acupuntura e insuficiencia renal cronica

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1 1 INTRODUÇÃO A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome caracterizada pela incapacidade dos rins funcionarem adequadamente, devido ao comprometimento de 2/3 a 3/4 dos néfrons, o que determinada a perda de suas funções de forma progressiva e irreversível (Case et al., 1998). A IRC é mais comum em animais senis com idade média de 6,5-7 anos para cães e 7-7,4 anos para gatos, sendo mais comum nestes (Veado, 2003). Filhotes de algumas raças, dentre elas Shih Tzu, Shar Pei, Doberman, Lhasa Apso, Samoiedo e Cocker Spaniel podem nascer com número de néfrons insuficientes, predispondo-os ao desenvolvimento da insuficiência renal crônica (Nelson & Couto, 1998). A debilitação de um rim normal pode levar a perda de 75% dos néfrons, antes que apareçam sinais clínicos ou bioquímicos evidentes (Case et al., 1998). A perda da função excretora causa retenção de substâncias nitrogenadas, como uréia, creatinina, ácido úrico e amônia, acarretando, ao animal, náuseas, vômitos, diureses osmóticas e encurtamento da vida média das hemácias, além de ocasionar alterações no equilíbrio eletrolítico, hídrico e ácido-básico (Case et al., 1998). Segundo os mesmos autores, a IRC leva à falha na síntese da eritropoetina, o que origina uma anemia não-regenerativa. A conversão da vitamina D em seu metabólito ativo também é reduzida, prejudicando a absorção de cálcio pelo intestino, contribuindo com o desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário à lesão renal (Nelson & Couto, 1998). No momento do diagnóstico da IRC, geralmente não é possível identificar o agente etiológico por se tratar de uma lesão progressiva, além da capacidade dos rins compensarem boa parte da perda do tecido funcional o que dificulta a identificação do agente (Veado, 2003).

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ACUPUNTURA

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Page 1: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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1 INTRODUÇÃO

A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome caracterizada pela

incapacidade dos rins funcionarem adequadamente, devido ao comprometimento

de 2/3 a 3/4 dos néfrons, o que determinada a perda de suas funções de forma

progressiva e irreversível (Case et al., 1998).

A IRC é mais comum em animais senis com idade média de 6,5-7 anos

para cães e 7-7,4 anos para gatos, sendo mais comum nestes (Veado, 2003).

Filhotes de algumas raças, dentre elas Shih Tzu, Shar Pei, Doberman, Lhasa

Apso, Samoiedo e Cocker Spaniel podem nascer com número de néfrons

insuficientes, predispondo-os ao desenvolvimento da insuficiência renal crônica

(Nelson & Couto, 1998). A debilitação de um rim normal pode levar a perda de

75% dos néfrons, antes que apareçam sinais clínicos ou bioquímicos evidentes

(Case et al., 1998).

A perda da função excretora causa retenção de substâncias nitrogenadas,

como uréia, creatinina, ácido úrico e amônia, acarretando, ao animal, náuseas,

vômitos, diureses osmóticas e encurtamento da vida média das hemácias, além

de ocasionar alterações no equilíbrio eletrolítico, hídrico e ácido-básico (Case et

al., 1998). Segundo os mesmos autores, a IRC leva à falha na síntese da

eritropoetina, o que origina uma anemia não-regenerativa.

A conversão da vitamina D em seu metabólito ativo também é reduzida,

prejudicando a absorção de cálcio pelo intestino, contribuindo com o

desenvolvimento de hiperparatireoidismo secundário à lesão renal (Nelson &

Couto, 1998).

No momento do diagnóstico da IRC, geralmente não é possível

identificar o agente etiológico por se tratar de uma lesão progressiva, além da

capacidade dos rins compensarem boa parte da perda do tecido funcional o que

dificulta a identificação do agente (Veado, 2003).

Page 2: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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A medicina tradicional chinesa (MTC) é conhecida como uma medicina

de harmonização que pode ser preventiva e que utiliza os estímulos de pontos

cutâneos determinados por uma exata posição anatômica. Estes pontos são

estimulados por diferentes técnicas de acupuntura que provocam a reorganização

do sistema e permitem uma autoterapia (Rubin, 1983).

Os pontos de acupuntura, na sua imensa maioria, estão localizados em

depressões, sejam elas ósseas, interósseas, intermusculares, entre tendões,

articulações e outros (Torro, 1997).

Na Medicina Tradicional Chinesa, a IRC corresponde à deficiência de

rim (Shen), ou seja, deficiência de Yin e Yang do rim, deficiência de Qi e da

Essência (Jing) do rim (Zhufan & Jiazhen, 1997).

O rim é responsável pela origem de todo Yin e Yang dos órgãos e

vísceras (Sistema Zang Fu), logo na IRC há comprometimento do

funcionamento do Zang Fu (Zhufan & Jiazhen, 1997).

O objetivo da monografia é relatar um terapia não-convencional como

mais uma opção no tratamento da IRC, além de descrever a visão da medicina

tradicional chinesa sobre tal síndrome.

2 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

2.1 Agentes etiológicos

A insuficiência renal crônica pode ser conseqüência de diversas

etiologias, principalmente, as inflamatórias e infecciosas, dentre elas,

leptospirose, peritonite infecciosa felina (PIF), parasitismo pelo Dioctophyme

renale quando os dois rins são acometidos, pielonefrite, cálculos renais e

obstrução do fluxo urinário (Nelson & Couto, 1998).

Page 3: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

3

Agentes nefrotóxicos também são potentes causadores da IRC, incluindo

os antibióticos aminoglicosídeos e substâncias anticongelantes, como o

etilenoglicol, utilizado em radiadores de automóveis nos países de clima

temperado (Forrester, 1998). Esse mesmo autor relata ainda que o quadro de

insuficiência renal crônica pode ser causado por isquemia renal, além das

alterações hereditárias ou congênitas como a hipoplasia bilateral e displasia

renal, presença de rins policísticos (comum em gatos de pêlos longos) e as

nefropatias familiares (Lhasa Apso, Shih Tzus, Shar Pei, Doberman, Samoiedo,

Poodle, Cocker Spaniel, Beagles e gatos Abssínios).

Os distúrbios imunológicos como lupus eritematoso sistêmico e

glomerulonefrite, as neoplasias primárias, metastáticas e a amiloidose, segundo

Nelson & Couto (1998), podem determinar o desenvolvimento da IRC. Os

tumores primários do rim são raros nos animais domésticos, sendo a

sintomatologia clínica variada e inespecífica, mas freqüentemente são

observadas anorexia, cólica, perda de peso, hematúria e dor sublombar

(Serakides, 2002).

2.2 Patogenia

A estrutura e função dos rins adaptam-se quando seus néfrons são

acometidos por alguma lesão. Esta adaptação leva ao aumento da taxa de

filtração dos néfrons remanescentes e hipertrofia renal, além do aumento da

pressão capilar glomerular. A função renal pode começar a diminuir e a perda

progressiva e irreversível de néfrons funcionais causam reduções graduais na

taxa de filtração glomerular (TFG) e na capacidade dos rins para excretar

produtos indesejados do corpo. A hipertrofia e o aumento de pressão nos néfrons

remanescentes podem levar à glomerulosclerose progressiva e perda da função

renal (Case et al., 1998).

Page 4: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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A insuficiência renal crônica diminui, de forma progressiva, a taxa de

filtração glomerular e, conseqüentemente, a capacidade de excretar o fósforo, o

que determina hiperfosfatemia, osteodistrofia fibrosa e deposição de cristais de

fosfato cálcico nos tecidos moles. O depósito de cálcio e fósforo no rim causa

inflamação, fibrose e perda subseguinte de néfrons (Polzin, 2004).

O aumento de fosfato causa ainda produção de paratormônio pelas

paratireóides que apresentarão hiperplasia na tentativa de retirar o cálcio dos

ossos, deixando-os adelgaçados e moles. O paratormônio, além de aumentar o

cálcio sérico, participa na formação da vitamina D e esta aumenta a absorção de

cálcio no intestino (Nelson & Couto, 1998).

A IRC pode ser monitorada pela dosagem sérica do fósforo, que em

concentrações acima de 5 mg/dl tende a estar acompanhada por aumento do

cálcio sérico (Case et al., 1998). Quando a produção de 1α-hidroxilase renal

(Figura 2) está diminuída, também há aumento de paratormônio e,

conseqüentemente, hiperplasia da paratireoide, começando um

hiperparatireoidismo secundário à lesão renal (Nelson & Couto, 1998).

Acredita-se que o hiperparatireoidismo perpetue e eleve a doença renal,

através da estimulação da nefrocalcinose, o processo pelo qual o epitélio tubular

renal é danificado por um aumento no cálcio intracelular e sua precipitação na

mitocôndria. Os rins podem apresentar consistência arenosa ao corte, devido à

calcificação das membranas basais dos túbulos, da cápsula de Bowman e do

epitélio tubular necrótico (Anthony & Roger, 1998).

A doença renal em animais senis afeta diretamente a nutrição e o animal

acometido apresentará perda de peso, degradação dos músculos, má absorção

intestinal, diminuição da ingestão de nutrientes e calorias, alteração do perfil

protéico do plasma e redução na assimilação e uso de nutrientes (Case et al.,

1998).

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5

Segue abaixo o esquema ilustrativo da patogenia da insuficiência renal

crônica (Figura 1).

FIGURA 1. Patogenia da Insuficiência renal crônica (Nelson & Couto, 1998).

2.3 Características clínicas

Aumentos do consumo de água e da micção pelo animal, constituem os

primeiros sinais observados pelos proprietários, pois o rim diminui a capacidade

de reter urina, aumentando o volume urinário e a freqüência de micções. Os

proprietários de felinos, dificilmente, monitoram a micção, pelo fato de seus

animais utilizarem caixas de areia (Case et al, 1998).

Lesão renal primária

Diminui o número de néfrons

taxa de filtração em néfrons remanescentes

produção de amônia proteína na dieta

Hipertensão

perda de proteínas pelos néfrons

intactos

Lesão das células mesangiais

Esclerose glomerular Esclerose glomerular

Page 6: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

6

O animal acometido pela IRC pode demonstrar hiperglicemia, pois o

rim perde a capacidade de metabolizar a insulina, cuja maior quantidade no

sangue, determina que seus receptores tornem-se menos sensíveis a este

hormônio (Nelson & Couto, 1998).

O sistema gastrointestinal também é acometido, sendo comum a diarréia

devido à elevada quantidade de uréia neste sistema que, por ação das bactérias

ali existentes, transforma-a em amônia, e esta irrita o trato gastrointestinal.

Episódios de êmese ocorrem, como conseqüência da presença de compostos

nitrogenados que estimulam o centro do vômito, além do excesso de gastrina no

organismo do animal, uma vez que o rim metaboliza 40% da gastrina que leva à

gastrite pelo excesso de produção de suco gástrico e pela presença do excesso de

uréia, irritando a mucosa gástrica. Melena pode ser decorrente de uma possível

úlcera gástrica; estomatite crônica, gerando halitose, e necrose de língua podem

ser decorrentes da elevada quantidade de uréia no sangue que será transformada,

pelas bactérias da cavidade oral, em amônia, irritando toda a mucosa da

cavidade oral (Nelson & Couto, 1998).

Segundo os mesmos autores, como alteração nervosa, o animal pode

apresentar encefalopatia urêmica, ataxia, incoordenação, movimentos de

pedalagem, convulsão, estupor e coma.

Na IRC, maioria dos cães nefropatas (2/3), apresentarão hipertensão

arterial, a pressão sistólica acima de 200 mmHg e a diastólica acima de 130

mmHg, podendo levar à lesão terminal do órgão. Em gatos, a pressão sistólica

não deve exceder 160-170 mmHg e a diastólica não deve ultrapassar 125 mmHg

(Ettinger & Feldman, 2004).

O animal pode apresentar imunossupressão decorrente de alterações

hematopoiéticas, como anemia arregenerativa, uma vez que o rim acometido não

sintetiza de forma adequada a eritropoetina, hipocromia, anisocitose, presença de

reticulócitos, linfopenia, leucopenia e trombocitopenia. As plaquetas podem se

Page 7: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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encontrar afuncionais e os neutrófilos podem começar a realizar diapedese

(Polzin, 2004).

A uréia por ser tóxica ao pulmão e causar irritação neste órgão,

conseqüentemente, levar a um quadro de pneumonite urêmica, responsável pelo

odor amoniacal no animal (Nelson & Couto, 1998).

Segue abaixo o esquema ilustrativo sobre a formação da vitamina D

ativa (Figura 2):

FIGURA 2. Formação da vitamina D ativa (Nelson & Couto, 1998).

Raios solares ultravioletas

7 - Desidrocolesterol

Fígado

25 - Hidroxicolecalciferol

1 � – Hidroxilase Renal PTH

Paratormônio Estímulo

Acetato das células epiteliais cutâneas

1, 25 – Dihidroxicolecalciferol ou

Calcitriol

Page 8: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

8

2.4 Diagnóstico

O diagnóstico de IRC baseia-se no histórico, exame físico e exames

complementares. O proprietário pode relatar perda de peso, anorexia, vômito,

fezes diarréicas, intolerância a exercícios físicos por estar fraco, maior ingestão

de água e micção frequente, além da presença de úlceras na cavidade oral

(Nelson & Couto, 1998). O relato mais comum é a polidipsia e a poliúria

(Ettinger & Feldman, 2004).

Ao exame físico, pode-se detectar úlceras orais, halitose, osteodistrofia

fibrosa (principalmente na mandíbula) e, à palpação, os rins se apresentam

diminuídos, fibrosados, enrijecidos e com as superfícies irregulares (Nelso &

Couto, 1998).

O primeiro exame complementar a ser solicitado é a urinálise, seguida da

coleta de amostras para hemograma, contagem plaquetária e perfil renal. O perfil

renal deve ser avaliado mediante mensuração das concentrações séricas da

creatinina, uréia, albumina, proteínas totais, fosfatase alcalina, sódio, potássio,

fósforo e cálcio (Ferrante, 2004).

A urinálise é composta de duas fases, do exame físico e da microscopia

de sedimentos urinários, em que, comumente na IRC, observa-se uma urina de

coloração mais clara, densidade diminuída, proteinúria, pH 5,0 e ausência de

cilindrúria (Nelson & Couto, 1998). A ocorrência de proteinúria pode indicar

glomerulonefrite, assim como densidade urinária baixa (Ferrante, 2004).

A cultura urinária através da cistocentese pode descartar infecção do

trato urinário (Forrester, 1998).

A contagem plaquetária tende a estar dimuída e o hemograma pode

demonstrar anemia arregenerativa e leucopenia (Ferrante, 2004).

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Na presença de valores séricos da creatinina entre 1,5 a 4 mg/dl,

considera-se insuficiência renal entre leve e moderada e, acima de 4 mg/dl,

considera-se insuficiênica renal grave ou terminal (Case et al., 1998).

A concentração sérica de uréia pode elevar-se devido a um quadro de

febre, hemorragias gastrointestinais, tratamento com drogas que estimulam o

catabolismo como os corticosteróides, dieta rica em proteínas, jejum prolongado

e desidratação acima de 6% (Ettinger & Feldman, 2004).

A hipocalemia é um achado comum em felinos, sendo responsável pelo

quadro de fraqueza muscular e ventroflexão do pescoço (Veado, 2003).

Para diagnóstico da IRC, pode-se obter auxílio do diagnóstico por

imagem. A radiografia demonstra a diminuição do tamanho renal, uma vez que,

normalmente, o rim deve apresentar de 2 a 2,5 vezes o tamanho da segunda

vértebra lombar, além de uma possível mineralização renal e diminuição da

densidade óssea. A projeção adequada para a realização da radiografia deve ser

ventro-dorsal (Feeney & Johnston, 1998).

A pielonefrite, hidronefrose e uropatia obstrutiva podem ser detectadas

pela urografia excretora, sendo uma das últimas alternativas, uma vez que o

contraste, à base de iodo, é nefrotóxico, podendo reduzir a função excretora

renal (Birchard & Sherding, 1998).

A ultra-sonografia pode ser empregada para identificar urólitos,

hidronefrose e nefropatia policística. O rim pode se apresentar diminuído e com

a imagem mais hiperecóica, havendo pouca definição do limite córtico-medular

e contornos renais irregulares (Ettinger & Feldman, 2004).

A realização da hemogasometria é útil para detectar acidose metabólica,

uma vez que a maioria dos animais acometidos podem manifestá-la (Nelson &

Couto, 1998).

Page 10: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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2.5 Tratamento

O objetivo do tratamento da IRC é corrigir ou minimizar os distúrbios

hídrico, eletrolítico, ácido-básico, endócrino e nutricional. É um tratamento

suporte e sintomático (Veado, 2003). O tratamento visa a administração de

calorias não-protéicas adequadas, manutenção do equilíbrio de nitrogênio,

diminuição da azotemia, normalização do pH sangüíneo e do equilíbrio

eletrolítico, o aumento da qualidade de vida (uma vez que o prognóstico é

reservado à desfavorável), estabilização do peso corpóreo; normalização dos

níveis de uréia, creatinina, hemácias e urinálise dentro dos padrões aceitáveis

também são objetivos do tratamento da IRC (Case et al., 1998).

As modificações dietéticas tentam minimizar o acúmulo de compostos

nitrogenados na corrente sangüínea, mantendo uma quantidade adequada de

energia e de proteínas, para manutenção do peso do animal e para minimizar a

degradação muscular, ocasionada tanto pela idade avançada quanto pela

alteração da função renal. Como tratamento, deve-se fornecer calorias ao animal

entre 70 a 110 kcal/kg/dia, o que tende a impedir a quebra de proteínas

endógenas, utilizadas na produção de energia e no aumento de substâncias

nitrogenadas. Além disso, suprir as necessidades calóricas, uma vez que é

reduzida a ingestão protéica. O tratamento dietético minimiza, assim, as

conseqüências clínicas, bioquímicas e fisiológicas da perda da função renal

(Case et al., 1998).

A dieta rica em proteínas conduz à elevação do fluxo sanguíneo renal e,

conseqüentemente, ao aumento da filtração glomerular pós-prandial. A restrição

das proteínas dietéticas reduz estes efeitos e retarda a progressão da enfermidade

renal crônica. Os animais de estimação necessitam de níveis adequados de

proteínas de alta qualidade para minimizar as perdas de reservas protéicas e

satisfazer suas necessidades de manutenção. As recomendações sobre o nível de

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proteínas para animais urêmicos variam entre 1,6 a 2,2 g/kg de peso corporal por

dia. É preciso utilizar fontes de proteínas digestíveis e com elevado valor

biológico, incluindo ovos, produtos lácteos e algumas carnes magras (Case et al.,

1998).

O diazepam pode ser utilizado como estimulante direto do apetite, mas

seu uso é limitado pela sedação que causa nos pacientes, além de apresentar

efeitos satisfatórios, apenas nos felinos, quando utilizado na dose de 0,2mg/kg

por via intravenosa (Veado, 2003).

As necessidades energéticas corporais representam uma prioridade às

necessidades protéicas. A maior proporção de energia nas dietas deve ser

fornecida em forma de calorias não protéicas, minimizando a azotemia do

animal. A maioria dos animais urêmicos apresenta anorexia ou diminuição do

apetite, logo as gorduras melhoram o sabor da dieta e podem estimular a

ingestão de alimentos pelo animal (Ettinger & Feldman, 2004). Como nutrientes

da dieta para pacientes com IRC, são importantes o potássio, as vitaminas

hidrossolúveis e o bicarbonato. A retenção de sódio e a hipertensão sistêmica

representam seqüelas comuns na IRC, portanto é necessária a restrição de sódio

quando isto acontece (Case et al., 1998). Os mesmos autores relatam que a dieta

terapêutica pode ser ração comercial ou alimento preparado em casa, composto

de bife grelhado, ovo cozido, arroz, pão de fôrma e bicarbonato de cálcio.

Como exemplo de rações terapêuticas, tem-se Canine u/d (Hills); Canine

h/d (Hills); Canine k/d e Feline k/d (Hills); NF Kidney Failure Canine Formula e

Feline Formula (Purina); Renal Programme (Royal Canin).

Para o sistema digestório, podem ser fornecidos antagonistas de

receptores H2 do grupo da cimetidina e ranitidina que aliviam a gastrite urêmica

(Veado, 2003). O sucralfato é utilizado como protetor de mucosa, indicado,

principalmente, nos casos de úlcera gástrica e como quelante de fósforo

(Ettinger & Feldman, 2004).

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O antiemético de eleição utilizado na IRC é a metoclopramida (Ettinger

& Feldman, 2004). A utilização de lidocaína gel ou líquida está indicada em

caso de úlceras orais para que o animal consiga se alimentar melhor (Nelson &

Couto, 1998). A suplementação o animal com vitamina C e complexo B pode

ser realizada, pois por serem hidrossolúveis, são eliminados em quantidade pela

urina, devido à poliúria. Além da utilização do complexo B no combate à

anemia do animal, tem-se, como objetivo, estimular o apetite (Ettinger &

Feldman, 2004).

Os quelantes de fósforo devem ser administrados durante as refeições

para cães e gatos quando a normofosfatemia não é atingida em 2 a 4 semanas,

após a implementação de dietas restritas em fósforo. A monitoração da

fosfatemia e da calcemia devem ser feitas no intervalo de 10-14 dias, ocorrendo

assim o ajuste da dosagem dos quelantes (Veado, 2003). O hidróxido de

alumínio ou carbonato de cálcio liga-se ao fosfato no trato gastrointestinal,

impedindo sua absorção, combatendo a hiperfosfatemia e o hiperparatireoidismo

secundário renal (Ettinger & Feldman, 2004).

A suplementação com potássio é indicada para pacientes com o nível

sérico de potássio abaixo de 4mEq/L. A suplementação pode ser feita na

dosagem de 2-6 mEq/animal/dia, podendo ser feita a suplementação oral com

gluconato de potássio (Veado, 2003).

A hipocalemia, pode ser tratada utilizando-se gluconato de potássio

(Ettinger & Feldman, 2004).

O bicarbonato de sódio corrige a acidose metabólica, devendo ser

mantida em concentrações sanguíneas entre 17-22mEq/L e cujas avaliações

devem ser realizadas no período de 10 a 14 dias (Veado, 2003).

A fluidoterapia é extremamente necessária e pode ser feita com ringer

lactato, solução fisiológica, manitol, glicofisiológico, aproximadamente por 2 a

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3 semanas,diariamente, com retornos a cada 2-4 meses para reavaliação do

animal (Ettinger & Feldman, 2004).

Como recurso, para diminuição da hipertensão arterial, tem-se os

inibidores da ECA (enalapril, benazepril), bloqueadores de receptores

adrenérgicos (propanolol, atenolol), bloqueadores de canal de cálcio

(dialtiazem), vasodilatadores arteriolares (hidralazina) e diuréticos (furosemida).

A hipertensão arterial é, comumente, assintomática ou detectada apenas quando

os pacientes apresentam manifestações oculares como a retinopatia hipertensiva

(Veado, 2003).

O uso da eritropoetina recombinante é indicado quando o hematócrito se

encontra abaixo de 30%, nos cães, e 20-25%, nos gatos. O estado de melhora do

paciente ocorre no período de 2 a 8 semanas. O uso da eritropoetina em cães e

gatos pode levar ao desenvolvimento de anticorpos anti-eritropoetina,

convulsões, hipertensão sistêmica, hiperpotassemia e trombocitose. É

recomendada, também, a administração oral de sulfato ferroso antes do uso da

eritropoetina, podendo ocorrer a melhora do quadro anêmico somente com a

suplemetação deste. Quando administrado juntamente com a eritropoetina,

facilita a atividade desta. O sulfato ferroso deve ser utilizado na dose de 50-

100mg/dia para gatos e 100-300mg/dia para cães. A eritropoetina recombinante

é utilizada na seguinte dosagem: 50-150 UI/kg, três vezes por semana, SC, até

que se atinjam os valores de hematócrito de 37-45% para cães e 30-40% para

gatos (Ettinger & Feldman, 2004). Para hematócrito abaixo de 19%, a

transfusão sanguínea está indicada.

Para reduzir os efeitos do hiperparatireoidismo secundário renal, a

vitamina D3 ativa (calcitriol) é administrada, associada a uma restrição dietética

de fósforo. A sua administração deve ser iniciada precocemente, na dosagem de

1,5-6,6mg/kg/dia, por via oral, separadamente das refeições. A terapia com

calcitriol deve ser realizada paralela às avaliações dos valores séricos de

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paratormônio, fósforo e cálcio ionizado (Veado, 2003). A administração da

vitamina D ativa deve ser cautelosa para que não ocorra calcificação de tecidos

moles, quando utilizada acima das doses recomendadas (Ettinger & Feldman,

2004).

O enema pode ser realizado com substâncias específicas para acidificar o

cólon, fazendo com que a uréia não consiga ser reabsorvida e as bactérias que

produzem urease não consigam converter a uréia em amônia (Nelson & Couto,

1998).

Na diálise peritoneal, a filtração do sangue é feita pelo peritôneo, em que

as toxinas se movem do meio mais concentrado para o menos concentrado,

através da administração da solução dialítica específica, na proporção de 400ml

a 2litros, que é drenada após 45-60 minutos (Veterinária Online-Especialidades

Médicas).

Como técnica importante de tratamento da IRC, temos a hemodiálise. As

primeiras aplicações da hemodiálise (HD) em cães foram realizadas nos Estados

Unidos, no início da década de oitenta (Meneses et al., 2002). A hemodiálise é

uma técnica de depuração sanguínea extracorpórea onde solutos (toxinas)

presentes no sangue, são retirados da circulação por um sistema de difusão

através de uma membrana semipermeável. A uréia e creatinina apresentam baixo

peso molecular e podem ser removidas do sangue com certa facilidade

(Guimarães et al., 2002).

Para que seja realizada a hemodiálise, é necessário obter os seguintes

equipamentos e materiais: máquina de hemodiálise; estação de tratamento de

água para obtenção de água ultrapura; membrana semipermeável (dialisador);

circuitos de sangue; soluções concentradas para constituição de dialisado;

anticoagulantes e cateteres. A máquina de hemodiálise apresenta um sistema

mecânico, responsável pela circulação do sangue e do dialisado, e um sistema

Page 15: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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eletrônico que monitora a pressão, a temperatura, o pH, a coagulação e outros

(Veado, 2003).

O dialisador é um rim artificial que permite o contato íntimo do plasma

com o dialisado (substituto do plasma), permitindo a troca entre os meios plasma

e dialisado, eliminando impurezas contidas no plasma. O dialisador é uma

estrutura composta de dezenas de tubos ocos por onde passa o sangue,

constituídos de membranas semipermeáveis. Por fora dos tubos, passa o

dialisado de constituição semelhante ao do plasma normal. Ao longo do

processo, o dialisado, em contato com a membrana semipermeável, passa para o

sangue e o plasma passa para o lado dialisado. Por se tratar de uma membrana

seletiva, são capazes de passar pela membrana semipermeável do dialisador

somente solvente e soluto de baixo peso molecular existentes no plasma. É uma

técnica que reduz cerca de 60% de compostos nitrogenados ao final de 2 a 4

horas de sessão. Além dos compostos nitrogenados, remove o potássio, alguns

aminoácidos, vitamina B12, vários minerais e outros (Veado, 2003).

A hemodiálise é utilizada no tratamento da uremia grave, nos casos de

insuficiência renal aguda e crônica, além de envenenamentos agudos,

intoxicações e hipervolemia. Para que este procedimento ocorra é necessário que

exista um monitor de HD, responsável pela circulação do sangue e do dialisado,

que é formulado com concentrações fisiológicas de sódio para diminuir os sinais

de desequilíbrio osmótico e hipotensão. As variações do controle dos gradientes

osmóticos têm como objetivo ajustar as alterações hemodinâmicas nos animais

em tratamento hemodialítico (Meneses et al., 2002).

A heparina é utilizada durante a hemodiálise para prevenir a coagulação

e a adesão plaquetária no dialisador e circuito extracorpóreo, evitando a redução

da área de superfície para diálise e a perda de sangue durante o tratamento. A

dose de heparina varia de 50 a 100 U/Kg via intravenosa, mantendo-se em

infusão constante na dose de 200 a 1200 U/h (Meneses et al., 2002).

Page 16: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

16

Após uma sessão de hemodiálise o animal deve ser reavaliado por

exames complementares (hemograma, uréia, creatinina e potássio séricos) para a

avaliação da necessidade de hemodiálises suplementares (Veado, 2003). Após as

sessões necessárias de hemodiálise, o animal é mantido com ração terapêutica e

acupuntura (Veterinária Online). A hemodiálise será indicada quando a uréia se

encontrar acima de 90 mg/dl e a creatinina estiver acima de 8 mg/dl (Ettinger &

Feldman, 2004). A hemodiálise não provoca a cura de doenças, mas contribui

para a melhora de várias enfermidades. Deve ser considerada uma opção de

tratamento adjuvante, mas que deve ser associada a terapêuticas convencionais

(Veado, 2003).

A acupuntura é uma técnica milenar que pode ser indicada no tratamento

da IRC, sendo responsável pela cura energética que se faz do meio interior para

o exterior. Os órgãos e as vísceras se relacionam com diversos meridianos que

percorrem o corpo, por onde a energia flui. Nos meridianos encontram-se os

pontos de acupuntura que são estimulados para aumentar a energia renal,

melhorando sua função (Draehmpaehl & Zohmann, 1997).

Outra opção terapêutica é o transplante renal que foi realizado em 1984,

primeiramente, em paciente felino. O animal é indicado ao transplante renal

quando já perdeu mais de 20% de seu peso corporal e apresenta insuficiência

renal descompensada, precocemente. Além disso, o paciente não pode

demonstrar alterações cardíacas. Após o transplante renal, o animal deve ser

mantido sob terapia imunossupressora (Ettinger & Feldman, 2004).

Page 17: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

17

3 MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Para compreender as concepções antigas da medicina oriental, é

importante que se conheça o Taoísmo, cujo pai espiritual fora Lao Tzu (séc.VI

a.C.), fundador da filosofia do naturalismo. O taoísmo, conceito comum a todos

os chineses, significa o método de manter a harmonia entre este mundo e o além,

moldando a conduta terrena para corresponder às exigências do outro mundo

(Dr. Eu Won Lee).

O Tao significa o interior do homem orientado para algo, o interior do

homem como sede da consciência, da percepção, do pensar e do refletir. O Tao é

anterior ao próprio Deus, é caminho, direção, razão, falar, conduzir, sendo o

supremo regulador do Universo. Está em um nível distinto de tudo e pertence ao

mundo dos fenômenos, sendo imutável e em eterna circulação, quanto mais se

quiser defini-lo, tanto mais distante se fica dele (Joaquim, 2004)*.

Para alcançar o Tão, é necessário estar livre das ambições ilusórias, do

ego, não se apegar a nada, fazer para as pessoas o que gostariam que fizéssemos

para elas, ser corajoso, generoso e guiar aqueles que estão preparados (Luna,

2004)*.

No Taoísmo, a humilhação não é sofrimento, nem é inevitável, os

antagonismos são elos de igual importância num ciclo de movimento eterno. No

cristianismo, a auto-humilhação é o caminho para a elevação e bem aventurança

(Dr. Eu Won Lee).

_____________________________

* Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

* Luna, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 18: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

18

A medicina tradicional chinesa observa o paciente como um todo, a

mente, o pulso, língua e pontos diagnósticos (Dr. Eu Won Lee).

A saúde pode ser definida como um estado de harmonia entre o corpo e

os seus ambientes interno e externo. A doença se origina quando há um

desequilíbrio dentro do ambiente interno ou entre o ambiente interno ou externo

(Luna, 2004)*.

O doutor da medicina ocidental é treinado para detectar doenças

específicas ou desordens no paciente, para acessar onde o corpo está com mau

funcionamento e reparar ou substituir a parte danificada. O prático da medicina

tradicional chinesa se esforça para ver o paciente e a doença em termos de sua

relação entre cada um, auxiliando o corpo no seu retorno ao estado de equilíbrio

(Luna, 2004)*.

_____________________________

* Luna, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 19: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

19

3.1 Teoria Yin-Yang

O conceito de Yin-Yang é provavelmente o mais importante da medicina

chinesa (Figura 3), sendo um conceito extremamente simples, ainda que

profundo (Maciocia, 1996).

FIGURA 3. Ilustração Yin / Yang.

A mais antiga origem do fenômeno Yin-Yang deve ter se originado da

observação de camponeses sobre a alternância cíclica entre o dia e a noite. O dia

correspondendo ao Yang e a noite ao Yin, assim como a atividade refere-se ao

Yang e o descanso ao Yin (Maciocia, 1996).

Cada fenômeno no universo se alterna por meio de um movimento

cíclico de altos e baixos, e a alternância do Yin e Yang é a força motriz desta

mudança e desenvolvimento. Nada é totalmente Yin ou totalmente Yang. Yang

transforma-se em Yin e vice-versa. Yang contém a semente do Yin e vice –

versa. Tudo pertence somente ao Yin ou Yang em relação a algo mais. Embora

tudo contenha Yin e Yang, nunca haverá uma proporção estatística de 50/50,

mas sim um equilíbrio dinâmico e variável (Maciocia, 1996).

Page 20: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

20

A harmonia entre o Yang e o Yin do universo é chamada Tao. A teoria

do Yin-Yang é derivada de observações antigas da natureza, o balanço e o

equilíbrio é mantido pelo antagonismo mútuo, bem como a dependência mútua

de forças opostas. O Yin existe por virtude do Yang e o Yang existe por virtude

do Yin. Yin está relacionado aos fluidos do corpo e Yang está relacionado ao

metabolismo do corpo (Dr. Eu Won Lee) (Quadro 1 e 2).

Os órgãos do corpo são divididos em seis órgãos Yin (órgãos sólidos do

corpo) e seis órgãos Yang (órgãos ocos do corpo), referindo-se como órgãos

Zang Fu. Os órgãos Yang são aqueles que contêm musculatura lisa, servindo

para absorver nutrientes e eliminar produtos tóxicos. Os órgãos Yin processam

as substâncias nutritivas absorvidas e armazenam os produtos metabólicos (Dr.

Eu Won Lee). Conforme Ross (1994), o Yang tem a função de ativar,

movimentar e aquecer todos os processos do corpo.

Existem quatro estados possíveis de desequilíbrio entre o Yin e Yang.

Quando o Yin for preponderante, provocará diminuição do Yang e quando Yang

for preponderante provocará o consumo de Yin. Quando o Yin estiver

debilitado, o Yang aparentará excesso e quando o Yang estiver debilitado, o Yin

aparentará excesso. Em caso de excesso deve-se eliminá-lo (Yin ou Yang) e, em

caso de deficiência, deve-se tonificar Yin ou Yang conforme a deficiência de um

ou outro (Maciocia, 1996).

Page 21: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

21

QUADRO 1. Exemplos de Yin e Yang

Yin Yang Yin Yang

Água Fogo Água Vapor

Gelo Água Frio Quente

Sólido Gás Fêmea Macho

Passivo Ativo Material Não material

Devagar Rápido Escuro Claro

Noite Dia Inverno Verão

Lua Sol Para baixo Para cima

Precipitação Evaporação Interior Exterior

Abaixo do punho Acima do punho Ventral Dorsal

Medial Lateral Inibição Excitação

Relaxamento Contração Parassimpático Simpático

Hipo (deficiência) Hiper (excesso) Crônico Agudo

Feminino Masculino Inconsciente Consciente

Mãe Pai Sentimento Compreensão

Terra Céu Intuição Lógica

Sonhar Despertar Eu (interior) Eu (ego)

Corpo Espírito Emoção Razão

Conteúdo Forma Prática Teoria

Ser Ter Invisível Visível

Sociável Isolado Segue os costumes Considera as novidades

Economiza energia Gasta energia Repouso Movimento

Lado direito Lado esquerdo Endorfina Epinefrina

Sonolência Insônia Tendência à obesidade Emagrecimento

Congestão Inflamação Pessimismo Otimismo

Olhar apagado Olhar brilhante Timidez Desembaraço

Corpo Cabeça Função dos Órgãos Estrutura dos Órgãos

Abaixo da cintura Acima da cintura Face pálida Rubor facial

Voz fraca Voz alta Fala pouco Fala muito

Ausência de sede Sede Respiração lenta Dispnéia

Page 22: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

22

QUADRO 2. Órgãos Yin e Yang

Órgãos Yang Órgãos Yin

Estômago Baço-Pâncreas

Intestino Delgado Coração

Intestino Grosso Pulmão

Vesícula Biliar Fígado

Bexiga Rim

Triplo Aquecedor Pericárdio ou Circulação Sexo

3.2 Conceito de QI

Energia é o estado constante de fluxo em estados variáveis de agregação,

variando em sua forma de acordo com a localização e função. Qi (Chi) é a força

vital ou energia da vida que ativa e mantém o processo da vida, é a matéria que

está à beira de se tornar energia, é a energia a beira de se tornar matéria, sendo

necessária para digerir o alimento, mas o próprio alimento cria Qi. O mesmo é

responsável pelo movimento e o movimento produz Qi. Esta energia é derivada

do nosso ambiente através dos processos de nutrição e respiração e constitui a

defesa externa do organismo. Qi é a fonte de todo o movimento do corpo e está

em todas as partes ao mesmo tempo, fluindo nos órgãos, músculos e articulações

em movimentos primários, como: subir, descer, entrar e sair. Quando este

movimento pára, a vida cessa. A vida é a condensação e a morte é a dispersão de

Qi. O Qi do baço transforma alimento em energia, o Qi do pulmão transforma ar

em oxigênio e o Qi do tórax transforma Qi do alimento em sangue. O Qi retém

os órgãos em seu local, prevenindo hérnias e prolapsos, mantém o sangue nos

vasos e previne hemorragia, previne a excessiva perda de fluido através da

incontinência e controla a temperatura corporal . Há tipos diferentes de Qi,

dependendo de sua localização e função no corpo. O Qi original (Jing) é

armazenado pelos rins, é aquele com o qual se nasce, é limitado a certa

Page 23: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

23

quantidade, sendo gasta através da vida com doenças, drogas, excesso de

trabalho, excesso de sexo e álcool. O Qi do peito regula os batimentos cardíacos

e a respiração. O Qi localizado abaixo da pele e superficialmente aos músculos

confere resistência às doenças, sendo conhecido por Wei Qi (Luna, 2004)*.

Há tipos diferentes de Qi, dependendo de sua localização e função no

corpo. O Qi original (Jing) é armazenado pelos rins, é aquele com o qual se

nasce, é limitado a certa quantidade, sendo gasta através da vida com doenças,

drogas, excesso de trabalho, excesso de sexo e álcool. O Qi do peito regula os

batimentos cardíacos e a respiração. O Qi localizado abaixo da pele e

superficialmente aos músculos confere resistência às doenças, sendo conhecido

por Wei Qi (Luna, 2004)*.

O Jing é uma substância preciosa que deve ser cuidada e poupada.

Controla o crescimento, o desenvolvimento e a reprodução. O Qi original (Jing)

dissipa-se nos sistemas internos e meridianos (Maciocia, 1996).

_____________________________

* Luna, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 24: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

24

Quando houver deficiência de Yuan Chi (Jing) o prognóstico será

desfavorável. O Jing pré -celestial é nutrido pelo Jing pós-celestial extraído de

alimentos, fluidos e ar, pelo estômago, baço e pulmões. O Gu Qi é a energia

proveniente dos alimentos que serão transportados pelo estômago e

transformados pelo baço (Luna, 2004)*. O Zong Qi (Qi torácico) é a energia

proveniente do ar que respiramos, juntamente com o Gu Qi. Nutre o coração e o

pulmão, mantém a função do pulmão, controla a fala e a força da voz, promove a

circulação sangüínea para as extremidades, principalmente para as mãos, e

torna-se afetado pelas emoções (Maciocia, 1996).

O Ying Qi (Qi nutritivo) nutre os sistemas internos, está relacionado com

o sangue (Xue) e flui com este para os vasos sangüíneos e meridianos, sendo o

Qi que é ativado em qualquer acuponto (Maciocia, 1996). O Wei Qi (Qi

nutritivo) nutre e hidrata a pele e músculos, regula a sudorese e temperatura,

protege o exterior, sendo controlado pelo pulmão. Flui para todas as camadas

externas do corpo. É Yang em relação ao Qi nutritivo (Luna, 2004)*.

O Zhen Qi (Qi verdadeiro) é o estágio final do processo de refinamento e

transformação do Qi, sendo o Qi que circula nos meridianos e nutre os sistemas.

O Qi verdadeiro assume duas formas: Qi nutritivo (Ying Qi) e o Qi defensivo

(Wei Qi) (Maciocia, 1996).

_____________________________

* Luna, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 25: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

25

Os conceitos modernos poderiam traduzir os seguintes termos chineses:

Yuan Chi, predisposição genética; Gu Chi, oxigênio atmosférico inalado e

nutrientes provenientes da comida e água; Zheng Qi, ATP- energia celular; Zong

Qi, a natureza contrátil e rítmica do tecido cardíaco; Wei Qi, sistema

imunolinfático; Ying Qi, carboidratos, aminoácidos, minerais, vitaminas, água,

sangue oxigenado (Joaquim, 2004)*.

Jing-luo Qi é a energia que percorre nos meridianos e Zang fu Qi é a

energia dos órgãos e vísceras. Cada um dos órgãos internos tem seu próprio Qi,

sendo a base de suas atividades e funções fisiológicas (Luna, 2004)*. Segue

abaixo o quadro sobre os diferentes tipos de Qi (Quadro 3)

QUADRO 3. Diferentes tipos de Qi e seus conceitos.

_____________________________

* Luna, S. P. L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

* Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Tipos de Qi Conceito Gu Qi Energia proveniente dos alimentos

Zong Qi Energia proveniente do ar que respiramos, juntamente com o Gu Qi Yuan Qi Energia armazenada pelos rins Zhen Qi Energia que circula nos meridianos e nutre os Sistemas Wei Qi Energia defensiva Ying Qi Energia que nutre os Sistemas Internos

Jing – luo Qi Energia que percorre os meridianos Zang Fu Qi Energia dos órgãos e vísceras

Page 26: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

26

Segue abaixo o esquema ilustrativo dos tipos de Qi (Figura 4):

FIGURA 4. Tipos de Qi (Luna, 2004)*

3.3 Teoria dos meridianos

Os meridianos formam um sistema ordenado de linhas imaginárias que

cobre o corpo inteiro como uma rede, permitindo a comunicação entre os órgãos.

Os meridianos não são visíveis fisicamente, mas sua existência e distribuição

pelo corpo já foram demonstradas por mensuração de potenciais neuroelétricos.

Eles formam a base da acupuntura, unificando todas as partes do organismo,

conectando os órgãos internos com o corpo externo e mantendo a harmonia e o

equilíbrio. Os meridianos permitem obter os indícios da etiologia de doenças,

observar o ciclo de uma doença e controlar as funções dos sistemas do

organismo Existem 12 meridianos regulares, cada um correspondendo a um dos

12 órgãos Zang Fu. Juntamente, há 8 meridianos extras em que 2 são

considerados principais (Vaso governador e Vaso concepção), totalizando 14

Pulmão

Ar

Gu Qi

Baço

Zong Qi Zhen Qi Wei Qi

Yuan Qi

Zang Fu Qi

Ying Qi Jing-luo Qi

Page 27: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

27

meridianos principais, utilizados na acupuntura contemporânea (Draehmpaehl &

Zohmann, 1997).

3.4 Pontos de Acupuntura

Além dos chineses, outros povos faziam uso da acupuntura,

contemporaneamente. Mas a China foi quem atribuiu significados filosóficos

profundos a acupuntura, classificando os pontos, descrevendo os meridianos e

desenvolvendo as leis da acupuntura a partir de séculos de observações

meticulosas. A acupuntura já ocorria desde a Idade da Pedra, em que

instrumentos de pedra eram utilizados para aliviar a dor e tratar doenças.

Posteriormente, as pedras foram substituídas por osso e bambu. Nos séculos 16 a

11, a.C., houve o desenvolvimento de agulhas de bronze, mas a inovação em

acupuntura ocorreu com o surgimento das agulhas de metal, de modo que a

condutividade elétrica levasse ao estudo dos meridianos e, conseqüentemente, à

classificação dos pontos de acupuntura (Joaquim, 2004)*.

Uma lenda relata que a acupuntura veterinária surgiu quando cavalos

mancos tornaram-se sãos depois de serem atingidos por flechas em diferentes

pontos. Há evidência de que veterinários já praticavam acupuntura ao redor de

3000-2000 anos a.C. A acupuntura foi difundida pelo Ocidente, no início do

século XVII, pelos jesuítas e viajantes do extremo oriente (Joaquim, 2004)*.

______________________________ * Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 28: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

28

O termo acupuntura provém das palavras em latim: acus, significando

“agulha”, e pungere, significando “perfurar”. É a técnica de perfurar a pele com

agulhas num local pré-determinado, chamado acuponto, para prevenir ou tratar

doenças. Os pontos de acupuntura (acupontos) encontram-se nos meridianos e

variam em tamanho entre 1 a 25 mm, podendo ser localizados pela sua

condutividade elétrica que difere daquela de tecidos circunjacentes. Os pontos

podem se apresentar sensíveis a palpação quando houver desequilíbrio entre Yin

e Yang: deficiência e excesso de Yin ou Yang (Diniz, 2004)*.

A acupuntura clássica reconhece 365 pontos na superfície dos

meridianos. Entretanto, na prática, há um repertório típico de somente 150

pontos. Cada acuponto tem uma função definida ou específica. Um tratamento

pode envolver um ou até 20 pontos, sendo o mais comum o uso de diversos

pontos, tratados simultaneamente (Diniz, 2004)*.

__________________________ * Diniz, E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 29: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

29

3.5 Os Cinco Movimentos

No início do desenvolvimento da medicina chinesa, a teoria dos cinco

movimentos foi utilizada para explicar os processos fisiológicos e patológicos do

corpo. Tudo no universo é o produto do movimento e mudança de cinco

elementos básicos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Estes elementos são, na

verdade, conceitos e não matéria (Diniz, 2004)*.

A Madeira produz o Fogo. O Fogo produz cinzas que se encorporam à

Terra. Da Terra recebemos a rocha, de onde obteremos o Metal. O Metal

fundido origina o vapor, produzindo a Água. A vegetação necessita de Água ou

umidade para crescer, produzindo a Madeira. Um movimento produz o próximo

(Diniz, 2004)*. Cada um dos cinco movimentos representa uma estação do ano.

A Madeira corresponde à primavera, o Fogo ao verão, o Metal corresponde ao

outono, a Água ao inverno e a Terra corresponde à estação anterior. A Terra é o

centro, o termo neutro de referência ao redor do qual as estações giram. A Terra

corresponde aos 18 últimos dias de cada estação, ou seja, corresponde ao estágio

anterior de cada estação (Maciocia, 1996).

_______________________________ * Diniz, E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 30: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

30

Cada movimento corresponde a um órgão e uma víscera. Madeira

corresponde ao fígado e vesícula biliar; Fogo corresponde ao coração e intestino

delgado; Terra corresponde ao estômago e baço/pâncreas; Metal corresponde ao

pulmão e intestino grosso; Água corresponde ao rim e bexiga. Tudo na natureza

que é criado pode ser destruído para manter o equilíbrio das coisas, de modo que

nada poderá se tornar extremamente poderoso e causar danos. A Madeira destrói

a Terra com suas raízes e suas folhas que cobrem o solo. A Terra represa a Água

ou a absorve. A Água destrói o Fogo. O Fogo derrete o Metal e o Metal destrói a

Madeira, cortando-a (Okamoto, 2004)*.

Baseando-se nos conceitos citados acima, o rim (Shen) é a mãe do fígado

(Gan) e controla o coração (Xin). O Yin do rim nutre o sangue (Xue) do fígado

(Maciocia, 1996)

Fatores patogênicos externos (vento, frio, calor, secura, fogo, umidade);

fatores patogênicos interiores, como os sete sentimentos vivenciados por longo

tempo: ira, tristeza, alegria, preocupação, abstração, medo e choque; outros

fatores, como: excesso de atividade física e sexual, excesso de trabalho, drogas e

álcool, distúrbios hereditários e congênitos, idade avançada, verminoses e

doenças parasitárias; são responsáveis pelo aparecimento de doenças (Eiko,

2004)*.

_______________________________ * Okamoto, C. E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

* Eiko, L. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ – UNESP

– Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 31: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

31

Como exemplo, na insuficiência renal crônica, há uma deficiência do rim

(movimento Água) que será tratada através da tonificação do ponto Metal no

meridiano do rim (R7), sendo necessário, também, sedar o ponto Terra (R3)

(Diniz, 2004)*.

Segue abaixo o diagrama dos cinco movimentos, com ciclo de geração e

de destruição (Figura 5).

FIGURA 5. Cinco movimentos, ciclo da geração e da destruição (Ettinger & Feldman, 2004).

_______________________________ * Diniz, E. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 32: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

32

3.6 Teoria das Substâncias Vitais: Qi, Xue, Jing, Jin Ye

Qi é o campo eletromagnético encontrado em todas as substâncias,

podendo ser imaterial conforme a frequência da onda que o gera (raios

luminosos) ou formar partículas, flui pelos vasos sanguíneos, linfáticos e nervos.

É o produto da degradação e absorção dos alimentos e do ar, caracterizando-se

por ser de natureza Yang (Joaquim, 2004)*.

Qi é a base de todos os fenômenos no universo e proporciona uma

continuidade entre as formas material e firme, e as energias tênues, rarefeitas e

imateriais. De acordo com os filósofos antigos, vida e morte correspondem a

uma agregação e dispersão de Qi (Maciocia, 1996).

“...Assim como a água se transforma em gelo, o Qi coagula-se para

formar o organismo humano. Quando o gelo derrete, torna-se água. Quando uma

pessoa morre, torna-se espírito (Shen) novamente...” (Maciocia, 1996).

O Qi original (Jing) é responsável por nutrir o Rim (Maciocia, 1996).

Xue significa sangue e Qi torna-se responsável por proporcionar vida ao

sangue para que este não seja um fluido inerte. O sangue deriva em sua maior

parte do Qi dos alimentos produzido pelo baço que o envia em ascendência para

o pulmão, e através da ação impulsora do Qi do pulmão, este é enviado para o

coração, onde é transformado em sangue. O fígado armazena sangue e o baço o

controla. Quando comparado a Qi, é de natureza Yin. Xue não permite que os

tecidos corpóreos sequem (Joaquim, 2004)*.

______________________________ * Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 33: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

33

Jing é um tipo de Qi armazenado pelos rins, responsável pelo

crescimento, desenvolvimento e reprodução do indivíduo. É distribuído entre os

sistemas internos e meridianos. Limita-se a certa quantidade, sendo gasta através

da vida com doenças, drogas, excesso de trabalho, excesso de sexo e álcool

(Joaquim, 2004)*.

Jin Ye corresponde aos líquidos corporais, todos os fluidos

fisiológicos que podem ser secretados pelo sistema Zang (suor, lágrimas, saliva,

muco nasal, fluidos do intestino grosso e delgado, estômago e fluidos que

umedecem tecidos como o cérebro, boca, olhos, pele, músculos, tendões, medula

e ossos), sendo de natureza Yin. É o reflexo da vitalidade e da quantidade de Qi

presente e absorvida dos alimentos (Joaquim, 2004)*.

______________________________ * Joaquim, J.G.F. (Curso de Especialização de Acupuntura Veterinária, FMVZ –

UNESP – Campus de Botucatu). Comunicação pessoal, 2004.

Page 34: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

34

4 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA NA MEDICINA

TRADICIONAL CHINESA

O rim (Shen) é referido como raiz da vida ou raiz do Qi pré-celestial,

pois armazena o Jing (Essência), derivado, dos pais, no momento da concepção,

como citado, anteriormente. Como todo órgão, o rim também apresenta um

aspecto Yin e outro aspecto Yang e contém todo o Yin e Yang dos demais

sistemas. O Yin do rim é a base do Yin do fígado (Gan), coração (Xin) e pulmão

(Fei), sendo responsável pelo nascimento, crescimento e reprodução. O Yang do

rim é a base do Yang do baço (Pi), coração (Xin) e pulmão (Fei), sendo a força

principal dos processos fisiológicos. Na saúde, o Yin e Yang formam um todo,

mas na patologia, ocorre a separação do Yin e Yang (Martins, 2003).

O rim (Shen) controla a transformação da água, de maneira que os

fluidos impuros fluem em descendência e o Qi puro flui em ascendência para o

pulmão (Fei). Assim, o funcionamento fisiológico normal dos sistemas depende

da direção correta do Qi. Shen vaporiza alguns fluidos e os envia ao pulmão,

além de proporcionar o calor necessário ao baço para a transformação de Jin Ye.

A deficiência de Yang do Shen resulta na deficiência de Pi, com conseqüente

acúmulo de fluidos. Auxilia o intestino delgado na separação dos fluidos

corpóreos em partes puras e impuras (Maciocia, 1996).

Segundo Maciocia (1996), o rim (Shen) transforma e excreta os fluidos

corpóreos (Jin Ye) produzidos pelo estômago (Wei). Se o rim não puder

eliminar os fluidos corpóreos, corretamente, estes irão estagnar e afetar o Wei ou

a falta de Jin Ye no Wei pode levar a deficiência do rim (Shen). A deficiência do

Yin do rim induz a uma deficiência do Yin do fígado e do Yin do coração, e a

deficiência do Yang do rim induz a uma deficiência do Yang do baço e do Qi do

pulmão.

Page 35: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

35

Por formarem um todo (Yin/Yang), a deficiência de um implica na

deficiência do outro, sendo necessária a tonificação de ambos para que não

ocorra a exaustão. O Qi original inclui o Yin original (Yuan Yin) e o Yang

original (Yuan Yang), sendo o princípio de todo o Yin e Yang do organismo,

que desperta e movimenta a atividade funcional de todos os sistemas, circulando

pelos meridianos em todo o organismo. O fornecimento de calor para todas as

atividades funcionais do organismo é feito pelo Portão da Vitalidade (Ming

Men) que localiza-se entre os dois rins, abaixo da cicatriz umbilical, na região

dorso-lombar, sendo Fonte do Fogo para todos os sistemas internos (Martins,

2003).

A mesma autora relata que tanto o Portão da Vitalidade quanto o Qi

original estão relacionados ao rim e são interdependentes. O Qi original auxilia

na elaboração de Xue e depende do calor para seu desempenho que é fornecido

pelo Ming Men. Logo, se o Fogo do Portão for deficiente, o Qi original sofrerá e

levará a uma deficiência de Qi e Xue. A atividade funcional de todos os sistemas

será afetada, resultando em cansaço, depressão mental, sensação de frio,

negatividade e falta de vitalidade. O Ming Men aquece o Aquecedor Inferior e a

bexiga (PangGuang). O Aquecedor Inferior transforma e excreta os fluidos

corpóreos (Jing Ye) com o auxílio da bexiga, sendo o calor do Ming Men

essencial para a transformação de Jin Ye no Aquecedor Inferior. Se não houver

calor suficiente para a transformação dos fluidos corpóreos, este se acumulará

levando ao aparecimento de edema e umidade. O calor também é essencial para

o baço (Pi) para exercer sua função de transportar, separar e transformar,

requerendo o calor fornecido pelo Ming Men. Sem este calor, o baço (Pi) não

poderá transformar e o estômago (Wei) não poderá digerir os alimentos, levando

ao aparecimento de diarréia, cansaço e sensação de frio, incluindo os membros.

O desempenho sexual, a fertilidade e a puberdade dependem do Fogo do Ming

Page 36: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

36

Men que, mais uma vez, é responsável pela harmonia da função sexual e pelo

aquecimento da essência e do útero (Martins, 2003).

O Portão da Vitalidade também auxilia o Shen à recepção do Qi e a

comunicação do rim com o coração, fornecendo calor necessário para que este

exerça todas as suas atividades. A função de receber o Qi depende do Yang do

Shen, necessitando de uma comunicação entre o Qi torácico e o Qi original do

Aquecedor Inferior que depende do calor do Ming Men para exercer sua

atividade. Se este calor for deficiente, a habilidade do rim em receber o Qi

também será afetada, levando ao quadro de dispnéia, asma e membros frios

(Martins, 2003).

5 MEDICINA OCIDENTAL VERSUS MEDICINA TRADICIONAL

CHINESA (MTC)

A deficiência de Yang do rim resulta no aquecimento insuficiente,

promovendo a sensação de frio no corpo, fraqueza dos movimentos e

manifestação do pulso profundo, fraco e lento. A deficiência da circulação de Qi

e de Xue para a face e para a língua leva à manifestação de mucosas pálidas e

língua mole e fraca, além da necrose da ponta da língua que ocorre em pacientes

urêmicos com insuficiência renal crônica (Ross, 1994).

A deficiência do rim interfere na produção e circulação de Xue, uma vez

que o Yuan Qi é a força motriz para a produção de Xue, logo se o sangue (Xue)

do coração (Xin) é deficiente, a circulação de sangue torna-se escassa (Maciocia,

1996).

Segundo Zhufan & Jiazhen (1997), a deficiência de Yang do rim leva à

dor lombar e dos membros posteriores, sendo medicados para lombalgia com

antiinflamatórios não esteróides, o que agrava ainda mais o quadro e a isquemia

renal (Martins, 2003).

Page 37: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

37

A deficiência de Yang do rim pode levar à deficiência de Jing, ocorrendo

sensação de frio na região lombar e joelhos, distúrbios da reprodução e

auditivos, ósseos e dentários, não sendo rara a ocorrência de cálculos dentários

em animais senis e portadores de insuficiência renal crônica, pois os ossos e,

conseqüentemente, os dentes são controlados pelo rim. Os rins conservam a

força de vontade e se estes estiverem enfraquecidos, principalmente a energia

Yang, o animal poderá apresentar apatia e debilidade das atividades,

incapacidade de conter a urina, levando à poliúria ou até mesmo à incontinência

urinária (Ross, 1994).

Durante a ingestão de alimentos, estes atingem o estômago, sendo o

baço/pâncreas responsável por absorver a essência dos fluidos, separando o puro

do impuro. Em seguida o baço transporta a parte limpa do Qi do fluido para o

pulmão, enquanto os fluidos e sólidos impuros passam para o intestino delgado

(Xiao Chang) com o Qi do estômago. Os fluidos limpos, no pulmão, são

enviados ao rim. A porção impura proveniente da transformação do Qi do

pulmão é carregada através do Triplo Aquecedor (San Jiao) para a bexiga. Do

intestino delgado, o remanescente sólido, quase totalmente utilizado, dirige-se ao

intestino grosso (Da Chang) para a extração final dos fluidos. Os fluidos

impuros rejeitados pelo Xiao Chang passam para a bexiga através do Triplo

Aquecedor para a última transformação do Qi, devido à virtude vaporizante do

Qi original do rim (Yuan Qi). Os fluidos remanescentes são expulsos na forma

de urina (Martins, 2003).

Baseando-se nas citações acima, a poliúria pode ser explicada pela

incapacidade do Qi original em promover a transformação do Qi dos fluidos da

bexiga, ocorrendo acúmulo na bexiga dos fluidos provenientes do Qi reutilizável

e os rins debilitados são incapazes de manter a consolidação e a urina se torna

profusa, uma vez que os rins controlam os orifícios inferiores. Pode ocorrer

oligúria e edema se houver uma deficiência de Yang do rim e baço/pâncreas,

Page 38: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

38

levando à falência das funções de transformação e transporte do Jin Ye. Além

disso, a deficiência de Yang do baço também pode levar à falta de apetite e

apresentação de fezes soltas, deficiência de Qi e de Xue, resultando na má

nutrição dos músculos e, conseqüentemente debilidade do corpo, pulso fraco e

língua pálida (Martins, 2003).

Toda manifestação patológica do Shen se manifesta como uma

deficiência de Yin ou do Yang do Shen. A deficiência de uma parte (Yin ou

Yang) implicará em um nível menor da outra parte (Yang ou Yin) (Maciocia,

1996).

A deficiência de Qi do rim é diagnosticada pelo aumento sérico de

compostos nitrogenados (Martins, 2003).

Na MTC, a presença de proteína na urina é vista como perda da essência

do rim se este estiver debilitado, levando ao quadro de proteinúria (Maciocia,

1996).

Os sinais clínicos de anemia como palidez das mucosas, fadiga, letargia

e anorexia são típicos da deficiência de sangue (Xue), além do aspecto da

pelagem descuidada e sem brilho (Zhufan & Jiazhen, 1997).

Os pêlos são governados pelo rim e para que a pelagem se mantenha

saudável é necessário que se mantenha uma reserva suficiente de Jing e de Xue,

se estes se encontrarem deficientes a pelagem poderá se apresentar de cor opaca,

seca e esbranquiçada (Ross, 1994).

Há duas formas importantes na manutenção de Xue, sendo que uma

delas consiste na transformação do Qi dos alimentos em sangue ser auxiliada

pelo Qi original. A outra forma de manter o Xue é que o rim armazena o Jing

que gera a medula óssea que por sua vez contribui na geração do sangue, sendo

uma interação entre o Qi pós-celestial e o Qi pré-celestial (Ross, 1994).

Page 39: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

39

Segundo Ross (1994), rim (Shen) e o estômago (Wei) podem ter padrões

tanto de deficiência de Yin como de Yang, mas o fígado (Gan) tende a

apresentar deficiência de Yin e o baço/pâncreas tende a Yang deficiente.

Pelo fato do rim ser a fonte de todo o Yin e Yang de todo o Sistema

Zang Fu, na IRC, em que ocorre deficiência de Yin e Yang do rim, ocorre

deficiência de Yang do baço/pâncreas e deficiência de Yin do fígado, decorrente

da deficiência do rim (Martins, 2003).

A hipertensão arterial comum na IRC, pode ser explicada pela

deficiência de Yin ou Yang do rim. Se houver deficiência de Yang, a água se

acumula, o Yang não se move, os vasos sanguíneos não relaxam, o sangue não

flui devidamente, gerando hipertensão. Se a deficiência for de Yin do rim,

haverá falha na nutrição do Yin do Gan, ocasionando hiperatividade do Yang do

Gan, gerando elevação da pressão sanguínea (Maciocia, 1996).

Entretanto se o quadro de deficiência for agravado, tem-se o colapso de

Yin e Yang, ocorrendo a separação completa de Yin e Yang, em que o Yang

sobe para o Triplo Aquecedor Superior e o Yin desce para o Triplo Aquecedor

Inferior. Este é um quadro grave que justifica sinais clínicos como estupor, coma

ou convulsões decorrentes da uremia. A perda excessiva de Jin Ye, comum na

IRC, em que há o comprometimento de todo o metabolismo dos fluidos, pode

levar ao colapso de Yin e o colapso de Yin ou Yang podendo ainda, transformar-

se um no outro, rapidamente (Ross, 1994).

5.1 Tratamento da IRC na Acupuntura

O tratamento deve ser baseado na deficiência de Jing (Essência), Qi, Yin

e Yang do Shen. O princípio do tratamento é nutrir o Yin do rim (Shen)

(Martins, 2003).

Page 40: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

40

Pontos de Acupuntura (PA) para a síndrome da deficiência do Yin do

rim, segundo Martins (2003):

-R3 (Taixi): Ponto fonte do rim, fortalece Yin dos rins (Martins, 2003).

Além de ter indicações para dores locais, inchaços e inflamações do jarrete,

cistite, faringite, problemas funcionais de ciclo, esterilidade, problemas de

micção e impotência coeundi. Agulhar cerca de 2 a 5 mm, de acordo com a raça

(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 6).

FIGURA 6. (A) Mapa dos acupontos no cão, para demonstração do ponto R2, R3 e R6. (B) Mapa dos acupontos no homem, para demonstração do ponto R1, R2, R3 e R6 (Torro, 1997).

-B23 (Shenshu): Fortalece os rins e pode dispersar o calor do

Aquecedor Superior (Martins, 2003). Indicado para nefrite, edemas, diarréia,

distúrbios ovarianos, esterilidade, propicia a diurese e deve-se agulhar cerca de 1

a 5 cm (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 7).

A B

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41

FIGURA 7. (A) Mapa dos acupontos no cão, para demonstração do ponto B20, B21 e B23. (B) Mapa dos acupontos no homen, para demonstração do ponto B20, B21 e B23 (Torro,1997).

A B

Page 42: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

42

-VC4 (Guanyuan): Fortalece o Yang do rim, mas também pode

fortalecer o Yin do rim (Martins, 2003). Também é indicado para mastite,

diarréia, prostatite não específica, micção freqüente, problemas do ciclo.

Agulhar cerca de 1 cm (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).

FIGURA 8. Mapa dos acupontos no homem e no cão, para demonstração do ponto VC4 e VC6 (Torro, 1997).

-R6 (Zhoahai): Fortalece o Yin e elimina calor (Martins, 2003). Agulhar

cerca de 2 a 5 mm, de acordo com a raça, além de ter indicações para dores

locais, inchaços e inflamações do jarrete, esterilidade, problemas funcionais do

ciclo, prolapso uterino, faringite (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 6).

-BP6 (Sanyinjiao): Fortalece o Yin dos rins e do fígado (Martins, 2003).

Agulhar cerca de 1 a 2 cm, indicado para problemas funcionais dos órgãos

Page 43: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

43

urogenitais, prolapso uterino, esterilidade, sangramentos uterinos, incontinência,

diarréia (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9 e 10).

FIGURA 9. Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto BP6 (Torro, 1997).

Page 44: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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FIGURA 10. Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto BP3 e BP6 (Torro, 1997).

-R1 (Youngquan): Acalma o fígado e a hiperatividade de Yang do fígado

e do corpo além de apaziguar o fogo (Martins, 2003). Agulhar cerca de 2 a 5

mm, tendo indicações para problemas de micção, faringite, choque, hepatite,

parada respiratória, asfixia do recém-nascido (Draehmpaehl & Zohmann, 1997)

(Figura 12).

Page 45: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

45

FIGURA 11. Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto R1 (Torro, 1997).

-R2 (Rangu): Acalma o fígado e a hiperatividade de Yang do fígado e

do corpo, além de apaziguar o fogo (Martins, 2003). Também é indicado para

dores locais, inchaços e inflamações, cistite, faringite, prolapso uterino, diarréia

(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figuras 6 e 13).

Page 46: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

46

FIGURA 12. Mapa dos acupontos, no homem,

para demonstração do ponto R2 (Torro, 1997).

Segundo Martins (2003), para hipertensão arterial (deficiência de Yin e

hiperatividade de Yang):

-VB20 (Fengchi): Acalma o Yang hiperativo (Martins, 2003). Agulhar

cerca de 5 a 7 mm, sendo indicado, também, para torcicolo, rinite, doenças

febris (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 14).

Page 47: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

47

FIGURA 13. (B) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto VB20. (A) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto VB20 (Torro, 1997).

A B

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48

-IG11 (Quchi): Drena o excesso de calor dos canais Yang, pois está

situado, assim como o E36, nos canais Yang (Martins, 2003). Agulhar cerca de 1

a 2 cm, também indicado para dores no ombro, cotovelo e antebraço, ponto

importante para diminuir a febre (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 15).

FIGURA 14. Mapa dos acupontos no homem e no cão para demonstração do ponto IG11 (Torro, 1997).

-F3 (Taichong): Acalma o Yang hiperativo do fígado e o vento (Martins,

2003). Agulhar cerca de 5 mm, além de ser usado para quadros de hepatite,

conjuntivite, esterilidade (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 16).

Page 49: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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FIGURA 15. (A) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto F3. (B) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto F3 (Torro, 1997).

Pontos de Acupuntura para tratamento de deficiência de Yang do rim,

uma vez que o princípio do tratamento é Aquecer e tonificar o Yang do rim

(Martins, 2003):

-R3 (Taixi): Fortalece os rins e se utilizar moxa pode fortalecer o Yang

do rim (Figura 6).

-B23 (Shenshu): Idem ao ponto anterior (Figura 7).

A B

Page 50: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

50

-VC4 (Guanyuan): Fortalece, principalmente, o Yang dos rins (Figura 8).

-VG4 (Ming Men): Fortalece, principalmente, o Yang dos rins (Martins,

2003). Agulhar cerca de 1 a 5 cm. Indicado para cistite, nefrite, problemas de

fertilidade, diarréia, além de controlar sangramentos provocados por traumas do

parto (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 17).

FIGURA 16. Mapa dos acupontos no homem e no cão para demonstração do ponto VG4 (Torro, 1997).

-VC6 (Qihai): Fortalece a circulação de Qi (Ross, 1994). Agulhar cerca

de um cm, sendo usado, também, para mastite e impotência coeundi

(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).

Para tratamento da deficiência de essência (Jing) do rim (Shen) é

necessário que se utilize a tonificação (Martins, 2003).

Page 51: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

51

Para fortalecer os rins, pode-se fazer uso do R3 (Taixi), B23 (Shenshu)

e VC4 (Guanyuan) (Martins, 2003). O ponto E36 (Zusanli) também fortalece o

rim restabelecendo o Jing, sendo necessário agulhar cerca de 0,5 a 2 cm, também

indicado para distúrbios da digestão, diarréia, resfriados, meteorismo e estado de

fraqueza (Draehmpaehl & Zohmann, 1997). O ponto VG4 (Ming Men)

fortalece o Portão da Vitalidade (Ross, 1994).

Outra forma de tonificar o Jing é beneficiar a essência pós-celestial

proveniente do Qi dos alimentos. Por este motivo, precisamos tratar a

deficiência de Qi do baço/pâncreas, tonificando baço/pâncreas (Martins, 2003).

Pontos de acupuntura, segundo Martins (2003):

-VC12 (Zhongwan): Elimina a umidade, fortalece e harmoniza

baço/pâncreas (Pi) e estômago (Wei) (Martins, 2003). Agulhar cerca de um cm.

Este acuponto também pode ser estimulado no tratamento de mastite e edemas

(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).

-E36 (Zusanli): Favorece a formação e circulação de Qi e Xue, fortalece

a função de Pi e Wei, atuando, conseqüentemente, na digestão e fraqueza geral

do corpo (Martins, 2003) (Figura 18).

Page 52: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

52

F FIGURA 17. (A) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto E36. (B) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto E36 (Torro, 1997).

-B20 (Pishu): Elimina a umidade e favorece a função de Pi em

transformar e transportar (Martins, 2003). Agulhar cerca de 1 a 5 cm. Este

acuponto também é indicado para dispnéia, indigestão e vômito (Draehmpaehl

& Zohmann, 1997) (Figura 7).

-B21 (Weishu): Harmoniza o Qi do Wei e aquece o Triplo Aquecedor

Médio (Martins, 2003). Agulhar cerca de 1 a 5 cm, podendo ser utilizado para

quadro de vômitos, gastrites e dores nas costas (Draehmpaehl & Zohmann,

1997) (Figura 7).

-BP6 (Sanyninjiao): Regulador do Qi do Wei e do Pi, fortalecendo e

tonificando, principalmente, Qi e Yang do Pi (Martins, 2003) (Figura 9 e 10).

A B

Page 53: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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-BP3 (Taibai): Ponto fonte do Pi (Ross, 1994). Agulhar cerca de 0,5 cm,

podendo ser utilizado, também, para tratar vômito, diarréia e dores do estômago

(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9 e 10).

Para tratar a deficiência de Yang do Pi, deve-se aquecer e fortalecer o

Yang do Pi, através da tonificação e moxa os mesmos acupontos do tratamento

de deficiência de Qi do Pi (Martins, 2003):

-B23 (Shenshu) (Ross, 1994) (Figura 7).

-VC4 (Guanyuan) (Ross, 1994) (Figura 8).

-VG4 (Ming Men) (Ross, 1994) (Figura 17).

-VC9 (Shuifen): Agulhar cerca de um cm, sendo indicado, também, para

mastites e edemas (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 8).

-E28 (Shuidao): Agulhar cerca de 0,5 a 1 cm. Trata de distúrbios do trato

urogenital e mastite(Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 19).

FIGURA 18. Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto E28 (Torro, 1997).

Page 54: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

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-B22 (Sanjiaoshu): Agulhar cerca de 1 a 5 cm. Indicado para nefrite,

edemas, indigestão e diarréia (Draehmpaehl & Zohmann, 1997). Além de

estimular a função do Pi em transformar e transportar Jin Ye e a resolver o

edema, juntamente com o ponto descrito abaixo (Martins, 2003) (Figura 7).

-BP9 (Yinlinquan): Agulhar cerca de 1 a 2 cm, resolvendo a

incontinência, edemas e a umidade (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9

e 11).

Nos casos de enterocolite urêmica, devemos tonificar o Qi do Pi, nutrir o

Yin, refrescar o Xue e eliminar a estase de sangue (Maciocia, 1996).

A deficiência de sangue (Xue) é proveniente da deficiência de Yang do

rim e do baço/pâncreas, deficiência do Yin do fígado e do rim e deficiência de

Yin e Yang do rim (Martins, 2003).

Para tonificar Xue, podemos utilizar os seguintes acupontos (Martins,

2003):

-B17 (Geshu): ponto de influência do sangue (Martins, 2003). Agulhar

cerca de 1 a 5 cm, e pode tratar asma, tosse, indigestão e vômito (Draehmpaehl

& Zohmann, 1997) (Figura 7).

-B18 (Ganshu): é um ponto de associação do fígado (Martins, 2003).

Deve ser agulhado cerca de 1 a 5 cm, podendo tratar indigestão, vômito, icterícia

e distúrbios no metabolismo do fígado (Draehmpaehl & Zohmann, 1997)

(Figura 7).

-B23 (Shenshu): é um ponto de associação do rim (Martins, 2003)

(Figura 7).

-VB39 (Xuanzhong): é um ponto de influência da medula (Martins,

2003). Agulhar cerca de 1 a 2 cm, indicado, também, para dores e edemas na

articulação do jarrete, inflamações da laringe e falta de apetite (Draehmpaehl &

Zohmann, 1997).

Page 55: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

55

FIGURA 19. (A) Mapa dos acupontos no cão para demonstração do ponto VB39. (B) Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto VB39 (Torro, 1997).

Na tonificação de Pi para produzir Xue, podemos utilizar os seguintes

pontos (Martins, 2003):

-BP6 (Sanyinjiao): Ponto de intersecção entre os meridianos do fígado,

rim e baço (Figuras 9 e 10).

-VC4 (Guanyuan): Tonificar o Qi do rim e o Yuan Qi (Figura 8).

-VC6 (Qihai): Ponto de grande concentração de energia Yin. (Figura 8).

-E36 (Zusanli): Ponto geral para tonificação e homeostasia (Figura 18).

-VC12 (Zongwan): Harmoniza Qi e Xue, harmoniza o Qi do Wei e do

Triplo Aquecedor Médio, além de harmonizar, tonificar e fortalecer o Qi do

baço (Figura 8).

-BP3 (Taibai): Ponto fonte do baço/pâncreas (Figuras 9 e 10).

A B

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-BP10 (Xuehai): Trata todas as manifestações de Xue (Martins, 2003).

Agulhar cerca de 1 a 2 cm, sendo utilizado para incontinência, edemas e doenças

alérgicas da pele (Draehmpaehl & Zohmann, 1997) (Figura 9 e 20).

FIGURA 20. Mapa dos acupontos no homem para demonstração do ponto BP10 (Torro, 1997).

Em relação aos cinco movimentos, a insuficiência renal crônica, por ser

uma deficiência de rim, representa uma deficiência do elemento água, sendo

tratada pela tonificação de metal, no meridiano do rim [(R7-Fuliu: agulhar cerca

de 2 a 5 mm, indicado para tratar distúrbios da micção, nefrite, edemas,

espasmos abdominais, fraqueza em geral, diarréia, fezes sanguinolentas e forte

sudorese (Draehmpaehl & Zohmann, 1997)], pois metal é mãe da água (Martins,

2003).

O elemento terra controla a água e quando o movimento terra estiver

debilitado haverá formação de umidade, necessitando de uma tonificação mútua

do rim e do baço/pâncreas. Além disso, a terra produz o metal e este é mãe da

água, gerando a tonificação do rim (Martins, 2003).

Page 57: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

57

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a IRC corresponde à

deficiência de Qi, Jing, Yin e Yang do rim, comprometendo todo sistema Zang

Fu.

A origem do corpo (Jing) encontra-se no rim, sendo anterior à própria

divisão em Yin e Yang. Esta essência só pode ser conservada, pois é fixa em

quantidade e qualidade.

A essência pré-celestial (Jing) depende da essência pós-celestial para ser

conservada. A essência pós-celestial é extraída dos alimentos e fluidos que são

transportados e transformados pelo estômago (Wei) e pelo baço (Pi), resultando

na produção de Qi.

A manipulação da dieta constitue uma maneira viável para evitar a

incidência e a progressão da IRC. O animal deve ser mantido com dieta

adequada para garantir o Jing pós–celestial que nutre o Jing pré–celestial.

A causa da IRC, provavelmente, começa no estômago/baço-pâncreas, o

que determina má digestão e leva à inadequada absorção do Qi presente no ar,

alimentos e fluidos.

Logo, pode-se afirmar que a IRC inicia-se com uma dieta inadequada

que compromete o Jing pós-celestial e não nutre o Jing pré-celestial, a Raiz da

Vida.

Pode–se dizer que a vantagem da acupuntura esteja em utilizar pontos

que substituam medicamentos com a mesma eficiência, evitando seus efeitos

colaterais e interações medicamentosas, além de atuar melhorando a qualidade

do Jing pré – celestial.

Page 58: ACUPUNTURA E INSUFICIENCIA RENAL CRONICA

58

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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