algias em grávidas

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i ROSENY FLÁVIA MARTINS ALGIAS POSTURAIS NA GESTAÇÃO: PREVALÊNCIA E TRATAMENTO Dissertação de Mestrado ORIENTADOR: Prof. Dr. JOÃO LUIZ PINTO E SILVA UNICAMP 2002

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grávidas

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  • i

    ROSENY FLVIA MARTINS

    ALGIAS POSTURAIS NA GESTAO: PREVALNCIA E TRATAMENTO

    Dissertao de Mestrado

    ORIENTADOR: Prof. Dr. JOO LUIZ PINTO E SILVA

    UNICAMP 2002

  • ii

  • iii

    ROSENY FLVIA MARTINS

    ALGIAS POSTURAIS NA GESTAO: PREVALNCIA E TRATAMENTO

    Dissertao de Mestrado apresentada Ps-Graduao da Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Estadual de Campinas para obteno do Ttulo de Mestre em Tocoginecologia, rea de Cincias Biomdicas

    ORIENTADOR: Prof. Dr. JOO LUIZ PINTO E SILVA

    UNICAMP 2002

  • iv

    FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CINCIAS MDICAS

    UNICAMP

    Martins, Roseny Flvia M366a Algias posturais na gestao: prevalncia e

    tratamento / Roseny Flvia Martins. Campinas, SP : [s.n.], 2002.

    Orientador : Joo Luiz Pinto e Silva Dissertao (Mestrado) Universidade Estadual de

    Campinas. Faculdade de Cincias Mdicas. 1. Dor lombar. 2. Gravidez. 3. Prevalncia. 4.

    Tratamento. 5. Fisioterapia. I. Joo Luiz Pinto e Silva. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Cincias Mdicas. III. Ttulo.

  • v

    BANCA EXAMINADORA DA DISSERTAO DE MESTRADO

    Aluna: ROSENY FLVIA MARTINS

    Orientador: Prof. Dr. JOO LUIZ PINTO E SILVA

    Membros:

    1.

    2.

    3.

    Curso de Ps-Graduao em Tocoginecologia da Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Estadual de Campinas

    Data:11/10/2002

  • vi

  • vii

    Dedico este trabalho...

    Aos meus pais Rivail e Rosemeire,

    s minhas irms e sobrinhos, Ao meu marido Peri e ao futuro Danilo...

    por me incentivarem em todos os momentos da minha vida.

  • viii

  • ix

    Agradecimentos

    Ao Prof. Dr. Joo Luiz Pinto e Silva pela inestimvel colaborao e ateno em todas as etapas

    desta dissertao.

    s amigas e fisioterapeutas do CAISM-Unicamp, pela fora nas horas difceis.

    s funcionrias da ps-graduao: Margarete, Neusinha e Sueli (ASTEC), pela pacincia e

    ateno.

    Aos funcionrios e amigos de todas as horas do CETREIM - Paulnia, pela amizade e carinho.

    Aos funcionrios das unidades bsicas de sade de Paulnia, em especial Selma, Irlanda, Rita,

    Lcia (CACO), Ana Elisa, que me acolheram e acreditaram neste trabalho.

    s gestantes que participaram desta pesquisa, pela pacincia e disponibilidade.

    Ao estatstico Edson, pela presteza e competncia na realizao da anlise dos dados.

  • x

  • xi

    Sumrio

    Smbolos, Siglas e Abreviaturas ............................................................................................. xiii

    Resumo ....................................................................................................................................... xv

    Summary ................................................................................................................................... xvii

    Introduo................................................................................................................................... 19

    CAPTULO I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento................................................................................................................................... 21

    PREVALNCIA ....................................................................................................................... 22 ALTERAES BIOMECNICAS ........................................................................................... 26 TRATAMENTO ....................................................................................................................... 27 A TERAPIA POR ALONGAMENTO: RPG E SGA ................................................................. 30 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................... 34

    CAPTULO II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade......................................................................................................................... 39

    OBJETIVOS ............................................................................................................................ 41 Objetivo Geral...................................................................................................................... 41 Objetivos Especficos .......................................................................................................... 41

    SUJEITOS E MTODOS........................................................................................................ 41 Tipo de Estudo .................................................................................................................... 41 Tamanho Amostral .............................................................................................................. 41 Critrios e procedimentos para a seleo de pacientes ..................................................... 42 Critrios de incluso ............................................................................................................ 43 Critrios de excluso ........................................................................................................... 43 Variveis e Conceitos.......................................................................................................... 43 Variveis Independentes ..................................................................................................... 43 Varivel Dependente ........................................................................................................... 43 Tcnicas .............................................................................................................................. 44 Instrumento para coletas de dados ..................................................................................... 44 Coleta de dados .................................................................................................................. 44 Processamento dos dados .................................................................................................. 45 Anlise dos dados ............................................................................................................... 45 Aspectos ticos ................................................................................................................... 46

    RESULTADOS........................................................................................................................ 46 DISCUSSO ........................................................................................................................... 50 CONCLUSES ....................................................................................................................... 54 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................................... 55 ANEXO.................................................................................................................................... 56

  • xii

    CAPTULO III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo................................................ 59

    OBJETIVOS ............................................................................................................................ 61 Objetivo Geral...................................................................................................................... 61 Objetivos Especficos .......................................................................................................... 61

    SUJEITOS E MTODOS ........................................................................................................ 62 Desenho de Estudo ............................................................................................................. 62 Tamanho Amostral .............................................................................................................. 62 Critrios e procedimentos para a seleo de pacientes ..................................................... 63 Critrios de incluso ............................................................................................................ 63 Critrios de excluso ........................................................................................................... 64 Variveis e Conceitos .......................................................................................................... 64 Variveis de controle ........................................................................................................... 64 Varivel independente......................................................................................................... 65 Variveis dependente.......................................................................................................... 65 Conceitos............................................................................................................................. 65 Tcnicas .............................................................................................................................. 66 A ) Dor Plvica Posterior ..................................................................................................... 67 B) Dor Lombar ..................................................................................................................... 68 Instrumento para coleta de dados ....................................................................................... 69 Coleta de dados................................................................................................................... 69 Acompanhamento dos sujeitos ........................................................................................... 71 Descrio das atividades..................................................................................................... 71 Processamento dos dados .................................................................................................. 71 Anlise dos dados ............................................................................................................... 72 Aspectos ticos.................................................................................................................... 73

    RESULTADOS........................................................................................................................ 73 DISCUSSO ........................................................................................................................... 83 CONCLUSES ....................................................................................................................... 88 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................................ 89

    Bibliografia de Normatizaes...................................................................................................... 93

    Anexos......................................................................................................................................... 95 ANEXO 1 - Exerccios de Stretching Global Ativo .................................................................. 95 ANEXO 2 - Entrevista Inicial ................................................................................................. 103 ANEXO 3 - Ficha de Acompanhamento ............................................................................... 105 ANEXO 4 - ENTREVISTA FINAL - GRUPO A...................................................................... 107 ANEXO 5 - ENTREVISTA FINAL GRUPO B..................................................................... 109 ANEXO 6 - Informaes Adicionais ...................................................................................... 111 ANEXO 7 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................................... 113 ANEXO 8 - Descrio das atividades realizadas nos encontros .......................................... 115 ANEXO 9 Carta do Conselho Editorial da Revista FEMINA.............................................. 117 ANEXO 10 Parecer sobre o projeto do Comit de tica em Pesquisa da FCM/Unicamp 119 ANEXO 11 Parecer sobre o projeto da Comisso de tica Mdica da Secretaria de Sade da cidade de Paulnia - SP ................................................................................... 121

  • Smbolos, Siglas e Abreviaturas xiii

    Smbolos, Siglas e Abreviaturas

    ASTEC Assessoria Tcnica e Cientfica

    Erro tipo I CACO Centro de Ateno Comunitria

    CAISM Centro de Ateno Integral Sade da Mulher

    CETREIM Centro de Terapia e Reabilitao Integrada Municipal

    COFITTO Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional

    DTG Departamento de Tocoginecologia

    DUM Data da ltima menstruao

    EAV Escala anlogo-visual

    EUA Estados Unidos da Amrica

    IG Idade Gestacional

    L5 5 vrtebra lombar

    LBP Low back pain

    n Nmero de casos

    P Significncia estatstica

    UBS Unidade Bsica de Sade

    RPG Reeducao Postural Global

    S1 1 vrtebra sacral

    SGA Stretching Global Ativo

    TENS Estimulao Eltrica Transcutnea

    Unicamp Universidade Estadual de Campinas

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento xiv

  • Resumo xv

    Resumo

    O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalncia de algias lombar e/ou

    plvica posterior e a efetividade dos exerccios de alongamento do mtodo

    Stretching Global Ativo em gestantes da cidade de Paulnia. Foi feito um estudo

    de corte transversal com 203 grvidas que responderam um questionrio para

    verificao da presena destas algias. Concomitante coleta destes dados teve

    incio um ensaio-clnico randomizado com 69 grvidas que apresentaram dores

    lombar e/ou plvica posterior. As mesmas foram divididas aleatoriamente em

    dois grupos: o grupo A realizou exerccios de alongamento pelo mtodo acima

    citado, durante oito sesses, semanalmente e o grupo B seguiu as orientaes

    mdicas recomendadas habitualmente para o tratamento destas algias. Foi

    utilizada como tcnica de avaliao a Escala Anlogo-Visual para medir a

    intensidade da dor e os testes de confirmao das dores lombar e plvica

    posterior para o diagnstico diferencial destas algias. As anlises estatsticas

    descritivas uni e bivariada foram feitas atravs de distribuies de frequncias.

    Avaliou-se a associao entre as variveis atravs dos testes estatsticos exato

    de Fisher; no paramtrico de Mann-Whitney, exato de McNemar, no paramtrico

    de Wilcoxon e t de Student, para comparao de mdias. O nvel de significncia

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento xvi

    preestabelecido foi de 5%. Os dados foram analisados no programa SAS 8.2.

    Os resultados observados foram que 79,8% das gestantes apresentaram algias

    na coluna espinhal e/ou pelve; os locais mais referidos foram as regies lombar

    e/ou sacroilaca. Os exerccios de Stretching Global Ativo foram significativamente

    efetivos na diminuio da intensidade da dor lombar e/ou plvica posterior.

  • Summary xvii

    Summary

    Lumbar back and/or posterior pelvic pain are a major problem for most

    pregnant women. These women need preventive and therapeutics intervention to

    minimize the pain. The objectives of this study were to evaluate the prevalence

    of back pain and the effectiveness of the Active Global Stretching method. The

    subjects with back pain were identified through a cross sectional study that

    included 203 pregnant women from Paulnia (So Paulo state). The effectiveness

    of the Global Active Stretching (GAS) method was evaluated through a

    randomized controlled clinical trial randomly assigning 69 pregnant one of two

    groups. Group A practiced GAS exercises once a week during eight weeks and

    Group B followed routine medical recommendations. The prevalence of back

    pain was 79,8% and was most frequent in the lumbar and/or sacroiliac areas.

    Pain was most frequent among younger women. The prevalence of back pain

    did not increase with gestational age. There no association between the evolution

    of lumbar and/or posterior pelvic pain during pregnancy and previous back pain

    or previous physical exercise. The GAS method relieved the intensity of lumbar

    and/or pelvic pain.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento xviii

  • Introduo 19

    Introduo

    O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalncia de algias posturais

    gestacionais e a efetividade do seu tratamento pelo mtodo fisioterpico conhecido

    como Stretching Global Ativo em mulheres da cidade de Paulnia.

    Sua execuo foi precedida por uma ampla reviso de literatura, que

    demonstrou a presena significativa da queixa de dores posturais gestacionais,

    do tipo lombar e/ou plvica posterior, e sua repercusso no bem-estar da mulher

    grvida, em sua qualidade de vida e vida laboral.

    Baseado nesses achados bibliogrficos foi desenhado o estudo da

    prevalncia de algias posturais em uma populao de gestantes atendidas em

    Unidades Bsicas de Sade do Municpio de Paulnia, Estado de So Paulo.

    Mulheres que revelaram a presena desse tipo de dor na gestao foram

    convidadas a participar de um ensaio clnico prospectivo controlado e randomizado,

    integrando um grupo submetido a um mtodo de tratamento fisioterpico de

    alongamento denominado Stretching Global Ativo, ou participando de outro grupo

    que seguiu as orientaes mdicas recomendadas habitualmente para o tratamento

    dessas algias.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 20

    O trabalho apresentado est dividido em trs captulos; organizao

    sugerida para facilitar o envio e posterior publicao em revistas especializadas.

    So os captulos:

    Captulo I: Algias posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos

    e tratamento.

    Captulo II: Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade

    Bsica de Sade.

    Captulo III: Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias

    posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo.

    O captulo I foi aprovado pela revista Femina e ser publicado em breve,

    conforme carta do Conselho Editorial (Anexo 9).

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 21

    CAPTULO I

    Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento

    A grvida, principalmente ao final do estado gestacional, tem modificada

    a sua esttica postural. Exibe uma aparncia muitas vezes chamada orgulhosa

    ou fidalga, descrita pelo poeta Shakeaspeare como proud of pregnancy, que

    consiste de um olhar altivo e brilhante, encimando um erguer do mento e da

    fronte, pela flexo anterior do pescoo, como a denunciar sua alegria e satisfao

    interior pela conquista prxima da maternidade. Em contraste, ao deambular

    exibe alargamento da base de sustentao com afastamento dos ps, que se

    jogam para os lados, divergentes, para formar quadriltero maior e assegurar

    novas posies de equilbrio, mas que origina andar desgracioso, bamboleante,

    que por recordar vagamente o caminhar dos patos denominou-se marcha

    anserina (RUDGE, BORGES, CALDERON, 2000).

    Esses fatos decorrem dos novos posicionamentos anatmicos do tero e

    anexos, das mamas, do aumento de peso, da embebio gravdica generalizada

    que afrouxa ligamentos e articulaes, alterando-lhes a mobilidade esttica e

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 22

    dinmica. Estas mudanas modificam o centro de gravidade da mulher, fazendo-o

    deslocar-se para a frente; em um mecanismo de compensao modificam-se as

    curvaturas da coluna, acentuam-se a lordose e a cifose costal, promovendo a

    retropulso dorsal que dever equilibrar o aumento do peso anterior do corpo.

    As novas adaptaes expem exigncias suplementares aos complexos

    musculares dorsal e plvico para refazer os equilbrios compensatrios no

    adaptados para a execuo das tarefas extras. O cansao desta musculatura,

    principalmente ao final da gravidez, poca de maiores exigncias, de seu uso de

    forma mais intensa e contnua, acarretar dores de intensidade varivel nas regies

    lombar e plvica, queixa comum das gestantes durante a assistncia pr-natal.

    PREVALNCIA

    As algias posturais so sintomas que afetam o bem-estar de um nmero

    considervel de gestantes, despertando por isso muito interesse no meio cientfico,

    principalmente quando se referem quelas que so prejudicadas no seu cotidiano

    domstico e profissional. Em alguns pases a prevalncia deste tipo de dor

    durante a gestao tem sido muito variada, referida entre 47% e 83% de todas as

    gestaes. No Brasil esteve em torno de 78% a 83% (OSTGAARD, ANDERSON,

    KARLSSON, 1991; OSTGAARD, 1993, 1994a; ORVIETO et al., 1994, GALO,

    ZARDO, PAULA, 1995; FRANKLIN & CONNER-KERR, 1998).

    Na Sucia, um dos pases com maior nmero de estudos prospectivos

    sobre dores nas costas durante a gestao, a prevalncia referida esteve em

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 23

    torno de 50%. J nos EUA os nmeros so mais expressivos, encontrando-se cifras

    que chegam a 83% de gestantes com algum tipo de algia dorsal (OSTGAARD

    et al., 1991;1994a; FRANKLIN & CONNER-KERR, 1998; SIHVONEN et al., 1998).

    Os sintomas de dores nas costas so habitualmente separados de acordo

    com sua localizao, sendo variada sua distribuio nas diferentes regies: na

    cervical e torcica aparecem em torno de 10%, na regio lombar entre 54,8% a

    83%, na regio sacroilaca entre 35% a 50% (OSTGAARD et al., 1991; CECIN

    et al., 1992; ORVIETO et al.,1994; GALO et al., 1995 OSTGAARD, 1996).

    Vrios termos tm sido utilizados para definir as dores nas costas: Low

    back pain, Back pain, Lumbar back pain, Pelvic insuficiency, Sacro-iliac joint

    dysfunction, Sacro-iliac joint pain, Pelvic girdle relaxation. H muitas divergncias

    sobre o diagnstico de cada um, e existe forte tendncia a consider-los sinnimos

    (KHALIL et al., 1992; OSTGAARD et al., 1994a, OSTGAARD, 1996; FRANKLIN

    & CONNER-KERR, 1998; SIHVONEN et al., 1998).

    O uso de modo inadequado desta nomenclatura dificulta sua compreenso

    e validao cientfica, predispondo a inmeras confuses na interpretao dos

    resultados dos estudos, pois na maioria das vezes prope o mesmo tratamento

    para vrios tipos de sintomas, onde a anatomia e biomecnica apresentam aspectos

    singulares para cada regio acometida (FERREIRA & NAKANO, 2000).

    Antes do incio de qualquer interveno teraputica h a necessidade de

    realizar-se cuidadoso diagnstico diferencial da dor originada de outras patologias,

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 24

    como infeco renal, hrnia discal, neoplasias regionais e tambm diferenci-las

    entre si (FERREIRA & NAKANO, 2000).

    Alguns autores, como OSTGAARD (1996) e NREN et al. (1997) propem

    a sistematizao clnica destas algias, em trs tipos ou grupos principais:

    Lumbar back pain (dor lombar): caracterizada como sendo comum nas gestaes e no diferente da lombalgia observada na populao

    geral. Freqentemente as gestantes apresentam este sintoma antes

    de engravidar e, provavelmente, tero os mesmos sintomas no ps-

    parto. localizada na regio lombar, estimulada quando se faz a flexo

    do tronco, sendo causa de diminuio da amplitude de movimento da

    coluna lombar, e se acompanha de msculos eretores espinhais doloridos

    palpao. O teste de dor plvica posterior1 negativo.

    Posterior pelvic pain (dor plvica posterior): estreitamente relacionada com o perodo gestacional, parto e puerprio, acometendo principalmente

    as primparas. No se tem evidncia de queixa anterior gestao,

    iniciando-se por volta da 18 semana gestacional. A dor intermitente,

    limitando as atividades dirias da gestante. referida nas regies

    lateral e distal vrtebra L5 S1, pode ser uni ou bilateral, provoca

    sensao de peso na pelve posterior e regio gltea profunda, no

    limitando os movimentos da coluna e pelve, podendo irradiar-se para

    a coxa e joelhos. O teste para dor plvica posterior positivo.

    Nerve root syndrome (sndrome da ruptura nervosa): descrita como dor nas costas, com irradiao para membros inferiores e ps, teste

    1 Teste de dor plvica posterior usado para distinguir a dor plvica posterior da dor lombar. A gestante fica deitada em posio supina com 90 de flexo do quadril e joelhos. O examinador fica ao lado do joelho flexionado e coloca sua mo neste joelho e a mo oposta na espinha ilaca antero-superior do lado contralateral. Uma presso suave feita na linha longitudinal do fmur e causar uma dor na pelve posterior somente do lado examinado. Este teste tem mostrado uma sensibilidade de 81% e especificidade de 80% (OSTGAARD, 1994b).

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 25

    de Lasgue positivo, reduo da fora muscular, formigamento e

    teste negativo para dor plvica posterior.

    Existem vrios fatores de risco associados ao aparecimento da Low Back

    Pain (LBP) - dor na regio lombar e/ou plvica - durante a gravidez que pode

    ser divididos em pr-gestacionais e gestacionais. Entre os pr-gestacionais:

    idade da gestante, nvel educacional, presena de dor lombar anterior gestao,

    nmero de gestaes anteriores, sedentarismo, distrbios funcionais na musculatura

    paravertebral e alteraes posturais. J entre os fatores gestacionais devem-se

    incluir os elementos biomecnicos como alterao da postura corporal, aumento da

    circunferncia abdominal, dos dimetros abdominais transverso e sagital, lordose

    lombar, frouxido ligamentar. Outros como: ganho de peso, influncia de hormnios

    gestacionais, auto-imagem, tipo de atividade no trabalho domstico ou remunerado,

    peso fetal e stio de fixao da placenta no tero tambm so citados

    (OSTGAARD et al., 1991;CECIN et al., 1992; OSTGAARD et al., 1993; 1994a;

    ORVIETO et al., 1994).

    Na gravidez a dor lombar caracteriza-se pela dor que se inicia entre o

    terceiro e sexto ms de gestao, do tipo pontada, de intensidade moderada,

    que se apresenta principalmente entre os perodos da tarde e da noite. Pode

    ser agravada por movimentos de flexo e extenso do tronco, pelo esforo

    fsico, pela execuo de trabalhos domsticos, caminhadas, etc. A freqncia

    da dor aumenta com a idade gestacional e as regies mais acometidas so: a

    articulao sacroilaca, a coluna lombar e a regio cervicotorcica (OSTGAARD

    et al., 1991; CECIN et al., 1992; ORVIETO et al., 1994; GALO et al., 1995).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 26

    ALTERAES BIOMECNICAS

    No perodo gestacional as principais alteraes do alinhamento do esqueleto

    ocorrem entre o primeiro e terceiro trimestre. A posio da cabea torna-se

    posteriorizada em uma viso sagital - em relao linha gravitacional. A lordose

    lombar aumenta em 5,9 graus e a inclinao anterior da pelve em aproximadamente

    quatro graus (FRANKLIN & CONNER-KERR, 1998). OSTGAARD et al. (1993),

    observou que a lordose lombar no apresentou mudanas significativas entre a

    12 e 36 semanas gestacionais.

    Com o aumento da lordose, a musculatura paravertebral tende a ficar

    mais contrada, com maiores possibilidades de provocar dores. Em exames

    eletromiogrficos, SIHVONEN et al., (1998) observaram que quanto menor a

    atividade dos msculos paravertebrais da gestante no incio da gravidez, maior

    a dor e incapacidade no decorrer da gestao.

    H resultados contraditrios para estabelecer relao entre LBP, alteraes

    posturais e ganho de peso durante a gestao, mas se observa correlao

    significativa entre dores nas costas e o aumento dos dimetros transverso e

    sagital do abdome e a presena de lordose lombar acentuada. Existe forte

    relao entre a elasticidade ligamentar e o aparecimento desta queixa em

    primigestas, sendo que quanto menor o grau de elasticidade maior a intensidade

    deste sintoma (OSTGAARD et al.,1993; SIHVONEN et al., 1998).

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 27

    TRATAMENTO

    Na Gr-Bretanha, para o tratamento das LBP na populao geral, os

    fisioterapeutas utilizam mtodos de terapia manual, tais como: Mobilizao Vertebral

    utilizando os mtodos Maitland e Mckenzie, alm de exerccios abdominais,

    alongamento passivo, massagem, trao lombar, relaxamento e hidroterapia.

    Associam tambm a estas condutas a eletroterapia como ultra-som, correntes

    diadinmicas e estimulao eltrica transcutnea (TENS). Por sua vez, nos Estados

    Unidos os terapeutas em geral preferem exerccios aerbicos, de fortalecimento,

    de alongamento e eletroterapia (BATTIE et al., 1994; FOSTER et al., 1999).

    A efetividade dos diferentes tratamentos vem sendo avaliada segundo

    vrios critrios: a localizao da dor que utiliza desenhos do corpo humano e a intensidade da dor- medida pela Escala Anlogo-Visual (EAV); questionrios que

    medem as limitaes funcional e clnica como Oswesrtry Low Back Pain Disability

    Questionnaire e Mc Gill Pain Questionnaire, entre outros; dirios de dor, testes

    fsicos, eletromiografia, medio da amplitude de movimento articular, procura e

    utilizao dos servios de sade (FAIRBANK et al., 1980; KHALIL et al., 1992;

    NORN et al., 1997;PIMENTA & TEIXEIRA, 1997; FRANKLIN, & CONNER-KERR,

    1998; SIHOVEN et al., 1998; KIHLSTRAND et al., 1999; MOFFETT et al., 1999).

    Durante a gestao existem vrios ensaios clnicos realizados com o objetivo

    de reduo das LBP, usando tcnicas variadas como orientaes posturais, ensino

    de noes de anatomia, ergonomia e fisiologia da postura, cinesioterapia atravs do

    fortalecimento da musculatura posterior das costas e abdome, hidroginstica,

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 28

    alongamento e relaxamento muscular (JACOBSON, 1991; OSTGAARD et al.,

    1994a; OSTGAARD, 1996; NORN et al., 1997; KIHLSTRAND et al., 1999).

    As orientaes posturais ensinadas por JACOBSON (1991) incluram

    exerccios de movimentos com a pelve nas diferentes posturas: em p, deitado, na

    posio de gato. Apresenta sugestes de atitude postural para carregamento

    de peso, posio para deitar e dormir, no diferenciando tipo e localizao da dor.

    Lamenta-se que o autor no tenha utilizado na avaliao de suas recomendaes,

    mtodos cientficos adequados para avaliar a efetividade do mtodo.

    Em contrapartida, outros pesquisadores constataram ser importante que um

    programa de interveno inclusse informaes organizadas e sistematizadas sobre

    os fatores sociais e obsttricos envolvidos, condio de trabalho, atividade fsica,

    histria cuidadosa das algias das regies lombar e plvica, alm de avaliaes

    posturais esttica e dinmica detalhadas. Neste procedimento necessrio

    diferenciar os cinco tipos de acometimentos mais conhecidos e mais valorizados:

    as algias lombares, a plvica posterior, a combinao das lombares e plvica

    posterior, a sndrome da ruptura nervosa e outros distrbios (OSTGAARD et al.,

    1994a; OSTGAARD, 1996; NORN et al., 1997).

    No tratamento admite-se ser de fundamental necessidade as orientaes

    em grupo de noes de anatomia, fisiologia da postura, postura corporal para

    atividades laborais aliadas a orientaes ergonmicas individualizadas, de acordo

    com os sintomas apresentados.

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 29

    Existem algumas peculiaridades de orientaes para as dores lombares

    e plvica posterior. As noes de anatomia e fisiologia e correo postural so

    eficazes, mas para as dores lombares deve-se ainda acrescentar a orientao de

    exerccios de alongamento para as costas, abdominais e posturais para evitar a

    hiperlordose lombar. Para a dor plvica posterior recomenda-se orientar gestante

    que evite subir ou descer escadas, ficar parada somente em uma perna, realizar

    movimentos extremos com os quadris e coluna, alm do uso de cinta plvica

    no elstica (OSTGAARD et al., 1994a, OSTGAARD, 1996; NORN et al., 1997).

    Durante o tratamento, BERRY (1990) alertou para que o terapeuta evite

    manobras que aumentem a hipermobilidade articular e a posio supina, pois

    poder causar mal-estar, nusea e viso turva, por alteraes hemodinmicas

    mais comuns neste decbito. A gestante dever ser encaminhada imediatamente

    ao mdico se apresentar febre, edema perifrico agudo, cefalias persistentes e

    severas, distrbios visuais, mal-estar, nasea persistente, vmitos aps o primeiro

    trimestre, sangramento vaginal e sinais de ruptura das membranas ovulares.

    Os resultados encontrados para as abordagens utilizadas para os dois

    tipos de dor lombar e plvica posterior foram diversos e muito variados.

    Observou-se, por exemplo, que algumas sesses do tratamento devem ser

    individualizadas; tambm que quanto mais precoce a interveno dos terapeutas

    torna-se mais significativa a diminuio dos sintomas iniciais e maior a

    diminuio da dor, e com reduo dos dias de afastamento do trabalho como

    conseqncia do desconforto que estas algias causam s grvidas (ORVIETO et al.,

    1994; OSTGAARD et al., 1994a; NORN et al., 1997; KIHLSTRAND et al., 1999).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 30

    Os alongamentos musculares tambm fazem parte ou so a parte principal

    de muitos tratamentos propostos. Comparando exerccios de alongamento ativo

    e manobras de alongamento passivo, KHALIL et al. (1992) realizaram estudo

    em homens e mulheres com o objetivo de avaliar a recuperao das habilidades

    funcionais em pacientes que estavam afastados do trabalho por lombalgia.

    Observaram que nos grupos de interveno e controle o alongamento muscular

    resultou em aumento na conduo neuromuscular, aumento da fora muscular

    na regio alongada, da amplitude de movimento e diminuio da intensidade da

    dor, resultando na recuperao mais rpida das habilidades.

    A TERAPIA POR ALONGAMENTO: RPG E SGA

    Entre os mtodos de alongamento disponveis e utilizados em fisioterapia

    destaca-se a Reeducao Postural Global (RPG), criada na Frana em 1980

    pelo fisioterapeuta Philippe Souchard. A RPG trata as desarmonias dos sistemas

    muscular, sensitivo e esqueltico, considerando a individualidade e a globalidade

    do indivduo, procurando detectar a origem do sintoma e no apenas suas

    manifestaes. No Brasil este mtodo de tratamento tem sido amplamente difundido

    e praticado por muitos fisioterapeutas (SOUCHARD, 1986; 1989a; 1989b).

    Esta tcnica consiste em basicamente oito posturas de alongamento

    corporal, parcialmente estticas, onde so realizados exerccios respiratrios e

    alongamento excntrico das cadeias musculares. Durante a realizao destes

    exerccios o paciente manipulado pelo fisioterapeuta, que observa e corrige

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 31

    as compensaes corporais e tambm realiza as manipulaes osteoarticulares

    (SOUCHARD, 1986; 1989a; 1989b).

    Entretanto, poucos trabalhos foram encontrados na literatura validando

    esta tcnica. MARQUES (1996), observou resultados estatisticamente significativos

    em relato de um caso sobre o tratamento de escoliose torcica associada dor.

    Aps a sexta sesso de RPG observou a diminuio da dor e a reduo da

    curva escolitica em 10 graus na 16 sesso. Apesar dos resultados relevantes,

    o mtodo apresenta como desvantagens principais o custo elevado, exigncia

    de sesses individuais e no reembolso de seu custo pelo sistema de sade.

    Em 1996, baseando-se na RPG, surge o Stretching - Alongamento -

    Global Ativo (SGA), originalmente criado para atletas e com o objetivo principal

    de prevenir leses musculares (SOUCHARD, 1996). Esta tcnica tem propiciado

    novas possibilidades de abordagem na reduo de algias posturais em outros

    indivduos. Entre algumas vantagens existe o fato de poder ser realizada em

    grupo, o que favorece o acesso das gestantes ao tratamento, diminui o custo-

    benefcio para o sistema de sade e parece apresentar resultados significativos

    na reduo da dor.

    O mtodo do SGA tambm composto de vrias posturas de exerccio,

    em que o paciente faz alongamentos excntricos globais associados ao trabalho

    respiratrio para reposicionar as cadeias musculares, mas no h manipulao

    das estruturas esquelticas pelo fisioterapeuta (SOUCHARD, 1996).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 32

    A formao dessas cadeias musculares inicia-se no perodo do

    desenvolvimento embrionrio, em torno da oitava semana de gestao, aps a

    diviso do somito em: esclertomo, dermtomo e mitomo. nesse momento que

    ocorrem alguns processos que fundamentam a teoria das cadeias musculares

    (TANAKA & FARAH, 1997).

    Segundo SOUCHARD (1996), o corpo humano composto de duas

    cadeias musculares principais, as cadeias mestras posterior e anterior. Os

    principais msculos que compem a cadeia mestra posterior so o trceps sural,

    squio-tibiais, msculos profundos das ndegas e os espinhais; com a funo

    de manter a postura ereta esttica. A cadeia mestra anterior composta pelos

    msculos escalenos, intercostais, diafragma, psoas, adutores e msculos anteriores

    das pernas, sendo responsvel pela suspenso do corpo.

    Deve-se ainda ressaltar que existem outras cadeias musculares estticas

    acessrias: cadeia inspiratria, cadeia superior e ntero-interna do ombro, cadeia

    anterior do brao e cadeia lateral e ntero-interna do quadril. (SOUCHARD,

    1986; 1996).

    As regies lombar e plvica fazem parte das duas cadeias e funcionam

    como uma gangorra. Se a cadeia mestra posterior estiver predominando, a regio

    lombar tende a ficar retificada, em resposta trao dos msculos posteriores dos

    membros inferiores. Se a predominncia for da cadeia anterior, a regio lombar

    ficar em atitude hiperlordtica devido trao dos msculos anteriores e internos

    dos membros inferiores. Essas duas posies podem causar algias musculares.

  • Captulo I - Algias Posturais na gestao: prevalncia, aspectos biomecnicos e tratamento 33

    SOUCHARD (1986;1996) afirma que qualquer pessoa que fique na posio

    ereta necessita de alongamentos dos tipos excntrico e global para alongar as

    duas cadeias citadas anteriormente. Neste sero usadas duas posturas de

    alongamento do mtodo de SGA, que alonga a cadeia mestra anterior com

    insistncia sobre os membros inferiores e a postura que alonga a cadeia mestra

    posterior com insistncia sobre as pernas.

    Na Sucia, o custo total de dias de afastamento do trabalho por dores nas

    costas foi em torno de US$ 2,5 bilhes em 1990. Em estudo com um programa de

    interveno, o Servio de Sade observou diminuio significativa no nmero de

    dias de afastamento, de 53,6 do grupo-controle para 30,4 dias do grupo-interveno,

    e reduo da intensidade da dor. De acordo com o servio social desse pas o

    tratamento mostrou-se efetivo, pois economizou quase 100% do total que seria

    gasto para o pagamento do perodo de afastamento ao trabalho, alm de proporcionar

    rpido bem-estar s gestantes com a diminuio da dor (NORN et al.,1997).

    Cada vez mais se constri um conceito de ampla aceitao, o de que

    queixas desta natureza no podem mais ser interpretadas como algo inerente

    gestao, e tanto obstetras como os profissionais de sade envolvidos na

    assistncia gestante devem procurar alternativas para a preveno e tratamento

    destas situaes. A reduo das dores nas costas necessria para a gestante

    - tanto do ponto de vista psicolgico quanto fsico e para a sociedade, pois reduz

    o nmero de dias de afastamento do trabalho proporcionando economia para o

    Sistema Pblico de Sade (NORN et al., 1997).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 34

    A Fisioterapia Obsttrica uma das especialidades da rea da sade

    que pode contribuir para o alvio das LBP que surgem nesse perodo, utilizando

    recursos variados como forma de tratamento. Contribui para que a gestante

    possa vivenciar o perodo da gravidez, parto e puerprio com segurana e de

    forma mais harmoniosa e saudvel (MARQUES & PINTO E SILVA, 1993).

    O mtodo de alongamento SGA poder oferecer s gestantes e seus

    pr-natalistas alternativa teraputica para a reduo destes sintomas e de seus

    incovenientes. O benefcio da validao deste mtodo -se os resultados forem

    positivos dever ser significativo, pois a tcnica poder ser facilmente

    difundida e utilizada por vrios fisioterapeutas em muitos servios de sade

    pblicos ou particulares.

    Espera-se que estes exerccios proporcionem alvio das dores lombares e

    plvica posterior, reduo do uso de medicamentos analgsicos e o risco de seus

    efeitos colaterais e reaes adversas, reduo dos dias de afastamento do trabalho,

    proporcionando economia substancial ao sistema de seguridade social, melhora

    da conscincia corporal da gestante, da qualidade de vida, fsica e psicolgica,

    permitindo integrao mais harmoniosa na sua rotina diria domstica e/ou laboral.

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  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 38

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 39

    CAPTULO II

    Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade

    No so muito freqentes estudos cientficos sobre as algias posturais que

    ocorrem na gestao, que detectam a prevalncia e a efetividade dos tratamentos

    para diminuir a intensidade da dor e o desconforto. Na Sucia e nos pases

    escandinavos rotineiro que o sistema de sade oferea acompanhamento

    pr-natal para a quase totalidade das grvidas e monitoramento exemplar,

    mantendo os servios de preveno e tratamento das algias posturais (BERG et

    al., 1988; OSTGAARD, ANDERSON, KARLSSON, 1991; 1993; KRISTIANSSON,

    SVARDSUDD, SCHOULTZ, 1996; OSTGAARD, 1996; NORN et al., 1997;

    KHILSTRAND et al., 1999).

    CECIN et al., (1992), no Brasil, destacaram a necessidade de ateno a

    este momento particular da vida da mulher, onde se constata que o risco relativo

    das gestantes em apresentar dores nas costas quase 14 vezes maior que o

    de mulheres no grvidas. Este risco pode resultar em maior nmero de dias de

    afastamento do trabalho, aumentado a sobrecarga de gastos ao sistema de

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 40

    seguridade social. Estima-se que em alguns pases os afastamentos laborais

    por dores nas costas durante a gestao so, em mdia, de sete semanas para

    cada gestante durante o ciclo gravdico-puerperal (NORN et al., 1997).

    Alguns estudos de prevalncia disponveis observam que, em mdia, oito

    em cada dez gestantes podero apresentar algias na rea da coluna vertebral e

    pelve em algum perodo da gravidez. Em algumas referncias observou-se somente

    a localizao na regio lombar; em outras pde-se separar os locais da dor por

    regies, geralmente considerando-se as regies torcica e cervical associadas; e

    as regies lombar e sacroilaca separadamente (OSTGAARD et al., 1991; CECIN

    et al., 1992; GALO, ZARDO, PAULA, 1995; KRISTIANSSON et al., 1996).

    A maioria dos estudos de prevalncia evidencia que as algias posturais

    durante a gestao so uma queixa importante, tanto pela alta freqncia de

    mulheres acometidas quanto pela intensidade da dor e desconforto provocado

    (OSTGAARD et al., 1991; CECIN et al., 1992; GALO et al., 1995; KRISTIANSSON

    et al., 1996).

    de interesse para os profissionais de sade conhecer com mais detalhes

    a freqncia, as caractersticas e peculiariedades dessas queixas, com a finalidade

    de propr e realizar novos estudos em que se possa verificar a efetividade dos

    diferentes tratamentos disponveis, que venham auxiliar a resolver ou amenizar

    sua repercusso sobre o bem-estar das gestantes e sua integrao mais

    harmnica s suas atividades pessoais, domsticas e profissionais.

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 41

    OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    Estudar a prevalncia de algias na coluna espinhal e/ou regio plvica

    em gestantes da cidade de Paulnia .

    Objetivos Especficos

    1. Identificar as algias na coluna espinhal e/ou regio da pelve referidas por

    gestantes, determinar sua freqncia e descrever sua localizao.

    2. Avaliar a associao entre a idade, idade gestacional, acometimento nervoso

    e a presena de dor.

    SUJEITOS E MTODOS

    Tipo de Estudo

    O presente estudo foi descritivo e de corte transversal.

    Tamanho Amostral

    O clculo do tamanho amostral inicial foi feito considerando a proporo

    (P) estimada de 47% de mulheres que apresentam graves dores lombar e/ou

    plvica posterior (0STGAARD et al., 1994a). A preciso absoluta foi de 6% e o

    erro tipo I fixado em 5%, resultando em 266 grvidas (KISH, 1965).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 42

    No perodo reservado para a coleta de dados, janeiro a outubro de 2001,

    foram entrevistadas para o estudo de prevalncia 203 mulheres. Em outubro

    desse mesmo ano, recalculou-se o tamanho amostral e estimou-se que 79,3%

    apresentaram dor lombar e/ou plvica posterior. Considerando esta proporo

    estimada das mulheres e mantendo o erro tipo I fixado em 5% observou-se que

    este tamanho amostral permitiu uma satisfatria preciso para a estimativa de

    prevalncia.

    Critrios e procedimentos para a seleo de pacientes

    A pesquisadora ou as auxiliares de sade elaboraram um cronograma de

    horrios para que fizessem planto nas salas de espera das Unidades Bsicas

    de Sade (UBS) em Paulnia. No momento em que a mulher chegava para a

    consulta do pr-natal ela era abordada por uma entrevistadora que lhe perguntava

    se poderia responder algumas perguntas sobre dores nas costas e que suas

    respostas seriam importantes para se saber quantas gestantes tinham estes

    sintomas, com o intuito de se pensar em algumas alternativas para o problema.

    Duzentas e trs gestantes foram entrevistadas pela pesquisadora e

    auxiliares de sade, entre as grvidas das salas de espera no dia de consulta

    do pr-natal nas UBS do Jardim Planalto, Monte Alegre, Joo Aranha e Central,

    na cidade de Paulnia.

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 43

    Critrios de incluso

    Foram includas mulheres com:

    Gravidez confirmada pelo mdico ou exame laboratorial.

    Critrios de excluso

    Moradora da cidade de Paulnia.

    Variveis e Conceitos

    Variveis Independentes

    Foram estudadas, para todos os casos, as seguintes variveis:

    Idade nmero de anos completos que a gestante declarou poca da entrevista.

    Idade Gestacional durao da gestao em semanas, a partir da data da ltima menstruao (DUM), no momento da entrada da

    gestante no estudo.

    Acometimento Nervoso sensao referida de formigamento e/ou fraqueza nos membros inferiores (pernas e/ou ps), associada dor

    na coluna espinhal ou pelve. Presente/ausente.

    Varivel Dependente

    Algias na coluna e regio plvica dor referida na regio da coluna espinhal e/ou plvica. Identificada atravs da marcao do local de

    dor com um X em desenho de figura humana.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 44

    Tcnicas

    Identificao da dor (ANEXO 1) - desenho de uma mulher de costas,

    para que a gestante pudesse indicar com preciso a localizao da dor, no

    momento da entrevista. A grvida fazia meno da regio dolorosa no prprio

    corpo e depois a pesquisadora assinalava o local da dor no desenho e confirmava

    com a gestante (OSTGAARD et al., 1991).

    Instrumento para coletas de dados

    Questionrio Inicial (Anexo 1) - perguntas elaboradas pela pesquisadora

    para avaliar a prevalncia de dor na coluna e regio plvica, e para selecionar

    as grvidas para a segunda parte do estudo. Foi dividido em:

    Informaes pessoais Idade gestacional Localizao da dor

    Coleta de dados

    Os dados foram coletados atravs de entrevista individualizada, com um

    questionrio pr-elaborado (Anexo 1), realizada pelo investigador principal ou

    por auxiliares de sade das unidades bsicas de sade da cidade de Paulnia,

    no perodo de janeiro a outubro de 2001, aps autorizao verbal prvia das

    gestantes. Foi garantido o sigilo das informaes fornecidas.

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 45

    As mulheres que apresentaram dor lombar e/ou plvica posterior foram

    convidadas a comparecer em horrio previamente agendado para participar da

    segunda etapa deste estudo, o ensaio clnico.

    Processamento dos dados

    Os questionrios foram arquivados aps reviso quanto legibilidade e

    qualidade de informao e, posteriormente, digitados. Em caso de alguma

    inconsistncia, na medida do possvel a gestante foi reconvocada ou contactada

    por telefone para sanar a dvida. Quando isso no foi possvel, desprezou-se a

    ficha e excluiu-se o caso do estudo.

    As informaes obtidas do preenchimento do instrumento de coleta de

    dados foram armazenadas em um banco de dados atravs do programa

    Excel. A digitao foi feita duas vezes, em ocasies distintas, para minimizar as

    oportunidades de erros.

    Anlise dos dados

    Posteriormente, estes dados foram exportados para o programa SAS

    verso 8.2 para tabulao e anlise. Utilizaram-se estatsticas descritivas (mdia,

    desvio padro, freqncias e porcentagens) para representar sumariamente as

    variveis do banco de dados.

    Estimaram-se as prevalncias de dor segundo faixas etrias e categorias

    da idade gestacional. Para a comparao entre as prevalncias, segundo cada

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 46

    categoria destas variveis, utilizou-se a razo de prevalncia (RP) com seus

    respectivos intervalos de confiana de 95%.

    Aspectos ticos

    O estudo foi previamente aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da

    Faculdade de Cincia Mdicas da Unicamp e pela Comisso de tica Mdica

    da Secretaria de Sade da cidade de Paulnia SP.

    As gestantes foram questionadas verbalmente, aps consentimento das

    mesmas. A no participao do estudo no interferiu no acompanhamento da

    paciente nas consultas de rotina do pr-natal. As mulheres foram esclarecidas

    sobre o sigilo mantido em relao s informaes fornecidas.

    RESULTADOS

    Dentre as 203 gestantes que participaram da entrevista, 79,8% relataram

    presena de dor em alguma regio da coluna vertebral e/ou pelve. A regio

    lombar foi a mais referida seguida da sacroilaca, torcica e cervical, esta ltima

    referida por poucas gestantes (Tabela 1). Observou-se que quase metade das

    grvidas referiu dor em mais de uma regio simultaneamente (Tabela 2), sendo

    a lombossacra e a dorsolombar as mais acometidas.

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 47

    TABELA 1 Distribuio porcentual das gestantes segundo

    a localizao na coluna vertebral e pelve

    Localizao n %

    Regio cervical 9 5,6 Regio torcica 59 36,7 Regio lombar 130 80,8 Regio sacroilaca 79 49,1

    A porcentagem ultrapassou 100% porque algumas gestantes apresentavam mais de uma queixa.

    TABELA 2 Distribuio porcentual do nmero de queixas por gestante

    em mais de uma regio com a presena de dor

    Queixa n %

    Uma queixa 68 42,2 Duas queixas 73 45,4 + de duas queixas 20 12,4

    Total 161 100

    * uma gestante no relatou o local da queixa

    A prevalncia de dor segundo a idade foi semelhante entre as gestantes

    at 29 anos e menor nas mulheres com 30 anos ou mais, mas os valores

    mantiveram-se sempre acima de 70 (Tabela 3).

    TABELA 3 Distribuio da idade das gestantes e a presena de dor

    IDADE (anos) Total * Com dor Prevalncia RP ** IC***95%

    19 34 28 82,4 Ref 20-29 95 83 87,4 1,1 (0,8 1,3) /30 35 27 77,1 0,9 (0,7 1,2)

    * no conhecida a idade de 39 mulheres ** RP Razo de Prevalncias *** IC Intervalo de confiana

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 48

    A queixa de dor na regio lombar foi a mais referida para todas as

    idades, sendo que para as gestantes at 19 anos a segunda regio referida foi

    a torcica e acima desta idade a sacroilaca (Tabela 4).

    TABELA 4 Distribuio porcentual da idade das gestantes e a localizao da dor*

    Local da dor Cervical Torcica Lombar Sacroilaca IDADE (anos)

    n % n % n % n %

    19 4 (14,3) 16 (57,1) 20 (71,4) 9 (32,1) 20-29 3 (3,6) 27 (32,5) 65 (78,3) 49 (59,0) /30 0 (0) 5 (19,2) 23 (88,5) 12 (46,1) Ignorado 2 11 22 9

    * As queixas podem estar associadas a vrias regies

    Em relao a idade gestacional a prevalncia de dor foi maior nas

    gestantes com at 12 semanas e diminuiu com o avano da gestao. A

    maioria das gestantes que participaram do estudo estavam entre a 13 e 28

    semanas de gestao. A presena de dor e o avano da idade gestacional no

    apresentaram relao significativa (TABELA 5).

    TABELA 5 Distribuio da idade gestacional e a presena de dor

    IG* (semanas) Total Com dor Prevalncia RP ** IC***95%

    12 18 17 94,4 Ref 13 28 125 102 81,6 0,86 (0,75 0,99) >28 49 37 75,5 0,80 (0,65 0,97)

    * A IG desconhecida para 11 mulheres ** RP Razo de Prevalncia *** IC Intervalo de confiana

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 49

    J a regio mais referida de dor relacionada com a idade gestacional foi

    a lombar, sendo os valores semelhantes em todas as idades. A segunda regio

    mais acometida foi a sacroilaca (Tabela 6).

    TABELA 6 Distribuio do local da dor relacionado idade gestacional (n = 156)

    Local da dor Cervical Torcica Lombar Sacroilaca IG* (semanas)

    n % n % n % n %

    12 1 (5,9) 8 (47,1) 14 (82,4) 9 (52,9) 13 28 7 (6,9) 41 (40,6) 80 (79,2) 51 (50,5) >28 1 (2,7) 10 (27,0) 30 (81,1) 16 (43,2) Ignorado 2 11 22 9

    * A IG desconhecida para 11 mulheres

    Quase metade das grvidas referiram sintomas de acometimento nervoso

    nos membros inferiores. O formigamento foi a queixa mais freqente (Tabela 7).

    TABELA 7 Porcentagem de grvidas com sintomas e tipo de acometimento nervoso nos membros inferiores

    Acometimento Nervoso n %

    AUSENTE 81 52,3

    PRESENTE 74 47,7 Formigamento 31 41,9 Fraqueza 25 33,8 Formigamento + Fraqueza 18 24,3

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 50

    As gestantes com sensao de formigamento em perna e/ou ps referiram

    mais dor na regio torcica seguida da lombar. A sensao de fraqueza nos

    membros inferiores foi semelhante nas grvidas com dores sacroilaca e lombar,

    porm quem referiu as duas sensaes simultaneamente apresentou mais queixa

    de dor na regio cervical e foi semelhante nas outras regies (Tabela 8).

    TABELA 8 Associao entre tipos de sintomas de acometimento nervoso e local da dor

    Local da dor Cervical Torcica Lombar Sacroilaca Tipos de Sintomas

    n % n % n % n %

    Formigamento 2 (25) 10 (35,8) 16 (26,6) 9 (21,4)

    Fraqueza 2 (25) 9 (32,1) 25 (41,7) 19 (45,3)

    Formigamento+ fraqueza

    4 (50) 9 (32,1) 19 (31,7) 14 (33,3)

    DISCUSSO

    A prevalncia de gestantes com algias na coluna vertebral e/ou plvica

    neste estudo foi de aproximadamente 80%. Os resultados so semelhantes aos

    de outros trabalhos na literatura, inclusive realizados no Brasil, que indicam

    taxas de 75% a 85% (CECIN et al., 1992; GALO et al.; 1995; KRISTIANSSON

    et al., 1996; FRANKLIN & CONNER-KERR, 1998; KILSTRAND et al., 1999).

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 51

    Em alguns pases escandinavos percebe-se que a prevalncia aparentemente

    vem aumentando, pois nas dcadas de 80 e 90 a prevalncia ficou em torno de

    50% de gestantes e atualmente KILSTRAND et al. (1999) j constataram o

    crescimento de 20% nas queixas entre as grvidas (BERG et al.,1988; OSTGAARD

    et al., 1991). Este crescimento poderia estar relacionado a maior preocupao

    com a qualidade de vida e conseqente bem-estar da gestante naqueles pases,

    com pesquisas mais detalhadas e persistentes na procura de diagnstico.

    Algumas pesquisas realizadas confirmam os resultados desse estudo em

    que o local de dor mais referido entre as gestantes a regio lombar, seguida

    da sacroliaca (CECIN et al., 1992; ORVIETO et al. 1994; GALO et al. 1995).

    Tambm se observou que a regio torcica pareceu ser mais freqentemente

    afetada nas grvidas, pois foi relatada em quase 40% das entrevistas. Este dado

    no compatvel com os de outros estudos onde esta regio referida em

    apenas 15% das mulheres ( OSTGAARD et. al., 1991; GALO et. al., 1995).

    Sabe-se que as alteraes hormonais na gestao acarretam mudanas

    em todo o corpo da gestante, afetando particularmente a estrutura do sistema

    msculo-esqueltico que sofre intensa embebio gravdica sob forte estmulo

    progestacional. Associado a este fenmeno ocorre o crescimento exagerado do

    tero e das mamas, que impe sobrecarga para toda a coluna e pelve,

    principalmente nas regies lombossacra e torcica.

    Quase metade das queixas est associada a mais de uma regio

    simultneamente, sendo as regies lombossacra e dorsolombar as mais referidas.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 52

    O fato de estes sintomas estarem associados poderia estar relacionado com a

    compensao das curvaturas da coluna vertebral para manuteno do equilbrio

    corporal, j que o centro de gravidade vai se modificando com o avanar da

    gestao, ou seja, a regio lombar acentua sua curvatura com o crescimento uterino

    frontal, que por sua vez modifica a posio do sacro - ficando mais horizontalizado -

    em relao pelve. A regio torcica tambm tem que se adaptar ao crescimento

    do volume das mamas e s modificaes da regio lombar, e reage a estas

    alteraes aumentando a cifose dorsal.

    Em estudo que comparou grvidas no primeiro e terceiro trimestres

    constatou-se mudanas significativas na angulao lombar, aumento da anteverso

    plvica e posteriorizao da cabea (FRANKLIN & CONNER-KERR, 1998).

    Entretanto, h pesquisadores que contestam esta explicao: OSTGAARD

    et al. (1993) no observaram mudanas significativas na angulao da curvatura

    lombar entre a 12 e 36 semanas gestacionais, mas relacionaram com o

    aparecimento de lombalgia em mulheres que apresentavam lordose acentuada

    e identificaram que a mudana no dimetro sagital abdominal foi o primeiro

    risco biomecnico observado para o aparecimento da dor na regio baixa da

    coluna e da pelve.

    Alguns artigos sugerem que quanto mais jovens as grvidas maior o risco

    de dor, e os resultados deste estudo parecem confirmar esta relao (OSTGAARD

    et al., 1991; KRISTIANSSON et al. 1996). Em nenhum dos estudos consultados

    foi feita a relao entre idade e local da dor. Observou-se que nas pacientes

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 53

    mais jovens, at 19 anos, a regio mais referida depois da lombar foi a torcica,

    e nas pacientes acima dessa idade foi a regio sacroilaca.

    Quando se relacionou dor com idade gestacional verificou-se que as queixas

    de dor foram mais prevalentes no primeiro trimestre e no aumentaram com o

    avano da gestao. OSTGAARD & ANDERSON (1991) verificaram forte

    significncia entre a dor pr-gestacional e o aparecimento da dor no primeiro

    trimestre da gravidez, e que a intensidade da dor aumenta gradativamente com

    o avano da idade gestacional. Em contraposio, GALO et al. (1995), observaram

    que a dor prvia gestao no foi fator predisponente para o aparecimento ou

    agravamento deste sintoma durante a gravidez.

    Em relao regio da dor e ao avano da idade gestacional o resultado

    controverso: alguns pesquisadores verificaram que o nmero de queixas de dor

    lombar diminui e nas regies sacral e torcica aumentam; outros autores relatam

    que na regio torcica diminui e na lombar aumenta. Neste estudo as regies

    lombar e sacroilaca foram as mais relatadas, com pequenas variaes de freqncia

    (OSTGAARD et al. 1991; ORVIETO et al., 1994; KRISTIANSSON et al. 1996).

    Esta variedade de resultados poderia estar relacionada a vrios fatores,

    entre eles o tipo de atividades domstica e laboral realizadas pela gestante.

    sabido que movimentos de rotao, flexo e extenso do tronco, alm da

    manuteno das posies ortosttica e sentada por longos perodos podem

    provocar aumento da intensidade da dor na coluna vertebral da gestante (CECIN

    et al., 1992; GALO et al. 1995).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 54

    Os sintomas de acometimento nervoso, como formigamento e fraqueza

    nos membros inferiores, foram relatados por quase metade das gestantes, estando

    relacionados com a dor em qualquer curvatura da coluna. Na literatura consultada

    h uma variao muito grande na freqncia de sintomas de irradiao para

    membros inferiores, que pode variar de 8% a 65%. Entretanto, aproximadamente

    1% destas queixas so objetivamente confirmadas, o que parece mostrar que o

    risco de comprometimento nervoso muito baixo durante o perodo (OSTGAARD

    et al., 1991; CECIN et al, 1992; ORVIETO et al. 1994; GALO et al. 1995;

    NORN et al., 1997).

    CONCLUSES

    1. Na cidade de Paulnia a prevalncia de gestantes com queixas de algias na

    coluna vertebral e/ou pelve foi de 79,8%.

    2. As queixas mais referidas pelas gestantes foram localizadas nas regies

    lombar e sacroilaca.

    3. Quanto mais jovem a grvida maior o risco de aparecimento de algias posturais

    durante a gestao. As queixas de dor no aumentam com o avano da

    gestao. Os sintomas de acometimento nervoso e fraqueza nos membros

    foram relatados por quase metade das gestantes, estando relacionados com

    a dor em qualquer curvatura da coluna.

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 55

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BERG,G.; HAMMAR, M.; MOLLER-NIELSEN, J.; LINDN,U. THORBLAD, J.-

    Low back pain during pregnancy. Obstet. Gynecol., 71:71-5, 1988.

    CECIN, H. A ; BICHUETTI, J.A.N.; DAGUER, M.K.; PUSTRELO, M.N.

    Lombalgia e gravidez. Rev. Bras. Reumatol., 32:45-50, 1992.

    FRANKLIN, M. E. & CONNER-KERR,T. - An analysis of posture and back pain

    in the first and third trimesters of pregnancy. J. Orthop Sports Phys Ther, 28:133-8, 1998.

    GALO, A. O.; ZARDO, E. A.; PAULA, L. G. - Lombalgia na gravidez. Acta Med. (Porto Alegre), 1:347-53, 1995.

    KHILSTRAND, M.; STENMAN, B.; NILSSON, S.; AXELSSON, O. Water

    gimnastics reduced the intensity of back/low pain in pregnant women. Acta Obstet. Gynecol. Scan., 78:180-5, 1999.

    KISH, L. - Survey sampling. New York, John Wiley and Sons, 1965. 643p.

    KRISTIANSSON, P.; SVARDSUDD, K.; SCHOULTZ, B.V. - Back pain during

    pregnancy A prospective study. Spine, 21:702-9, 1996.

    NORN, L.; OSTGAARD, S.; NIELSEN, T. F.; OSTGAARD, H. C. - Reduction of

    sick leave for lumbar back and posterior pelvic pain in pregnancy. Spine, 22:2157-60, 1997.

    ORVIETO, R.; ACHIRON A.; BEM-RAFAEL Z.; GELERNTER I.; ACHIRON R. -

    Low back pain of pregnancy. Acta Obstet Gynecol Scand 73:209-14, 1994.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 56

    OSTGAARD, H.C.; ANDERSON, G.B.J.; KARLSSON, K. - Prevalence of back

    pain in pregnancy. Spine, 16:549 -52, 1991.

    OSTGAARD, H.C.; ANDERSON, G.B.J.; SHULTZ, A B.; MILLER, J.A.A. -

    Influence of some biomechanical factors on low back pain in pregnancy.

    Spine,18:61-5, 1993.

    OSTGAARD, H. C.; ZETHERSTROM, G.; ROOS HANSON, E.; SVANBERG, B.

    Reduction of back and posterior pelvic pain in pregnancy. Spine, 19:894-900, 1994

    OSTGAARD, H.C. - Assesment and treatment of low back pain in working

    pregnant women. Sem. Perinatol., 20:61-9, 1996.

    ANEXO

    ALGIAS POSTURAIS NA GESTAO: PREVALNCIA E TRATAMENTO

    QUESTIONRIO INICIAL

    Nmero [ ] [ ] [ ] Data: Idade: Nome: Endereo: Telefone: RI: _______________________________________________________________

    Nmero [ ] [ ] [ ]

    1 - Qual foi a data da sua ltima menstruao? _____/_____/________.

  • Captulo II - Prevalncia de algias posturais na gestao em uma Unidade Bsica de Sade 57

    2 - Quantas semanas voc tem de gravidez? [ ] [ ] semanas.

    3 - Voc tem dores nas costas? ( ) sim ( ) no

    Se voc respondeu SIM continue:

    4 Em que local voc tem dor? Assinale um X na (s) figura (s) abaixo:

    5 - So gmeos ? [ ] sim [ ] no

    6 - Sente formigamento nas pernas e/ou ps ? [ ] sim [ ] no [ ] no sei Sente que sua perna ou ps esto fracos? [ ] sim [ ] no [ ] no sei

    7 - Tem alguma doena que impea voc de fazer exerccios? [ ]sim [ ] no [ ] no sei

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 58

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 59

    CAPTULO III

    Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo

    Stretching Global Ativo

    Aproximadamente metade dos pacientes da populao em geral, que so

    reabilitados pelos fisioterapeutas, esto acometidos por dores nas costas. FOSTER

    et al. (1999) e BATTI et al. (1994) confirmaram essa premissa, pois realizaram

    estudos verificando com mais de cinco mil fisioterapeutas dos EUA e Gr-

    Bretanha, a quantidade de pacientes e os mtodos mais usados nesses pases.

    Concluram que os tratamentos so variados e que na maioria das vezes no

    so avaliados cientificamente, sendo muitas vezes somente o relato do paciente

    utilizado como parmetro de efetividade da terapia.

    Durante a gestao observa-se que o risco de aparecimento de algias

    posturais, principalmente as lombalgias, aumenta se a mulher apresentava esta

    queixa antes da gestao. E este sintoma pode perdurar no perodo puerperal e

    continuar interferindo na sua rotina diria e, conseqentemente, na sua qualidade

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 60

    de vida (OSTGAARD, ANDERSSON, KARLSSON, 1991; ORVIETO et al., 1994;

    OSTGAARD, 1996; SIHVOVEN et al 1998).

    Em pesquisas OSTGAARD et al., (1996 b;1997) realizaram o

    acompanhamento de mulheres durante seis anos aps o parto, e concluram

    que a dor pr-gestacional nas costas, referida por 18% das mulheres, e a dor

    durante o perodo gestacional, em 71% das gestantes, foram reduzidas para

    16% em seis anos. Relacionaram tambm o tempo lento de reduo deste

    sintoma nas mulheres que apresentavam queixa pr-gestacional e grande

    intensidade de dor durante a gestao.

    Com esses resultados pode-se afirmar que as algias posturais so um

    problema de sade pblica que atinge no s as gestantes mas a populao

    em geral, e que somente com a deteco precoce das mulheres de risco para

    desenvolver as dores posturais na gestao que se poder avaliar a efetividade

    de programas e mtodos adequados para a reduo ou alvio desta queixa.

    Em trabalhos analisando efetividade de mtodos de alvio para algias

    posturais encontraram-se a acupuntura e a hidroginstica, que demonstraram

    resultados significativos na reduo da intensidade da dor (KIHLSTRAND et al.,

    1999; WEDENBERG, MOEN, NORLING, 2000). Entretanto, tais mtodos apresentam

    a desvantagem de necessitar de material especfico e infra-estrutura, como agulhas

    descartveis ou piscina aquecida, muitas vezes no disponveis na rede pblica

    de sade. Os exerccios de Stretching Global Ativo propostos neste estudo, so

    exerccios de alongamento excntrico realizados atravs de posturas parcialmente

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 61

    estticas e necessitam apenas de espao para que as gestantes possam sentar-se

    e deitar-se no cho alm do uso de roupas confortveis e uma toalha de banho.

    Acreditamos que atravs deste ensaio, estaremos contribuindo para a

    reflexo de novas propostas e abordagens no tratamento das algias lombares

    e/ou plvicas posteriores que acometem as gestantes.

    OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    Avaliar e comparar a efetividade dos exerccios de alongamento Stretching

    Global Ativo e a orientao mdica para as gestantes com dor lombar e/ou

    plvica posterior.

    Objetivos Especficos

    1. Comparar a evoluo da dor lombar e plvica posterior:

    A. Ao longo da gestao nos grupo que sero submetidos ao Stretching Global Ativo ou Orientao Mdica.

    B. Em grvidas que praticaram ou no exerccios um ano antes da atual gestao.

    C. Em grvidas que apresentaram ou no algias pr-gestacionais nas costas.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 62

    SUJEITOS E MTODOS

    Desenho de Estudo

    O presente estudo foi um ensaio clnico, prospectivo, controlado e

    randomizado (KISH, 1965; POCOCK, 1987).

    Tamanho Amostral

    Para o clculo do tamanho amostral, inicialmente considerou-se que a

    proporo (P) estimada de mulheres com melhora de dor lombar e/ou plvica

    posterior durante a gravidez, no grupo sem exerccio, seria de 20%. No grupo

    com exerccio, a proporo (P) estimada foi de 51% (OSTGAARD et al.,

    1994a), o que resultou em 42 grvidas por grupo, calculado o em 5% e o em 20% (FLEISS, 1981).

    Entretanto, aps iniciada a randomizao, quando foi atingido o tamanho

    amostral de 33 mulheres no grupo A e 36 no grupo B, estimou-se que 88% das

    grvidas do grupo A e 36% do grupo B sofreriam reduo da dor.

    Com base nestas estimativas foi realizado o recalculo do tamanho amostral

    e observado que um n ainda menor bastaria para detectar-se a diferena entre

    estes grupos, ou seja, n = 10 para = 5% e = 20%.

    Assim, decidiu-se suspender as atividades para no comprometer o

    cronograma da pesquisa, j que o grupo de interveno tinha durao prevista

    de oito semanas.

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 63

    Critrios e procedimentos para a seleo de pacientes

    As participantes deste estudo foram selecionadas atravs da primeira parte

    desta pesquisa (vide Captulo II). As mulheres que apresentaram dor lombar e/ou

    plvica posterior, e preencheram os critrios abaixo, foram convidadas a participar

    do ensaio clnico. Na data previamente agendada, as grvidas que compareceram

    UBS, aps a apresentao dos objetivos, das vantagens e desvantagens deste

    estudo, e da leitura do Termo de Consentimento foram convidadas a assinar o

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 7) se concordassem em

    participar deste estudo. Todas as participantes receberam uma cpia deste Termo.

    A randomizao foi realizada atravs de sorteio feito pela fisioterapeuta

    pesquisadora, que apresentou um envelope contendo 84 papis escritos, 42 do

    grupo A e 42 do grupo B. Cada gestante retirava um papel desse envelope e

    era informada que, caso fosse sorteada para o grupo A, faria os exerccios de

    alongamento semanalmente, por oito semanas, nas UBS de sua referncia. Se

    pertencesse ao grupo B falaria com seu mdico sobre estas algias, e seguiria o

    tratamento mdico recomendado para alvio da dor lombar e/ou plvica posterior.

    Critrios de incluso

    Foram includas gestantes com:

    Dor lombar e/ou plvica posterior. Idade gestacional igual ou maior a 12 semanas.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 64

    Critrios de excluso

    Foram excludas pacientes que apresentaram:

    Gestao gemelar. Sndrome da ruptura nervosa. Restrio mdica ao exerccio. Estar fazendo tratamento fisioterpico para o sintoma da dor lombar

    e/ou plvica posterior.

    Variveis e Conceitos

    Variveis de controle

    Idade referida pela gestante, em nmeros de anos completos.

    Escolaridade referida pela gestante, em anos de estudo.

    Peso em quilogramas, utilizando uma balana digital da marca Plenna, medido nas entrevistas inicial e final.

    Estatura em centmetros, medida na entrevista inicial pela pesquisadora.

    Idade gestacional durao da gestao em semanas, a partir da data de admisso da gestante no estudo. Classificada pela data da

    ltima menstruao (DUM) ou ecografia, o que for mais confivel.

    Sesses de exerccios de alongamento - perodo em que o terapeuta esteve orientando e observando as execues dos exerccios de

    alongamento da tcnica de Stretching Global Ativo. Sesses 1 a 8.

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 65

    Varivel independente

    Exerccios de Stretching Global Ativo - exerccios de alongamento muscular excntrico feitos de forma global nas posturas sentada e r

    no cho. Participou ou no participou.

    Variveis dependente

    Intensidade da dor - impresso desagradvel ou penosa resultante de leso, contuso ou estado anmalo do organismo ou de uma parte dele,

    avaliada pela gestante, antes e aps a realizao dos exerccios, em

    escala de 1 a 10.

    Testes de confirmao da dor lombar e plvica posterior para comprovao da presena destas algias, realizados atravs de manobras

    fsicas, palpaes e perguntas da fisioterapeuta no incio e final do

    tratamento no grupo A. Positivo/negativo.

    Conceitos

    Dor lombar - (Lumbar Back Pain) que se refere regio acima do sacro, dor palpao da musculatura eretora espinhal, dor em resposta flexo

    do tronco, diminuio dos movimentos da coluna lombar e teste negativo

    de provocao da dor plvica posterior (NORN et al., 1997).

    Dor plvica posterior (Posterior Pelvic Pain )- relacionada sensao de peso na pelve posterior, na regio gltea profunda com intervalos

    sem dor, movimentos livre entre as vrtebras e o quadril, ausncia da

    sndrome de ruptura nervosa e teste de provocao positivo da dor

    plvica posterior (NORN et al., 1997).

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 66

    Sndrome da ruptura nervosa (Nerve root syndrome) - dor irradiada com correspondncia anatmica na perna e p, diminuio da fora muscular

    e sensao de formigamento, teste positivo de elevao da perna,

    teste negativo de provocao da dor plvica (NOREN et al, 1997).

    Tcnicas

    Escala Analgica Visual da Dor (EAV) - classificao da intensidade da

    dor segundo cada gestante. Verificada na entrevista inicial, final e no incio de

    cada sesso de alongamento. A escala foi apresentada gestante um desenho

    onde se observou trs rostinhos em uma escala grfica, classificando a dor em

    ordem crescente, com pontuao de zero a dez (OLSEN, NOLAN, KORI, 1992)

    (Figura 1).

    Figura 1. Testes de confirmao - confirmao dos locais da dor, realizada pela fisioterapeuta nas grvidas. Classificados em negativo ou positivo.

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 67

    A ) Dor Plvica Posterior

    Teste de provocao de dor plvica posterior a fisioterapeuta colocou a

    gestante deitada em supino, pediu que realizasse a flexo de uma perna e a

    extenso da outra no cho. O fmur da perna flexionada ficou na vertical e a

    fisioterapeuta o pressionou no sentido do cho, estabilizando a pelve

    simultaneamente (Figura 2). O teste foi positivo quando a gestante reconheceu a

    dor no momento em que o fmur foi pressionado, e tambm reconheceu o local

    da dor em um desenho com registro na rea gltea (Figura 3) (OSTGAARD et

    al, 1994b).

    Figura 2. Teste de confirmao para dor plvica posterior

    Figura 3. Confirmao do local da dor em desenho da figura humana na regio lateral quinta vrtebra lombar (NORN et al., 1997).

    Histria de sensao de peso na pelve posterior, na regio gltea profunda. Dor ao virar na cama durante a noite.

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 68

    B) Dor Lombar

    Flexo do Tronco a fisioterapeuta pediu gestante que ficasse em p e

    mantivesse-os unidos. A gestante realizou a flexo do tronco, inclinando-o para

    frente at o momento que as pernas iniciassem a flexo. Foi considerado

    positivo se a grvida referisse dor lombar neste movimento e a confirmasse no

    desenho (NORN et al., 1997) (Figura 4).

    Figura 4. Teste de confirmao para dor lombar.

    Diminuio dos movimentos circulares da coluna foi pedido gestante para fazer uma rotao do tronco e observar sua amplitude de movimento.

    Sensao de dor na coluna lombar enquanto realizou os movimentos acima citados.

    Dor palpao da musculatura espinhal da regio lombar.

    Confirmao do local da dor em desenho da figura humana, na regio acima do sacro (NORN et al., 1997).

    Exercicios de alongamento Stretching Global Ativo.

    Descrio dos exerccios (Anexo 1).

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 69

    Instrumento para coleta de dados

    Foram utilizados cinco instrumentos para coleta de dados, descritos abaixo:

    Questionrio Inicial utilizado para selecionar as gestantes com dor e estabelecer a prevalncia de gestantes com dor lombar e/ou plvica

    posterior nas UBS de Paulnia e para selecionar as possveis

    participantes do ensaio clnico que seria realizado posteriormente

    (vide - Captulo II Anexo 1).

    Entrevista Inicial - (Anexo 2) realizada pela pesquisadora para coletar dados pessoais, peso, estatura, caracterstica, diferenciao da dor e

    outras informaes. Foi respondida pela gestante, individualmente na

    UBS, antes do incio da segunda parte do estudo.

    Acompanhamento do grupo A (Anexo 3) utilizado para verificao da intensidade da dor, foi preenchido semanalmente no incio e final

    de cada sesso de alongamento. Foi preenchido pela gestante.

    Entrevistas inicial e final dos grupo A e B (Anexos 2, 4 e 5) utilizadas para verificar os resultados subjetivos dos exerccios de alongamento para a

    gestante - grupo A - e os resultados das orientaes como: medicao

    analgsica, orientao postural, hidroginstica, fisioterapia tradicional,

    etc. para o grupo B, foram aplicados ao incio e final da interveno.

    Coleta de dados

    Foi orientado para duas auxiliares de sade de cada unidade pedirem s

    gestantes, no dia da consulta prnatal, que respondessem o questionrio inicial

    (vide captulo II Anexo 1) para a identificao das grvidas que tinham dores nas

    costas e outras informaes. Todas as gestantes que responderam positivamente

  • Algias posturais na gestao: prevalncia e tratamento 70

    dor nas costas e foram selecionadas pelos critrios de incluso/excluso foram

    convocadas. Seus dados de identificao foram registrados em caderno contendo

    nome e nmero do pronturio.

    Quando uma possvel participante compareceu UBS, atendendo ao

    convite, foi explicado individualmente pela fisioterapeuta responsvel o motivo

    de sua convocao, a finalidade da pesquisa e foi solicitado seu consentimento

    para participar da mesma. Caso ela concordasse e assinasse o Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 7), imediatamente a pesquisadora

    faria a entrevista inicial, coletando algumas informaes e realizando os testes

    de comprovao de dores lombar e plvica posterior.

    As grvidas foram divididas aleatoriamente atravs de sorteio com envelopes

    escritos grupo A e grupo B totalizando 84 papis, sendo 42 para cada grupo. A

    participante do grupo:

    Grupo A. fez os exerccios de alongamento do mtodo Stretching Global Ativo e antes de cada sesso foi preenchida a ficha de

    acompanhamento (Anexo 3).

    Grupo B. receberam orientaes mdicas usuais e deram seguimento ao tratamento escolhido pelo mdico.

    Aps oito semanas as mulheres dos grupos A e B preencheram a

    entrevista final (Anexos 4 e 5), sendo que as participantes do grupo B tiveram

    uma data previamente agendada.

  • Captulo III - Estudo prospectivo e randomizado do tratamento de algias posturais na gestao pelo mtodo Stretching Global Ativo 71

    Acompanhamento dos sujeitos

    Foram acompanhadas semanalmente, durante dois meses, as gestantes

    do grupo A, com no mximo dez participantes, totalizando oito sesses com

    durao de 45 minutos na UBS de sua referncia, tendo o acompanhamento da

    fisioterapeuta pesquisadora que foi responsvel pelas sesses de alongamento

    e pela orientao quanto ao preenchimento da ficha de acompanhamento. No

    grupo foi permitida a entrada de novas gestantes, sendo que em cada sesso a

    grvida seguiu a progresso dos exerccios individualmente, de acordo com o

    nmero de sesses que deveria realizar.

    As gestantes do grupo B receberam orie