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1 ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GURUJI, LITORAL SUL DO ESTADO DA PARAÍBA Maria Emanuella Firmino Barbosa – Universidade Federal da Paraíba-UFPB [email protected] Prof. Dr. Max Furrier – Universidade Federal da Paraíba-UFPB [email protected] RESUMO O Comportamento de uma bacia hidrográfica está estreitamente relacionado a diversos elementos tais como: área, forma, topografia, geologia, solo, cobertura vegetal dentre outros. A fim de entender a interrelação existente entre a morfologia e os processos hidrológicos de uma bacia hidrográfica, torna-se necessário expressar as características da bacia em termos quantitativos. Sendo assim, a aplicação de um estudo mofométrico na bacia hidrográfica do Rio Guruji, localizada no município do Conde, Litoral Sul do Estado da Paraíba que possui como substrato predominante a Formação Barreiras, poderá servir de base para estudos mais detalhados e precisos de suas características geomorfológicas, sua relação com a hidrologia e a tectônica da região. A análise morfométrica aplicada nesse trabalho está baseada na metodologia desenvolvida por Christofoletti (1969). Neste trabalho foram abordados os aspectos descritivos como padrões de drenagem, escoamento dos cursos de água em relação à inclinação das camadas geológicas, hierarquia fluvial, análise linear e análise areal da bacia hidrográfica. Quanto aos materiais e métodos, foram utilizadas as cartas topográfica de Jacumã e do Conde, na escala 1: 25.000, softwares apropriados para a confecção de mapas temáticos da área da bacia hidrográfica, fotografias aéreas, e pesquisas bibliográficas em livros, artigos, teses e dissertações. Com os primeiros dados obtidos constatou-se que a bacia do Rio Guruji é uma bacia de 5ª ordem e possui uma drenagem dendrítica. A bacia possui algumas peculiaridades facilmente identificadas como o seu padrão de drenagem assimétrico, com a porção sul apresentando relevo bem mais entalhado que a porção norte e com afluentes muito mais conspícuos e uma acentuada inflexão do Rio Guruji no seu baixo curso, quando sua direção muda bruscamente de W-L para S-N. Palavras - Chaves: bacia hidrográfica; morfometria; Rio Guruji, Formação Barreiras. ABSTRACT The behavior of a watershed is closely element such as: area, shape, topography, geology, soil, vegetation cover among others. In order to understand the interrelations existent between the morphology of shape and processes groundwater, in a watershed, it is necessary to express the characteristics of the basin in quantitative terms. Thus, the implementation of a morphometric study in the watershed of Guruji rive, located in the municipal district of Conde, South Coast of the State of Paraiba. That has as the predominant substrate Barriers Formation, could serve as a basis for more detailed and accurate studies of its characteristics geomorphologic, its relation to hydrology and tectonics of the region. Morphometric analysis in that work is based on the methodology developed by Christofoletti. This work was boarded as the descriptive aspects of drainage patterns, the flow of water courses on the inclination of geological, fluvial hierarchy, linear analysis and analysis of the area of basin. The materials and methods, was used the topographic charts of Jacumã and Conde with scale of 1: 25 000 and software suitable for the preparation of thematic maps of the area of basin, moreover, it was used aerial photographs, even went bibliographic searches were conducted in books, articles, thesis and dissertations. With the first data obtained it is found that the basin of the Guruji rive is basin of 5 th order, has a dendritic drainage. The basin has some peculiarities easily identified as the asymmetric pattern of drainage, with the portion south present relief very carved that portion north and with tributaries more conspicuous and an inflection accentuated of Guruji rive on your lower course of the river, when its direction changes sharply from W-E to S-N. Keywords: watershed; morphometry; Guruji river, Barreiras Formation.

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ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO GURUJI, LITORAL SUL DO ESTADO DA PARAÍBA

Maria Emanuella Firmino Barbosa – Universidade Federal da Paraíba-UFPB

[email protected] Prof. Dr. Max Furrier – Universidade Federal da Paraíba-UFPB

[email protected]

RESUMO O Comportamento de uma bacia hidrográfica está estreitamente relacionado a diversos elementos tais como: área, forma, topografia, geologia, solo, cobertura vegetal dentre outros. A fim de entender a interrelação existente entre a morfologia e os processos hidrológicos de uma bacia hidrográfica, torna-se necessário expressar as características da bacia em termos quantitativos. Sendo assim, a aplicação de um estudo mofométrico na bacia hidrográfica do Rio Guruji, localizada no município do Conde, Litoral Sul do Estado da Paraíba que possui como substrato predominante a Formação Barreiras, poderá servir de base para estudos mais detalhados e precisos de suas características geomorfológicas, sua relação com a hidrologia e a tectônica da região. A análise morfométrica aplicada nesse trabalho está baseada na metodologia desenvolvida por Christofoletti (1969). Neste trabalho foram abordados os aspectos descritivos como padrões de drenagem, escoamento dos cursos de água em relação à inclinação das camadas geológicas, hierarquia fluvial, análise linear e análise areal da bacia hidrográfica. Quanto aos materiais e métodos, foram utilizadas as cartas topográfica de Jacumã e do Conde, na escala 1: 25.000, softwares apropriados para a confecção de mapas temáticos da área da bacia hidrográfica, fotografias aéreas, e pesquisas bibliográficas em livros, artigos, teses e dissertações. Com os primeiros dados obtidos constatou-se que a bacia do Rio Guruji é uma bacia de 5ª ordem e possui uma drenagem dendrítica. A bacia possui algumas peculiaridades facilmente identificadas como o seu padrão de drenagem assimétrico, com a porção sul apresentando relevo bem mais entalhado que a porção norte e com afluentes muito mais conspícuos e uma acentuada inflexão do Rio Guruji no seu baixo curso, quando sua direção muda bruscamente de W-L para S-N. Palavras - Chaves: bacia hidrográfica; morfometria; Rio Guruji, Formação Barreiras. ABSTRACT The behavior of a watershed is closely element such as: area, shape, topography, geology, soil, vegetation cover among others. In order to understand the interrelations existent between the morphology of shape and processes groundwater, in a watershed, it is necessary to express the characteristics of the basin in quantitative terms. Thus, the implementation of a morphometric study in the watershed of Guruji rive, located in the municipal district of Conde, South Coast of the State of Paraiba. That has as the predominant substrate Barriers Formation, could serve as a basis for more detailed and accurate studies of its characteristics geomorphologic, its relation to hydrology and tectonics of the region. Morphometric analysis in that work is based on the methodology developed by Christofoletti. This work was boarded as the descriptive aspects of drainage patterns, the flow of water courses on the inclination of geological, fluvial hierarchy, linear analysis and analysis of the area of basin. The materials and methods, was used the topographic charts of Jacumã and Conde with scale of 1: 25 000 and software suitable for the preparation of thematic maps of the area of basin, moreover, it was used aerial photographs, even went bibliographic searches were conducted in books, articles, thesis and dissertations. With the first data obtained it is found that the basin of the Guruji rive is basin of 5th order, has a dendritic drainage. The basin has some peculiarities easily identified as the asymmetric pattern of drainage, with the portion south present relief very carved that portion north and with tributaries more conspicuous and an inflection accentuated of Guruji rive on your lower course of the river, when its direction changes sharply from W-E to S-N. Keywords: watershed; morphometry; Guruji river, Barreiras Formation.

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INTRODUÇÃO

O presente estudo está sendo desenvolvido na bacia hidrográfica do Rio Guruji e tem como

objetivo norteador explorar a geomorfologia da bacia de drenagem do Rio Guruji através de análise

morfométrica, ou seja, na mensuração dos canais fluviais que fazem parte desta bacia e também na

análise areal da mesma. A importância deste estudo é obter uma caracterização geral da bacia, e

também, detectar algum tipo de anomalia existente no padrão de drenagem, por exemplo, alguma

deformação tectônica que acaba influenciando na configuração da rede de drenagem. A área

investigada se localiza no município do Conde – PB, litoral sul do Estado da Paraíba; e a Formação

Barreiras é a litologia predominante da área em questão.

O termo bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é definido por Christofoletti (1974), como

sendo uma área drenada por um determinado rio ou por uma rede fluvial. A drenagem fluvial é

constituída por um conjunto de canais de escoamento interligados. A área drenada por esse sistema

fluvial é definida como bacia de drenagem, e essa rede de drenagem depende não só do total e do

regime das precipitações, como também das perdas por evapotranspiração e infiltração. Têm papel

importante no escoamento canalizado a topografia, a cobertura vegetal, o tipo de solo, a litologia e a

estrutura das rochas da bacia hidrográfica. A disposição dos rios, controlada em grande parte pela

estrutura geológica, é definida com padrão de drenagem (Howard, 1967 apud Cunha et al., 2007).

Compreende-se que uma bacia hidrográfica é constituída pelo conjunto de superfícies que,

através de canais e tributários, drenam água da chuva e sedimentos para um canal principal cujo

deflúvio converge numa saída única que é a sua foz. As bacias de drenagem são delimitadas pelos

divisores de água e seus tamanhos podem variar desde dezenas de quilômetros quadrados até milhões

de quilômetros quadrados. As bacias de tamanhos diferentes articulam-se a partir dos divisores de

água, integrando um sistema de drenagem organizado hierarquicamente. Assim, dependendo da saída

única que for escolhida, uma bacia pode ser subdividida em sub-bacias e microbacias de menor

dimensão no caso deste estudo a bacia do Rio Guruji é classificada como sendo uma microbacia,

possuindo apenas 164,8 Km² de área.

No estudo da Geografia é muito importante considerar que a bacia hidrográfica é uma unidade

hidrogeomorfológica, na qual todos os elementos de forma e todos os processos são estreitamente

interdependentes, de tal forma que qualquer mudança natural ou antrópica que venha a ocorrer num

determinado ponto da bacia, produz automaticamente, um ajustamento do sistema canais – vertente,

tanto para montante quanto para jusante do ponto em que a mudança ocorreu.

Segundo Silva et al. (2003), em função de suas características naturais, bacias hidrográficas têm

se tornado importante unidade espacial utilizada para gerenciar atividades de uso e conservação dos

recursos naturais, principalmente nas situações atuais de grande pressão sobre o ambiente em função

do crescimento populacional e do desenvolvimento.

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LOCALIZAÇÃO DA ÁREA

A área em questão compreende a bacia hidrográfica do Rio Guruji, localizada no Município do

Conde, litoral sul do Estado da Paraíba. A bacia hidrográfica possui as coordenadas geográficas de

07º15’03” de latitude sul e 34º54’27” de longitude oeste (Quintans et al., 2006). A bacia possui uma

área total de 164,8 Km² (Figura 1) e sua área de drenagem possui como substrato geológico, na maior

parte, os sedimentos areno-argilosos mal consolidados da Formação Barreiras.

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do Rio Guruji, município do Conde – PB.

A bacia hidrográfica do Rio Guruji é composta pelos riachos Estiva, Caboclo e Pau Ferro e

vários outros córregos secundários sem denominações, e deságua ao norte da Praia de Jacumã. Essa

bacia possui peculiaridades bastante expressivas e facilmente visíveis como, por exemplo, o seu

padrão de drenagem assimétrico, com os afluentes da margem direita muito mais avantajados que os

afluentes da margem esquerda, e a forte inflexão do Rio Guruji no seu baixo curso, a poucos metros da

linha de costa, em que a direção do seu curso muda bruscamente de W-L para S-N.

METODOLOGIA

Os cálculos morfométricos foram feitos diretamente sobre a carta topográfica, utilizando-se de

régua de precisão, curvímetro para medir a extensão dos canais e transferidor, para medir a angulação

que o curso de água faz próximo a sua foz. Foram ainda empregados softwares livres tanto para

corroborar com medições feitas sobre a carta topográfica utilizada quanto para calcular a área da bacia.

A medição dos canais, a análise das feições geomorfológicas da área e os dados morfométricos

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da bacia foram obtidos, principalmente, através da análise das cartas topográficas de Jacumã (SB. 25-

Y-C-III-3-NE) e do Conde (SB.25-Y-C-III-3-NO), na escala 1: 25.000 SUDENE (1974), com

equidistância das curvas de nível de 10 m. Também foi utilizada a carta hipsométrica da Folha João

Pessoa, na escala 1:100.000, elaborada por Furrier (2007). A carta hipsométrica mostra a representação

altimétrica do relevo pelo uso de cores convencionais.

MORFOMETRIA DA BACIA HIDROGRÁFICA

Os aspectos morfométricos das bacias hidrográficas refletem algumas das interrelações mais

significativas entre os principais fatores responsáveis pela evolução e organização do modelado, em

particular a geomorfologia. Os cálculos morfométricos relacionados a caracteres espaciais, lineares e

hipsométricos da drenagem contribuem para uma melhor caracterização das unidades

geomorfológicas, cuja qualidade e precisão variam conforme a particularidade redacional do

pesquisador.

Hierarquia fluvial

Definir a hierarquia de uma bacia hidrográfica consiste no processo de estabelecer a

classificação de determinado curso de água (ou da área drenada que lhe pertence) no conjunto total da

bacia hidrográfica na qual se encontra. Isso é realizado com a função de facilitar e tornar mais objetivo

os estudo morfométricos sobre as bacias hidrográficas. Quase todos os índices morfométrico utilizados

neste trabalho se utilizam dos dados da hierarquia fluvial. (Figura 2).

Existem na literatura vários métodos para estabelecer a hierarquia fluvial de uma bacia

hidrográfica. Autores como Horton (1945 apud Christofoletti, 1980), Scheidegger (1965 apud

Christofoletti, 1980), Shreve (1966 e 1967 apud Christofoletti, 1980) e Strahler (1952 apud

Christofoletti, 1980), desenvolveram metodologias para a hierarquização de bacias hidrográficas. Para

este trabalho convencionou-se utilizar a metodologia proposta por Strahler (1952 apud Christofoletti,

1980) para determinação da hierarquia fluvial no estudo da bacia hidrográfica do Rio Guruji. Para esse

autor os menores canais, sem tributários, são considerados como de primeira ordem, estabelecendo

desde a nascente até a confluência de dois canais de primeira ordem, a partir daí, o canal torna-se de

segunda ordem, somente recebendo afluentes de primeira ordem, os canais de terceira ordem surgem

da confluência de dois canais de segunda ordem, podendo receber afluentes de primeira e de segunda

ordens, os canais de quarta ordem surgem da confluência de dois canais de terceira ordem, podendo

receber tributários de ordens inferiores, e assim sucessivamente. A ordenação proposta por Strahler

(1952 apud Christofoletti, 1980) elimina o conceito de que o rio principal deve ter o mesmo número de

ordem em toda a sua extensão e a necessidade de se refazer a numeração a cada confluência.

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Figura 2 – Hierarquia fluvial da bacia hidrográfica do Rio Guruji, conforme a metodologia de Strahler.

A partir dos dados obtidos com a hierarquização da bacia hidrográfica do Rio Guruji se chegou

ao resultado que a bacia em questão é de 5ª ordem, sendo classificada como uma bacia hidrográfica

pequena, ou seja, uma microbacia. Possui ao todo 106 canais, que estão distribuídos segundo as suas

ordens hierárquicas na tabela abaixo (Tabela 1).

Tabela 1 – Quantidade de rios e a hierarquia dos canais na bacia hidrográfica do Rio Guruji.

A hierarquização e contagem do número de canais em cada ordem será útil para outros

cálculos morfométricos tais como: relação de bifurcação, densidade dos rios, relação entre o

comprimento médio dos canais de cada ordem e a relação entre o índice do comprimento médio dos

canais e o índice de bifurcação. Lembrando que todos os cálculos são cumulativos, ou seja, um cálculo

depende do outro para ser efetuado.

Ordem Número de Canais 1ª ordem 78 2ª ordem 21 3ª ordem 4 4ª ordem 2 5ª ordem 1 TOTAL 106

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Análise linear da rede hidrográfica

Para a análise linear da bacia hidrográfica do Rio Guruji, foram utilizados os índices e relações

a propósito da rede hidrográfica, cujas medições necessárias são efetuadas ao longo das linhas de

escoamento. Estes parâmetros morfométricos são trabalhados por Christofoletti (1969 e 1980).

Relação de bifurcação

Esta equação foi definida por Horton (1945 apud Christofoletti, 1980), como sendo a relação

entre o número total de seguimentos de uma determinada ordem e o número total dos seguimentos de

ordem superior. Segundo Christofoletti (1980), acatando-se o sistema de ordenação de Strahler (1952,

apud Christofoletti, 1969), verifica-se que o resultado nunca pode ser inferior a dois (Rb ≥ 2). A

expressão matemática utilizada para calcular o Rb é representada pela Figura 3.

Figura 3 – Equação Relação de bifurcação (Rb), onde Nu é o número de seguimentos de determinada ordem e N u+1 é o

número de seguimentos da ordem imediatamente superior. Os resultados encontrados foram: 3,71 para a relação entre o numero de canais de primeira e de

segunda ordem, para a razão entre os canais de segunda e terceira ordem o resultado foi 5,25, a relação

de bifurcação entre os canais de terceira e quarta ordem foi de 2 e a entre quarta e quinta ordem foi 2.

Todos os resultados foram superiores ou iguais a dois (Rb ≥ 2) como estabelecido por Strahler.

(Tabela 2)

Tabela 2 – Quantidade de rios e a hierarquia dos canais na bacia hidrográfica do Rio Guruji.

Segundo Silva et al. (2003), o valor desse parâmetro é maior para áreas amorreadas, com bacias

de drenagem muito dissecadas, do que para bacias com áreas colinosas, sendo de 3 a 4 para as

primeiras e de somente 2 para as últimas. Porém Christofoletti (1969) menciona que Strahler (1952,

apud Christofoletti, 1969), observa a não validade dessa regra de relação, sugerindo ser mais

consistente à regra que associa substrato geológico com relação de bifurcação.

Seguindo o critério estabelecido por Silva et al. (2003) observa-se que a bacia do Rio Guruji

apresenta a maioria dos seus canais na porção sul com forte dissecação, enquanto que na porção norte

os canais apresentam menores comprimentos e fraco entalhamento. A confirmação desse cálculo pode

Ordem Relação de bifurcação 1ª e 2ª ordens 3,71 2ª e 3ª ordens 5,25 3ª e 4ª ordens 2 4ª e 5ª ordens 2

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ser efetuada através da análise da carta hipsométrica e de fotografias aéreas de área de estudo (Figuras

3 e 4).

Figura 3 – Carta hipsométrica da bacia do Rio Guruji e adjacências. Observar que as maiores altitudes estão na porção sul da área (modificado de Furrier, 2007).

Figura 4 – Cotovelo formado no baixo curso do Rio Guruji. Observar drenagem assimétrica dos seus afluentes afloramento

da formação Maria Farinha nas proximidades da linha de costa (INCRA/TERRAFOTO, 1985).

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Relação entre o comprimento médio dos canais de cada ordem

A relação entre o comprimento médio dos canais existente em uma bacia hidrográfica, e os

comprimentos médios dos canais de cada ordem ordena-se segundo uma série geométrica direta, cujo

primeiro termo é o comprimento médio dos canais de primeira ordem, e a razão é a relação entre os

comprimentos médios (Alcântara e Amorim, 2005).

A lei básica da composição da drenagem pode ser enunciada da seguinte maneira: “Em uma

bacia determinada, os comprimentos médios dos canais de cada ordem ordenam-se segundo uma série

geométrica direta, cujo primeiro termo é o comprimento médio dos canais de primeira ordem, e a razão

é a relação entre os comprimentos médios” (Horton, 1945 apud. Christofoletti, 1980). (Figura 5)

Figura 5 – Equação da Relação entre os comprimentos médio dos canais RL m, em que Lm u é o comprimento médio dos

canais de determinada ordem, e Lm u-1 é o comprimento médio dos canais de ordem imediatamente inferior.

Para calcular a relação entre os comprimentos médios dos canais tem-se que estabelecer

primeiro o comprimento médio dos canais fluviais de cada ordem. O resultado obtido neste índice

morfométrico está exposto na tabela 3.

Tabela 3 – Soma dos comprimentos de cada ordem (L), comprimento médio (Lm) dos canais que é adquirido com a razão entre o comprimento dos seguimentos de determinada ordem pelo numero de canais dessa ordem e por último a relação entre os comprimentos (RLm) que é a razão entre o comprimento médios dos canais de cada ordem.

Relação entre o índice do comprimento médio dos canais e o índice de bifurcação

É um importante elemento na relação entre a composição da drenagem e o desenvolvimento

fisiográfico das bacias hidrográficas (Figura 6). Isso por que, se a relação entre o comprimento médio e

índice de bifurcação forem iguais, o tamanho médio dos canais crescerá ou diminuirá na mesma

proporção. Caso não sejam iguais, o que é mais comum, o tamanho dos canais poderá diminuir ou

aumentar progressivamente com a elevação da ordem dos canais, pois são os “fatores hidrológicos,

morfológicos e geológicos que determinam o último grau do desenvolvimento da drenagem em

determinada bacia”. (Christofoletti, 1980).

Ordem

Comprimento dos canais de cada ordem (L)

Comprimento médio dos seguimentos (Lm)

Relação entre os comprimentos médios dos canais (RL m)

1ª 32,425 0,415 1,299

2ª 11,3 0,539 3,657

3ª 7,875 1,989 1,263

4ª 4,975 2,488 2,397

5ª 5,92 5,92

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Figura 6 – Equação Relação entre o índice do comprimento médio e o de bifurcação Rib, em que Rlm é o índice do

comprimento médio entre duas ordens subseqüentes e Rb é a relação de bifurcação entre as mesmas duas ordens subseqüentes.

Com o resultado expresso na Tabela 4, observa-se que com o aumento da ordem hierárquica

dos canais o valor da Rib diminui progressivamente, ou seja, quanto maior a hierarquia menor será o

valor. Segundo Christofoletti (1980) Índices de bifurcação diferentes, ocorre o aumento desse índice

com o aumento da ordem hierárquica mostrando assim a importância do fator geológico no

desenvolvimento da drenagem de maior ordem. Constatou-se que esse evento descrito está ocorrendo

na bacia hidrográfica do Rio Guruji, onde o maior índice de Rib é na relação dos canais de 4ª e 5ª

ordens, mostrando com isso a importância do fator geológico no desenvolvimento da drenagem de

maior ordem. E para ratificar o resultado desse índice o canal principal da bacia do Guruji possui uma

inflexão significativa de aproximadamente 90°.

Tabela 4 – Resultado da relação entre o comprimento médio dos canais e o Índice de bifurcação.

Comprimento do rio principal

Este índice compreende a distância que se estende ao longo do canal fluvial desde a

desembocadura até uma determinada nascente. O critério a ser utilizado para a determinação do

comprimento do Rio Guruji neste trabalho foi o estabelecido por Horton (1945 apud Christofoletti,

1980), em que o canal de ordem mais elevada corresponde ao rio principal. Com ajuda do curvímetro

mediu-se o comprimento do rio principal, que neste caso e um canal de 5ª ordem, e se chegou ao

resultado de 5,92 km.

Análise areal da bacia hidrográfica

No que diz respeito à analise areal da bacia hidrográfica do Rio Guruji podem ser destacados

alguns índices tais como Área da bacia (A) e o Comprimento da bacia (L), em que o primeiro refere-se

a toda a área drenada pelo conjunto do sistema fluvial enquanto o segundo mostra a distância medida,

em linha reta, entre a foz e o mais alto ponto situado ao longo do perímetro, porém não se deve

Ordem

Relação entre o índice do comprimento médio dos canais e o

índice de bifurcação (Rib ) 1ª e 2ª 0,341 2ª e 3ª 0,697 3ª e 4ª 0,632 4ª e 5ª 1,199

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esquecer que existem diversas definições à cerca do comprimento da bacia, gerando com isso uma

diversidade no valor do dado a ser obtido. A bacia do Rio Guruji possui uma área total de 164,8 Km².

Outros índices que dizem respeito a análise areal da bacia a serem estudados são:

Densidade dos rios (Dr)

Esse índice foi desenvolvido por Horton (1945 apud Christofoletti, 1980), e tem a função de

mostrar a relação entre o número de cursos de água e a área da bacia hidrográfica (Figura 7). A função

deste índice morfométrico é comparar a freqüência ou a quantidade de cursos de água existentes em

uma área. Para este trabalho foi utilizada a ordenação de Strahler e segundo Christofoletti (1980), o

número de canais para o calculo deste índice corresponde à quantidade de rios de primeira ordem, pois

implica que todo e qualquer rio surge em uma nascente. O número de canais de determinada bacia é

noção básica para mostrar a sua magnitude.

Figura 7 – Equação para encontrar determinar a Densidade dos rios Dr, em que N é o número total de rios ou cursos de

água e A é a área da bacia considerada.

Este índice mofométrico referente à densidade é de extrema importância, pois representa o

comportamento hidrográfico de determinada área, em um dos seus aspectos fundamentais: a

capacidade de gerar novos cursos de água. A densidade da bacia hidrográfica do Rio Guruji é de 0,64

canais por km².

Densidade da drenagem (Dd)

A densidade da drenagem consiste na razão entre o comprimento total dos canais e a área da

bacia hidrográfica (Figura 8). Segundo Christofoletti (1980), o cálculo da densidade é importante para

o estudo das bacias hidrográficas por que apresenta relação inversa com o comprimento dos rios. À

medida que aumenta o valor numérico da densidade há diminuição quase proporcional do tamanho dos

componentes fluviais das bacias de drenagem.

Figura 8 – Equação para encontrar determinar a densidade da drenagem Dd, em que L é o comprimento total dos canais e

A é a área da bacia.

O resultado obtido com o cálculo da densidade da drenagem foi de 0,4 km/ (km²), comparando

o resultado encontrado com uma tabela desenvolvida por Christofoletti (1969 apud Silva et al., 2003)

pode-se interpretar que a bacia hidrográfica do Rio Guruji possui uma baixa densidade de drenagem,

apesar de possuir uma forte dissecação em seus canais (Tabela 5).

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Tabela 5 – Classes de interpretação para os valores da densidade de drenagem.

Fonte: Christofoletti (1969 apud Silva et al., 2003).

Aspectos descritivos da bacia hidrográfica do Rio Guruji

A bacia do Rio Guruji possui algumas peculiaridades bastante visíveis como o seu padrão de

drenagem fortemente assimétrico com os afluentes da margem direita muito mais avantajado que os

afluentes da margem esquerda possuindo cabeceiras de drenagem em anfiteatro com vertentes de

elevada declividade. Os afluentes da margem direita somam ao todo 68 canais, dos quais 50 são de

primeira ordem, 14 de segunda ordem, 3 de terceira ordem e 1 de quarta ordem; enquanto o afluentes

de da margem esquerda somam apenas 36 canais, dos quais 28 são de primeira ordem 7 de segunda

ordem e apenas 1 de terceira ordem e um canal de quarta ordem, onde os outros canais deságuam ,

para em seguida desaguar no canal principal de 5ª ordem. Essa diferença entre os afluentes atesta um

maior desenvolvimento dos canais fluviais da margem esquerda (Figura 3, p. 7).

O Rio Guruji apresenta uma inflexão de aproximadamente 90º a 275 m da linha de costa. Nesse

trecho, o rio muda bruscamente sua direção de W-L para S-N percorrendo mais 900 metros até a sua

foz. A direção S-N do Rio Guruji, no seu baixo curso, parece obedecer à inclinação geral dos

Tabuleiros Litorâneos, pois a direção dos afluentes Riacho Caboclo e Riacho Pau Ferro obedecem a

esta inclinação e são também os maiores afluentes do Rio Guruji (Figura 3, p.7).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo de bacias hidrográficas possui múltiplas finalidades e vem sendo muito utilizado no

Brasil para estudos ambientais e no planejamento territorial. A averiguação de padrões morfométricos

em uma bacia hidrográfica, ao mesmo tempo que amplia o conhecimento sobre a bacia, fornece,

também, dados numéricos que quantificam as informações sendo fundamentais em estudos mais

detalhados subsidiando de forma mais concreta estudos ambientais, hidrológicos e de planejamento,

além de subsidiar futuras intervenções que possam ocorrer na bacia ou em algum canal fluvial.

A bacia hidrográfica do Rio Guruji possui uma área de 164,8km², apresenta um forte

entalhamento em uma de suas margens, este processo segundo os cálculos mostra a influência

tectônica na área. Sendo esta uma bacia considerada de baixa densidade segundo a metodologia

Classes de valores (km (km²) -1)

Interpretação

Menor que 7,5

Baixa densidade de drenagem

Entre 7,5 e 10

Média densidade de drenagem

Maior que 10

Alta densidade de drenagem

Page 12: ANÁLISE MORFOMÉTRICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO … · 3 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA A área em questão compreende a bacia hidrográfica do Rio Guruji, localizada no Município do Conde,

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desenvolvida por Christofoletti (1969). Outra característica da bacia é uma inflexão de

aproximadamente 90º a 275 m da linha de costa. Nesse trecho, o rio muda bruscamente sua direção de

W-L para S-N percorrendo mais 900 metros até a sua foz.

BIBLIOGRAFIA

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