antologia poética

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Escola Secúndária Disciplina: Português Antologia Poética Poetas do Século XX

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Page 1: Antologia Poética

Escola Secúndária

Disciplina: Português

Antologia Poética

Poetas do Século XX

Trabalho realizado por:

Page 2: Antologia Poética

Índice

Prefácio………………………………………………………………………………. 4

Sophia de Melo Breyner AndresenFundo do Mar………………………………………………………………. 5Paisagem………………………………………………………………….…. 6

Eugénio de Andrade As Palavra…………………………………………………………………….

7Coração Habitad…………………………………………………………....

8

Manuel AlegreÚltima Página……………………………………………………………….. 9As Sete Penas do Amor Errante………………………………….……..

10

Natália de Oliveira CorreiaO Poema……………………………………………………………………..

11Poema Involuntário……………………………………………………….

12

Miguel TorgaPoema Involuntário……………………………………………………….

13Mãe………………………………………………………………………….. 14

2Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 3: Antologia Poética

Prefácio

"A poesia é mais profunda e filosófica do que a história." Aristóteles

A Poesia “nasceu”, não se sabe ao certo quando nem como, mas é expressa pela línguagem humana e como tal indica, quem sabe se não existiría mesmo antes da escrita. É uma arte e como tal é necessário valora-la e dar-lhe vida, e construir no seu amplo terreno novos projectos. Assim, pode-se escrever antologias como esta, que preservam algumas das maravilhosas obras que os poetas escrevem e que nos transmitem algo. Nesta antologia é possivél encontrar alguns dos poetas mais conhecidos nacionalmente e/ou internacionalmente, contento uma pequena biografia sobre os mesmos e seguidamente alguns poemas de minha eleição e uma pequena ilustração.

3Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 4: Antologia Poética

Sophia de Melo Breyner Andresen, nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919 e faleceu em Lisboa a 2 de Julho de 2004. Foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX tendo sido esta distinguida com o Prémio Rainha Sofia e a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões. Estudou Filologia Clássica e foi fundadora da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. Entre as suas obras escreveu poesia, contos, esaios e peças de teatro, estando algumas delas traduzidas em várias línguas. Na poesia usava conseitos-chave nas suas criações, tendo sido uma delas relacionada com a Natureza, nomeadamente o Mar.

Fundo do mar

No fundo do mar há brancos pavores,Onde as plantas são animaisE os animais são flores.

Mundo silencioso que não atingeA agitação das ondas.Abrem-se rindo conchas redondas,Baloiça o cavalo-marinho.Um polvo avançaNo desalinhoDos seus mil abraços,Uma flor dança,Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisaLeve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisaTem um monstro em si suspenso.

4Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 5: Antologia Poética

Sophia de Mello Breyner Andresen

Paisagem

Passavam pelo ar aves repentinas,O cheiro da terra era fundo e amargo,E ao longe as cavalgadas do mar largoSacudiam na areia as suas crinas.

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,Era a carne das árvores elástica e dura,Eram as gotas de sangue da resinaE as folhas em que a luz se descombina.

Eram os caminhos num ir lento,Eram as mãos profundas do ventoEra o livre e luminoso chamamentoDa asa dos espaços fugitiva.

Eram os pinheirais onde o céu poisa,Era o peso e era a cor de cada coisa,A sua quietude, secretamente viva,E a sua exalação afirmativa.

Era a verdade e a força do mar largo,Cuja voz, quando se quebra, sobe,Era o regresso sem fim e a claridadeDas praias onde a direito o vento corre.

Sophia de Mello Breyner Andresen

5Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 6: Antologia Poética

Eugénio de Andrade nasceu a 19 de Janeiro de 1923 na Póvoa de Atalaia e faleceu a 13 de Junho de 2005 no Porto, com uma doença neurológica prolongada. Frequentou o Liceu Passos Manuel e a Escola Técnica Machado Castro, tendo como ocupação poeta, escritor e tradutor. Apesar do enorme prestígio nacional e internacional que obteve, viveu sempre afastado de uma vida social exuberante. Pseudónimo de José Fontinhas tinha como género literário a poesia lírica recebeu enúmeras distinções entre elas o Prémio Camões e obteve ainda 55 títulos traduzidos em diversas línguas e vária reedições.

As palavras

São como um cristal,as palavras.Algumas, um punhal,um incêndio.Outras,orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.Inseguras navegam:barcos ou beijos,as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,leves.Tecidas são de luze são a noite.E mesmo pálidasverdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quemas recolhe, assim,cruéis, desfeitas,nas suas conchas puras?

6Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 7: Antologia Poética

Eugénio de Andrade

Coração Habitado

Aqui estão as mãos. São os mais belos sinais da terra. Os anjos nascem aqui: frescos, matinais, quase de orvalho, de coração alegre e povoado. 

Ponho nelas a minha boca, respiro o sangue, o seu rumor branco, aqueço-as por dentro, abandonadas nas minhas, as pequenas mãos do mundo. 

Alguns pensam que são as mãos de deus — eu sei que são as mãos de um homem, trémulas barcaças onde a água, a tristeza e as quatro estações penetram, indiferentemente. 

Não lhes toquem: são amor e bondade. Mais ainda: cheiram a madressilva. São o primeiro homem, a primeira mulher. E amanhece. 

Eugénio de Andrade

7Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 8: Antologia Poética

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu em Águeda a 12 de Maio de 1936. É um escritor, poeta e político português com um proeminente labor literário. Estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, participou activamente em algumas lutas académicas e viveu na época da guerra colonial. É conhecido nacionalmente e internacionalmente, escreveu inúmeros poemas músicados e recebeu inúmeras distinções como o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, sendo hoje um dos poetas mais cantados pelos músicos portugueses.

Última Página

Vou deixar este livro. Adeus.Aqui morei nas ruas infinitas. Adeus meu bairro página brancaonde morri onde nasci algumas vezes.

Adeus palavras comboiosadeus navio. De ti povonão me despeço. Vou contigo.Adeus meu bairro versos ventos.

Não voltarei a Nambuangongoonde tu meu amor não viste nada. Adeuscamaradas dos campos de batalha.Parto sem ti Pedro Soldado.

Tu Rapariga do País de Abriltu vens comigo. Não te esqueçasda primavera. Vamos soltara primavera no País de Abril.

Livro: meu suor meu sangueaqui te deixo no cimo da pátriaMeto a viola debaixo do braço

8Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 9: Antologia Poética

e viro a página. Adeus.

Manuel Alegre

As Sete Penas do Amor Errante

Eu não sei se os teus olhos se gaivotas mas era o mar e a Índia já perdida as ilhas e o azul o longe e as rotas minha vida em pedaços repartida. 

Eu não sei se o teu rosto se um navio mas era o Tejo a mágoa a brisa o cais meu amor a partir-se à beira-rio em uma nau chamada nunca mais. 

Eu não sei se os teus dedos se as amarras mas era algo que partia e que ficava. Ou talvez cordas de guitarras ó meu amor de embarque desembarque. 

Eu não sei se era amor ou se loucura mas era ainda o verbo descobrir ó meu amor de risco e de aventura não sei se Ceuta ou Alcácer Quibir. 

Eu não sei se era perto se distante mas era ainda o mar desconhecido ou Camões a penar por Violante as sete penas do amor proibido. 

Eu não sei se ventura se castigo mas era ainda o sangue e a memória talvez o último cantar de amigo amor de perdição amor de glória. 

Eu não sei se teu corpo se meu chão mas era ainda a terra e o mar. E em cada teu gesto a grande peregrinação das sete penas do amor lusíada. 

9Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 10: Antologia Poética

Manuel Alegre

Natália de Oliveira Correia nasceu a 13 de Setembro de 1923 em Fajã de Baixo e faleceu a 16 de Março de 1993 com um ataque cardíaco. Activista social, dramaturga, romancista, ensaista, tradutora, jornalisra, guionista e editora, mas prodominantemente poetisa, estende as suas obras por inúmeros géneros. Conhecida nacionalmente, foi a autora do Hino dos Açores e fez parte dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura.

O Poema

O poema não é o canto que do grilo para a rosa cresce. O poema é o grilo é a rosa e é aquilo que cresce. 

É o pensamento que exclui uma determinação na fonte donde ele flui e naquilo que descreve. O poema é o que no homem para lá do homem se atreve. 

Os acontecimentos são pedras e a poesia transcendê-las na já longínqua noção de descrevê-las.

E essa própria noção é só uma saudade que se desvanece na poesia. Pura intenção de cantar o que não conhece. 

10Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 11: Antologia Poética

Natália Correia

Poema Involuntário

Decididamente a palavra quer entrar no poema e dispõe com caligráfica raiva do que o poeta no poema põe. 

Entretanto o poema subsiste informal em teus olhos talvez mas perdido se em precisa palavra significas o que vês. 

Virtualmente teus cabelos sabem se espalhando avencas no travesseiro que se eu digo prodigiosos cabelos as insólitas flores que se abrem não têm sua cor nem seu cheiro. 

Finalmente vejo-te e sei que o mar o pinheiro a nuvem valem a pena e é assim que sem poetizar se faz a si mesmo o poema. 

Natália Correia

11Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 12: Antologia Poética

Miguel Torga é o pseudénimo de Adolfo Correia Rocha que nasceu a 12 de Agosto de 1907 em São Martinho da Anta e faleceu em coimbra a 17 de Janeiro de 1995 e é considerado um grande escritor e um dos mais ou até mesmo o mais importante escritor português do século XX. É conhecido nacionalmente e internacionalmente, tendo sido os seus livros publicados em diversas línguas. Ganhou o Prémio Camões em 1989, entre outras distinções.

Poema Involuntário

Vou aqui como um anjo, e carregado De crimes! Com asas de poeta voa-se no céu... De tudo me redimes, Penitência De ser artista! Nada sei, Nada valho, Nada faço, E abre-se em mim a força deste abraço Que abarca o mundo! 

Tudo amo, admiro e compreendo. Sou como um sol fecundo Que adoça e doira, tendo Calor apenas. Puro, Divino E humano como os outros meus irmãos, Caminho nesta ingénua confiança De criança Que faz milagres a bater as mãos. 

12Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 13: Antologia Poética

Miguel Torga

Mãe

Mãe: Que desgraça na vida aconteceu, Que ficaste insensível e gelada? Que todo o teu perfil se endureceu Numa linha severa e desenhada? 

Como as estátuas, que são gente nossa Cansada de palavras e ternura, Assim tu me pareces no teu leito. Presença cinzelada em pedra dura, Que não tem coração dentro do peito. 

Chamo aos gritos por ti — não me respondes. Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio. Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes Por detrás do terror deste vazio. 

Mãe: Abre os olhos ao menos, diz que sim! Diz que me vês ainda, que me queres. Que és a eterna mulher entre as mulheres. Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga

13Antologia Poética – Poetas do Século XX

Page 14: Antologia Poética

Antologia Poética

Poetas do Século XX

A Poesia sente-se, compreende-se e interpreta-se. É uma forma de ser imaginária e um mundo de possibilidades, onde as mentiras são verdades e onde o “eu” se torna outra pessoa. O lugar onde as palavras nos enganam e nos fazem sonhar, onde os sonhos se tornam realidade e onde a realidade se torna um sonho. Incrivelmente bela a Poesia está presente na vida de

todas as pessoas, num poema ou numa simples frase que chama por nós. O que interessa é ler… Um poema, dois ou três… Uma antologia! Se um

poema já nos faz sonhar por um tempo, imaginemos o que uma antologia nos fará! Consome-nos num tempo que não passa e num espaço irreal onde

cada poema é uma nova aventura e um novo turbilhão de sentimentos. Uma forma de aprender que nos eleva a um patamar cujo único caminho é

a Poesia e na qual não existem atalhos para lá chegar…

14Antologia Poética – Poetas do Século XX