77 livre arbítrio junho2006

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77-MISTÉRIO DO LIVRE-ARBÍTRIO-Junho 2006 Mais um tema controverso: a questão da liberdade individual. Discute-se até “onde” poderia ir esta prerrogativa das pessoas com relação à maneira de agir perante a vida. Será que existe de fato o tal do “livre- arbítrio”? Não estaria havendo confusão no que concerne aos limites de cada um? Se, como dizem, que o homem é agraciado pelos Céus com a liberdade para agir da forma que lhe interessar, então por que existem as leis? E por quê os livros sagrados exigem o “bom” comportamento, do contrário a punição será o inferno ou coisa do gênero? Então, por que razão criaram esta terminologia? Interesses religiosos ou lapso semântico? Em outras palavras, se fosse realmente praticado o livre-arbítrio, por que o “controle externo”? Assim, é evidente que a liberdade ilimitada inexiste, senão o caos se instalaria uma vez que, certamente, o egocentrismo iria imperar. Portanto, conclui-se que pensar pode, mas “ir e vir” somente de acordo com as regras vigentes. Deste modo, se haverá penalização pelo deslize cometido, a sua liberdade tornou-se fictícia e cai por terra o termo que designa que todos são livres para atuar da maneira que sua consciência ordenar (discurso apregoado por várias religiões e filosofias). Em outras palavras, essa auto-liberalidade vai esbarrar no primeiro obstáculo: o fator ambiente, isto é, a cultura local: se não respeitar a lei do lugar onde vive, vai ter que “pagar” pelo erro cometido. Mas, como definir pragmaticamente o que é correto e o que não é? Quer dizer, o “errado” para alguns não poderia ser o “certo” para outros? Quem teria a razão absoluta para discernir se o joio é que é o ruim e não o trigo? Dedução evidente: bem e mal são conceitos relativos, abstratos e pontuais. Em síntese, falar que o ser humano tem o livre-arbítrio seria, no mínimo, arriscado para não dizer, oportunista. O temor pelo que poderia advir seja aqui, seja no além (dependendo da crença de cada um), já tolheria o indivíduo de atuar livremente. E o que dizer sobre o “não-crente” com relação à suposta punição “post-mortem”? Faria o que bem entendesse? A verdade é que liberdade plena é balela, guardadas as proporções (entenda-se o “poder”, ou seja, a liberdade pode ser relativa também). No mais, presume-se que o melhor juiz seria mesmo a própria consciência. O significado de certo e o errado será determinado pela cultura local. É, pois de

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77-MISTÉRIO DO LIVRE-ARBÍTRIO-Junho 2006Mais um tema controverso: a questão da liberdade individual. Discute-se até “onde” poderia ir esta prerrogativa das pessoas com relação à maneira de agir perante a vida. Será que existe de fato o tal do “livre-arbítrio”? Não estaria havendo confusão no que concerne aos limites de cada um? Se, como dizem, que o homem é agraciado pelos Céus com a liberdade para agir da forma que lhe interessar, então por que existem as leis? E por quê os livros sagrados exigem o “bom” comportamento, do contrário a punição será o inferno ou coisa do gênero? Então, por que razão criaram esta terminologia? Interesses religiosos ou lapso semântico? Em outras palavras, se fosse realmente praticado o livre-arbítrio, por que o “controle externo”? Assim, é evidente que a liberdade ilimitada inexiste, senão o caos se instalaria uma vez que, certamente, o egocentrismo iria imperar. Portanto, conclui-se que pensar pode, mas “ir e vir” somente de acordo com as regras vigentes. Deste modo, se haverá penalização pelo deslize cometido, a sua liberdade tornou-se fictícia e cai por terra o termo que designa que todos são livres para atuar da maneira que sua consciência ordenar (discurso apregoado por várias religiões e filosofias). Em outras palavras, essa auto-liberalidade vai esbarrar no primeiro obstáculo: o fator ambiente, isto é, a cultura local: se não respeitar a lei do lugar onde vive, vai ter que “pagar” pelo erro cometido. Mas, como definir pragmaticamente o que é correto e o que não é? Quer dizer, o “errado” para alguns não poderia ser o “certo” para outros? Quem teria a razão absoluta para discernir se o joio é que é o ruim e não o trigo? Dedução evidente: bem e mal são conceitos relativos, abstratos e pontuais. Em síntese, falar que o ser humano tem o livre-arbítrio seria, no mínimo, arriscado para não dizer, oportunista. O temor pelo que poderia advir seja aqui, seja no além (dependendo da crença de cada um), já tolheria o indivíduo de atuar livremente. E o que dizer sobre o “não-crente” com relação à suposta punição “post-mortem”? Faria o que bem entendesse? A verdade é que liberdade plena é balela, guardadas as proporções (entenda-se o “poder”, ou seja, a liberdade pode ser relativa também). No mais, presume-se que o melhor juiz seria mesmo a própria consciência. O significado de certo e o errado será determinado pela cultura local. É, pois de bom-tom medir o julgamento com relação às estranhas posturas tomadas por civilizações onde as leis são diferentes. É óbvio que um conceito comum impera: o de não prejudicar a outrem. Este, sim, é o que deve ser levado em conta generalizadamente. Regras de comportamento têm que ser acatadas, independentemente de suas origens. O foco seria não afetar o próximo de forma negativa. Todavia como conceituar negativo e positivo? Dependeria do grau de aceitabilidade mútua? É o que faz aumentar o mistério. Então, como praticar o propalado “livre-arbítrio”, se existe um regulamento a ser obedecido? Que tipo de liberdade individual seria essa? Resta indagar, finalmente: e se não houvesse o temor pelo porvir e a pessoa resolvesse efetivamente agir de acordo com suas tendências pessoais, não importando se iria ou não prejudicar os outros? Estaria seguindo as regras do livre-arbítrio? E cai de novo a credibilidade do termo, pois segundo dizem os esotéricos, o “carma” individual se encarregaria da punição. Diz o dito popular que “aqui se faz, aqui se paga”, ou seja, quem passar ileso pela vida há de pagar no além, segundo a ala mística adepta do reencarnacionismo. Em síntese, o ser humano é livre, mas nem tanto. E se agir mal e fosse punido seria realmente o conceito de mal uma definição cósmica ou o efeito seria fruto de sua auto-sugestão preocupada por ter agido erroneamente? Em suma, de tudo isso deduz-se que o livre-arbítrio seria somente uma espécie de aviso: “aja com liberdade, mas o faça com prudência e discernimento, do contrário, sofrerá as conseqüências de seus atos”. Seria, pois, de bom alvitre limitar a própria liberdade sempre em concordância com o espaço em que vive e respeitando o do “vizinho”. Eis talvez o passo para a felicidade duradoura.