nos principais indicadores de saúde

das populações assistidas às equipes saúde da família.

Page 10: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

10

PROGRAMA DOS AGENTES

COMUNITÁRIOS DE SAÚDE

O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) é hoje considerado

parte da Saúde da Família. Nos municípios onde há somente o PACS, este pode ser

considerado um programa de transição para a Saúde da Família.

No PACS, as ações dos agentes comunitários de saúde são acompanhadas e

orientadas por um enfermeiro/supervisor lotado em uma unidade básica de saúde.

Os agentes comunitários de saúde podem ser encontrados em duas

situações distintas em relação à rede do SUS:

a) ligados a uma unidade básica de saúde ainda não organizada na lógica da

Saúde da Família; e

b) ligados a uma unidade básica de Saúde da Família como membro da equipe

multiprofissional.

Atualmente, encontram-se em atividade no país 204 mil ACS, estando

presentes tanto em comunidades rurais e periferias urbanas quanto em municípios

altamente urbanizados e industrializados.

EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

O trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca

permanente de comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os

integrantes da equipe e desses com o saber popular do Agente Comunitário de Saúde.

Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3 mil a 4 mil

e 500 pessoas ou de mil famílias de uma determinada área, e estas passam a ter

corresponsabilidade no cuidado à saúde.

A atuação das equipes ocorre principalmente nas unidades básicas de saúde,

nas residências e na mobilização da comunidade, caracterizando-se:

- como porta de entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde;

Page 11: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

11

- por ter território definido, com uma população delimitada, sob a sua

responsabilidade;

- por intervir sobre os fatores de risco aos quais a comunidade está exposta;

- por prestar assistência integral, permanente e de qualidade; por realizar

atividades de educação e promoção da saúde.

- por estabelecer vínculos de compromisso e de corresponsabilidade com a

população;

- por estimular a organização das comunidades para exercer o controle social

das ações e serviços de saúde;

- por utilizar sistemas de informação para o monitoramento e a tomada de

decisões;

- por atuar de forma Inter setorial, por meio de parcerias estabelecidas com

diferentes segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situações que

transcendem a especificidade do setor saúde e que têm efeitos determinantes sobre

as condições de vida e saúde dos indivíduos-famílias-comunidade.

A DESCRIÇÃO DA CLIENTELA DA USF

A descrição da Unidade na Estratégia de Saúde da Família é feita através da

definição da área de abrangência da unidade e do cadastramento da população que

reside nesta área.

Deve ser levada em conta a acessibilidade com os seguintes aspectos:

- geográfico – distância a ser percorrida até a unidade e existência de barreiras

geográficas a serem transportadas;

- funcional – tipo de serviços pela unidade de saúde, seus horários de

funcionamento e sua qualidade;

- cultural – inserção do serviço nos hábitos e costumes da população;

- econômico – disponibilidade do serviço a todos os cidadãos.

Page 12: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

12

TERRITORIALIZAÇÃO DA ÁREA DE ABRANGÊNCIA DA USF

Para o processo de territorialização é necessário:

1. Construir a análise das condições de vida e saúde da população adscrita à

USF;

2. Realizar mapeamento da área e das micro áreas;

3. Realizar o planejamento local das atividades.

COMPOSIÇÃO E ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

As equipes são compostas, no mínimo, por um médico de família, um

enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes comunitários de saúde.

Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de consultório

dentário e um técnico em higiene dental.

ATRIBUIÇÕES DO MÉDICO

- Prestar assistência aos indivíduos sob sua responsabilidade;

- Valorizar a relação médico-paciente e médico-família como parte de um

processo terapêutico e de confiança;

- Oportunizar os contatos com indivíduos sadios e doentes, visando abordar os

aspectos preventivos e de educação sanitária;

- Empenhar-se em manter seus clientes saudáveis, quer venham às consultas

ou não;

- Executar ações básicas de vigilância epidemiológica e sanitária em sua área

de abrangência;

- Executar as ações de assistência nas áreas da atenção à criança, ao

adolescente e ao idoso, realizando também atendimentos de primeiros cuidados nas

urgências e pequenas cirurgias ambulatoriais, entre outros;

- promover a qualidade de vida e contribuir para que o meio ambiente seja mais

saudável;

Page 13: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

13

- discutir de forma permanente, junto a equipe de trabalho e comunidade – o

conceito de cidadania, enfatizando os direitos à saúde e as bases legais que os

legitimam;

- participar do processo de programação e planejamento das ações e da

organização do processo de trabalho das USF.

ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO

- Executar, no nível de suas competências, ações de assistência básica de

vigilância epidemiológica e sanitária nas áreas de atenção à criança, ao adolescente,

à mulher, ao trabalhador e ao idoso;

- Desenvolver ações para capacitação dos ACS e auxiliares de enfermagem,

com vistas ao desempenho das suas funções junto ao serviço de saúde;

- Oportunizar os contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando promover

a saúde e abordar os aspectos de educação sanitária;

- promover a qualidade e contribuir para o meio ambiente torne-se mais

saudável;

- Discutir de forma permanente, junto a equipe de trabalho e comunidade o

conceito de cidadania enfatizando os direitos de saúde e as bases legais que os

legitimam;

- Participar do processo de programação e planejamento das ações e da

organização do processo de trabalho nas unidades de saúde da família.

Em 28 de março de 2006, foi aprovada a Portaria Nº 648, da Política

Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para

a organização da Atenção Básica para o Programa Saúde da Família (PSF) e o

Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS).

Page 14: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

14

NÚCLEO DE APOIO À SAÚDE DA FAMÍLIA

PORTARIA Nº 154, DE 24 DE JANEIRO DE 2008

Os Núcleos de Apoio à Saúde da Família são uma iniciativa que vai ampliar o

número de profissionais vinculados às equipes do Saúde da Família (SF).

Os núcleos reunirão profissionais das mais variadas áreas de saúde, como

médicos (ginecologistas, pediatras e psiquiatras), professores de Educação Física,

nutricionistas, acupunturistas, homeopatas, farmacêuticos, assistentes sociais,

fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Esses

profissionais atuarão em parceria e em conjunto com as equipes do Saúde da Família.

O objetivo dos núcleos é ampliar a abrangência e o escopo das ações da

atenção básica, complementando o trabalho das equipes do SF. Podem ser instituídos

dois tipos de Nasf: Nasf 1 e Nasf 2.

O Nasf 1 deve ter, no mínimo, cinco profissionais de diferentes áreas. Cada

núcleo deverá estar vinculado a, no mínimo, oito e, no máximo, 20 equipes do SF.

O Nasf 2 deve ter, no mínimo, três profissionais de diferentes áreas, estar vinculado

a, no mínimo, três equipes do SF e só poderá ser implementado um núcleo por

município.

O município precisa ter densidade populacional abaixo de 10 habitantes por

quilômetro quadrado, de acordo com os dados do IBGE de 2007. Por mês, o ministério

repassará R$ 6 mil a cada Nasf 2 implementado.

Os Nasf devem:

- desenvolver atividades físicas e práticas corporais;

- proporcionar educação permanente em nutrição;

- contribuir para a ampliação e valorização da utilização dos espaços públicos

de convivência;

- implementar ações em homeopatia e acupuntura para a melhoria da qualidade

de vida;

- promover ações multiprofissionais de reabilitação para reduzir a incapacidade

e deficiências, permitindo a inclusão social;

- atender usuários e familiares em situação de risco psicossocial ou doença

mental;

Page 15: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

15

- criar estratégias para abordar problemas vinculados à violência e ao abuso de

álcool;

- e apoiar as equipes do SF na abordagem e na atenção aos agravos severos

ou persistentes na saúde de crianças e mulheres, entre outras ações.

A IMPLEMENTAÇÃO DO NASF

Para implementar o Nasf, o município deve elaborar projeto, contemplando o

território de atuação, as atividades que serão desenvolvidas, os profissionais e sua

forma de contratação com especificação de carga horária, identificação das equipes

do SF vinculadas ao Nasf, e a unidade de saúde que credenciará o Nasf.

O projeto deverá ser aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde e pela

Comissão Intergestores Bipartite de cada estado.

RESPONSABILIDADES DAS ESFERAS

GESTORAS EM ATENÇÃO BÁSICA

Federal

- Elaborar as diretrizes da política nacional de atenção básica;

- Co-financiar o sistema de atenção básica;

- Ordenar a formação de recursos humanos;

- Propor mecanismos para a programação, controle, regulação e avaliação da

atenção básica;

- Manter as bases de dados nacionais.

Estadual

- Acompanhar a implantação e execução das ações de atenção básica em seu

território;

- Regular as relações intermunicipais;

Page 16: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

16

- Coordenar a execução das políticas de qualificação de recursos humanos em seu

território;

- Co-financiar as ações de atenção básica;

- Auxiliar na execução das estratégias de avaliação da atenção básica em seu

território.

Municipal

- Definir e implantar o modelo de atenção básica em seu território;

- Contratualizar o trabalho em atenção básica;

- Manter a rede de unidades básicas de saúde em funcionamento (gestão e

gerência);

- Co-financiar as ações de atenção básica;

- Alimentar os sistemas de informação;

- Avaliar o desempenho das equipes de atenção básica sob sua supervisão.

SAÚDE E DOENÇA

Conceitos de Saúde e de Doença

A “saúde” pode ser conceituada de maneira simplista como “ausência de

doença” ou, mais elaboradamente, como “saúde é um completo estado de bem-estar

físico, mental e social e não meramente ausência de doenças”, conforme feito pela

OMS.

É evidente que a saúde e doença não são completamente excludentes, na

medida em que as doenças progridem de acordo com determinados padrões.

A- Padrões de progressões das doenças

São cinco as categorias principais, de progressão das doenças:

a) evolução aguda, rapidamente fatal;

Page 17: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

17

b) evolução aguda, clinicamente evidente e com rápida recuperação

na maioria dos casos;

c) evolução sem alcançar o limiar clinico;

d) evolução crônica, que se exterioriza e progride para êxito letal

após longo período;

e) evolução crônica, com períodos assintomáticos entremeados de

exacerbações clínicas.

B – Duas concepções de história natural da doença

As características de determinada doença podem ser facilmente analisadas

durante a evolução do processo. Tal referencial convencionou-se chamar “história

natural”, sendo que é considerada natural por não haver intervenção do homem.

Normalmente, são utilizadas duas óticas para estudo da história natural de

determinada doença: a partir dos serviços e a partir da comunidade.

1. Visão da doença, a partir dos serviços

Comumente “história natural” é empregada como “investigações clínicas” que

se presta a promover informações sobre a evolução de determinando evento, ou seja

descrevem o “curso clinico”.

Tais pesquisas que, normalmente ocorrem com a demanda de assistência

médica especializada, consistem no acompanhamento de um determinando número

de pacientes diagnosticados com a mesma doença, como ocorreu no caso da febre

amarela em que mil pacientes foram observados durante 20 anos.

Page 18: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

18

2. Visão da doença, a partir da comunidade

Neste caso a busca por paciente não é exclusivamente sob demanda, é feita

uma busca de paciente na comunidade.

É possível descartar como objetivo principal deste estudo populacional-

territorial é a medicina preventiva, uma vez que é capaz de analisar a fase “pré-

patologica” evidenciando diversos graus de risco e uma ocorrência de variedade de

estado.

Outros pontos a serem destacados são as taxas de morbidade e mortalidade

geradas com bastante precisão.

C. Fases da história natural em quatro fases

Fase inicial (ou suscetibilidade)

Na fase inicial ainda não há doença propriamente dita. No entanto, já se

constatam condições que favorecem o aparecimento em decorrência dos fatores

de riscos ou de proteção.

Como exemplo de prevenção nesta fase, destaca-se a eliminação dos

fatores de risco ou alteração da sua intensidade.

Fase patológica pré-clínica

Este momento, inicia-se como processo patológico e vai até o

aparecimento de sintomas ou sinais da doença, podendo evoluir para a cura ou

progredir para a fase da doença.

Page 19: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

19

O exemplo apresentado diz respeito à prevenção na fase pré-clínica, ou

seja, rastreando triagem. Neste caso há um rastreamento de indivíduos enfermos

ou em risco na população sadia e, através de testes, reduz-se gradativamente a

quantidade de indivíduos efetivamente doentes, proporcionando maior cobertura

populacional de serviços de saúde, protegendo o maior número de pessoas, com

menor esforço.

Fase clínica

Aqui a doença já está em estado adiantado. No entanto, há diferentes graus

de acometimento do organismo, podendo variar desde leve até aguda ou crônica.

Nesta fase uma pequena porcentagem dos afetados procura o sistema

formal de atendimento impossibilitando a formação de estatísticas realistas.

A atuação pode ser curativa ou preventiva como, por exemplo, no caso do

infarto agudo do miocárdio que são utilizados recursos terapêuticos com intuito de

limitar a área enfartada e, por outro lado, tornam-se medidas para prevenir a

ocorrência de novos infartos.

Fase de incapacidade residual

No caso de sequelas é necessária a reabilitação de cunho físico, psicológico

ou social visando à capacidade residual da pessoa afetada após a estabilização

clínica.

2. Utilidade da divisão da história natural em fases.

Page 20: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

20

O propósito de segmentar a história natural em fases é enquadrar os

indivíduos em diferentes categorias, em função dos riscos e danos à saúde que

apresentem, bem como para localizar ações preventivas e curativas em diversos

momentos.

Em nível individual

De acordo com as condições apresentadas por cada pessoa é possível

diagnosticá-la com sadia, doente ou portadora de sequela

Em nível coletivo

O objetivo aqui é conhecer o estado de saúde da população classificando

os indivíduos sadios ou doentes gerando, desta forma, dados estatísticos que

devem ser interpretados cuidadosamente, tendo em vista que não representam

um retrato fiel das doenças que incidem na população.

D. Etiologia e prevenção

1. Etiologia

Etiologia na fase patológica

Nesta fase, encontram-se os processos que ocorrem em época ainda

anterior à resposta biológica inicial do organismo.

Page 21: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

21

Etiologia na fase patológica

Nesta fase, encontram-se os processos que ocorrem no interior do corpo

humano e que e sucedem a partir da resposta orgânica inicial.

2. Prevenção

A prevenção também se apresenta em duas etapas: primárias e secundária.

Levando-se em consideração que o problema pode ser de natureza coletiva

ou individual, o tratamento deve der diferenciado em função das fases de saúde

ou de doença.

III. Classificação das medidas preventivas

São consideradas “medidas preventivas” todas aquelas utilizadas para

evitar doenças ou suas consequências, bem como a que destinam, a interromper

o processo da doença que já se instalou no organismo humano.

As seguintes classificações de medidas preventivas são adotadas:

A. Medidas inespecíficas e específicas

São extensamente utilizadas. As medidas inespecíficas, também chamadas

de gerais ou amplas, têm o objetivo de promover o bem-estar das pessoas. Já as

específicas ou restritas dizem respeito às técnicas para lidar com cada dano em

particular.

B. Prevenção primária, secundária e terciária

Page 22: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

22

1. Prevenção primária

As ações primárias são ampliadas em fase anterior ao início biológico da

doença, trata-se da “prevenção da ocorrência”. É o caso, por exemplo, de

educação para a saúde.

2. Prevenção secundária

“Ações ocorrem no período patológico da doença, visando a ‘prevenção da

evolução” na tentativa de fazê-lo regredir, não afastando do seu caráter curativo.

3. Prevenção terciária

O objetivo da prevenção terciária é atenuar a invalidez e promover o

ajustamento a condições intermediáveis diante das sequelas. Trata-se da

reabilitação.

C. Cinco níveis de prevenção

As três fases de prevenção desdobram-se em cinco níveis, como veremos

a seguir:

Primeiro nível – Promoção da saúde: engloba as ações

destinadas a manter o bem-estar, sem visar a nenhuma doença em particular.

Exemplos das principais ações são:

- educação sanitária;

- alimentação e nutrição adequadas.

Segundo nível – Proteção específica inclui medidas para impedir

o aparecimento de determinada afecção ou de um grupo de doenças afins.

Exemplos das principais ações são:

Page 23: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

23

- vacinação;

- exame pré-natal.

Terceiro nível - Diagnóstico e tratamento precoce; trata-se da

identificação do processo patológico antes do aparecimento de sintomas.

Exemplos das principais ações são:

- exame periódico de saúde;

- intervenções médicas ou cirúrgicas precoces.

Quarto nível- Limitações do dano: Como próprio termo indica,

significa limitar as lesões e evitar os retardar o aparecimento de complicações.

Neste momento, já surgiram os sinais e sintomas denunciadores da doença.

Exemplos das principais ações são:

- acesso facilitado a serviços de saúde;

- tratamento médico ou cirúrgico adequados.

Quinto nível- Reabilitação: Visa prover suporte físico, mental e

social favorecendo a completa reintegração da pessoa na família, no trabalho

e na sociedade. Exemplos das principais ações são:

- terapia ocupacional;

- treinamento do deficiente.

Page 24: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

24

Sinonímia

A prevenção tem o objetivo de evitar o estágio seguinte da doença e o fator

tempo é determinante, ou seja, quanto mais precocemente as medidas forem

instituídas, melhores as chances de êxito.

Assim, é possível estabelecer uma correlação entre o termo prevenção e as

classificações das medidas preventivas. No sentido de prevenção primária, o

significado é afastar a doença, no de prevenção secundária, cura; e, em relação à

prevenção terciária, reabilitação.

D. Medidas universais, seletivas e individuais

1. Medidas universais

Recomendadas a todas as pessoas como, por exemplo, dieta balanceada.

2. Medidas seletivas

Aconselhadas a grupos específicos identificados por alguma característica

marcante (faixa etária, sexo, ocupação, etc).

3.Medidas individuais (ou indicadas caso a caso)

Aplicadas no caso de condições que colocam o indivíduo em alto risco de

desenvolvimento futuro para a doença.

IV. Modelos para representar fatores etiológicos

Page 25: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

25

A. Cadeia de eventos

A representação é feita em forma sequencial. É expressa nos modelos

simples nos quais são expressos os eventos mais significativos sendo, por

conseguinte, concisa e clara.

Ênfase na figura do agente das doenças

Normalmente, a representação da cadeia está centrada na figura do agente

e segue a sequência “fonte de infecção-micróbio-indivíduo suscetível”.

Tipos de agente

Diversas são as maneiras de classificar os agentes (biológicos e não-

biológicos, animados e não-animados, etc), sendo certo que suas características

estão relacionadas à sua capacidade de produzir alterações no organismo

humano.

Utilidade do modelo em cadeia de eventos

O valor didático deste modelo é evidente, na medida em que ajuda a

compreender as relações entre os agentes e o homem e confere a noção de que

a prevenção da doença pode ser realizada pelo rompimento de um dos elos da

cadeia.

Por outro lado, o modelo não é o suficiente para representar toda a realidade

do processo saúde-doença.

B. Modelos ecológicos

Page 26: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

26

1. Tríade ecológica : agente, hospedeiro e meio ambiente

De acordo com esse modelo as características do agente, do hospedeiro e

do meio ambiente deve ser estudadas no caso de agravos à saúde.

O modelo sofre crítica no caso de doenças em que não se conhecem os

agentes específicos e são explicados por um complexo de fatores associados,

como é o caso da doença coronariana.

2. Dupla ecológica: hospedeiro e meio ambiente

O processo da doença, neste caso, é estudado com base no hospedeiro e

no meio ambiente.

Utilidades dos modelos ecológicos

A seguinte esquematização se presta a orientar o processo saúde-doença:

a) A análise do processo da doença.

Os agravos à saúde podem ser investigados em relação a seus fatores

determinantes, localizados no homem ou no meio ambiente.

b) A localização racional das intervenções.

As ações também podem estar dirigidas ao homem ou meio ambiente.

Page 27: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

27

Seguem algumas possíveis intervenções organizadas em função do

hospedeiro e do meio ambiente a que se dirigem.

1. Fatores do hospedeiro (o homem)

a) Herança genética

Muitas doenças ou predisposições a elas são transmitidas de pais para

filhos. O patrimônio genético é visto como um potencial pré-determinado, que

desenvolverá em função das oportunidades.

Epidemiologia genética

A epidemiologia genética é um campo de estudo em desenvolvimento que

se presta a investigar com maior profundidade a interação entre genes e meio

ambiente, tendo em vista que mesmo diante da possibilidade de resposta do

organismo a agressões externas, alguns indivíduos postos de maneira semelhante

desenvolve doenças e outros não.

b) Anatomia e fisiologia do organismo humano.

O organismo humano apresenta resistência às agressões em decorrência

de suas características. Aos mecanismos inespecíficos sobrepõem-se outros, de

imunidade específica, ligada a presença de anticorpos.

Além disso, o processo de crescimento, de desenvolvimento, de maturação

e de envelhecimento das pessoas faz variar a proteção dada pelos mecanismos

biológicos.

Page 28: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

28

c) Estilo de vida

Normalmente, pessoas próximas possuem estilos de vidas semelhantes.

Controle social e autocontrole

O controle social pode se estender como a uniformização de padrões de

comportamento. É chamado “controle social”.

A fiscalização dos comportamentos pode se dar de forma formal ou informal,

com forme o grau de formalidade dos prêmios sanções. Outra classificação é que

o controle pode ser interno (autocontrole), ou externo, quando manifestado por

demais pessoas.

Prevenção através da mudança do estilo de vida

Os hábitos de conduta são capazes de influenciar diretamente a saúde de

cada indivíduo, bem como o surgimento ou não de doenças. É o caso das doenças

de transmissão sexual, por exemplo.

Assim sendo, estende-se que as mudanças de hábitos são meios eficazes

de prevenção destas doenças e os ditos “estilos de vida” representam fatores de

risco auto- inflingidos que, teoricamente, podem ser alterados.

Linha de pesquisa

As linhas de pesquisa se prestam a esclarecer os aspectos ainda obscuros

de determinadas doenças.

Page 29: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

29

2. Fatores do meio ambiente

O meio ambiente também desempenha seu papel no processo saúde-

doença e refere-se tanto ao habitat natural quanto ao construído pelo homem

São classificados em:

a) Ambiente físico

É evidente a influência do ambiente físico para facilitar ou dificultar a vida

do homem. Para comprovar tal afirmativa basta analisarmos alguns exemplos,

como: as grandes secas, inundações e terremotos.

Da mesma forma que o homem tem logrado êxito em controlar alguns dos

fatores físicos, tem gerado consequências deletérias sobre o meio ambiente.

b) Ambiente biológico

O meio ambiente biológico é representado pelos seres vivos existentes na

terra e podem ser agentes, vetores e reservatórios de doença.

Neste ambiente, o homem também exerce controle, e, assim como, no

ambiente físico apresentar efeitos desejáveis e indesejáveis.

c) Ambiente social

Este é o componente social dos fatores do meio ambiente (relacionados às

características sociais, econômicas, políticas e culturais).

Tendo em vista que pessoas e até mesmo comunidades não tem o mesmo

nível, ou seja, são desiguais em relação em nível de ocupação, oportunidades de

Page 30: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

30

trabalho, saúde, saneamento ambiental, as medidas curativas e preventivas

devem levar em consideração tais aspectos.

C. Rede de causas

Outro modelo utilizado é o modelo da rede, segundo o qual é levado em

conta a natureza multicausal dos agravos à saúde.

Se um fato for controlado ou eliminado a tendência é a redução da

incidência da doença. A contrário senso, com a permanência dos fatores a

tendência é o surgimento de novos casos.

Também é possível verificarmos a “competição de risco” que ocorre quando

o fator é controlado ou eliminado, mais outros permanecem, não sendo possível

determinar o resultado.

D. Múltiplas causas- múltiplos efeitos

Podem ocorrer também situações em que determinadas ou múltiplas

causam estejam condicionadas a mais um efeito. É o caso, por exemplo, de fumo

associado a gases de veículos a motor, associado à exposição ocupacional a

asbestos.

E. Abordagem sistêmica da saúde

Neste modelo, leva-se em consideração os “sistemas", ou seja, o conjunto

de elementos conectados entre si por alguma forma de relação coerente.

Cabe, neste caso, analise do sistema, bem como suas relações internas ou

externas.

Page 31: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

31

1. Causas diretas e indiretas dos problemas de saúde

Um mesmo sistema de observação pode apresentar causar direta e indireta.

Normalmente, os investigadores da área da saúde sentem-se mais confortáveis

em indicar causas diretas, ou seja, aquelas localizadas mais próximas aos efeitos.

2. Descrição do modelo sistêmico

A fim de representar figurativamente são construídos modelos com base no

fato de as causas poderem estar em diferentes sistemas de organização.

A figura que serve de ilustração é composta por vários círculos de diâmetro

progressivamente maiores, sendo que cada círculo constitui um sistema em si

mesmo.

De acordo com a visão biomédica ou técnica, quanto mais à busca de

determinantes estiver no centro do círculo/ sistema, maior a redução da explicação

do evento a aspectos biológicos.

Já segundo a visão coletiva, holística ou social, quanto mais distante do

centro, na mesma figura, estiver à explicação mais ela incorpora aspectos sociais.

Page 32: APOSTILA ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHERadmin.institutoalfa.com.br/_materialaluno/matdidatico30045.pdf · O direito a sexualidade prazerosa e saudável; ... a cargo da mulher

32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KNAUTH D.R; de OLIVEIRA F.A. Capítulo 15 - Antropologia e atenção Primária

à Saúde. Em: Medicina Ambulatorial. Fundamentos e Práticas em Atenção Primária

à Saúde

MINAYO M.C.S. Saúde – doença: uma concepção popular da etiologia.

Cadernos de Saúde Pública, RJ. 4(4):363-381, 1988.

PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Ed. Guanabara Koogan. 1995.

Capítulo 3: Saúde e Doença.

ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia e Saúde. 6º edição. MEDSI, Rio de Janeiro,

2003, Capítulo 2: Epidemiologia, História Natural e Prevenção de Doenças.