a cada colher, uma reflexão

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Caminhando lentamente pelas ruas de minha cidade pude perceber o quanto os tempos mudaram e junto dele, as pessoas se transformaram. Pude ver roupas com cores e modelos diferentes, rostos carregados de produtos fortes e coloridos que escondiam a verdadeira beleza e honestidade do ser humano, automóveis variados, objetos de valores caríssimos sendo expostos á luz do dia e olhares selvagens e descarados, algo incomum e proibido há vários anos atrás. Depois de tantas observações me sentei em um banco com um copo de sorvete na mão, pois o dia estava quente e até mesmo o calor mudara durante os anos. Sentada, pude perceber a grande massa diante de mim se locomovendo com intensa rapidez, a pressa e a ansiedade também se transformará muito e hoje, se tornou inimiga do ser humano. Idosos, jovens, crianças e adultos, independente da idade todos possuíam pressa de chegar a algum lugar. Ainda degustando a metade do meu copo de sorvete, me dei à liberdade de ir mais a fundo em meus pensamentos e, portanto, deixei minha hipocrisia de lado, observando os pontos positivos em nosso novo tempo. As pessoas, afinal, se tornaram mais libertas e, portanto, não precisam se prender a nada, podendo escolher o que estudar no que trabalhar e onde viver. O preconceito ainda existe, mas o ‘’estranho’’ já pode andar livremente pelas ruas – ou quase livremente. As tecnologias que facilitam nossa vida reduzem – talvez – o nosso tempo de trabalho e evita o grande desconhecimento. Eis que minha sobremesa chega ao fim, entretanto, sinto que ainda não cheguei onde eu queria. Talvez uma boa desculpa para mais um copo de sorvete. Ao tirar o dinheiro do bolso e pagar pela sobremesa lembrei-me de que as verdadeiras mudanças em nossa vida foram às coisas concretas. O dinheiro, os aparelhos eletrônicos, as moradias e as roupas. Uma mudança bruta, pois tomou conta do Homem e o moldou de forma estupida. Talvez eu também esteja errada, os sentimentos, pensamentos e comportamentos do Homem também sofreram mudanças brutas,

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Caminhando lentamente pelas ruas de minha cidade pude perceber o quanto os tempos mudaram e junto dele, as pessoas se transformaram. Pude ver roupas com cores e modelos diferentes, rostos carregados de produtos fortes e coloridos que escondiam a verdadeira beleza e honestidade do ser humano, automóveis variados, objetos de valores caríssimos sendo expostos á luz do dia e olhares selvagens e descarados, algo incomum e proibido há vários anos atrás.

Depois de tantas observações me sentei em um banco com um copo de sorvete na mão, pois o dia estava quente e até mesmo o calor mudara durante os anos. Sentada, pude perceber a grande massa diante de mim se locomovendo com intensa rapidez, a pressa e a ansiedade também se transformará muito e hoje, se tornou inimiga do ser humano. Idosos, jovens, crianças e adultos, independente da idade todos possuíam pressa de chegar a algum lugar. Ainda degustando a metade do meu copo de sorvete, me dei à liberdade de ir mais a fundo em meus pensamentos e, portanto, deixei minha hipocrisia de lado, observando os pontos positivos em nosso novo tempo. As pessoas, afinal, se tornaram mais libertas e, portanto, não precisam se prender a nada, podendo escolher o que estudar no que trabalhar e onde viver. O preconceito ainda existe, mas o ‘’estranho’’ já pode andar livremente pelas ruas – ou quase livremente. As tecnologias que facilitam nossa vida reduzem – talvez – o nosso tempo de trabalho e evita o grande desconhecimento.

Eis que minha sobremesa chega ao fim, entretanto, sinto que ainda não cheguei onde eu queria. Talvez uma boa desculpa para mais um copo de sorvete. Ao tirar o dinheiro do bolso e pagar pela sobremesa lembrei-me de que as verdadeiras mudanças em nossa vida foram às coisas concretas. O dinheiro, os aparelhos eletrônicos, as moradias e as roupas. Uma mudança bruta, pois tomou conta do Homem e o moldou de forma estupida. Talvez eu também esteja errada, os sentimentos, pensamentos e comportamentos do Homem também sofreram mudanças brutas, mas para pior. É uma incógnita escolhermos entre a linha de raciocínio de que o capitalismo moldou o Homem ou nós já nascemos com este dom, de ter a ‘’carne fraca’’. Este ponto faz-me entrar na pauta religiosa, o que geralmente evito, já que esta não possui total poder de provar e, apenas o que temos diante dos nossos olhos pode e deve ser discutido.

Continuo tomando meu sorvete, dessa vez mais lentamente, e preciso balançar a cabeça, as ideias já estão se dissipando. Volto a pensar no mundo capitalista em que vivemos, onde o dinheiro é a chave para o sucesso e para a felicidade; onde o dinheiro separa países e afasta pessoas. Eis uma grande contradição – pensei. Eis que quem busca moedas e papeis valiosos para buscar também a felicidade e a ascensão comercial, busca também a distância entre as pessoas, a disputa constante e um coração de ferro.

Eis que me corrijo rapidamente: As pessoas possuem liberdade, mas suas escolhas as tornam prisioneiras; o preconceito diminuiu, mas o pouco que ainda existe é tratado com violência por mentes fechadas e cegas; As tecnologias diminuem nosso tempo para os deveres, mas nos licitam a sermos covardes, ignorantes e a esquecer a nossa

própria língua. Uma mudança bruta, já que nos atinge de tal forma que nos tornamos cegos e prisioneiros de nossas próprias ações. Um visual deslumbrante, vitrines enfeitadas, corpos esbeltos e televisões ligadas, o suficiente para nos fazer acreditar que o mundo em que vivemos é perfeito, já transformado e que cada um de nós devemos seguir padrões para sermos aceitos.

Um mundo feito sob padrão para pessoas padrões, intrigante não? Um mundo onde as pessoas devem competir consigo mesmas em busca de riqueza e beleza para uma falsa vida feliz e eterna. Onde um corpo é mais importante do que as palavras que saem de nossa boca. Onde a casa em que vivemos define nosso caráter. E por fim, onde nossa forma de pensar nos define como o errado. Portanto, somos movidos por frieza e por olhares que julgam, mas que não se entregam; Movidos por prazeres instantâneos, mas que se esvaem rapidamente; Movidos por pensamentos conformistas de que o país em que vivemos é perfeito, o ‘’pão e o circo’’ é essencial e o nosso governo é esplendido; Movidos pela beleza, que embora passe, não nos deixa enxergar o verdadeiro ‘’eu’’ que está em nossa frente.

Uma geração confusa não sabe o equilíbrio entre a razão e a emoção. Não pensam, mas também não sentem. Influencias são bem aceitas, afinal, a preguiça em mastigar é constante, coisas prontas são mais suscetíveis. Uma grande confusão e estranhamento, um longo passo para que todos possam entender que a vida não gira em torno do capital, que sentimentos precisam ser verdadeiros para não machucar, que mentiras estão em todos os lugares e que a beleza não define o que nós realmente somos. Competimos em uma disputa em direção ao poder e usamos pessoas como troféus.

Concluo, por fim. O nosso sentimento, nosso desejo, nossa vontade e nossas conquistas, são apenas nossas. Ninguém pode nos influenciar nessas escolhas, pois ninguém vive a nossa vida. Se pautarmos nossas decisões e nosso ideais em opiniões alheias nunca saberemos o verdadeiro sentido de viver. Sentada ainda neste banco, pude ver que as pessoas ainda não se transformaram ao meu redor, mas minha mente deu um grande passo. Será difícil encarar o mundo aonde as pessoas vão nos desafiar todos os dias, mas não podemos deixar que vivam a nossa vida. Não devemos ser perfeitos, os erros nos amadurecem e nos guiam para caminhos melhores, mas não podemos nos acostumar com eles. O amor é o bem mais precioso que temos nos dias de hoje, pois ele nos faz encontrar a paz e o equilíbrio em nossa família, amigos e a pessoa com quem queremos viver. Se enxergássemos o verdadeiro sentido do amor, saberíamos que qualquer outra coisa não deveria se sobrepor e que, amar alguém da forma como ela é, sem julga-la pelas suas roupas e aparência, é um grande passo para o equilíbrio. O ‘’feio’’ e o ‘’belo’’ está na mente de cada um de nós, o resto se resume um distúrbio de uma mídia corrupta e libidinosa. O segredo está naquilo que sua mente é capaz de pensar e acreditar, mentiras e tentações estarão constantemente nos colocando em prova e é por isso que me despeço, afinal, o terceiro copo de sorvete é mais uma destas – deliciosas – tentações.