análise palmeiras - 2010

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Análise econômico-financeira da Sociedade Esportiva Palmeiras em 31/12/10 As análises da Sociedade Esportiva Palmeiras serão concentradas em três partes: visão geral das demonstrações e parecer de auditoria, análise patrimonial e análise do resultado (superávit ou déficit) em 31/12/10. Visão Geral das Demonstrações Contábeis Confesso que quando vi as demonstrações contábeis da Sociedade Esportiva Palmeiras, não esperava uma qualidade informacional tão baixa. Faz muitos anos, talvez uns 12 anos ou mais que não vejo uma parecer de auditoria adverso. Dentre todos os tipos de parecer, este é o mais negativo, afinal, como os próprios auditores afirmam, as demonstrações contábeis não representam a posição patrimonial e financeira da Sociedade Esportiva Palmeiras em 31/12/2010 (...). Isto significa que o que foi divulgado pelo clube é nulo para efeitos de análise. Em virtude disto, a nova diretoria eleita resolveu refazer as demonstrações, segundo as práticas contábeis em vigor no Brasil e a diferença foi assustadora, de mais de 70 milhões de reais. Em virtude desta discrepância, a análise foi toda feita com base nas demonstrações refeitas e não nas demonstrações originais do clube. Análise Patrimonial Na análise patrimonial serão evidenciados principalmente o endividamento e a capacidade de pagamento das dívidas. Em relação ao endividamento, a situação do clube é calamitosa. A participação de capital de terceiros, que mede a relação entre dívidas e patrimônio, do clube é negativa, o que mostra que o clube, mesmo que vendesse todos os seus ativos, ainda não conseguiria arcar com as suas dívidas. Mesmo com a incorporação de 40 milhões aos ativos do clube com a construção dos novos edifícios, ainda assim a relação seria negativa, pois as dívidas superam os ativos totais, atualmente, em 84,4 milhões de reais. Em relação ao perfil da dívida, a situação também não é nada boa. Enquanto que até 2008, menos de 25% das dívidas venciam no curto prazo (um ano), tais números saltaram significativamente, sendo que, atualmente, mais de 60% das dívidas vencem no curto prazo. Isto mostra que o clube está, aparentemente, com mais dificuldade em rolar a dívida por prazos mais longos, fazendo com que a rolagem seja em prazos curtos e, consequentemente, com juros mais altos. Analisando apenas as dívidas de curto prazo, percebe-se uma baixíssima capacidade de pagamento das dívidas, o que pode trazer sérios problemas, ainda mais com um endividamento tão alto. Analisando o indicador de liquidez corrente, que mede o quanto das dívidas de curto prazo são cobertas pelos ativos de curto prazo, observa-se que, em 31/12/09, os ativos de curto prazo cobriam apenas 21,1% das dívidas de curto prazo. Em 31/12/10 a situação teve uma piora ainda maior, com uma cobertura de apenas 16,4% das dívidas de curto prazo. Para efeitos de comparação, em uma empresa saudável, este índice deve ser superior a 100% (ressalta-se que são padrões médios, podendo variar caso a caso). Análise do Resultado Na análise do resultado, embora o clube publique os resultados separados do futebol e do restante do clube, será analisado aqui apenas o futebol, que é o ponto que nos interessa.

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Análise econômico-financeira da Sociedade Esportiva Palmeiras em 31/12/10

As análises da Sociedade Esportiva Palmeiras serão concentradas em três partes: visão

geral das demonstrações e parecer de auditoria, análise patrimonial e análise do

resultado (superávit ou déficit) em 31/12/10.

Visão Geral das Demonstrações Contábeis

Confesso que quando vi as demonstrações contábeis da Sociedade Esportiva Palmeiras,

não esperava uma qualidade informacional tão baixa. Faz muitos anos, talvez uns 12

anos ou mais que não vejo uma parecer de auditoria adverso. Dentre todos os tipos de

parecer, este é o mais negativo, afinal, como os próprios auditores afirmam, “as

demonstrações contábeis não representam a posição patrimonial e financeira da

Sociedade Esportiva Palmeiras em 31/12/2010 (...)”. Isto significa que o que foi

divulgado pelo clube é nulo para efeitos de análise. Em virtude disto, a nova diretoria

eleita resolveu refazer as demonstrações, segundo as práticas contábeis em vigor no

Brasil e a diferença foi assustadora, de mais de 70 milhões de reais. Em virtude desta

discrepância, a análise foi toda feita com base nas demonstrações refeitas e não nas

demonstrações originais do clube.

Análise Patrimonial

Na análise patrimonial serão evidenciados principalmente o endividamento e a

capacidade de pagamento das dívidas.

Em relação ao endividamento, a situação do clube é calamitosa. A participação de

capital de terceiros, que mede a relação entre dívidas e patrimônio, do clube é negativa,

o que mostra que o clube, mesmo que vendesse todos os seus ativos, ainda não

conseguiria arcar com as suas dívidas. Mesmo com a incorporação de 40 milhões aos

ativos do clube com a construção dos novos edifícios, ainda assim a relação seria

negativa, pois as dívidas superam os ativos totais, atualmente, em 84,4 milhões de reais.

Em relação ao perfil da dívida, a situação também não é nada boa. Enquanto que até

2008, menos de 25% das dívidas venciam no curto prazo (um ano), tais números

saltaram significativamente, sendo que, atualmente, mais de 60% das dívidas vencem

no curto prazo. Isto mostra que o clube está, aparentemente, com mais dificuldade em

rolar a dívida por prazos mais longos, fazendo com que a rolagem seja em prazos curtos

e, consequentemente, com juros mais altos.

Analisando apenas as dívidas de curto prazo, percebe-se uma baixíssima capacidade de

pagamento das dívidas, o que pode trazer sérios problemas, ainda mais com um

endividamento tão alto. Analisando o indicador de liquidez corrente, que mede o quanto

das dívidas de curto prazo são cobertas pelos ativos de curto prazo, observa-se que, em

31/12/09, os ativos de curto prazo cobriam apenas 21,1% das dívidas de curto prazo.

Em 31/12/10 a situação teve uma piora ainda maior, com uma cobertura de apenas

16,4% das dívidas de curto prazo. Para efeitos de comparação, em uma empresa

saudável, este índice deve ser superior a 100% (ressalta-se que são padrões médios,

podendo variar caso a caso).

Análise do Resultado

Na análise do resultado, embora o clube publique os resultados separados do futebol e

do restante do clube, será analisado aqui apenas o futebol, que é o ponto que nos

interessa.

Em relação à receita, o clube teve um aumento de 33% na sua receita total, o que foi um

fator positivo para o clube, com um grande aumento de 91% em patrocínio e 13% nos

direitos de transmissão e uma leve queda com arrecadação de ingressos.

Em relação às despesas, houve um aumento de 98% no total. Um ponto a ser ressaltado

é a despesa com pessoal. No ano de 2008 correspondeu a 44 milhões de reais, sendo

praticamente o que o clube ganhou com direitos de transmissão (43 milhões), porém,

esta despesa está em ritmo decrescente, pois já esteve pior nos outros anos.

Finalizando, com os aumentos nas receitas e despesas, o futebol da Sociedade Esportiva

Palmeiras foi superavitário em 2,3 milhões de reais em 2010. Entretanto, se somarmos a

isto a grande despesa com juros da dívida, o superávit é esvaído e forma-se um grande

déficit, da ordem 14 milhões de reais, o que é alto, mas menor do que o de 2009, que foi

da ordem de 19,2 milhões de reais.

Conclusão

Pela análise dos números das demonstrações financeiras da Sociedade Esportiva

Palmeiras observa-se uma situação extremamente ruim, pois o clube tem alto

endividamento, baixa capacidade de pagamento de dívidas e também não consegue

produzir resultados positivos, com indicadores de resultado melhores em 2010 do que

em 2009, mas sem conseguir uma geração positiva de caixa.