apontamentos semiologia 2 pdf

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O Signo Representamen que, através de um Interpretante nos remete para um Objecto “Um signo ou Representamen é qualquer coisa que está no lugar de outra para alguém a respeito de qualquer relação ou a qualquer título. Dirige-se a alguém, quer dizer, cria no espírito dessa pessoa um signo equivalente ou provavelmente mais desenvolvido. Ao signo que ele (representamen) cria chamo Interpretante do primeiro signo. Esse signo toma o lugar de qualquer coisa: o seu Objecto (...)” “Um signo é tudo aquilo que determina qualquer coisa de outro (o seu interpretante) e a reenvia ao seu objecto. Desta forma, o Interpretante é, por sua vez, um signo e assim ad infinitum” Semiose: Todo o pensamento deve ser interpretado por um outro pensamento, ou seja, todo o signo deve poder sempre reenviar a outro signo. Representamen “Se existe alguma coisa que fornece informação sem, contudo, ter qualquer relação ou referência que seja com aquilo que a pessoa a quem fornece a informação conhece, directa ou indirectamente, quando compreende esta informação - e isto seria um tipo de informação muito estranha - então o veículo deste tipo de informação não é o que se designa, neste volume, por signo.” Objecto Os objectos - um signo pode ter vários - podem ser uma só coisa existente conhecida, ou uma coisa em que se acredita que tenha existido anteriormente, ou que se esperaque exista em termos futuros. Tipos de Objectos: -Objecto Imediato (Oi) -Objecto Dinâmico (Od) Interpretante O terceiro termo indispensável à constituição do digno é o Interpretante, que Peirce diz ser “o significado puro do signo, resultado ou efeito em sentido científico.” “O julgamento é a comparação de uma coisa com qualquer marca ou atributo. Por comparação, é necessário entender que em qualquer julgamento uma ideia é sustentada e fundamentada por outra. Em consequência, toda a comparação requer uma representação do Correlato (Objecto) que esta representação mediadora representa. Pode-se chamar a esta representação mediadora um interpretante porque ela preenche a junção do intérprete que diz que um estranho diz o mesmo que ele diz.” Interpretante Imediato (Ii) Aquele que nos permite identificar a existência de qualquer coisa, mesmo antes de a classificarmos em profundidade.

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Page 1: Apontamentos Semiologia 2 PDF

O Signo

Representamen que, através de um Interpretante nos remete para um Objecto

“Um signo ou Representamen é qualquer coisa que está no lugar de outra para alguém a respeito de qualquer relação ou a qualquer título. Dirige-se a alguém, quer dizer, cria no espírito dessa pessoa um signo equivalente ou provavelmente mais desenvolvido. Ao signo que ele (representamen) cria chamo Interpretante do primeiro signo. Esse signo toma o lugar de qualquer coisa: o seu Objecto (...)”

“Um signo é tudo aquilo que determina qualquer coisa de outro (o seu interpretante) e a reenvia ao seu objecto. Desta forma, o Interpretante é, por sua vez, um signo e assim ad infinitum”

! Semiose: Todo o pensamento deve ser interpretado por um outro pensamento, ou seja, todo o signo deve poder sempre reenviar a outro signo.

Representamen“Se existe alguma coisa que fornece informação sem, contudo, ter qualquer relação ou referência que seja com aquilo que a pessoa a quem fornece a informação conhece, directa ou indirectamente, quando compreende esta informação - e isto seria um tipo de informação muito estranha - então o veículo deste tipo de informação não é o que se designa, neste volume, por signo.”

ObjectoOs objectos - um signo pode ter vários - podem ser uma só coisa existente conhecida, ou uma coisa em que se acredita que tenha existido anteriormente, ou que se esperaque exista em termos futuros.!! Tipos de Objectos:! -Objecto Imediato (Oi)! -Objecto Dinâmico (Od)

InterpretanteO terceiro termo indispensável à constituição do digno é o Interpretante, que Peirce diz ser “o significado puro do signo, resultado ou efeito em sentido científico.”

“O julgamento é a comparação de uma coisa com qualquer marca ou atributo. Por comparação, é necessário entender que em qualquer julgamento uma ideia é sustentada e fundamentada por outra. Em consequência, toda a comparação requer uma representação do Correlato (Objecto) que esta representação mediadora representa. Pode-se chamar a esta representação mediadora um interpretante porque ela preenche a junção do intérprete que diz que um estranho diz o mesmo que ele diz.”

! Interpretante Imediato (Ii)! Aquele que nos permite identificar a existência de qualquer coisa, mesmo antes de a classificarmos em profundidade.

!

Page 2: Apontamentos Semiologia 2 PDF

! Interpretante Dinâmico (Id)! Fornece todas as informações necessárias à interpretação do signo. É o efeito real que o signo produz no espírito. Trata-se de um esforço adicional que o espírito tem que fazer para ir mais além.

! Interpretante Final (If)! Também designado de Interpretante “normal”, é aquele que fornece os sistemas de interpretação.

14/05/2012

SAUSSUREOrigem da SemiologiaKinguística constitui-se como ciência que procura:• Descrição de factos linguísticos• Explicação da ocorrência de factos linguísticos

Contexto Histórico• Evolucionismo (sec. XIX)• Historicismo (sec. XIX)• Linguistica comparada/Linguística Histórica• Positivismo (finais do sec. XIX)• Linguística Geral

Linguística Estrutural - o Modelo Estrutural de SaussureA concepção de linguagem herdada do século XIX apresentava três tendências dominantes:• A tendência normativa• A tendência historicista filológica• A tendência comparalista.

A língua aparece não como evolução ou história, mas como estrutura, com leis e regras de funcionamento que se trata de descrever.

LinguagemCapacidade humana para produzir sistemas simbólicos, sistemas de conceitos associados a uma determinada forma.

O estudo da linguagem ultrapassa o âmbito da linguística.

Saussure considera que a linguagem deve ter como objecto de estudo a língua (e não a linguagem).

O seu estudo deve aplicar-se ao sistema que é a língua e não às suas manifestações individuais (fala).

Abolição/Morte do sujeito - EstruturalismoSaussure rompe com a noção de sujeitoA linguística encontra um exemplo de rigor nas ciências matemáticas.Saussure rompe com os autores e estudos desenvolvidos até então.

Page 3: Apontamentos Semiologia 2 PDF

Tendo em conta os universais da língua (o que é comum a todas as línguas), o autor procura definir um novo modelo funcional operativo onde valoriza, apenas, a actualidade da língua.

Modelo Funcional OperativoModelo feito de oposições binárias (DICOTOMIAS), pares de conceitos que se opõem mas que só podem ser entendidos em em relação ao outro w, juntos, formam um conceito maior que é fundamentoal para o entendimento daquilo que é a língua.• Sincronia =/=Diacronia• Língua =/= Fala• Significante =/= Significado• Relações sintagmáticas =/= Relações paradigmáticas

Objecto da LinguísticaQuestâo: Qual é o objecto integral e preciso da linguística?Independentemente do modo como encaramos o fenómeno linguístico, este apresenta sempre duas faces que se correspondem, uma das quais só é válida por causa da outra.

Exemplos:1. As sílabas que se articulam são impressões acústicas percebidas oelo ouvido, mas os

sons não existirão sem os orgãos vocais.2. Admitindo que o sem é algo simples, será que ele, por si só, faz a linguagem?3. A linguagem tem uma face individual e uma face social e não podemos conceber uma

sem a outra.4. Em cada momento, a linguagem implica, simultaneamente, um sistema estabeecido e

uma evolução.

Nunca estaremos perante o objecto integral da linguística. Deparar-nos-emos sempre com o mesmo dilema:• Vemos uma só face de casa problema• Ou estudamos a linguagem em várias perspectivas simultâneas.

Segundo Saussure so há, então, uma solução para todas estas dificuldades. Encararmos a língua como norma para todas as outras manifestações da linguagem.

Questão: Mas o que é a língua?Para o autor, ela não se confunde com a linguagemA linguagem é um todo em si e um princípio de classificação.A linguagem é aquilo que Saussure define como sendo um sistema de valores puros, em que nada de exterior determina o estado momentâneo dos termos.

16/5/2012

Língua como sistema de valoresTodos os valores são regidos pelos princípios:1. Troca2. Comparação

Como parte de um sistema, cada palavra está revestida de uma significação, mas também de um valor de que não deve ser confundido com a significação.

Page 4: Apontamentos Semiologia 2 PDF

Aspecto MaterialO que importa na palavra não é o som em si.

O som não pertence por si próprio a língua.

Escrita1. Os sinais da escrita são arbitrários2. O valor das letras é puramente negativo e diferencial.3. Sistema definido como um número determinado de letras.4. O meio como ºe produzido cada sinal é indiferente

DicotomiasSaussure representou estes dois aspectos da seguinte forma:

O traço AB representa Eixo das SimultaneidadesO traço CD representa o Eixo das Sucessividades

SincroniaA língua é estudada da forma como se apresenta num determinado momento da história, sem se ter qualquer consideração pela intervenção e ingluência do tempo nesse estado actual da língua.A sincronia só conhece uma perspectiva, a dos sujeitos falantes.

DiacroniaA língua é analisada como produto de uma série de transofrmações que ocorrem ao longo do tempo.A linguística diacrónica distingue duas perspectivas: uma perspectiva que segue o surso do tempo e outra retrospectiva, que visa o passado.

“A primeira coisa que verificamos quenaod se estudam os factos da língua é que para o sujeito falante a sucessão no tempo é inexistente: ele está perante um estado”

ObjectoO estudo sincrónico tem por objecto apenas o conjunto dos factos que corresponde a casa língua.A linguística diacrónica rejeita semelhante especialização.

21/5/2012

A B

C

D

Page 5: Apontamentos Semiologia 2 PDF

Lugar da língua entre os factos da linguagem

Os factos da consciência (conceitos) encontram-se associados às representações dos signos linguísticos ou às imagens acústicas que os exprimem.

O cérebro transmite aos órgãos de fonação um impulso correlativo à imagem e as ondas sonoras propagam-se da boca de A ao ouvido de B.

O circuito prolonga-se em B numa ordem inversa: do ouvido ao cérebro e, no cérebro, associação psíquica desta imagem ao conceito correspondente.

Três processos: Psíquico, Fisiológico e Físico.

O circuito pode dividir-se ainda:• Exterior e interior• Psíquica e não psíquica• Activa e passiva (Activa: tudo o que é do emissor; Passiva: tudo o que é do receptor)

Língua/Fala

Separando a língua da fala, separamos:• Social do individual• Essencial do acessório

A Língua• Não é uma função do sujeito falante• Registada passivamente• Existe na colectividade• Não supõe premediação

A Fala• Acto individual de vontade e inteligência• Cada um faz uso dela como bem entende• As suas manifestações são individuais e momentâneas

A Língua:

“É um produto social da faculdade da linguagem que, por si só, tem uma unidade - grupo de convenções estabelecidas e adoptadas por um grupo social para o exercício da faculdade da linguagem”.

• É convencional

Page 6: Apontamentos Semiologia 2 PDF

• Não pode ser criada nem modificada pelos seus falantes

Língua/Fala

• Um homem privado do uso da fala, pode conservar a língua• A língua é um objecto que pode ser estudado separadamente• A ciência da língua passa sem os outros elementos da linguagem• Enquanto sistema, ela tem uma unidade que lhe é conferida pela união do sentido e da

imagem acústica.• Os signos da linguagem são tangíveis

Saussure compara a língua a uma sinfonia.

Reforça a necessária separação entre os domínios da língua e da fala.

Questão: Então e as transformações fonéticas e as alterações de sons que se produzem na fala e que exercem uma influência tão profunda sobre os destinos da própria língua? Poderá existir independentemente destes fenómenos?

Resposta: Sim, uma vez que estas transformações apenas atingem a substância material das palavras. A língua é uma realidade anterior à fala e, por isso, não pode ser modificada por ela. As transformações que se operam ao nível da fala, se atingirem a língua enquanto sistema de signos, é só indirectamente, pela mudança de interpretações que daí resulta.

O estudo da linguagem comporta duas partes:1. Essencial que tem por objecto a língua, que é social e independente do sujeito.2. Secundária, que tem por objecto a parte individual da linguagem, a fala.

Estes dois objectos estão estreitamente ligados e supõem-se um ao outro.

Possibilidade dos factos da fala interferirem na língua ao ponto de causarem mudanças no sistema.

Embora admita alguma interdependência entre língua e fala, Saussure afirma que, na maioria das vezes, a língua muda por razões internas à própria língua.

O que caracteriza a unidade colectiva que constitui a língua?

• A sua natureza institucional: impõe.se a todos obrigatoriamente, apesar de cada um dos falantes se julgar livre no uso que dela faz.

• É arbitrária: nada fundamenta na realidade, a não ser o facto de depender de uma evolução colectiva.

• É linear: desenrola-se no tempo.

Page 7: Apontamentos Semiologia 2 PDF

23/5/2012

Natureza do Signo linguísticoHomogeneidade

TaxinomiaA relação entre os objectos e o seu nome é algo perfeitamente sistematizado.

Saussure critica esta concepção.

O signo não une uma coisa e um nome, mas um conceito a uma imagem acústica.

O signo é uno e os seus componentes são indissociáveis.

Características Fundamentais do Signo Linguístico1. Arbitrariedade2. Linearidade do Significante/Globalidade do Significado3. Imutabilidade4. Mutabilidade

Conclusões:A língua em nada pode ser alterada.

A arbitrariedade dos signos implica a liberdade de estabelecer nova relação entre a matéria fónica e as ideias.

A língua é por natureza relacional.

Relações Sintagmáticas / Relações ParadigmáticasSintagma: Qualquer frase.Paradigma: Conjunto de coisas com as mesmas características.

No sistema que é a língua tudo se baseia nas relações.

Como é que elas funcionam?

Relações SintagmáticasUma frase só é cimpreendida se nela estiverem PRESENTES todos os elementos.

Relações ParadigmáticasCaptam, também, a natureza das relações que os ligam em cada caso e cria tantas séries associativas quantas as diversas relações.

A linguagem segundo Edward Sapar:

“Um método exclusivamente humano, e não instintivo, de comunicar ideias, emoções, através de um sistema de símbolos produzidos de maneira deliberada”.

Page 8: Apontamentos Semiologia 2 PDF

Hjelsmlev acreditava que a língua enquanto sistema de regras era ambígua e não clara.

Quadrinómio: esquema, norma, uso e acto:1. Esquema2. Norma3. Uso4. Acto

O esquema é o que mais se aproxima do sentido geral saussuriano que habitualmente se atribui quando se procura identificar uma língua.

A “imagem acústica” de Saussure não é mais do que a tradução física de um facto material. Neste sentido, ela liga a língua a uma matéria dada e assimila-a à norma.

Se encararmos a língua como “o conjunto dos hábitos linguísticos”, ela não será mais do que um uso.

As distinções que acabamos de estabelecer permitem-nos compreender que a língua-esquema, a língua-norma e a língua-uso não se comportam da mesma maneira face ao acto individual que é a fala.

1. A norma pressupõe o uso e o acto. O inverso já não acontece. O acto e o uso precedem a norma em termos práticos e lógicos, logo a norma nasce sempre do acto e do uso.

2. Entre uso e acto há interdependência - eles pressupõem-se mutuamente.3. O esquema é determinado pelo acto como pela norma, e não inversamente.

Em suma:• O Esquema implica a : Norma, uso e Acto;• A Norma implica: Uso e Acto.