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A CROCHETAGEM NA POTENCIALIZAÇÃO DO TRÍCEPS SURAL NO JUMP TEST Ricardo Washington Fonseca da Silva 1 , Tiago de Souza Cerqueira Costa 1 , Vanda Cunha Cavalcanti 1 , Ricardo Nogueira Pacheco 2 , Henrique Baumgarth 3 . 1 Acadêmico - Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro. 2 Orientador - Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro. 3 Co-orientador - Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro. RESUMO: O objetivo deste estudo é explorar a interferência da técnica manual mioaponeurótica de crochetagem no músculo tríceps sural, de forma isolada, sem utilização de outros recursos na potencialização muscular. Foram analisados 20 voluntários, sendo estes divididos em 2 grupos: um que não foi submetido à técnica denominado grupo controle e o outro do qual os componentes foram submetidos a técnica mencionada, classificado grupo experimental, após a realização da crochetagem todos realizaram o teste de salto vertical (jump test) para mensurar o aumento na potência da musculatura. A comparação dos resultados entre os 2 grupos mostrou uma diferença insignificativa no percentual (3,6% no grupo controle e 3,0% no grupo experimental), concluindo, então, que não houve potencialização muscular. Palavras-chave: crochetagem, salto vertical, jump test, potência. ABSTRACT:The objective of this study is to explore the interference of the mioaponeurótica manual technique of crochetagem in the sural muscle tríceps, of isolated form, without use of other resources in the muscle potentaly. 20 volunteers had been analyzed, being these divided in 2 groups: one that was not submitted the called technique group has controlled and the other of which the components had been submitted the mentioned technique, classified experimental group, after the accomplishment of the crochetagem all had carried through the test of slew (jump test) to measurer the increase in the power of the musculature. The comparison of the results between the 2 groups showed a insignificant (3,6% controlled group and 3,0% experimental group), difference in the percentage, concluding then, that it did not have muscular potentaly. Keywords: crochetagem, jump vertical line, jump test, potence. 1. INTRODUÇÃO A Crochetagem também conhecida como Diafibrólise Percutânea é uma técnica da terapia manual com o objetivo principal a liberação miofascial. Desenvolvida por Kurt Ekman na Inglaterra após a segunda guerra mundial, a Crochetagem apresentou evolução no Brasil, quando o professor Henrique Baumgarth aperfeiçoou o gancho tendo em vista que a utilização da técnica gerava dor ao paciente no momento que era efetuada, um fator indesejado já que é priorizado um tratamento fisioterapêutico indolor. É um método de tratamento que utiliza o gancho como ferramenta, e habilidade do terapeuta para tratar algias

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A CROCHETAGEM NA POTENCIALIZAÇÃO DO TRÍCEPS SURAL N O JUMP TEST

Ricardo Washington Fonseca da Silva 1, Tiago de Souza Cerqueira Costa 1, Vanda

Cunha Cavalcanti 1, Ricardo Nogueira Pacheco 2, Henrique Baumgarth 3. 1 Acadêmico - Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro. 2 Orientador - Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro. 3 Co-orientador - Curso de Fisioterapia - Universidade Estácio de Sá – Rio de Janeiro.

RESUMO: O objetivo deste estudo é explorar a interferência da técnica manual mioaponeurótica de crochetagem no músculo tríceps sural, de forma isolada, sem utilização de outros recursos na potencialização muscular. Foram analisados 20 voluntários, sendo estes divididos em 2 grupos: um que não foi submetido à técnica denominado grupo controle e o outro do qual os componentes foram submetidos a técnica mencionada, classificado grupo experimental, após a realização da crochetagem todos realizaram o teste de salto vertical (jump test) para mensurar o aumento na potência da musculatura. A comparação dos resultados entre os 2 grupos mostrou uma diferença insignificativa no percentual (3,6% no grupo controle e 3,0% no grupo experimental), concluindo, então, que não houve potencialização muscular. Palavras-chave: crochetagem, salto vertical, jump test, potência. ABSTRACT:The objective of this study is to explore the interference of the mioaponeurótica manual technique of crochetagem in the sural muscle tríceps, of isolated form, without use of other resources in the muscle potentaly. 20 volunteers had been analyzed, being these divided in 2 groups: one that was not submitted the called technique group has controlled and the other of which the components had been submitted the mentioned technique, classified experimental group, after the accomplishment of the crochetagem all had carried through the test of slew (jump test) to measurer the increase in the power of the musculature. The comparison of the results between the 2 groups showed a insignificant (3,6% controlled group and 3,0% experimental group), difference in the percentage, concluding then, that it did not have muscular potentaly. Keywords: crochetagem, jump vertical line, jump test, potence.

1. INTRODUÇÃO

A Crochetagem também conhecida como Diafibrólise Percutânea é uma técnica da

terapia manual com o objetivo principal a liberação miofascial. Desenvolvida por Kurt Ekman

na Inglaterra após a segunda guerra mundial, a Crochetagem apresentou evolução no Brasil,

quando o professor Henrique Baumgarth aperfeiçoou o gancho tendo em vista que a

utilização da técnica gerava dor ao paciente no momento que era efetuada, um fator

indesejado já que é priorizado um tratamento fisioterapêutico indolor. É um método de

tratamento que utiliza o gancho como ferramenta, e habilidade do terapeuta para tratar algias

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mecânicas do aparelho locomotor. Isso se torna possível através da destruição das

aderências e dos corpúsculos irritativos mio-aponeuróticos, que são depósitos úricos ou

cálcios localizados geralmente nos lugares de estases circulatório e próximo as articulações.

Esse resultado proposto pela Crochetagem é observado e confirmado nos tratamentos

do dia a dia por quem utiliza esta técnica, apesar de pouco documentado, considerando que

os primeiros trabalhos de pesquisa a seu respeito são recentes e estão em crescimento.

Para mensuração deste estudo experimental foi adotado o Jump Test (teste de salto

vertical) o qual Galdi (2003) se define em um meio de avaliação do potencial mecânico dos

músculos dos membros inferiores. O salto vertical é de grande importância no desempenho

de diversas modalidades esportivas sendo utilizado como instrumento para estimativas de

variáveis como: potência muscular e força explosiva, composição de fibras musculares,

processo de encurtamento-estiramento e energia elástica.

As principais indicações para a utilização da técnica de Crochetagem são as

aderências pós traumáticas. As algias inflamatórias como tendinites e epicondilites dentre

outras, também possui indicação da aplicação da técnica da Crochetagem, assim como

algumas nevralgias.

O presente estudo se torna relevante pelo fato de ser estudo experimental de caráter

único com o intuito de demonstrar se é possível utilizar a técnica mio-aponeurótica de

Crochetagem para potencialização muscular e em conseqüência incorporar mais uma

alternativa que poderá trazer um resultado satisfatório no que se refere ao desempenho.

O principal objetivo á avaliar a potencialização muscular quando utilizada a técnica da

Crochetagem, de forma isolada, sem a utilização de outros recursos, em indivíduos

saudáveis. Para isso foi enfocado o músculo tríceps sural e a forma de mensuração foi o

Jump Test.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

CROCHETAGEM (HISTÓRICO DA TÉCNICA DO GANCHO)

O fundador desta técnica é o fisioterapeuta sueco Kurt Ekman, que trabalhou na

Inglaterra ao lado do Dr. James Cyriax, durante anos pós-segunda guerra mundial. Frustrado

por causa dos limites palpatórios das técnicas convencionais, inclusive a massagem

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transversa profunda de Cyriax, ele colaborou progressivamente com a construção de uma

série de ganchos e uma técnica de trabalho específica para os mesmos, Baumgarth (2005).

Sua reputação se desenvolveu depois do tratamento com sucesso de algias

occipitais do nervo de Arnold, de epicondilites rebeldes e de tendinites de calcâneo, também

rebeldes. Durante os anos 70, ele ensinou seu método para vários colegas, como, Duby,

Burnotte, Estes perpetuaram o ensino de Ekman, dando-lhe uma abordagem menos

sintomática da disfunção, Baumgarth (2005).

De fato, no início Ekman tinha uma abordagem direta e agressiva, ou seja, dolorosa.

Esta abordagem prejudicou durante muito tempo o suo da técnica como a preferencial. Os

doutores P. Duby e J. Brunott, se inspiraram no conceito de cadeias musculares e da filosofia

da osteopatia para desenvolver uma abordagem da lesão mais suave, através da

denominada diafibrólise percutânea, Baumgarth (2005).

OS EFEITOS DA DIAFIBROLÍSE PERCUTÂNEA

Dubby, Brunott (2004), afirmam que os diferentes tipos de ações sobre os tecidos

subcutâneos são utilizados nas ações mecânicas; nas aderências fibrosas que limitam o

movimento entre os planos de deslizamento tissulares; nos corpúsculos fibrosos (depósitos

úricos ou cálcios) localizados geralmente nos lugares de estases circulatório e próximo às

articulações; nas cicatrizes e hematomas, que geram progressivamente aderências entre os

planos de deslizamento; nas proeminências ou descolamentos periósteos; nos efeitos

circulatórios a observação clínica dos efeitos da diafibrólise percutânea parece demonstrar

um aumento da circulação linfática. O rubor cutâneo, que segue uma sessão de

crochetagem, parece sugerir uma reação histamínica. Efeito Reflexo: a rapidez dos efeitos

da diafibrólise percutânea, principalmente durante a crochetagem ao nível dos trigger points

sugere a presença de um efeito reflexo.

PRINCIPAIS INDICAÇÕES

Para Baumgarth (2005), as principais indicações para o uso do gancho são:

- As aderências consecutivas a um traumatismo levando a um derrame tecidual.

- As aderências consecutivas a uma fibrose cicatricial iatrogênica cirúrgica.

- As algias inflamatórias, ou não inflamatórias, do aparelho locomotor: miosite, epicondilites,

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tendinites, periartrites, pubalgia, lombalgia, torcicolo etc.

- As nevralgias consecutivas a uma irritação mecânica dos nervos periféricos, occipitalgia do

nervo de Arnold, nevralgia cervicobraquial, nevralgias intercostais, ciatalgia e outras.

- As síndromes tróficas dos membros: algoneurodistrofia, canal do carpo.

PRINCIPAIS CONTRA-INDICAÇÕES

Para Baumgarth (2005), as contra-indicações mais relevantes no uso da técnica da

crochetagem são:

- Terapeuta agressivo ou não acostumado com o método.

- Os maus estados cutâneos: pele hipotrófica, ulcerações, dermatoses (eczema, psoríase).

- Os maus estados circulatórios: fragilidade capilar sangüínea, reações hiperhistamínicas,

varizes venosas, adenomas.

- Pacientes que estão fazendo uso de anticoagulantes.

- Abordagem demasiadamente direta em processos inflamatórios agudos.

- Idosos com a pele demasiadamente fina

- Fobia

DESCRIÇÃO DO INSTRUMENTO (GANCHO).

Depois de terem sido testados vários dos materiais disponíveis para a técnica, tais

como: a madeira, ossos, e outros, o Dr. Ekman criou uma série de ganchos de aço, de forma

a melhor atender às exigências do seu método. Cada extremidade do gancho apresenta uma

curvatura diferente, permitindo o contato com os múltiplos acidentes anatômicos que se

interpõem entre a pele e as estruturas a serem tratadas. Cada curvatura do gancho se

continua em uma espátula, que permite reduzir a pressão exercida sobre a pele. Isto permite

reduzir a irritação cutânea provocada pelo instrumento. Além disso, cada espátula apresenta

uma superfície externa convexa e uma superfície interna plana. Esta configuração cria entre

as duas superfícies um bordo em bisel e desgastado. Esta estrutura melhora a interposição

da espátula entre os planos tissulares profundos, inacessíveis pelos dedos do terapeuta,

permitindo a crochetagem das fibras conjuntivas delgadas ou dos corpúsculos fibrosos, em

uma manipulação eletiva.

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DESCRIÇÃO DO MÉTODO

O método consiste em três fases:

Primeira fase. A palpação digital, consiste em uma espécie de amassamento,

realizado com a mão palpatória, permitindo delimitar grosseiramente as áreas anatômicas a

serem tratadas, Baumgarth (2005).

Segunda fase. A palpação instrumental é realizada com a utilização do gancho em

função do volume da estrutura anatômica a tratar, como: o músculo palpado no momento ou

a área ligamentar ou tendinosa. Ela permite localizar com precisão as fibras conjuntivas

aderentes e os corpúsculos fibrosos. Com o gancho em uma das mãos, posiciona-se a

espátula, colocando-a ao lado do dedo indicador, localizador da mão palpatória. O conjunto é

posicionado na direção perpendicular às fibras tissulares a serem tratadas. A mão palpatória

cria um efeito em onda com os tecidos moles, onde o polegar busca esta onda dentro do

gancho. A penetração e busca palpatória são efetuadas através de movimentos lentos,

ântero-posteriores. Durante esta última fase, os movimentos de mão palpatória precedem os

movimentos da mão com o gancho, o que permite reduzir a solicitação dos tecidos,

controlando melhor a ação do gancho. A impressão palpatória instrumental traduz por um

lado uma resistência momentânea, seguida de um ressalto durante a passagem da espátula

do gancho num corpo fibroso, e por outro lado, uma resistência seguida de uma parada

brusca quando encontra uma aderência. Estas últimas impressões só podem ser percebidas

quando o gancho está em movimento, pelo indicador da mão repousado no gancho. Estas

sensações se opõem àquelas de fricção e de superfície lisa, encontradas nos tecidos

saudáveis, Baumgarth (2005).

Terceira fase. A fibrólise corresponde ao tempo terapêutico. Esta fase consiste, no

final do movimento de palpação instrumental, em uma tração complementar da mão que

possui o gancho. Este movimento induz, portanto, um cisalhamento, uma abertura, que se

visualiza como um atraso breve entre o 5ª dedo da mão palpatória repousada sobre a área e

a curva maior do gancho. Esta tração complementar é feita para alongar, ou romper as fibras

conjuntivas que formam a aderência, ou mesmo deslocar ou achatar o corpúsculo fibroso,

Baumgarth (2005).

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POTENCIALIZAÇÃO NO TRÍCEPS SURAL

Calais-Germain (1991) refere-se ao tríceps sural como sendo o músculo mais forte da

perna. Anatomicamente o descreve mencionando que é formado por três músculos (porções)

denominados sólio, gastrocnêmio lateral e medial. Possuem a mesma inserção: O tendão de

Aquiles, o qual se insere na face posterior do calcâneo e quanto a origem o sóleo vem da

parte posterior alta da tíbia e fíbula e o gastrocnêmio se origina da parte inferior do fêmur.

Acrescenta que quando estamos na ponta do pé ou em pé com os joelhos estendidos o

colocamos sob tensão e sua ação é conduzir o calcâneo a flexão plantar. Exemplifica que é

um músculo solicitado na marcha ou na propulsão de corrida.

Em relação a elevação da potência (potencialização), Hakkinen (1985) enfatiza, que o

que diferencia nos exercícios de fortalecimento a força e a potência musculares é a relação

de velocidade para execução do movimento. O treinamento voltado para aprimoramento da

força tem sido usualmente feito com velocidades baixas e cargas relativamente altas,

enquanto a potência se relaciona com execuções rápidas e, conseqüentemente, cargas mais

baixas.

Segundo Fleck, Kraemer (1999) e Kubo et al (1999), a potência é a velocidade com que

se desempenha o trabalho de determinado segmento, ou seja, a potência gerada por um

salto vertical, matematicamente, é o produto do peso corporal de um sujeito pela altura de

sua saída do chão, dividido pelo tempo que demorou a executar a repetição. Foi observado

por Alves (2006) em seu estudo, referente aos efeitos do treinamento físico militar na

potência muscular, que o acúmulo metabólico (fadiga) e o stress neuromuscular,

proporcionado por um alto programa de treinamento, estavam diretamente relacionados com

a diminuição da performance nos saltos.

JUMP TEST (TESTE DE SALTO)

Powers; Howley (2000) citam que o teste de Sargent (Sargent jump test - salto

vertical), assim como o teste de salto a distância foram utilizados como testes de campo para

avaliação da potência anaeróbica de explosão durante muitos anos. Explicam que o salto de

distância é a distância coberta num salto horizontal a partir de uma posição agachada,

enquanto o teste de sargent de saltar e alcançar é a diferença entre a altura atingida com o

indivíduo estático e a altura máxima que o indivíduo pode tocar ao saltar. Os mesmos

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ressaltam que para a avaliação da potência muscular é essencial que o teste empregado

utilize grupos musculares envolvidos. Questionam a sua eficácia mencionando que ambos

podem falhar na avaliação da capacidade máxima do sistema ATP-CP em decorrência da

curta duração de cada um. Goubel (1997); Komi (2000) relatam que o teste de salto vertical

e horizontal é um método não invasivo, sendo uma forma confiável de avaliar a potência

muscular nos membros inferiores.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

AMOSTRA

Participaram do estudo 20 voluntários, na faixa etária entre 16 e 54 anos, sendo 18

(90%) do sexo masculino e 2 (10%) do sexo feminino, na cidade do Rio de Janeiro – RJ e

divididos em 2 grupos, ambos com 10 componentes, que foram denominados: GRUPO I

(CONTROLE) e GRUPO II (EXPERIMENTAL), que foi submetido à técnica de crochetagem

no músculo tríceps sural, com o intuito de estabelecer um parâmetro de avaliação para

investigar se houve aumento da potência muscular neste grupo que sofreu interferência da

técnica de crochetagem.

EQUIPAMENTOS

Foram utilizados para a coleta de dados: uma placa para marcação em isopor medindo

1,00 m de comprimento x 0,60 m de largura, coberta por uma cartolina, com demarcações

numéricas a cada 10 cm, envolvidas com papel Contact, tinta Acrilex nas cores amarela e

azul, uma câmera fotográfica marca Samsung, modelo Digimax A503 5.0 mega Pixels, uma

trena métrica nos padrões do INMETRO, uma maca, um gancho (instrumento utilizado na

crochetagem) - Figura 1 - e um rolo de esparadrapo.

Figura 1 – Gancho (instrumento utilizado na crochetagem).

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PROCEDIMENTO

O procedimento foi realizado individualmente, baseando-se no protocolo de Sargent

Jump Test, que mede indiretamente a força muscular dos membros inferiores. (Fernandes

Filho, 1999)

A câmera fotográfica foi posicionada a uma profundidade de 3 metros, determinada por

um esparadrapo no chão, sob uma altura de 1,60 metros para possibilitar melhor

visualização no registro da experiência, o mesmo foi realizado em ambiente aberto para

aproveitamento da luz natural.

A primeira etapa foi determinar a altura que a placa deveria ser fixada na parede.

Estabelecendo como referência a borda superior do dedo indicador sujo de tinta do indivíduo

que estava sendo testado, que ficou na postura ortostática, com os membros superiores

abduzidos em um ângulo de 180° e os calcanhares em contato com o solo que em seguida

deixou na parede a marca de tinta, a partir dessa marca a placa foi fixada. (figura 2).

Figura 2: Procedimento para fixação da placa na parede

A segunda etapa foi a realização dos três primeiros saltos verticais. O participante

inicialmente se posicionou lateralmente, conforme figura 3, com os pés paralelos calcanhares

em contato com o solo e depois de sujar o dedo indicador da mão dominante com a tinta de

cor amarela, para marcar o placar, agachou-se e realizou o primeiro salto vertical. Os demais

saltos foram realizados seguindo o mesmo procedimento, no qual resultou em uma média do

somatório da altura dos três saltos. Foi estipulado 10 (dez) minutos de repouso, antes de

realizar a técnica de crochetagem.

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Figura 3 – Procedimento para realização jump test (salto vertical)

A terceira etapa foi a realização da técnica de crochetagem no músculo tríceps sural

bilateral, por 7 (sete) minutos, do participante que durante a aplicação da técnica

permaneceu deitado no divã clínico na posição em decúbito ventral. (Figura 4).

Figura 4 – Realização da crochetagem.

A quarta etapa foi a realização dos três últimos saltos verticais, após a técnica de

crochetagem. Seguindo a mesma seqüência da segunda etapa, com apenas um diferencial:

o participante, desta vez, sujou o dedo indicador da mão dominante com a tinta de cor azul.

Nesta etapa também se calculou a média do somatório da altura dos três saltos. O tempo de

repouso foi de 17 minutos.

No grupo I (CONTROLE) os participantes foram submetidos a todas as etapas do

procedimento, porém não foi realizada a técnica de crochetagem no músculo tríceps sural.

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4. RESULTADOS

O Resultado foi avaliado através da média dos três primeiros saltos (média I) e a média

dos três últimos saltos (média II), e posteriormente calculado o percentual de diferença entre

as duas médias (% da média II subtraída do % da média I), com o objetivo de mensurar os

maiores e menores percentuais de cada grupo e avaliar os grupos como um todo através do

somatório de seus percentuais de diferença e efetuando uma média dos mesmos.

No grupo I (CONTROLE) teve como o menor percentual de diferença o valor negativo

de -7,1%, o que caracteriza uma média dos três primeiros saltos mais alta que os três últimos

e o percentual de diferença mais alto foi de 20,4%, determinando assim uma distância muito

elevada entre os percentuais de diferença neste grupo, existindo uma variação de 27,5 %

entre o mais alto e o mais baixo. (vide tabela 1).

No grupo II (EXPERIMENTAL) do qual foi submetido à técnica de crochetagem no

tríceps sural, entre os três primeiros saltos e os três últimos saltos verticais apresentou

resultados mais próximos. Os voluntários deste grupo tiveram como percentual de diferença

mais alto 5,6% e o mais baixo 0.7% apresentando uma variação entre os percentuais de

diferença mais altos e mais baixos de 4,9% apenas se comparado ao grupo I. (vide tabela 1).

Tabela 1 – Percentuais de Diferença

GRUPO I GRUPO II

20,4% 5,6% 6,6% 4,4% 5,7% 3,6% 5,1% 3,3% 4,5% 2,8% 2,8% 2,8% 2,2% 2,6% 1,3% 2,1% 0,4% 1,8% -7,1% 0,7%

Na avaliação total através do somatório dos percentuais de diferença do grupo I

(CONTROLE) foi retirada uma média de 3,6 % final, e com o mesmo procedimento realizado

com o grupo II (EXPERIMENTAL) obteve-se a média de 3,0 % caracterizando assim um

valor total mais elevado no grupo I (CONTROLE). Vide figura 4 abaixo.

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Grupo 1 3,6 % Grupo 2 3,0 %

2,7%

2,8%

2,9%

3,0%

3,1%

3,2%

3,3%

3,4%

3,5%

3,6%

3,7%

Grupo 1 Grupo 2

Seqüência1

Figura 4 - Gráfico comparativo do somatório dos percentuais de diferença.

A hipótese levantada para justificar a diferença, está relacionada a existência de um

avaliado, no grupo I (CONTROLE) que realiza treinamento muscular por ser um desporto

praticante de esporte de alto rendimento (salto a distância). Powers; Howley (2000)

mencionam que a impulsão vertical, necessária no salto está associada a força explosiva

dos MMII (membros inferiores) e não treinada tende a diminuir como em qualquer

capacidade física. Força explosiva compreende a capacidade que o sistema neuromuscular

tem de superar resistência a maior velocidade de contração possível, segundo Weineck

(1989). Estas considerações são demonstradas nitidamente no seu resultado final individual

destacando um percentual de 20,4 % em relação aos demais.

5. DISCUSSÃO

Simão et al (2001) fizeram as seguintes menções em relação a potência: para a

produção de altos níveis de potência não só se faz necessária a força muscular como a

velocidade de contração; potência é altamente dependente da força; para a performance

desportiva e o desempenho das atividades da vida diária (AVD’s) potência e força são

fundamentais, destacando também a sua relevância quando relacionada a prescrição de

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exercícios tanto em indivíduos saudáveis como aqueles que apresentam necessidades

específicas.Segundo Powers; Howley (2000) os músculos com alta porcentagem de fibras de

contração rápida produzem mais potência do que aquelas que contém sobretudo fibras

lentas. Weineck (1989) define como força, a capacidade de superar ou suportar resistência

por meio de uma ação muscular e a potência é o trabalho mecânico.

O presente estudo experimental realizado por nós não teve nenhum objetivo de

desenvolvimento da força tanto quanto adaptação de fibras lentas em rápidas. O fator a ser

observado foi se através da liberação miofascial poderíamos obter uma maior liberdade para

contração muscular, devido ao melhor deslizamento das fáscias.

Segundo Baumgarth (2005) um dos efeitos básicos da crochetagem é o efeito

mecânico. Vargas et al (2002) menciona que é uma técnica manual que atua sobre as

restrições de mobilidade de qualquer elemento conjuntivo de desordens mecânicas ou

bloqueios funcionais, causando respostas vegetativas e estimula a circulação linfática e/ou

sanguínea, otimizando o deslizamento das fáscias. Isto ocorre porque é possível quebrar as

aderências e fibroses provocadas por cristais de oxalato de cálcio de origem cicatricial,

traumática ou cirúrgica concentrados entre os diferentes e mais profundos planos de

deslizamento dos músculos, tendões, ligamentos e nervos devolvendo o livre movimento

entre as capas musculares, que antes não apenas causavam irritação mas também limitação

na amplitude articular, normalizando as funções. O mesmo estudo acrescenta que é uma

técnica de tratamento com finalidade terapêutica e que também prepara a estrutura para

receber um tratamento de manipulação ou mobilização.

Ressaltando que todos os componentes que participaram da experiência eram

indivíduos saudáveis não necessitando da intervenção terapêutica da crochetagem, porque o

objetivo do estudo estava relacionado em investigar a relação da técnica com o aumento da

potência muscular.

Apesar dos resultados demonstrarem que não se obteve ganhos significativos, ainda

sim é possível usá-la na preparação das estruturas para receber um treinamento ou mesmo

executar exercícios fisioterapêuticos para a potencialização muscular, partindo do

pressuposto que mesmo pequenos comprometimentos músculo-esquelético podem alterar a

sua integridade e interferir no ganho potencial.

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6. CONCLUSÃO

Apesar do trabalho não apresentar na análise comparativa, variáveis significativas nos

resultados dos saltos entre o grupo que foi favorecido pela técnica de crochetagem (GRUPO

EXPERIMENTAL) e o grupo do qual a técnica mencionada não foi realizada (GRUPO

CONTROLE), consideramos que para a amostragem, do presente estudo, não se

estabeleceu um critério de inclusão mais homogêneo. Onde todos os participantes deveriam

praticar treinamento muscular, possuírem pesos e idades relativamente iguais ou serem do

mesmo sexo, por exemplo. Podendo ser fatores que influenciam nos resultados.

Concluímos, apesar dos participantes do grupo experimental relatar uma maior

sensação de conforto e liberdade de movimento no músculo crochetado (tríceps sural), que a

técnica explorada não promoveu a potencialização muscular do tríceps sural conforme

demonstram os resultados. Propomos, então, novos estudos sugerindo que a técnica seja

efetuada em diferentes grupamentos musculares com um tempo de execução maior e

estabelecendo variáveis mais criteriosas na composição da amostragem.

AGRADECIMENTO Ao nosso orientador, Ricardo Nogueira Pacheco, pela dedicação profissional, disponibilidade e incentivo. Ao nosso co-orientador, Henrique Baumgarth, pelos esclarecimentos da técnica aplicada, idéias e pelo espaço cedido para a realização deste estudo experimental.

E-mail: [email protected]

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REFERÊNCIAS

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